Retrato de Bezerra de Menezes

Casa de Recuperação
e Benefícios
Bezerra de Menezes

Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da humanidade. - Allan Kardec

Estude o Esperanto
o idioma universal da Paz!

Logo do Youtube

MUSEU ROUSTAING - ARTIGOS:

O CORPO FLUÍDICO

Mão de Jesus estendidaOuvi de esclarecido confrade que a designação de corpo fluídico é má, porquanto o calor reinante na Judeia o faria evaporar.

Realmente, à primeira vista, a denominação nos parece imprópria; todavia, os espíritas sabemos que todas as várias modalidades com que se nos apresenta a matéria, do hidrogênio ao urânio, da densidade 0,0693 à densidade 18,4, nada mais são que transformações de um fluido ainda desconhecido dos meios científicos, mas de cuja unidade fluídica os próprios sábios materialistas já não duvidam.

É até mesmo digno de meditação o fato de os Espíritos haverem preferido esta designação, numa época em que os nossos sábios não conheciam os prótons, os elétrons, os neutrons, e nem mesmo supunham que fosse possível a obtenção artificial de substâncias simples por bombardeio intra-atômico de elementos outros, e nem sequer sonhavam com a desintegração instantânea da matéria, como no caso da bomba atômica.

Quem, todavia, não quiser dar-se ao trabalho de acompanhar os estudos dos nossos sábios, vendo em suas descobertas a confirmação de ensinamentos ou de previsões feitas pelos Espíritos, mesmo em casos outros, como na descoberta do avião, poderá continuar onde está, e se lhe soa mal aos ouvidos o termo - fluídico, para os corpos em questão, poderá chamar-lhes - corpos creóides, como propôs Minimus em sua "Síntese de O Novo Testamento".

Que esses corpos são reais, não há que discutir. Os anais do Espiritismo, de todas as religiões, inclusive os do Catolicismo, estão cheios de fatos semelhantes.

Assim, perguntaremos nós: que denominação daria o ilustre confrade a tais corpos, qual o de que se serviu Antônio de Pádua para defender o próprio pai,? - Carnal? - não pode ser, não foi oriundo de uma gestação carnal. Duplo? - também não serve, porque apenas designa o fenômeno.

Ora, se tal corpo apresentava todas as características de um homem normal, utilizando-se dos sentidos humanos, discutindo com os que acusavam o pai do seu corpo carnal que se achava em outra cidade, cremos que nos não importa o nome com que o designemos, mas, o que não podemos negar, diante da bibliografia espírita, é que tais corpos são formados, condensados, se assim nos permitem exprimir, com a existência simultânea de um sósia carnal, ou, mesmo, sem a existência deste último, qual acontece nas materializações, espontâneas, ou não, passageiras ou demoradas; e esses corpos passam a ter a aparência perfeita de corpos carnais, com todas as suas possibilidades quanto aos nossos cinco sentidos e ainda quanto aos sentidos que desconhecemos, como o da presciência, o da premonição, etc.

Não discutamos mais um assunto tão trivial, após a confirmação que os fatos nos prodigalizaram.

Repitamos, com Paulo: "Nem toda carne é a mesma carne". W

(Antônio Wantuil de Freitas, Reformador, Outubro de 1947, Pág. 14)

REVERENCIANDO ROUSTAING

pedra angular"Jesus acrescentou: Nunca lestes nas Escrituras:
A pedra rejeitada pelos construtores tornou-se a pedra angular;
isto é obra do Senhor, e é admirável aos nossos olhos."
(Mt.21:42)

Jean Baptiste Roustaing, o Apóstolo de Bordeaux, desencarnou a 02 de janeiro de 1879. Prestamos aqui a nossa singela homenagem à sua memória, reproduzindo um belo artigo do fundador do boletim de nossa Casa - "O Cristão Espírita" - Indalício Mendes, cuja lembrança sempre revenciamos, também, com muito carinho. Deus os abençoe a ambos.

O artigo de Indalício foi publicado em "o Reformador" em Março de 1973, e como verdadeira preciosidade foi recuperado recentemente pelo blog Aron, Um Espírita", a quem publicamente agradecemos o bom trabalho realizado. Esperamos que apreciem!

Abs a todos e feliz 2021!

***

Jean Baptiste Roustaing é uma das personalidades mais fascinantes do Espiritismo. Coube-lhe a importante tarefa de, através da médium Collignon, trazer esclarecimentos valiosos sobre Jesus-Cristo e a doutrina evangélica. Sua obra "Os Quatro Evangelhos", pelo que encerra de transcendente, deve ser lida, relida e meditada, porque seu texto exige bastante atenção e discernimento. Contestar o valor da contribuição de Roustaing para o esclarecimento da verdade espírita, será limitar a amplitude da conceituação kardequiana relativa à pluralidade dos conhecimentos humanos, assim como às revelações progressivas. Roustaing não contestou Kardec nem estabeleceu fronteiras para o pensamento kardecista. Negar a magnitude da missão de Allan Kardec seria um contra senso, nem isto preocupou por um só instante o pensamento de Roustaing. Não há contradição entre o fundamental da obra kardequiana e o fundamental de "Os Quatro Evangelhos". Por isto, Roustaing consolidou seu prestigioso conceito dos homens iluminados pelos trabalhos do Codificador.

Indalício Mendes"Admirador de Allan Kardec, cujos, méritos enaltecia e respeitava, Roustaing veio trazer, por misericórdia de acréscimo do Pai, um precioso adendo à obra kardecista. Ao tratar da delicada questão do corpo de Jesus, não se desviou das verdades evangélicas, porque a Revelação da Revelação nos tem ensinado muita coisa que se distingue da letra, porque, como disse Paulo na I Epístola aos Coríntios, não a anunciou com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito, combinando coisas espirituais com espirituais. Se o espírito sopra onde quer... por que razão não poderia Roustaing receber, por intermédio de Collignon, o que consta em "Os Quatro Evangelhos"? Basta considerar o imenso valor espiritual de Jesus para se aceitar de boamente que ele, senhor de toda a gama de fluidos que enchem o universo, não teria necessidade, para se mostrar aos homens, como tantas vezes, depois, o demonstrou, de se apequenar na carne, subordinado aos efeitos da comum ação biofisiológica indispensável à reprodução dos seres carnais. Já na Epístola aos Romanos, o valoroso Paulo afirmara, com a sua incontestável autoridade: " ... Deus, enviando a seu próprio Filho em semelhança de carne de pecado e por causa do pecado, condenou o pecado na carne", tanto mais quanto acrescenta ele aos Coríntios, “nem toda carne é a mesma carne”, etc. O que é preciso, a fim de se interpretar devidamente "Os Quatro Evangelhos" e situar Roustaing no lugar distinto em que deve figurar entre os espíritas, é compreender essas coisas em espírito, porquanto "a letra mata, mas o espírito vivifica", consoante a palavra de Paulo na II Epístola aos Coríntios.

O grande e nobre espírito de Guillon Ribeiro tratou do melindroso assunto com maestria. Homem culto e probo, lidimamente cristão porque lidimamente espírita, devotava a Jesus, quando na vida terrena, um preito de admiração esclarecida. Sua autoridade moral e intelectual, por conseguinte, constituíram escudo para a defesa de Jean Baptiste Roustaing, cuja passagem por este planeta se assinalou por uma vida simples, laboriosa e austera. A probidade de Guillon Ribeiro e a sua indiscutível capacidade cultural foram motivos que muito influíram para que eu e outros obscuros estudiosos do Espiritismo buscássemos compreender a essência de "Os Quatro Evangelhos" e pudéssemos, depois, extasiar-nos ainda mais no respeito ao Codificador, pelo trabalho gigantesco e extraordinariamente valioso que nos deixou, e a Roustaing, pela serenidade e humildade com que se dispôs a trazer também a sua contribuição importante, recebida, como a de Kardec, dos nossos nobres e bondosos irmãos do plano invisível.

Lendo-se o Evangelho segundo Mateus, 1-18 :25, onde se alude ao nascimento de Jesus, a questão se apresenta meridianamente clara e compreensível. E Jesus chegou mesmo a dizer aos discípulos que "não tem aparecido entre os nascidos de mulher outro maior que João Batista", o que é expressivo e significativo. Como, na Terra, geralmente se consideram irmãos os filhos dos mesmos pais, Jesus respondeu quando lhe falaram na família: "Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? Estendendo a mão para seus discípulos, exclamou: Eis minha mãe e meus irmãos! Pois aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe" (Mateus. 12 :48-50}. Este pormenor constitui mais uma evidência de que o conteúdo de "0s Quatro Evangelhos", no que concerne também ao corpo do Mestre, não discrepou da verdade.

Capa de Os Quatro Evangelhos, de Jean Baptiste RoustaingNeste artigo, inspirado apenas pelo desejo de uma homenagem ao espírito de Roustaing, portanto, sem qualquer intenção de polêmica, vai também um pouco do muito de gratidão à sua obra, que concorreu para eliminar algumas das inumeráveis arestas do meu espírito rebelde. Mas é curioso que os que se recusam a aceitar Roustaing, negando a natureza fluídica do corpo com que Jesus baixou à Terra, aceitem, de outro lado, o simbolismo desta passagem do Evangelho segundo João: "Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este homem dar-nos a comer a sua carne? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tendes à vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna". A carne e o sangue de Jesus, neste caso, são a sua Doutrina, o amor a Deus, a exemplificação do bem. Quem comer a sua carne e beber o seu sangue, quem seguir a sua Doutrina, assimilando-lhe as lições - terão vida eterna, porque estarão na conformidade dos desejos de Deus. O mesmo simbolismo dessa passagem evangélica é encontrado em outras expressões, como esta: "o Filho do homem", "pensais que vim trazer paz à Terra?", "deixai que os mortos enterrem seus mortos", "o que não tem dinheiro, venda a sua capa e compre espada.", etc. Por que, então, aceitar-se, num caso, a letra como simbolismo a ocultar um pensamento que o Espiritismo pode, afinal, compreender em espírito e verdade e, em outro caso, recusá-lo?

Jean Baptiste Roustaíng foi um cristão respeitável e sua memória deve ser reverenciada pelos espíritas, porquanto ele trabalhou com fé e honestidade pela grande causa. Merece e terá, sem dúvida, entre os espíritas verdadeiramente compenetrados dos deveres evangélicos, a homenagem a que fazem jus todos quantos enfrentaram o ultramontanismo ferrenho e lograram, sem temor a processos violentos, colaborar para a. difusão e a vitória dos princípios espíritas codificados por Allan Kardec, o Pioneiro excelso.

ROUSTAING, MESTRE EM APRECIAÇÃO DE MENSAGENS ESPÍRITAS

Nosso prezado amigo Paulo Rangel, membro da aguerrida e valorosa equipe do Ibbis (Instituto Brasileiro de Benemerência e Integração do Ser) teve a feliz ideia de celebrar o 141o aniversário da desencarnação de Jean Baptiste Roustaing, Apóstolo do Espiritismo, recordando a antológica troca de correspondências entre esse último e o emérito Codificador de nossa Doutrina, Allan Kardec, em 1861. A lembrança não poderia ser mais oportuna e assim sendo, nós aqui a acompanharemos, reproduzindo, abaixo, primeiro, a carta enviada por Roustaing ao Codificador e, em seguida, os comentários de Kardec sobre a missiva e sobre a personalidade de seu companheiro de ideal. Esperamos que apreciem! Abs a todos!

Carta enviada por Roustaing a Kardec, publicada na Revista Espírita de junho de 1861:

Capa da edição original de Os Quatro Evangelhos, de RoustaingA carta seguinte nos foi enviada pelo Sr. Roustaing, advogado no Tribunal Imperial de Bordéus e antigo presidente da Ordem dos Advogados. Os princípios que aí são claramente expressos por um homem de sua posição, posto entre os mais esclarecidos, talvez levem a refletir aqueles que, julgando-se com o privilégio exclusivo da razão, colocam sem cerimônia todos os adeptos do Espiritismo entre os imbecis.

“Meu caro senhor e muito honrado chefe espírita,

“Recebi a suave influência e colhi o benefício destas palavras do Cristo a Tomé: “Felizes os que não viram e creram”, profundas, verdadeiras e divinas palavras que mostram o mais seguro caminho, o mais racional, que conduz à fé, segundo a máxima de São Paulo, que o Espiritismo cumpriu e realiza: Rationabile sit obsequium vestrum.

“Quando vos escrevi em março último, pela primeira vez, dizia: “Nada vi, mas li e compreendi, e creio.” Deus me recompensou bem por ter crido sem ter visto; depois vi e vi bem; vi em condições proveitosas, e a parte experimental veio animar, se assim me posso exprimir, a fé que a parte doutrinária me havia dado e, fortalecendo-a, imprimir-lhe a vida.

“Depois de ter estudado e compreendido, eu conhecia o mundo invisível como conhece Paris quem a estudou sobre o mapa. Pela experiência, trabalho e observação continuada, conheci o mundo invisível e seus habitantes como conhece Paris quem a percorreu, mas sem ter ainda penetrado em todos os recantos dessa vasta capital. Não obstante, desde o começo do mês de abril, graças ao conhecimento que me proporcionastes, do excelente Sr. Sabe de sua família patriarcal, todos bons e verdadeiros espíritas, pude trabalhar e trabalhei constantemente todos os dias com eles ou em minha casa, em presença e com o concurso dos adeptos de nossa cidade, que estão convictos da verdade do Espiritismo, embora nem todos sejam ainda, de fato e praticamente, espíritas.

“O Sr. Sabos remeteu exatamente o resultado de nossos trabalhos, obtidos a título de ensinamento por evocações ou por manifestações espontâneas dos Espíritos superiores. Experimentamos tanta alegria e surpresa quanta confusão e humildade, quando recebemos esses ensinamentos tão preciosos e verdadeiramente sublimes de tantos Espíritos elevados que vieram visitar-nos ou nos enviaram mensageiros para falar em seu nome.

“Oh! caro senhor, como sou feliz por não mais pertencer, pelo culto material, à Terra que agora sei não ser para os nossos Espíritos senão um lugar de exílio, a título de provas ou de expiação! Como sou feliz por conhecer e ter compreendido a reencarnação, com todo o seu alcance e todas as suas consequências, como realidade e não como alegoria. A reencarnação, essa sublime e equitativa justiça de Deus, como ainda ontem dizia o meu guia protetor, tão bela, tão consoladora, desde que deixa a possibilidade de fazer no dia seguinte o que não pudemos fazer na véspera; que faz a criatura progredir para o Criador; “esta justa e equitativa lei”, segundo a expressão de Joseph de Maistre, na evocação de seu Espírito, que fizemos e que recebestes; a reencarnação que é, segundo a divina palavra do Cristo, “o longo e difícil caminho a percorrer para chegar à morada de Deus.”

“Agora compreendo o sentido destas palavras do Cristo a Nicodemos: “Sois doutor da lei e ignorais isto?” Hoje, que Deus me permitiu compreender de maneira completa toda a verdade da lei evangélica, eu me pergunto como a ignorância dos homens, doutores da lei, pôde resistir a este ponto à interpretação dos textos; produzir assim o erro e a mentira que engendraram e alimentaram o materialismo, a incredulidade, o fanatismo ou a poltronaria? Eu me pergunto como esta ignorância, este erro puderam produzir-se quando o Cristo tivera o cuidado de proclamar a necessidade de reviver, dizendo: “É PRECISO NASCER DE NOVO”, e por aí a reencarnação como único meio de ver o reino de Deus, o que já era conhecido e ensinado na Terra e que Nicodemos devia saber: “Sois doutor da lei e ignorais isto!” É verdade que o Cristo acrescenta a cada passo: “Que os que têm ouvidos, ouçam”; e também: “Têm olhos e não veem; têm ouvidos e não ouvem e não compreendem”, o que pode aplicar-se aos que vieram depois dele, bem como aos de seu tempo.

“Eu disse que Deus, na sua bondade, me recompensou por nossos trabalhos até este dia e os ensinos que permitiu nos fossem dados por seus divinos mensageiros, “missionários devotados e inteligentes junto aos seus irmãos, ─ segundo a expressão do Espírito de Fénelon ─ para lhes inspirar o amor e a caridade para com o próximo, o esquecimento das injúrias e o culto da adoração devido a Deus.” Compreendo agora o alcance admirável destas palavras do Espírito de Fénelon, quando fala desses divinos mensageiros: “Viveram tantas vezes que se tornaram nossos mestres.”

“Agradeço com alegria e humildade a esses divinos mensageiros por terem vindo nos ensinar que o Cristo está em missão na Terra, para a propagação e o sucesso do Espiritismo, essa terceira explosão da bondade divina, para cumprir aquela palavra final do Evangelho: “Unum ovile et unus pastor”; por nos ter vindo dizer: “Não temais nada! O Cristo (por eles chamado Espírito de Verdade), a Verdade é o primeiro e o mais santo missionário das ideias espíritas.” Estas palavras me tinham tocado vivamente e eu me perguntava: “Mas onde então está o Cristo em missão na Terra?” “A Verdade comanda, conforme a expressão do Espírito de Marius, bispo dos primeiros tempos da Igreja, essa falange de Espíritos enviados por Deus em missão na Terra, para a propagação e o sucesso do Espiritismo.”

“Que suaves e puras satisfações dão esses trabalhos espíritas pela caridade feita, com o auxílio da evocação, aos Espíritos sofredores! Que consolação se acha em uma comunicação com os que, na Terra, foram nossos parentes ou nossos amigos; em saber que são felizes ou aliviar-lhes o sofrimento! Que viva e brilhante luz lançam em nossas almas esses ensinos espíritas que, ensinando-nos a verdade completa da lei do Cristo, dão-nos a fé por intermédio de nossa própria razão e nos fazem compreender a onipotência do Criador, sua grandeza, sua justiça, sua bondade e sua misericórdia infinita, colocando-nos assim na deliciosa necessidade de praticar esta lei divina do amor e da caridade! Que sublime revelação nos dão, ensinando que esses divinos mensageiros, fazendo-nos progredir, progridem eles também, a fim de irem engrossar a falange sagrada dos Espíritos perfeitos! Admirável e divina harmonia que nos mostra, ao mesmo tempo, a unidade em Deus e a solidariedade entre todas as criaturas; que nos mostra estas sob a influência e o impulso dessa solidariedade, dessa simpatia, dessa reciprocidade, chamadas a subir e subindo, mas não sem passos falsos e sem quedas, nos seus primeiros ensaios, essa longa e alta escada espírita para, após haver percorrido todos os degraus, chegar ao estado de simplicidade e de ignorância originais, à perfeição intelectual e moral e, por essa perfeição, a Deus. Admirável e divina harmonia que nos mostra esta grande divisão da inferioridade e da superioridade, pela distinção dos mundos que são lugares de exílio, onde tudo são provas ou expiações, e dos mundos superiores, morada dos bons Espíritos, onde estes não têm mais senão que progredir para o bem.

“Bem compreendida, a reencarnação ensina aos homens que aqui se acham num lugar de passagem, onde são livres de não mais voltar, se para tanto fizerem o que é necessário; que o poder, as riquezas, as dignidades, a Ciência não lhes são dados senão a título de provas e como meio de progredir para o bem; que eles não estão em suas mãos senão como um depósito e um instrumento para a prática da lei do amor e da caridade; que o mendigo que passa ao lado de um grão-senhor é seu irmão perante Deus, e talvez o tenha sido perante os homens; que talvez ele tenha sido rico e poderoso. Se agora ele se acha numa condição obscura e miserável, é por ter falido às suas terríveis provas, lembrando assim aquela palavra célebre, do ponto de vista das condições sociais: “Há apenas um passo, do Capitólio à rocha Tarpeia”, mas com a diferença de que, pela reencarnação, o Espírito se ergue de sua queda e pode, depois de haver remontado ao Capitólio, lançar-se de seu pico às regiões celestes, morada esplêndida dos bons Espíritos.

“A reencarnação, ao ensinar aos homens, segundo a admirável expressão de Platão, que não há rei que não descenda de um pastor nem pastor que não descenda de um rei, apaga todas as vaidades terrenas; liberta do culto material e nivela moralmente todas as condições sociais. Ela constitui a igualdade, a fraternidade entre os homens, como para os Espíritos, em Deus e diante de Deus, e a liberdade que sem a lei do amor e da caridade não passa de mentira e de utopia, como no-lo dizia ultimamente o Espírito de Washington. Em seu conjunto, o Espiritismo vem dar aos homens a unidade e a verdade em todo progresso intelectual e moral, grande e sublime empreendimento do qual não passamos de apóstolos muito humildes.

“Adeus, meu caro senhor. Após três meses de silêncio, eu vos fatigo com uma carta muito longa. Respondei quando puderdes e quiserdes. Eu me proporia a fazer uma viagem a Paris para ter o prazer de vos conhecer pessoalmente, de fraternalmente vos apertar a mão. Minha saúde a isto se opõe no momento.

“Podeis fazer desta carta o uso que achardes conveniente. Eu me honro de ser declaradamente e publicamente espírita.

“Vosso mui devotado,

“ROUSTAING, Advogado.

Comentários de Kardec sobre a carta de Roustaing

Retrato de Allan Kardec"Como nós, todos apreciarão a justeza dos pensamentos expressos nesta carta. Vê-se que, embora iniciado recentemente, o Sr. Roustaing passou a mestre em assunto de apreciação. É que estudou séria e profundamente, o que lhe permitiu apanhar com rapidez todas as consequências dessa grave questão do Espiritismo e, ao contrário de muita gente, não parou na superfície. Nada tinha visto ainda, diz ele, e estava convencido, porque havia lido e compreendido. Tem ele isto de comum com muita gente e sempre frisamos que estes, longe de serem superficiais, são, ao contrário, os que mais refletem. Ligando-se mais ao fundo do que à forma, para eles a parte filosófica é o principal e os fenômenos propriamente ditos são acessórios e eles dizem que ainda mesmo que os fenômenos não existissem, nem por isso deixaria de haver uma filosofia, a única que resolve os problemas até hoje insolúveis; a única que dá do passado e do futuro do homem a teoria mais racional. Ora, eles preferem uma doutrina que explica a uma que não explica, ou que explica mal. Quem quer que reflita compreende muito bem que se poderia fazer abstração das manifestações e nem por isso deixaria de subsistir a doutrina. As manifestações vêm corroborá-la, confirmá-la, mas não são a sua base essencial. O discurso de Channing, que acabamos de citar, é prova disso, porque, cerca de vinte anos antes desse grande desdobramento das manifestações na América, somente o raciocínio o havia conduzido às mesmas consequências.

Há um outro ponto, pelo qual também se reconhece o espírita sério. Pelas citações que o autor desta carta faz dos pensamentos contidos nas comunicações que recebeu, ele prova que não se limitou a admirá-las como belos trechos literários, bons para conservar num álbum, mas ele as estuda, medita sobre elas e delas tira proveito. Infelizmente há muitos para quem esse alto ensinamento constitui letra morta; que colecionam essas belas comunicações, como certas pessoas colecionam belos livros, sem os ler.

Há outra coisa pela qual devemos felicitar o Sr. Roustaing. É a declaração com a qual termina a sua carta. Infelizmente nem todos têm, como ele, a coragem de sua opinião, o que estimula os adversários. Entretanto, é preciso reconhecer que de algum tempo para cá as coisas mudaram muito neste particular. Há dois anos apenas, muitas pessoas só falavam do Espiritismo entre quatro paredes; só compravam livros às escondidas e tinham cuidado em não deixá-los à vista. Hoje é bem diferente. Já se familiarizaram com os epítetos grosseiros dos trocistas e deles se riem, ao invés de se admirarem. Não mais temem confessar-se espíritas alto e bom som, como não temem dizer-se partidários de tal ou qual filosofia, do magnetismo, do sonambulismo, etc. Discutem livremente o assunto com qualquer um que surge, como discutiriam os clássicos e os românticos, sem se sentirem humilhados por serem favoráveis a estes ou àqueles. É um progresso imenso, que prova duas coisas: o progresso das ideias espíritas em geral e a pouca consistência dos argumentos dos adversários. Terá como consequência impor silêncio a estes últimos, que se julgavam fortes, pois se supunham mais numerosos; mas quando, de todos os lados encontram com quem falar, não diremos que serão convertidos, mas guardarão reserva. Conhecemos uma cidadezinha provinciana, na qual, há um ano, o Espiritismo não contava senão com um único adepto, que era apontado a dedo, como um animal raro e tido como tal; quem sabe talvez até deserdado pela família ou demitido de seu cargo. Hoje os adeptos ali são numerosos. Reúnem-se abertamente, sem ligar para o que digam, e quando viram entre eles autoridades municipais, funcionários, oficiais, engenheiros, advogados, escrivãos, etc., que não ocultam suas simpatias pela causa, os trocistas pararam as chacotas e o jornal local, dirigido por um espírito forte, que já havia lançado suas setas e preparava-se para pulverizar a nova doutrina, temendo ter pelas costas gente mais forte, guardou um prudente silêncio. Esta é a história de muitas outras localidades, que se generalizará à medida que os partidários do Espiritismo, cujo número aumenta dia a dia, levantarem a cabeça e a voz. Bem podem desejar abater uma cabeça que se mostra, mas quando há vinte, quarenta, cem, que não receiam falar alto e firme, olham duas vezes, o que dá coragem a quem não a tem".

NOTAS SOBRE A MENSAGEM DE ALLAN KARDEC
POR ZILDA GAMA

(Para ler a mensagem recebida em 1913 e publicada no volume Diário dos Invisíveis
acesse a nossa página Concordância Universal. O texto está ao final da página, depois da série de citações.)

Foto rara de D. Zilda ainda jovem, publicada na Revista O Arquivo Ilustrado, ed. 33,de 1903, à pág. 253A biografia de Zilda Gama é uma trajetória de luz. Sua obra, um monumento da literatura espírita. É esse conjunto harmonioso que lhe faz, com todos os méritos, uma das médiuns mais celebradas e admiradas de nosso país, que aqui igualmente reverenciamos, juntando nossa voz ao coro de apreço e reconhecimento que a memória de seu nome tem recebido.

Nasceu na progressista cidade mineira de Juiz de Fora, no distrito de Três Ilhas, a 11 de março de 1878(1). Filha de um casal provavelmente de classe média baixa – seu pai, Augusto Cristiano da Gama, era escrivão de paz; sua mãe, Elisa Klörs da Gama, professora estadual – deve ter vivido uma infância e adolescência modestas - teve 10 irmãos (2). Fez seus estudos com a própria mãezinha, em seu reduto doméstico. Os exemplos de sua genitora foram inspiradores. Ainda jovem matricula-se na Escola Normal de São João del Rei, onde torna-se também professora primária. Estávamos então em 1900, contava 22 anos(3). Exerceu o magistério no município de Além-Paraíba (MG), e foi também diretora de Grupos escolares dessa localidade.

Foto mais famosa de D. Zilda Gama, provavelmente dos anos 30 do século passadoPouco depois, aos 24 anos, a jovem Zilda sofre o primeiro grande choque de sua vida: torna-se repentinamente órfã de ambos os pais, num intervalo de apenas cinco meses, entre 1902 e 1903, tendo que assumir a gestão da casa e cuidar de cinco irmãos menores. Como sua irmã primogênita já havia também desencarnado e Zilda era a primeira filha solteira, na ordem dos irmãos, foi natural o recebimento da incumbência... Como a dor é sempre o sinete que assinala a vida dos grandes missionários, pouco mais tarde (1920) teve também de abrigar consigo mais cinco sobrinhos igualmente órfãos, filhos de sua irmã Adélia...

Carregou sua cruz com dignidade, transpirando honradez e amor ao Bem em cada página de sua vida. Pedagoga por vocação, em 1929 venceu um concurso estadual promovido pela Secretaria de Educação de Minas Gerais com um trabalho sobre "Aulas modelo”. Conquistou assim uma vaga na Escola de Aperfeiçoamento de Belo Horizonte, para onde se transferiu, concluindo esse curso a 06 de dezembro do mesmo ano. Exerceu também o magistério na capital mineira por muitos anos, no Grupo Escolar “Afonso Pena", até que em 1938 aposentou-se.

Sua vocação e dedicação à causa da educação sempre foram motivo de admiração, por onde passou. Consagrou-se aos poucos como poetisa, jornalista e autora de livros sobre o seu amado ofício: O Livro das Crianças, Os Garotinhos, O Manual das Professoras e O Pensamento. Aos 22 anos já a encontramos enviando artigos e poemas para importantes jornais da época, como o Jornal do Brasil(4), Gazeta de Notícias e Revista da Semana, entre outros, e assim foi ao longo de toda a sua vida.

Foto D. Zilda Gama já idosa - publicação de O Reformador, março de 1978Como ativista social, foi a autora do texto que levou o Congresso à aprovação do voto feminino, na constituição de 1932.

Transferiu-se para a cidade do Rio de Janeiro em 1940, e em nosso estado permaneceu até sua desencarnação, em 10 de janeiro de 1969, aos 91 anos de idade, depois de 10 anos de padecimentos decorrentes de um forte derrame cerebral, que lhe comprometeu a mobilidade e parte do raciocínio.

Segundo os registros de “O Reformador”(5), desligou-se “do alquebrado corpo carnal após o dever cumprido e depois de haver sorvido até o fim, resignada e heroicamente, como verdadeira cristã e espírita, o cálice dos testemunhos terrenos”.

Zilda soube subir com resignação o seu calvário, e a visibilidade advinda do fulgor de sua mediunidade já encontrou ali um espírito lapidado na dor e brilhante exatamente por sua humildade.

A ZILDA MÉDIUM:

Todas as suas biografias assinalam o fato de sua mediunidade ter se revelado cedo. Recebeu mensagens de seu pai e de sua irmã, que a consolavam e a fortificavam para os embates da vida. Ela mesma nos conta um pouco mais sobre a fase inicial de sua mediunidade no prefácio do volume “Diário dos Invisíveis” – “Prelúdio”, publicado em 1929, pela editora Pensamento.

Ainda na sua adolescência, “quando ainda era adepta do catolicismo”, em um sarau familiar, ouviu de um senhor de seu relacionamento, Dr. Cunha Salles, a previsão de seu futuro papel no Espiritismo:

“- V.S. é espírita?”

“- Não...” respondi-lhe, hesitante, pois apesar de já ter lido algumas páginas kardecistas, sentindo-me aliada ao neo-espiritualismo desde a mais tenra idade, ainda não fora levada, por fatos irrefutáveis, a uma adesão definitiva”.

“- Não?!” Falou ele, sorrindo com ironia, pondo em dúvida a minha asseveração.

Depois, fitando-me fixamente, prosseguiu:

“V. S. não só é espírita, como, futuramente, será propagandista dos ideais psiquistas. Mais tarde publicarás livros que justificarão esse vaticínio”.

Zilda só veio a se lembrar desta ocorrência anos mais tarde, e mesmo assim por sugestão de uma de suas mentoras espirituais, Mercedes.

Ela nos relata, também nesse “Prelúdio”, seu primeiro contato com o Codificador e, a partir deste, como o nosso prezado mestre lionês a orientou e acompanhou a sua mediunidade por longos quinze anos:

Allan Kardec“Ao receber, em Além-Paraíba, onde então residia, a primeira mensagem d'aquele que, em sua última perenigração terrena ficou conhecido pelo glorioso pseudônimo de Allan Kardec, intensa foi a minha emoção, que me sensibilizou às lágrimas e, mentalmente, disse-lhe que me não considerava na altura de desempenhar a contento a excelsa quão arriscada incumbência de que me dera conhecimento a piedosa Mercedes.

Ele ponderou sobre a responsabilidade dessa missão espiritual; prometeu coadjuvar-me para que eu a executasse satisfatoriamente, terminando, com austeridade, a sua inolvidável mensagem, datada de 27 de dezembro de 1912: "Sobre a tua fronte está suspenso um raio luminoso, que te guiará através de todas as dificuldades, de todos os obstáculos, e será tua glória ou tua condenação - conforme o desempenho que deres aos teus encargos psíquicos. Cinge-te de coragem, fé, benevolência, cumpre sem desfalecimentos e sem deslizes, todos os teus deveres sociais e divinos, e conseguirás ser triunfante!"

Aos que duvidam dessa presença e orientação de Kardec ao seu trabalho, Zilda reage com a firmeza e a indignação dos justos, dos que não têm razão para temer ou duvidar da realidade de sua própria experiência:

"Será essa a linguagem de algum burlador, ou a de uma entidade nobilíssima e compenetrada de todos os seus deveres morais? [...] Há três lustros - desde 1912 - tenho psicografado mensagens dos mesmos personagens intangíveis e, dia a dia, colho indícios comprobatórios de suas individualidades. Cada um dos colaboradores do Diario dos Invisíveis usa de um modo especial de referir-se ao médium. Todos executam as determinações fraternas de um deles que, incontestavelmente, assumiu a direção de meus labores espirituais.

Esse é o que assina o nome do Mestre, o que me designou o encargo que, há 15 anos, venho desempenhando com dedicação e ingente sacrifício - pois exerço o magistério público e particular, das 7 às 20horas, tenho pouca resistência psíquica e não me faltam lutas e dissabores!

E acrescenta:

"Algumas vezes a sua assinatura psicografada por mim, posta em confronto com a do fac-símile existente em um livro de preces - antes que eu a visse para poder autosugestionar-me, confunde-se uma com a outra. [...] É ele que designa os dias em que os seus consócios de lides espirituais se hão de comunicar; determina os trabalhos a serem realizados; avisa-me quando tenho de encetar uma outra obra, e qual o tema a ser tratado [...] Quando necessito de algum esclarecimento, é sempre ele quem m'o ministra [...] Será crível, pois, que o dirigente dessas obras - aceitas sem relutância por miríades de leitores, como provindo do lúcido espírito que concebeu a Legenda dos Séculos, seja um mistificador? [...] Não é pelo fruto que se conhece a árvore?"

Zilda conclui a defesa de sua mediunidade com a veemência que a dignidade impõe:

"Todos os que se relacionam comigo far-me-ão esta justiça: minha existência tem sido consagrada ao cumprimento austero de todos os meus encargos - sociais, públicos, domésticos e espirituais. Graças às inspirações do Alto, nunca pratiquei uma leviandade ou um ato qualquer que desdourasse a minha reputação. [...] assevero que a personalidade que se faz conhecer pelo nome do Mestre é incontestavelmente investida de um poder psíquico que lhe dá supremacia sobre as outras entidades que se manifestam por meu intermédio, tem dirigido os meus trabalhos mediúnicos durante 15 anos e nunca houve em minha mente a menor suspeita de que fosse um espírito mistificador - suas palavras revelam, sempre, um cunho de superioridade moral inatacável, primam pela delicadeza, pelos alvitres austeros, e nunca falhou nenhuma de suas determinações".

Um ponto digno de nota, ainda na relação Kardec / Zilda, é a incontestável sintonia de ambos também em seu amor à pedagogia e à educação. Zilda não poderia ter melhor elemento de harmonização com o nosso mestre lionês que esse. Sua vida foi toda dedicada à educação, que, muito mais que simples ofício, revelou-se ao longo do tempo a sua verdadeira paixão, motivando-a à produção de variados volumes dedicados sempre ao mesmo e único tema.

Outro aspecto, em relação a essa parceria mediúnica, que merece igualmente atenção, é o histórico espiritual de Zilda. Segundo o médium Divaldo Franco ela era a reencarnação de Lèopoldine, filha do grande escritor francês falecida precocemente com o esposo, em 1843, em trágico naufrágio. Kardec e Victor Hugo, quando encarnados, alimentaram uma relação, senão de amizade, pelo menos de mútua e declarada simpatia. Basta ver as numerosas referências ao grande poeta francês nas edições da Revista Espírita, sempre permeadas de respeito e admiração, e as igualmente frequentes e substanciais manifestações do poeta em favor dos postulados espíritas. (6) Desencarnados ambos, certamente comungaram do ideal espírita-cristão nas altas esferas espirituais, de onde provém, e nos parece absolutamente razoável imaginá-los ambos alinhados no projeto da nova encarnação de Léopoldine, como Zilda, na Pátria do Evangelho, sendo o Codificador o seu principal orientador espiritual e o antigo pai o principal autor de suas obras mediúnicas. "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome aí estarei" (Mateus 18.20), prometeu-nos o Cristo e, pelos frutos produzidos pela mediunidade de Zilda, pode-se seguramente ver a Sua presença na conjugação de esforços empreendida por Kardec, Victor-Hugo e Léopoldine/Zilda.

Temos também alguns depoimentos importantes sobre a mediunidade de Zilda Gama, todos amplamente favoráveis no endosso tanto de sua personalidade como de sua sensibilidade mediúnica:

Igualmente expressivas são as referências a seu respeito na literatura espírita.

O confrade Pedro Franco Barbosa faz-lhe menção extremamente simpática e respeitosa, em seu clássico "Espiritismo Básico", destacando-a na seleção que faz dos Autores Espíritas Nacionais (Pág. 198, 1a. Ed. FEB, Rj, 1986), reproduzindo, inclusive, parte das palavras do tribuno Newton Boechat destacadas acima.

Em "Elos Doutrinários" (Ed. FEB, Cap. I "A Confirmação Necessária"), o admirável Ismael Gomes Braga, célebre entre outras coisas pela persistente divulgação do Esperanto em nossas fileiras, registra iqualmente com admiração e apreço a figura e o trabalho de Zilda, salientando o fato de ter "publicadas grandes obras consagradas pelos mais cultos espíritas" e "de grande significação doutrinaria", citando mais à frente (Cap. VI, "Argumentos Ilógicos'), com ênfase, a confirmação dada pelo próprio Kardec, na mensagem que aqui analisaremos, á revelação do corpo fluídico de Jesus feita em "Os Quatro Evangelhos", de Roustaing.

O escritor e conferencista Jorge Damas Martins a menciona, igualmente, por várias vezes, em seus trabalhos. Destacamos aqui especialmente duas: Em "História de Roustaing" (Ed. Particular do Autor, 1987, pág. 58), lembrando exatamente a publicação do "Diário dos Invisíveis" e, mais tarde, quando da publicação de "Jean Baptiste Roustaing, Apóstolo do Espíritismo" (Ed. CRBBM 2005 e 2016)8, lembrando a participação da médium na lista de subscrições que colaborou para viabilizar a edição de 1920 de "Os Quatro Evangelhos", pela FEB (Vide pág. 590, ed. 2016).

Enfim, assim como ocorre em relação à sua vida pessoal e profissional, todas as referências que temos sobre a mediunidade de Zilda Gama são as melhores possíveis. Vejamos agora, finalmente, algumas considerações sobre a mensagem aqui em exame.

NOSSA ANÁLISE DA MENSAGEM DE KARDEC PELA MÉDIUM ZILDA GAMA:

Essa será uma análise preliminar, pontual, sobre o conteúdo e características mediúnicas dessa mensagem. Um estudo abrangente de seu conteúdo e aspectos mediúnicos mereceria tempo e esforço bem maiores do que aquele que dispusemos para a redação desse artigo introdutório.

O seu ponto central é a revelação apresentada sobre as dores do Cristo, no Calvário.

De acordo com o que nos traz essa mensagem, Jesus poderia poupar-se às dores corpóreas, com a força de seu pensamento, mas, num ato de humildade e solidariedade a seus irmãos da humanidade, decidiu sofre-las todas, sem furtar-se a nenhuma delas:

Se ele o quisesse, pelo apuro prodigioso de seu Espírito, poderia isolar seu organismo delicadíssimo de toda a dor física, não sofreria as torturas que lhe foram infligidas, mas não se prevaleceu dessa potência psíquica - que a têm em elevado grau as Entidades Superiores, - porque desejava padecer ainda humanamente, a fim de que seu sofrimento e sua resignação servissem de exemplo às turbas contemporâneas e porvindouras, para compreenderem que, unicamente a dor, a humildade, a submissão aos desígnios do Alto podem libertar as almas de seus erros e de suas impurezas, aproximando-as do Altíssimo.

Esse ponto é importantíssimo, porque resolve plenamente a questão do "Vão Simulacro", levantada pelo próprio Kardec em "A Gênese" (Cap. XV - Os Milagres do Evangelho, item 66).

Concordamos todos com a absoluta impossibilidade de uma "grosseira pantomima" da parte do Cristo, na feliz expressão de Áureo, pelas mãos dedicadas de Hernani Sant'Anna ("Universo e Vida", Cap. VII - O Filho do Homem), dada a envergadura moral de um Espírito puro como o seu; mas aqui o vemos em supremo sacrifício de apequinamento, do acanhamento ou esvaziamento consciente e solidário de algumas de suas principais potencialidades, exatamente para se tornar em tudo "semelhante" a nós, conforme nos ensina o Apóstolo dos Gentios: "Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens". (Filipenses, 2:7)

Essa revelação é a peça que nos faltava para melhor compreensão das dores do Cristo, embora as nossas evidentes limitações para analisar fenômeno desse quilate.

Em "Os Quatro Evangelhos", os Espíritos afirmam que suas dores foram morais: "Foram todos morais os sofrimentos que o Mestre suportou na cruz" (QE, Tomo II, item 191).

Emmanuel nos fala de uma "dor espiritual, augusta e indefinível para a nossa apreciação restrita e singela" ("O Consolador, Q.287).

Áureo destaca que, para um Espíito Crístico, a materialização gera "uma intraduzível tortura cósmica, indizível e imensa, ainda que quase de todo inabordável ao entendimento humano". Aúreo não contradiz os ensinos dados a Roustaing e Collignon sobre as dores crísticas, apenas salienta um aspecto relevante e antes ignorado de sua missão entre nós:

Em face do muito de sublime já escrito na vasta Literatura cristã espírita, sobre a dor moral, em suas variadíssimas expressões, não examinaremos aqui esse primordial e nobilíssimo aspecto do sacrifício messiânico, mas insistiremos em chamar a atenção para a terrível realidade psicofísica do maior de todos os dramas de dor, que foi a materialização crística neste mundo de trevas e maldade; dor real inimaginável, jamais sofrida, na Terra, por qualquer ser vivente, nem antes nem depois do Filho de Maria.

Temos, então, no calvário, uma sobreposição gigantesca de dores, completamente acima de nossa capacidade de compreensão e mais ainda de experimentação, frente às nossas limitações humanas:

Na mesma mensagem confirma-se também a revelação de OS QUATRO EVANGELHOS sobre a natureza especial da formação do corpo de Jesus, com a colaboração mediúnica de Maria:

Jesus, para que pudesse desempenhar sua missão terrena, não devia surgir das nuvens nem das águas, como nos contos mitológicos ou fantasistas. Precisava, pois, de um médium - isto é, de um ente com o qual coadunasse sua natureza apuradíssima, para que se tornasse visível e tangível. Esse intermediário foi Maria, escolhida pelo própria Criador, e, para que não ignorasse a excelsa incumbência que havia de desempenhar, foi cientificada por um Mensageiro de elevada hierarquia. O Messias, pois, retirou os elementos de que necessitava paa adensar o seu corpo astral dos eflúvios fluídicos d'aquele ser virtuoso e evoluído, bem como da matéria cósmica(6) que existem em todos os recantos da Natureza.

Assim também quando se refere à condição do Cristo como Governador Planetário, outro ponto-chave da obra de Roustaing:

"é sabido que Ele presidiu, já como Delegado divino, à formação deste planeta, do qual é dirigente, responsabilizando-se pela salvação de todas as ovelhas que lhe foram entregues".

Um ponto de atenção e possível discordância com a obra de Roustaing, visível, em relaçao ao teor dessa mensagem, é a menção feita às vestes do Cristo. Segundo nos traz a mensagem recebida por Zilda, suas vestes eram também "fluídicas", no sentido de materializadas, enquanto em "Os Quatro Evangelhos", diz-se que a túnica de Jesus "era feita de um tecido de fabricação humana", acrescetando-se, ainda, para melhor esclarecimento sobre o tema que "a singularidade notada nela, pelos que entre si repartiram as vestes de Jesus, proveio de uma influência magneto-espírita, que os impediu de ver as costuras da fazenda, supondo-a inconsútil" (QE, Tomo IV, item 63). A princípio nem abordaríamos esse item, por entendê-lo menor, mas decidimos fazê-lo porque traz insights importantes sobre as potencialidades do Cristo com relação à agregação e desagregação da matéria. Claro que como pais de Jesus, José e Maria lhe ofereciam roupas, assim como outras tantas mais deve ter ganho ao longo de sua missão terrena... todas de fabricação humana. Mas, quando mais tarde, o Cristo se desmaterializava, durante a noite, por exemplo, ou quando de todos se afastava, "para orar", aquelas peças igualmente desapareciam, também desmaterializadas, para só então, depois, quando de seu retorno, voltar à sua tessitura original. Poderiamos então dizer que as roupas de Jesus eram de fabricação humana e simultâneamente "fluídicas", posto que haviam passado igualmente pelo processo de desmaterialização e rematerialização, e claro que ficavam impregnadas dos fluídos crísticos, conforme assinala tambem a mensagem do "Diário dos Invisíveis". A "contradição", no caso, pode então ser apenas aparente, pelo fato de não se ter desenvolvido o tema em todos os seus aspectos, ou frente ao que já é possível entender, à luz da ciência moderna. Por outro lado: poderia o Cristo constituir para si uma veste "não humana", e materializá-la junto com o seu perispírito, para apresentar-se entre nós? Claro, e assim foi feito, por exemplo, em todas as suas manifestações depois do Calvário. Pode também ter variado, ao longo do tempo que passou entre nós: algumas vezes servindo-se de peças ganhas de seus contemporâneos, outras tantas servindo-se de vestes originalmente "celestes" devidamente materializadas. No final, essas diferenças são irrelevantes, e só fazem salientar o seu poder sobre a matéria, tanto orgânica quanto inorgânica. Há mais coisas entre o céu e a Terra do que conhece a nossa vã filosofia, como diz o ditado popular, que bem se aplica a este tema, conforme verificamos.

Enfim, não desejamos aqui nos estender mais e ir além do que nos cabe para o momento; muito mais haveria a ser dito sobre essa mensagem, tanto em relação a seu conteúdo quanto propriamente no que diz respeito ao estudo da mediunidade e sua fenomenologia mas, para concluir essas breves notas com um recado objetivo e sucinto, aos que nos prestigiam com sua atenção, e tentando fazer jus à qualidade e à natureza superior da médium de que ser serviu para fazê-la chegar até nós, pedimos permissão ao Codificador para servimo-nos, aqui, da mesma expressão com que ele mesmo concluiu a sua análise da obra "Os Quatro Evagelhos", quando de sua publicação, em seu artigo na Revista Espírita, publicado em junho de 1866: "será consultada com proveito pelos espíritas sérios".

Paz e Bem, amigos.

NOTAS:

(1) Fonte: O Reformador – Ed. Março 1978, Págs. 91/92, por ocasião do Centenário de Nascimento de Zilda Gama.

(2) O tribuno Newton Boechat teve ocasião de apurar junto a familiares de D. Zilda os nomes de seus irmãos, e chegou à seguinte lista (por ordem decrescente de idade): Maria Antonieta, Zilda Yolanda (Zilda Gama tinha nome duplo), Manoel, Adélia Maria, Angenor Waldemar, Ercília Olga, Augusta Elisa, Olintom, Acrísio, Maria Dolores e Francisca Odete. Para saber mais a respeito, vale a pena ouvir a palestra proferida por Newton e por D. Yvone Pereira, em parceria, na sede da União Espírita Suburbana (Méier, Rj), a 14 de junho de 1969, em homenagem à grande médium mineira. A gravação desta palestra encontra-se no Youtube.

(3) Vide "O Pharol", ed. 35, de 20 de outubro de 1900 – Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

(4) Localizamos um pequeno poema de sua lavra, chamado “Inocência”, na ed. do JB de 21 de abril de 1900 - Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

(5) Ed. FEB de Março de 1978, págs. 91 e 92.

(6)Vide a respeito as edições da Revista Espírita de Agosto de 1863 ("Jean Reynaud e os Precursores do Espiritismo",págs. 313-320 da Ed. FEB); Fevereiro de 1865 ("Discurso de Victor Hugo junto ao Túmulo de uma Jovem", págs. 88 a 93, ed. FEB); Maio de 1866 ("Necrológio - Morte do Doutor Cailleux - Presidente do Grupo Espírita de Montreuil-sur-Mer", págs. 200 a 206 da Ed. FEB); Dezembro de 1867 ("Um Ressurrecto Contrariado – Extraído da viagem do Sr. Victor Hugo à Zelândia", págs. 490 a 495 da Ed. FEB); e Outubro de 1868 ("Exéquias da Sra. Victor Hugo", págs. 420 a 423 da ed. FEB)

(7) Vide mais a respeito no site "O Consolador"

(8)Tivemos a honra e a alegria de participar diretamente desses dois trabalhos, no primeiro redigindo um pequeno pósfácio; e no segundo realizando a editoriação e produção de suas duas edições.

RÁPIDA ENTREVISTA COM BEZERRA DE MENEZES SOBRE ROUSTAING

Boton com a celebração de 15 de outubro, aniversário de Jean Baptiste RoustaingEra uma quinta-feira, 14 de abril de 1977.

Nessa ocasião a ex-presidente de nossa Casa, Armanda Pereira da Silva, acompanhava os atendimentos feitos pelo Dr. Bezerra de Menezes através do médium Paulo Roberto Serrão. Ficava ao seu lado, à mesa, entregando as folhas com as solicitações de orientação recebidas e, depois, recolhia de volta as mesmas, já preenchidas com as orientações do amorável Médico dos Pobres.

Às vezes, em pequenos intervalos, tinha a oportunidade de conversar com Dr. Bezerra. Privilégio de poucos... rs, mas no caso bem aproveitado por D. Armanda, que se servia desses breves instantes para consultas pontuais, sobre assuntos variados.

Naquela tarde o tema desses minutos de prosa foi... Roustaing! Dois frequentadores de nossa CASA haviam dela se afastado a pretexto de nossos estudos de Os Quatro Evangelhos. Dona Armanda sentia-se triste com o episódio, e desabafou com o Kardec Brasileiro:

- Como o Senhor sabe, há uma grande corrente contra Roustaing, e eu sou assediada por perguntas como ainda hoje me fez a irmã xxxx , esposa do xxxx, que deixou de frequentar nossa Casa por se adotar Roustaing. Disse-me ela que seu marido afirmou que Roustaing jamais deu alguma mensagem, depois de desencarnado...

Dr. Bezerra foi claro e taxativo em sua resposta:

- Existem sim muitas mensagens de Roustaing, não só na França e na Inglaterra, como em vários países da Europa. Mensagens importantíssimas, de um conteúdo extraordinário. Hoje em dia, ele não se comunica porque exerce importante função junto a Espíritos que têm missão de divulgar o Evangelho e a Doutrina, juntamente com Kardec, e aí demonstra a experiência. Kardec hoje reconhece que a obra publicada por Roustaing teve capital importância na afirmação espírita.

Aproveitando a receptividade do abençoado Patrono ao assunto proposto, D. Armanda emendou uma segunda pergunta, logo em seguida:

- Dr. Bezerra, também dizem que Emmanuel nunca estudou Roustaing...

- O problema é que Emmanuel, que participa deste conjunto de Espíritos do qual também já participamos, tem outro sistema de trabalho, mas já algumas vezes citou Roustaing. Chico Xavier mesmo já recebeu orientação para estudar Roustaing e se aprofundar no estudo de seus livros. A Doutrina sem os Evangelhos de Roustaing não estaria completa.

Amanhã, 15 de outubro, celebramos a data de aniversário de Jean Baptiste Roustaing, lembrando simplesmente essa bela frase de Dr. Bezerra: "A Doutrina sem os Evangelhos de Roustaing não estaria completa".

Deus abençoe Roustaing, esse valoroso missionário do Cristo, e a todos os perseguidos por amor à verdade, de todos os tempos! Salve Jean Baptiste Roustaing, Apóstolo do Espiritismo!

ROUSTAING, LEGADO DE BEZERRA DE MENEZES

Diante do fato consumado da exclusão de Roustaing e da obra "Os Quatro Evangelhos" do Estatuto da FEB, neste sábado útlimo, nada temos a comentar, visto a liberdade de cada organização de se auto-determinar e seguir a orientação de seus gestores. Podemos, sim, lamentar, com serenidade e reiterado apreço à Casa de Ismael, ao constatar que essa nova orientação vai de encontro às de seus pioneiros, a começar de seu fundador mesmo - Augusto Elias da Silva (Roustaing já aparece como conteúdo de "O Reformador" na sua 2a edição, em fevereiro de 1883) - como da de seu primeiro presidente, Francisco Raimundo Everton Quadros, como também das de Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio, Guillon Ribeiro e Manuel Quintão, só para citar alguns dos "gigantes" sobre cujos ombros nos apoiamos. O futuro, porém, a Deus pertence. Um amigo muito lúcido nos disse ontem, a propósito do episódio, que "para a árvore saudável, a poda tem o efeito de provocar ainda maior crescimento". Que nossas lágrimas do presente, portanto, reguem e façam florescer um futuro promissor... A propósito do momento, julgamos oportuno trazer o texto abaixo, do nosso inesquecível Indalício Mendes(1).

***

1a. Página do Estatuto do Grupo Espírita Regeneração, de 1952, constando a obrigatoriedade do estudo de Roustaing. O Regeneração foi fundado pelo próprio Dr. Bezerra, em 1891, já com essa orientação doutrináriaDesde que comecei a compreender “Os Quatro Evangelhos” e sua alta importância para a interpretação correta dos livros de Mateus, Marcos, Lucas e João, passei a considerar essa notável obra que Jean-Baptiste Roustaing divulgou, sem dúvida inspirado pelo Alto, como um complemento da outra monumental obra, subscrita por nosso amado mestre Allan Kardec. O fato de ter sido a mesma estudada e recomendada pelo Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, então presidente da Federação Espírita Brasileira, e prestigiada por homens da mais alta envergadura moral, como Bittencourt Sampaio, Antônio Luiz Sayão, Pedro Richard, Leopoldo Cirne, Aristides Spínola, GuilIon Ribeiro, Manuel Quintão e outros, me deu a segurança de que “Os Quatro Evangelhos” nada tem que justifique a estranha repulsa de alguns poucos confrades, os quais, afinal, têm o direito de conservar sua opinião, como nós conservamos a nossa. De qualquer maneira, de nada adianta polemizar. Os argumentos contra Roustaing são sempre os mesmos e já foram pulverizados.

Se a obra “Os Quatro Evangelhos” contivesse o que quer que fosse incompatível com a Doutrina Espírita, certo que Bezerra de Menezes a deixaria de lado. Entretanto, com a sua autoridade moral, doutrinária e evangélica, decidiu publicá-la nesta revista, a partir de 15 de Janeiro de 1898, e depois em livro.

Tem havido injustiça dos que repelem Roustaing, como se ele fora não um espírita, mas um inimigo do Espiritismo. No entanto, não lhe apontam deficiências morais, por impossível, nem possuem outros recursos, além do estafado tema do “corpo fluídico”, para impugnarem a obra. Os que realmente a leram e lhe entenderam a substância, não a recusam. Os que a leram, sem a compreender em espírito e verdade, negam a obra inteira apenas porque não concordam com o “corpo fluídico”, como se isto fosse uma extravagância dentro do vasto campo da fenomenologia espírita. Lá existe um mundo de revelações magníficas por sua lógica irrespondível e edificantes consequências, revelações devidas aos Espíritos dos Apóstolos e dos Evangelistas. Roustaing não foi sequer o médium, mas o coordenador do trabalho. tal como sucedeu com Kardec em relação aos livros que constituem o corpo doutrinário do Espiritismo.

Não se pode aceitar a errônea suposição de que desconhecem a Codificação, a Doutrina, enfim, os que aceitam Roustaing. Isto constitui falso e precipitado julgamento, que envolve até eminentes vultos do Espiritismo brasileiro, conforme os que acima mencionamos, além de constituir negação aos princípios de esclarecida tolerância aconselhados por Allan Kardec.

Ora, quando surgiu a obra “Os Quatro Evangelhos”, de Roustaing, Kardec lhe noticiou o aparecimento em sua revista, às páginas 190-192, do mês de Junho de 1866, apresentando-a como obra considerável, com o mérito de não estar em contradição com a Doutrina ensinada em “O Livro dos Espíritos”, em “O Livro dos Médiuns” e em “O Evangelho segundo o Espiritismo” (únicas obras até então transmitidas ao Codificador), ressaltando que ela continha ensinamentos incontestavelmente bons e verdadeiros e que merecia consultada com proveito pelos espíritas conscienciosos” (“Elos Doutrinários” - Ismael Gomes Braga).

2a. Página do Estatuto do Grupo Espírita Regeneração, de 1952, com a assinatura do Dr. Bezerra psicografada por Chico XavierQuando se diz ser de Roustaing “Os Quatro Evangelhos” e de Kardec as obras da Codificação, não significa isso que sejam um e outro os autores reais das mesmas. É uma maneira de dizer, simplesmente.

Não é admissível se silencie a verdade para não desgostar os que não a entendem ou dela se desinteressem. Disse Helvetius que “a verdade não pode ser nociva” e não o é mesmo. Demais, Kardec, ao receber a obra de Roustaing, escreveu na Revue Spirite (1866), aludindo ao “corpo fluídico”, à materialização de Jesus: “Nada há nisso de materialmente impossível, para quem conhece as propriedades do envoltório perispiritual” (“O Cristo de Deus” - Manuel Quintão). Tanto este raciocínio é correto que, em “Obras Póstumas”, pág. 20. n. 19 (Manuel Quintão, ob. cit.) , o Codificador assim explicou: “O Espírito que quer ou pode aparecer, reveste algumas vezes forma ainda mais clara; toma as aparências de um corpo sólido, a ponto de produzir perfeita ilusão fazendo crer que é um ser corpóreo. Em alguns casos, em dadas circunstâncias, a tangibilidade pode tornar-se real, isto é: podemos tocá-los, apalpá-los, sentir a mesma resistência e o mesmo calor, como se fora um corpo vivo, o que não o priva de desfazer-se com a rapidez do relâmpago. Pode, pois, estar-se em presença de um Espírito, conversando com ele, e crente de se tratar com um homem” (o grifo é nosso ).

A propósito, temos aí “O Livro de Tobias” editado pela Federação Espírita Brasileira e dedicado “à querida memória de Ewerton Quadros, Bittencourt Sampaio, Antônio Luiz Sayão, Bezerra de Menezes, Pedro Richard, Leopoldo Cirne, Aristides Spínola e Guillon Ribeiro”, todos rustenistas”. Esse livro “relata o caso da materialização de um Espírito superior que para cumprir sua missão na Terra, formou um corpo em tudo semelhante aos nossos, substancial e duradouro, mas que se desfez diante dos olhos de dois homens, assim como o de Jesus se desfez diante dos judeus que o queriam apedrejar”.

Se tal Espírito e se outros Espíritos de menor elevação, como o de Katie King, por exemplo, puderam e podem materializar-se por longo tempo e apresentar a tangibilidade e outras características comuns ao corpo vivo, porque Jesus, Governador do Planeta, Espírito da mais alta grandeza, senhor de todos os segredos espirituais e de toda a gama de fluídos, além de um poder tão grande que escapa à nossa avaliação, não poderia tê-lo feito, numa época em que a Humanidade, ainda muito atrasada, necessitava de revelações importantes e de uma orientação enérgica para sua vida moral? Como essa Humanidade ainda não estava preparada para suportar a realidade espírita e tinha precisão das lições deixadas pelo Mestre, a aparência perfeita do corpo carnal supriria, como supriu, as necessidades impostas pela época, pelos preconceitos, pela incompreensão, pelo sectarismo e pela ignorância. Hoje, há quase dois milênios da vinda do Cristo, parece que não houve muito progresso ...

O que deve caracterizar o espírita é a serenidade, a tolerância lúcida, a ausência de sectarismo. Roustaing é o legado de Bezerra de Menezes. Quando dizemos Roustaing, claro está - que dizemos “Os Quatro Evangelhos”, a chave de que o mundo precisava para verdadeiramente interpretar com precisão as preciosidades do Novo Testamento, muitas vezes ocultas sob o véu da letra. Bezerra de Menezes, que deixou em sua passagem pela Terra um rastro de luz, no caminho sacrossanto da caridade, ainda hoje nos manda, do Além, sempre a serviço de Jesus, as suas vibrações benéficas, em favor de quantos sofrem de males da carne e da alma.

E não nos esqueçamos de que Kardec nos traçou a trajetória, ao nos deixar o lema: Trabalho - Solidariedade - Tolerância.

(Texto original de Indalício Mendes, em "O Reformador", Dezembro de 1966, com o pseudônimo de Tobias Mirco. Transcrito da publicação digital feita pelo blog Aron, um Espírita, a quem publicamente aqui agradecemos pelo belo trabalho feito com a divulgação dos artigos do nosso prezado Indalício)

(1) Lembrança oportuna do confrade Júlio Rodrigues Guimarães Jr., de Abre Campo - Minas Gerais

15 DE OUTUBRO, DATA DE NASCIMENTO DE
JEAN BAPTISTE ROUSTAING

“Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós”. - JESUS (Mt. 5: 11 e 12)


Foto-ilustração do túmulo de JesusJEAN BAPTISTE ROUSTAING, O MISSIONÁRIO DA FÉ, o abençoado organizador da magistral obra OS QUATRO EVANGELHOS, recebida pela iluminada mediunidade de EMÍLIE COLLIGNON, nasceu em Bégles, nos arredores de Bordeaux, França, a 15 de outubro de 1805.

Reunimos, para celebrar a data, três textos de "Os Quatro Evangelhos" que bem traduzem a sua essência e que, em nosso entender, são a melhor resposta que podemos oferecer às críticas quase sempre maldosas que seu organizador e essa obra recebem, acreditando que a BENEVOLÊNCIA, a TOLERÂNCIA e o PERDÃO - a perfeita tradução da palavra CARIDADE, conforme a entendia JESUS, segundo o ensino de O Livro dos Espíritos, na questão 886 - são os recursos de que se servem os verdadeiros operários do Bem, em todas as épocas.

Seguimos assim o nosso caminho, semeando e semeando, deixando ao Pai Maior a definição do tempo da colheita, do amadurecimento dos Espíritos para o entendimento dos ensinos de Jesus "em espírito e verdade", sem dogmas, sem artificialismos, sem as limitações dos preconceitos humanos.

Que Jesus abençoe seu enviado e sua memória.

A VERDADE É MANSA, e não precisa de estardalhaço para se impor, suavemente, com a serenidade do tempo...

Paz e Bem a Todos!

VINDE A MIM

Foto-ilustração do túmulo de Jesus estendendo a mão, em sinal de conviteSegui pela estrada que vos é indicada. Jesus mostrou o único caminho que vos pode conduzir à felicidade eterna. Peça-lhe amparo a alma que se sentir carregada de dores e, quaisquer que sejam seus sofrimentos, nele achará o grande médico que cura todas as chagas. Sendo a luz das inteligências, ele iluminará a obscuridade que a carne vos impõe. Por vós se fez homem aos vossos olhos; aos vossos olhos sofreu convosco e como sofreis. Vossas lágrimas lhe saem dos olhos e no seu coração repercutem as vossas dores. Manda-vos os Espíritos que podem abrandar as vossas penas e, em paga de tanto amor e de tanta abnegação, que é o que pede façais? algum sacrifício? que lhe deis glória? No fastígio da glória se acha ele! Pede-vos amor? Todos os Espíritos do Senhor se curvam diante dele, felizes de o fazerem. Não; só vos pede que trabalheis, sob a sua direção, pela vossa própria glória. Estende-vos a mão e sustenta mesmo os que a recusam.

Ah! acudi-lhe ao chamado! Seu jugo é leve e ele não o impõe, pois que sois livres de o aceitar ou repelir. Não emprega, como faz o homem, a violência para vos forçar a enveredar pelas suas sendas. Não vos diz: — crê ou morre; mas: — em mim está a vida. Escutai-lhe os conselhos santos, caminhai-lhe nas pegadas e, como quer que vos apelideis — Cristãos, Judeus ou Muçulmanos — sejam quais forem o culto exterior que pratiqueis e a nação a que pertençais na terra, vinde todos, todos a ele. As ovelhas são por ele levadas aos campos de bom pasto, onde o lobo feroz jamais aparece: — os mundos superiores, moradas dos Espíritos puros; os mundos fluídicos, onde habitam os que chegaram ao estado de perfeição.

Vós todos que estais fatigados e carregais o peso dos sofrimentos, que se originam das provações, vinde a Jesus e Jesus vos dará forças. Não vos dá ele o exemplo da coragem e da resignação? Não é a sua palavra meiga, simples e persuasiva que levanta o ânimo abatido e vos faz entrever o bálsamo que podeis aplicar às vossas feridas? Não é Jesus quem as pensa e vos sustém com sua mão poderosa, ajudando-vos a vencer os obstáculos contra os quais a vossa fraqueza se julga sempre prestes a quebrar-se?

Tomai sobre vós o seu jugo, aprendei de sua boca que ele é manso e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas.

Achareis repouso para vossas almas quer dizer: a perfeição a que chegareis pelo progresso. Seguindo-lhe a moral é que vos depurareis; despojando-vos de todas as impurezas é que alcançareis o repouso para vossas almas, isto é: nada mais tendo que expiar, elas entrarão na paz do Senhor. Por paz do Senhor entenda-se aqui: uma paz ativa, cheia de boas obras e de grandes coisas. Não se trata da paz tal como a compreendeis, mas como termo dos sofrimentos, das expiações.

O jugo de Jesus é suave e leve o seu fardo. Aquele que, do fundo de sua alma, segue a Jesus não suporta pesado jugo, porquanto sua moral é de fácil prática para quem quer que se forre aos objetivos mesquinhos da humanidade.

("Os Quatro Evangelhos", de Jean Baptiste Roustaing, Tomo II, item 154)

AMOR AOS INIMIGOS - AMOR E CARIDADE PARA COM TODOS

Foto-ilustração - mãos oferecendo floresPraticai a lei do amor e da caridade, sempre e em toda parte, para com todos, conhecidos e desconhecidos, amigos e inimigos.

Nisto se resume o ensinamento [de Jesus], porquanto a observância da lei de amor e caridade implica a prática de todas as virtudes e de todos os deveres.

Pois que Deus concede os benefícios da Natureza à humanidade toda, porque há de o homem negar-se a dividir com seus irmãos o que recebe do pai comum?

Julgar - só a Deus cabe, porque só o seu julgamento é íntegro e isento das preocupações interesseiras que tantas vezes poluem os vossos. Sede, conseguintemente, bons para com todos os vossos irmãos e deixai a Deus o encargo de julgar os que de suas mãos saíram e cujos corações e pensamentos só ele sonda.

Nada façais nunca tendo em vista apenas a recompensa. Vossas ações, quaisquer que sejam, devem subordinar-se tão-somente ao amor do dever, ao amor e ao reconhecimento a Deus. Se elas não forem mais do que um empréstimo feito a Deus, objetivando unicamente a recompensa que ele vos queira dar, estareis, oh! homens que podeis tão pouco, praticando a usura com a eternidade. E, enquanto vos mantiverdes sob a influência desse sentimento e egoísmo, não sereis filhos do Altíssimo. A recompensa, ele não a defere senão aos atos que, pelo coração e pelo pensamento, são fruto do desinteresse e do amor.

A vossa fraqueza se assusta e o vosso orgulho se revolta ante estas palavras do Mestre: Amai os vossos inimigos".Para se praticar este amor não basta a isenção de ódio, de rancor, de desejo de vingança contra os inimigos, não basta a abstenção de palavras, de atos, de tudo o que lhes possa ser nocivo ou desagradável, não basta perdoar-lhes e esquecer o mal que fizeram ou fazem. É preciso pagar-lhes, em tudo, por toda parte e sempre, o mal com o bem, por todos os meios, sob todas as formas e em todas as circunstâncias, com sinceridade no pensamento e no coração. É preciso trabalhar assim sem cessar por conquistá-los. É preciso que, sinceramente e possuídos do sentimento do amor universal, que deve de continuo crescer no coração do homem, que o aproxima cada vez mais de Deus, façais o bem aos que vos odeiam. É preciso que, não com os lábios, mas com o coração, abençoeis os que vos amaldiçoam, oreis pelos que vos perseguem ou caluniam.

Aquele que, desse modo, faz o bem, abençoa e ora, esse tem o sentimento e está na posse do amor aos inimigos.

Tratai, pois, de vos libertar das influências da matéria pela prática da lei do amor e da caridade, pela prece, e vereis cada vez mais desenvolver-se em vós, sob a influência e a ação da vossa depuração moral, a bondade, a misericórdia, a beneficência de que usa o vosso pai para com os ingratos, os justos e os injustos, os bons e os maus.

Jesus disse: Sede perfeitos como o vosso pai celestial é perfeito. Quer isto dizer: exercei, praticai com sinceridade todas as virtudes que vos são ensinadas para vos conduzirem àquele que é perfeito.

O Espiritismo, pela nova revelação, pela revelação da revelação, terceira e última explosão da bondade de Deus para com os homens, é a luz que vos deve clarear a marcha, que dará vista aos cegos. Não a repilais. Submetendo-vos cordialmente à prática dos ensinos que vos traz essa nova revelação, por intermédio dos Espíritos do Senhor, os quais vos vêm explicar e tornar compreensíveis as palavras evangélicas de Jesus e inspirar a prática sincera, esclarecida e completa delas, alcançareis o objetivo que se vos propõe. O caminho será longo, tortuoso, cheio de escolhos e dificuldades, mas finaliza num sítio pleno de delícias e claridades.

("Os Quatro Evangelhos", de Jean Baptiste Roustaing, Tomo I, item 89)

CRÍTICA E AUTOCRÍTICA

Foto de homem idoso dando conselho a um jovemSe tiverdes de fazer a algum de vossos irmãos qualquer reproche, esforçai-vos por que ele se corrija, dizendo-lhe brandas e persuasivas palavras.

Jesus falando aos Judeus usava de uma linguagem que lhes era adequada. Jamais atacava bruscamente os hábitos desse povo rixento e rancoroso. Tal a razão por que os concitava a recorrer a testemunhas e depois ao julgamento da Igreja nos seus ajustes de contas.

Hoje, porém, o Mestre, por nosso intermédio, vos diz: Apagai a falta do vosso irmão por todos os modos possíveis; esforçai-vos para que ele se reconheça culpado, falando-lhe a sós. Se persistir, se se mostrar insensível às vossas advertências,tomai por testemunhas da sua obstinação os bons Espíritos que velam por todos. Chamai-os em vosso auxílio, para que vos reconduzam à paz e à concórdia.

Evitai tornar público o erro de vosso irmão, submetendo-o ao juízo da Igreja. Antes de tudo: tendes a certeza de estardes perfeitamente limpo da falta que, cometida pelo vosso irmão, vos ofendeu? Tendes a certeza de que jamais a provocastes ou incentivastes; de que jamais, pela vossa impaciência, pela vossa aspereza, pela vossa má-vontade, ostensiva ou oculta, fostes causa de que o vosso irmão cada vez se transviasse mais, em lugar de emendar-se?

Quando lhe falastes, porventura o fizeste com toda a doçura, com toda a delicadeza indispensáveis para que a sua suscetibilidade, o seu orgulho, ou mesmo a sua vergonha não fossem despertados? Empregastes todos os possíveis esforços para que ele não corasse em face de si mesmo?

E, se não procedestes assim, não receais ser, a vosso turno, julgados pelos juízes que fostes procurar para julgar o vosso irmão?

Oh! bem-amados! Escutai o que vos dizemos, a mandado daquele que deu aos homens esse ensinamento: "Progredistes, vossos sentimentos também têm que progredir; perdoai, portanto, com sinceridade, a ofensa recebida, ocultando-a dos estranhos para que o vosso irmão não se vexe e eu, por minha vez, vos perdoarei do mesmo modo por que houverdes perdoado".

("Os Quatro Evangelhos", de Jean Baptiste Roustaing, Tomo III, item 216)

VÃO SIMULACRO?

Nesse artigo, propomos uma reflexão sobre a opinião de nosso Codificador sobre o Corpo Fluídico de Jesus, expressa no volume "A Gênese". Esperamos que apreciem... boa leitura!

ilustração de teletransporte “Se as condições de Jesus, durante a sua vida, fossem as dos seres fluídicos, ele não teria experimentado nem a dor, nem as necessidades do corpo. Supor que assim haja sido é tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que escolhera, como exemplo de resignação. Se tudo nele fosse aparente, todos os atos de sua vida, a reiterada predição de sua morte, a cena dolorosa do Jardim das Oliveiras, sua prece a Deus para que lhe afastasse dos lábios o cálice de amarguras, sua paixão, sua agonia, tudo, até ao último brado, no momento de entregar o Espírito, não teria passado de vão simulacro, para enganar com relação à sua natureza e fazer crer num sacrifício ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem simplesmente honesto, indigna, portanto, e com mais forte razão de um ser tão superior. Numa palavra: ele teria abusado da boa-fé dos seus contemporâneos e da posteridade. Tais as consequências lógicas desse sistema, consequências inadmissíveis, porque o rebaixariam moralmente, em vez de o elevarem. Jesus, pois, teve, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a existência”. – Allan Kardec (“A Gênese”, Cap. Os Milagres do Evangelho, item 66)

Sempre alimentamos simpatia por aqueles que manifestam sua discordância à ideia do corpo fluídico na forma de uma “defesa” de Jesus, à semelhança do que vemos no texto acima, de Kardec, em “A Gênese”. Afinal, como desgostar, de qualquer maneira, de alguém que se coloca em defesa do Cristo? Por outro lado, é constrangedor, nessas oportunidades, perceber que o outro nos imagina acusando ao nosso Mestre Amado de algo indigno...

Deparamo-nos com esse gênero de objeção muitas vezes, ao longo dos anos, e terminamos por denominá-la como “a questão moral”. Os que a utilizam cultivam comumente uma espécie de “rejeição instantânea” à obra “Os Quatro Evangelhos” por entender que, se ela defende uma ideia tão negativa, em relação ao Cristo, não merece o seu tempo e atenção...

Quando surge, nas conversas sobre o corpo fluídico, a “questão moral” nos chega sempre numa espécie de silogismo, colocado mais ou menos nos seguintes termos:

“Se tivesse corpo fluídico ou aparente o sacrifício do Cristo seria uma mentira.
Um Espírito do nível de Jesus não mente.
Logo, Jesus não teve corpo fluídico”.

A frase do meio é tão forte, tão livre de contestação, que parece “emprestar” força às outras duas, chegando ao ponto de dar aos seus usuários a sensação de ter resolvido o dilema em definitivo. Trazem consigo, por isso, a “certeza” da impossibilidade de Jesus ter tido uma condição biológica diferente da nossa. É sempre muito difícil lidar com a “certeza” alheia, mas sabemos hoje que entre o preto e o branco existem muitos tons de cinza. Olhando o problema, com mais profundidade, talvez possamos descobrir nuances novos, não percebidos anteriormente... quem sabe?

Vamos primeiro dividir o problema. Analisando o silogismo acima chegamos a dois pontos centrais:

  1. A premissa de que se não há outros tipos de sofrimento, diferentes e talvez até maiores do que os que conhecemos;
  2. A ideia de que "aparência", no caso, necessariamente se traduza em mentira.

REFLEXÕES SOBRE O SOFRIMENTO DE CRISTO

raios luminososCom relação ao primeiro ponto observa-se de imediato um problema de expectativa, uma espécie de reducionismo, inconsciente e instintivo. Como conhecemos bem, em nosso mundo material, as dores e as necessidades físicas, estimamos que o Cristo as suporte, da mesma forma, a fim de fazer valer sua vinda, sua missão, seu sacrifício. O critério de validação é colocado a partir da nossa régua, da nossa referência, com base nas dores e necessidades que conhecemos, projetando para o outro a expectativa de que com ele se dê exatamente aquilo que ocorre conosco. O pensamento subjacente é esse: "se não for assim, não vale..."

Questionado, no entanto, exatamente sobre as dores do Cristo, nosso abençoado Emmanuel, o iluminado mentor de nosso Chico Xavier, nos esclarece que não se pode aplicar a um espírito puro como o de Cristo os nossos parâmetros, e que há dores de outros tipos, além das que conhecemos...

“De modo algum poderíamos fazer um estudo psicológico de Jesus, estabelecendo dados comparativos entre o Senhor e o homem”. (“O Consolador, Q.287)

E mais:

“Numerosos discípulos do Evangelho consideram que o sacrifício do Gólgota não teria sido completo sem o máximo de dor material para o Mestre Divino. Como conceituar essa suposição em face da intensidade do sofrimento moral que a cruz lhe terá oferecido?"

"A dor material é um fenômeno como os dos fogos de artifícios, em face dos legítimos valores espirituais. Homens do mundo, que morreram por uma ideia, muitas vezes não chegaram a experimentar a dor física, sentindo apenas a amargura da incompreensão do seu ideal. Imaginai, pois, o Cristo, que se sacrificou pela Humanidade inteira, e chegareis a contempla-Lo na imensidão da sua dor espiritual, augusta e indefinível para a nossa apreciação restrita e singela. [...] Examinados esses fatores, a dor material teria significação especial para que a obra cristã ficasse consagrada? A dor espiritual, grande demais para ser compreendida, não constitui o ponto essencial da sai perfeita renúncia pelos homens? Nesse particular, contudo, as criaturas humanas prosseguirão discutindo, como as crianças que somente admitem as realidades da vida de um adulto, quando se lhe fornece o conhecimento tomando por imagens o cabedal imediato dos seus brinquedos”.

Há então uma "dor espiritual" - além da DOR MORAL - "grande demais para ser compreendida" em nosso estágio atual, qual crianças discutindo temas de adultos...

Ora, é muito difícil para os que se encontram em estágio anterior entender e descrever a natureza e/ou a intensidade das sensações conhecidas pelos que seguem à frente na jornada, assim como de nosso plano compreender plenamente o que se passa no “mundo dos Espíritos”, por falta de referências e até de vocabulário.

A matéria não imagina o que seja a sensibilidade da planta. Esta, por sua vez, não faz ideia do que seja a dor enfrentada pelo animal. A fera conhece a dor física e a enfrenta dia a dia nos embates do caminho; mas pouco sabe da dor moral. O homem descobre em si uma essa dor nova, a dor que “vem de dentro” – a dor moral – mas só a preço de muitas lágrimas o coração mais rijo se sensibiliza.

Em cada nível, a dor que lhe é própria – simbolizados nos três gritos do Calvário - mas todos acreditam ser a sua sempre a maior e mais importante:

“Na Terra temos sempre a ilusão de que não há dor maior que a nossa”– diz acolhedora Laura a André Luiz, em Nosso Lar (Cap.19)

ilustração - visão do átomoA consciência dessa gradação é importante para o nosso aprendizado, porque ajuda-nos pelo menos a entrever, pelo pensamento, o que não é ainda possível “sentir” ou “viver” em razão de nossa baixa maturidade espiritual. Refletindo com mais calma sobre o tema, fica fácil compreender o erro em que incorreria o representante de cada nível se, generalizando, projetasse para os demais apenas a dor que lhe diz respeito.

Imagine-se os minerais, por exemplo, se pudessem, atribuindo a todos os seres da criação a sua insensibilidade. Ou, as plantas, questionando a existência de alguma sensação diferente da sua. Ou, ainda, os animais, diminuindo a importância das dores morais apenas porque seu coração não está preparado para senti-las na dimensão que as conhecemos...

Agora – perguntamos nós, depois do que vimos acima, sobre os Espíritos puros – não estaríamos caindo nesse mesmo erro, quando esperamos encontrar no Cristo apenas as nossas dores, dores físicas, corpóreas, tentando medir o Seu sacrifício no Calvário estritamente pelas nossas medidas, sem atinar para a distância evolutiva que nos distingue? Talvez aí esteja um primeiro ponto a considerarmos, sobre o “dilema” apresentado acima...

Em seu “Universo e Vida” (1978), o Espírito Áureo, através da psicografia do prezado Hernani Sant’Anna, traz novas referências sobre o assunto, explicando-nos a experiência vivida por um Espírito puro, como o Cristo, no esforço de corporificar-se entre nós, a fim de tornar-se visível e estabelecer um contato mais direto com a nossa realidade grosseira:

“Para apresentar-se visível e tangível na superfície da crosta terráquea,teve o Cristo Planetário de aceitar voluntariamente intraduzível tortura cósmica,indizível e imensa, ainda que quase de todo inabordável ao entendimento humano”.(Cap.7, 8a. Ed.FEB, pág. 56)

Capa do volume Universo e VidaÁureo traz-nos detalhes desse processo:

“Primeiro, obrigou-se à necessidade de abdicar, por espaço de tempo que para nós seria longuíssimo, da sua normal ilimitação de Espírito Cósmico e ao seu trono no Sol, sede do Sistema, transferindo-se do centro estelar para a fotosfera, onde lhe foi possível o primeiro e doloroso mergulho na matéria, através do revestimento consciente do seu mentespírito com um tecido energético de fótons. Depois, teve de imergir no próprio bojo do planeta Terra, em cuja ionosfera utilizou vastos potenciais eletromagnéticos para transformar seu manto fotônico em leptons e em quarks formadores de mésons e de hárions, estruturando átomos ionizados.Finalmente, concluindo a dolorosíssima operação de tangibilidade, revestiu esse corpo iônico com delicadíssima túnica molecular, estruturada à base de ectoplasma, combinando com células vegetais, recolhidas principalmente (como já captou a intuição humana) de vinhedos e trigais”. (Cap. 7, 8ª.ed. FEB, págs. 56 e 57)

E prossegue:

“Embora nossas toscas palavras e rudes considerações não possam, de nenhum modo, dar a mais pálida ideia do imensurável sacrifício do Cristo Divino para materializar-se entre os homens, convém aqui refletirmos um pouco sobre o que sabe a experiência humana, no campo dos tormentos a que está exposta no mundo a sensibilidade apurada. [...] O que avulta de pronto à nossa assustada percepção é o superlativo massacre de sensibilidade que se evidencia no fato de um Ser, não apenas de super-requintada, mas de divina delicadeza sensorial, expor-se ao inferno de baixas, odientas e agressivas vibrações terrestres, para respirar e agir, por inexcedível amor, no clima superlativamente asfixiante de nossas humanas iniquidades. Em face do muito de sublime já escrito na vasta literatura espírita-cristã, sobre a dor moral, em suas variadíssimas expressões, não examinaremos aqui esse primordial e nobilíssimo aspecto do sacrifício messiânico, mas insistiremos em chamar a atenção para a terrível realidade psicofísica do maior de todos os dramas de dor, que foi a materialização crística neste mundo de trevas e maldade; dor real inimaginável, jamais sofrida, na Terra, por qualquer Ser vivente, nem antes nem depois do Filho de Maria”. (Cap. 7, 8a. Ed. FEB, pág. 57)

Seria essa “tortura cósmica” descrita por Áureo a “dor espiritual” a que se referiu Emmanuel? Uma dor “grande demais para ser compreendida”?, “indizível e imensa”, “ainda que quase de todo inabordável ao entendimento humano”, no dizer de Áureo? “Imensurável sacrifício”?

Difícil dizer, exatamente pelas razões expostas. Estamos aqui lidando com o limite de nosso cognoscível, de nosso entendimento, um terreno todo nebuloso para a nossa insensibilidade, para a completa falta de referências sobre os planos mais altos da existência...

Em seu “Universo e Vida”, Áureo ainda destaca outro aspecto da questão – a hipersensibilidade dos corpos espirituais mais refinados, menos densos:

“À proporção que a densidade decresce, a sensibilidade se intensifica. No perispírito dos desencarnados, ela é muito maior do que no dos encarnados comuns, porque aqueles lidam com matéria mais rarefeita, mais plástica e, por isso, mais obediente às modelagens mentais”. [...] Teve [Jesus], portanto, sobradas razões para exclamar, como registrou o evangelista Marcos (9:19): “ó geração incrédula e perversa, até quando me fareis sofrer?” O sofrimento experimentado por Jesus, na preparação e no decurso de seu messianato, não teve, não tem e não terá similar, de qualquer ângulo que seja analisado, inclusive no que concerne à dor física, tal como a entendemos, em vista da sua inigualável sensibilidade orgânica. (Cap.7, 8a. ed. FEB, pág. 58)

Quadro de Caravaggio - Jesus e ToméSeria o corpo de Jesus, ao contrário do imaginado por Kardec, mais sensível à dor física, em razão da tessitura sutil do corpo espiritual criado para suporte de sua materialização? Ou, quem sabe, seria ele sensível ao ponto de sofrer na forma de dor os efeitos danosos das pestilenciais emanações mentais do psiquismo humano, durante sua estadia entre nós??? Abençoado Áureo! Abençoado Hernani!

Não temos as respostas, ainda, mas o maior mérito que encontramos na revelação de “Universo e Vida” é o fato de que ela reforça a hipótese de uma dor maior que aquela que conhecemos, para o Cristo, “quebrando” de vez, por assim dizer, a “esfinge” - o dilema “binário” proposto pelo Codificador: “ou dor física, ou mentira” - que se apresentava como insolúvel, desafiando as nossas capacidades e ao mesmo tempo nos dividindo em posições de pensamento antagônico. Com Áureo, descobre-se a possibilidade de um caminho completamente novo, e absolutamente em linha com o perfil moral e totalmente Superior do Cristo. Foi necessário que os anos se passassem para que os alertas de Emmanuel, combinados com a revelação de Áureo, nos remetessem a um quadro totalmente diverso.

O fato novo, nesta história, é essa “dor espiritual”, essa “tortura cósmica” do Espírito puro, ao ter de remontar um corpo espiritual, temporário, a fim de poder materializar-se entre nós. Um sacrifício imensamente mais doloroso do que qualquer sensação humana possa descrever. E esse esforço não é de poucas horas, mas de um tempo muito maior, necessário à preparação e execução de toda a Sua missão entre nós...

Nossa mente pequenina se satisfazia e cobrava de Jesus um sacrifício com “s” minúsculo. O Cristo nos ofereceu, silenciosamente, um outro, muito maior, com “S” maiúsculo, este sim muito mais proporcional à Sua dignidade, à Sua modéstia, à Sua abnegação sem limites pelos irmãos menores, todos nós que estamos sob Sua responsabilidade, como governador planetário. Vestiu uma “roupa de espinhos” durante trinta e três anos, enquanto nos preocupávamos com uma “coroa de espinhos” de apenas algumas horas... Um Sacrifício Silencioso, preservado por modéstia e só agora revelado, quase dois mil anos depois, provavelmente para nos ajudar exatamente a sair do dilema, a dar um passo à frente em nossa compreensão, descortinando horizontes novos, ainda não vistos, e sequer imaginados anteriormente. Um Sacrifício Santo, e tão mais santo exatamente pelo fato de ter-se ocultado, por ato de modéstia, por vivência plena e exemplar daquilo que nos traz o evangelho.

È com base em todas essas considerações que Áureo refuta enfáticamente a tese do "vão simulacro":

Completamente irreal e terrivelmente injusto é, pois, o argumento de embuste, largamente usado pelos que não compreendem a absoluta impossibilidade da encarnação comum de um Ser Crístico e só conseguem ver uma grosseira pantomima na capacidade de sofrer de um agênere. A verdade, como vemos, é bem outra, incomparavelmente bela, justa, santa, lógica e real; a realidade do sublime amor daquele que é, de fato, o Caminho, a Verdade e a Vida” – conclui Áureo. (Cap.7, 8a. ed. FEB, pág.60)

Um detalhe importante, que merece ser destacado, antes de terminarmos esse item, é o fato de “Universo e Vida” ter sido publicado pela FEB em 1978, quase cem anos depois da desencarnação de Roustaing, ocorrida a 02 de janeiro de 1879, como se sabe. Parece que a Espiritualidade Superior guardou essa revelação para um momento especial, trazendo assim a sua parte na celebração do centenário de desencarnação do tão incompreendido Apóstolo de Bordeaux...

Vejamos agora a questão da aparência...

APARÊNCIA É SEMPRE MENTIRA?

Ilustração de Gustave Doré - Divina ComédiaSerá que, em algum momento de sua missão, Jesus se serviu não da mentira, mas da aparência, em nosso benefício? E, em se confirmando algum caso do gênero, como Ele teria feito, para combinar verdade e aparência, que a alguns parecem inconciliáveis?

Comecemos a análise desse item com um caso menor, mais próximo de nossa realidade, extraído da Coleção André Luiz - do volume “Libertação” - capítulo 4. André e seu companheiro de estudos, Elói, dirigem-se então à uma cidade em pleno Umbral, orientados pelo instrutor Gúbio, para uma missão especial: obter de Gregório, um dos líderes daquela comunidade trevosa, a autorização para uma tentativa de tratamento da jovem Margarida, uma de suas vítimas, ainda encarnada, e filha de Gúbio, em uma de suas existências. O texto começa com a descrição de uma paisagem em tudo triste, e “pesada”:

“Após a travessia de várias regiões, “em descida”, com escalas por diversos postos e instituições socorristas, penetramos vasto domínio de sombras. A claridade solar jazia diferençada. Fumo cinzento cobria o céu em toda a sua extensão. A volitação fácil se fizera impossível. A vegetação exibia aspecto sinistro e angustiado. As árvores não se vestiam de folhagem farta e os galhos, quase secos, davam a ideia de braços erguidos em súplicas dolorosas. Aves agoureiras, de grande tamanho, de uma espécie que poderá ser situada entre os corvideos, crocitavam em surdina, semelhando-se a pequenos monstros alados espiando presas ocultas. O que mais contristava, porém, não era o quadro desolador, mais ou menos semelhante a outros de meu conhecimento, e, sim, os apelos cortantes que provinham dos charcos. Gemidos tipicamente humanos eram pronunciados em todos os tons”.

Depois de breve pausa na jornada, Gúbio dá uma primeira orientação aos seus dois discípulos:

Nossas organizações perispiríticas, à maneira de escafandro estruturado em material absorvente, por ato deliberado de nossa vontade, não devem reagir contra as baixas vibrações deste plano. Estamos na posição de homens que, por amor, descessem a operar num imenso lago de lodo; para socorrer eficientemente os que se adaptaram a ele, são compelidos a cobrir-se com as substâncias do charco, sofrendo-lhes, com paciência e coragem, a influenciação deprimente. Atravessamos importantes limites vibratórios e cabe-nos entregar a forma exterior ao meio que nos recebe, a fim de sermos realmente úteis aos que nos propomos auxiliar. Finda a nossa transformação transitória, seremos vistos por qualquer dos habitantes desta região menos feliz”.

Seguindo a instrução recebida, André Luiz e Elói passam a inalar as substâncias espessas que pairavam ao redor, observando em seguida profundas transformações na aparência de seu corpo perispirítico:

“Reparei, confundido, que a voluntária integração com os elementos inferiores do plano nos desfigurava enormemente. Pouco a pouco, sentimo-nos pesados e tive a ideia de que fora, de improviso, religado, de novo, ao corpo de carne, porque, embora me sentisse dono da própria individualidade, me via revestido de matéria densa, como se fôsse obrigado a envergar inesperada armadura”.

Capa do volume Libertação, de André Luiz, psicografia de F.C.XavierInstantes depois da transformação, uma dúvida ética estremece aos dois colaboradores de Gúbio:

“— Mas, não será isto mentir? clamou Elói, quase refeito. Gúbio dividiu conosco um olhar de benevolência e explicou, bondoso: — Não te recordas do texto evangélico que recomenda não saiba a mão esquerda o que dá a direita? Este é o momento de ajudarmos sem alarde. O Senhor não é mentiroso quando nos estende invisíveis recursos de salvação, sem que lhe vejamos a presença. Nesta cidade sombria, trabalham inúmeros companheiros do bem nas condições em que nos achamos. Se erguermos bandeira provocante, nestes campos, nos quais noventa e cinco por cento das inteligências se encontram devotadas ao mal e à desarmonia, nosso programa será estraçalhado em alguns instantes”.

Gúbio e seus assistentes estavam literalmente “apagando a sua luz” e condensando a sua forma perispiritual, na medida do possível e necessário, a fim de serem percebidos sensoriamente pelos habitantes do local, ao ponto de poderem estabelecer contato, em benefício da missão desejada e da jovem Margarida...

Assumiram, por isso, uma “aparência” – palavra chave nesse caso – diferente da sua habitual, a fim de atingir ao fim colimado.

A reação dos dois assistentes foi rigorosamente igual à nossa, quando da associação feita entre aparência e mentira, no caso de possível ausência de dor física durante os episódios do Calvário do Cristo...

Será mentira ocultar ou omitir as próprias qualidades, quando o interlocutor não as possui, ou não se encontra apto a entendê-las? Ou, na hipótese acima, quando a revelação de toda a verdade prejudicará uma missão de socorro a quem se deseja beneficiar?

Voltemos ao caso do Cristo. Temos aí uma situação bem parecida com a do nosso Instrutor Gúbio e seus discípulos. Espírito Puro, já livre das encarnações materiais (Q.113, 168 e 226 de “O Livro dos Espíritos”), materializara-se para ofuscar suas luzes, a fim de tornar-se visível e assim poder cumprir plenamente a sua missão entre nós. Lembram-se da frase de Emmanuel, no volume Roteiro? “Jesus, apagando-se na manjedoura...” (Cap.38)

Deveria ele, no Calvário, chamar a atenção dos que o acompanhavam, para o caráter especial de sua corporiedade? Teria a humanidade de então a condição de compreender o que seja a condição de um Espírito dessa envergadura e suas qualidades, bem como o que é um perispírito, suas propriedades, e como ocorrera a sua materialização?

Mas, se não podiam entendê-la, se a revelação só perturbaria a Sua missão, porque então revelá-las? O silêncio sobre essas faculdades, a omissão do anúncio desses diferenciais evolutivos, não será antes um ato de modéstia, de humildade, antes que uma “mentira”? Ainda mais pelo fato dessa “redução” aparente custar-lhe esforço e mesmo sacrifício, conforme visto anteriormente!

Nesse caso, como em muitos outros, o Cristo optou pela “revelação parcial”, que não combina de nenhuma forma com “mentira”, posto que é apenas a verdade dita de forma genérica, sem explicações mais detalhadas, deixando para o futuro, para o Consolador Prometido, os esclarecimento que estivessem fora do alcance do entendimento de então... Jesus disse claramente que não era desse mundo (Jo.8:23). Que havia “descido do céu” (Jo.6:38). Que João era o maior “dos nascidos de mulher” (Mt.11:11). Que ninguém tinha o poder de tomar-lhe a vida, Ele sim, tinha o poder de tomá-la e retomá-la, poder esse que lhe fora concedido pelo Pai... (Jo.10:18)

Está certo que não foi além na explicação dessas sentenças, mas foi este o método utilizado por Ele em muitas outras circunstâncias:

Lembrou a Nicodemos a reencarnação (Jo.3:1-10), mas não prosseguiu na explanação sobre essa realidade biológica...

Falou das muitas moradas da Casa do Pai (Jo.14:2), mas não aprofundou estudos sobre a pluralidade dos mundos habitados...

Afirmou taxativamente não estarem mortos a filha de Jairo (Mt.9:24) e Lázaro (Jo.11:11), nos casos que por sua aparência foram registrados pela tradição como “ressurreições”, mas não discorreu ali sobre a catalepsia e seus efeitos, porque estaria antecipando em séculos a compreensão da ciência sobre um dos males humanos...

Deu sabor de vinho à água, em Caná (Jo.2:9), mas não revelou aos convivas os segredos do magnetismo...

Multiplicou pães e peixes (Mt.12 e Mt.15), mas não ensinou os segredos dos fenômenos de transporte...

Em nenhum desses casos houve mentira, como jamais poderia haver, partindo do Cristo, mas em todos eles a verdade foi graduada, lançada como semente adequada às condições do ambiente de então, a fim de frutificar em futuro distante, exatamente como fez e disse tê-lo feito em todas as parábolas!

Chama atenção no texto de André Luiz, lembrado acima, a reação do instrutor Gúbio à manifestação do Elói, questionando se não seria mentira ocultar a própria condição superior: “Gúbio dividiu conosco um olhar de benevolência e explicou, bondoso”.

O Senhor conhece as nossas limitações e bem sabe a maneira e o tempo certo para ajudar-nos a superá-las. Foi preciso que dois mil anos se passassem para que, só agora, pudéssemos refletir sobre essas questões a fim de poder olhá-las como quem tem “olhos de ver e ouvidos de ouvir”. Fomos esperados por todo esse tempo com toda benevolência e bondade, para não ferir consciências e não apressar, desnecessariamente, um aprendizado que como todo o resto, na criação, tem o seu tempo certo.

Aparição de Jesus entre os apóstolosPara finalizar, vejamos agora um caso parecido com o do Gúbio, mas desta vez tendo o próprio Cristo como personagem principal, onde a aparência foi usada com um fim benéfico, mas também sem faltar com a verdade. Referimo-nos especificamente ao capítulo 24 do Evangelho de Lucas, versículos 36 a 48, trazendo a descrição da materialização do Cristo entre os apóstolos, depois dos episódios do Calvário:

“V. 36. Quando ainda falavam desses fatos, Jesus se apresentou no meio deles e lhes disse: A paz seja convosco; sou eu; não temais. — 37. Eles, porém, espantados e perturbados, imaginaram estar vendo um Espírito. — 38. Disse-lhes então Jesus: Porque vos turbais e se levantam tantas dúvidas em vossos corações? — 39. Vede minhas mãos e meus pés e reconhecei que sou eu mesmo; apalpai- -me e lembrai-vos de que um Espírito não tem carne, nem ossos, como vedes que tenho. — 40. E, dizendo isso, lhes mostrou as mãos e os pés. — 41. Como, todavia, ainda não acreditassem, tantos eram neles a alegria e o espanto, Jesus lhes perguntou: Tendes aqui alguma coisa que se possa comer? — 42. Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado e um favo de mel. — 43. Ele comeu diante de todos e, pegando do que sobrara, lhes deu; — 44, dizendo: Lembrai-vos de que, quando ainda estava convosco, eu vos disse ser necessário se cumprisse tudo quanto de mim fora escrito na lei de Moisés, nas profecias e nos Salmos1. — 45. No mesmo instante lhes abriu o espírito, a fim de que compreendessem as Escrituras. — 46. E lhes disse: Assim é que, estando isso escrito, importava que o Cristo sofresse e ressuscitasse dentre os mortos ao terceiro dia; — 47, e que em seu nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. — 48. Ora, sois testemunhas destas coisas. — 49. Vou mandar-vos o dom de meu pai, que vos foi prometido; permanecei, entretanto, na cidade, até que sejais revestidos do poder do alto”.

Estamos revendo o relato de um episódio ocorrido depois do Calvário.Jesus se apresenta entre os seus discípulos, perfeitamente materializado e, apesar disso, se esforça para dar a eles a certeza de sua plena “ressurreição”.

Aponta-lhes as feridas em suas mãos e pés, para que as observem.

Oferece-lhes o torso para que verifiquem a consistência de sua carne e ossos.

E, para concluir, ainda lhes solicita comida, a fim de, comendo à sua frente, dar-lhes prova definitiva de sua materialidade que, para eles, significava “vida”. (E ainda há quem diga que Espírito materializado "não come"! - ou não FINGE comer...).

No entanto, estava ali plenamente materializado, hoje sabemos. Como conciliar, neste episódio, aparência e verdade? Também nesse caso, como sempre e em todos os exemplos já citados, Jesus diz a verdade, só não a explica ou detalha, pela impossibilidade de maiores explicações no momento.

Lucas nos conta que os apóstolos imaginaram a princípio estar diante de um “Espírito” (v.37). A palavra utilizada no original grego é “πνεύμα” (pneuma), que também pode traduzir-se como aparição, assombração, espectro, e fantasma. Jesus tenta demovê-los dessa impressão inicial, salientando, no versículo 39, com o uso da mesma palavra, que um fantasma ou assombração não teria a consistência e as características físicas que apresentava. Só não foi possível explicar-lhes, naquele momento, que estava materializado...

Observe-se que, nessa passagem, não foi só a aparência o fator determinante para que os apóstolos tivessem a convicção de sua ressurreição, mas também toda a Sua fala, os Seus gestos, o fato de pedir comida e ingerir o alimento à frente de todos, na mesma hora. Houve um “teatro” sim, tendo Jesus como personagem principal da cena!

A intenção do esforço hoje é clara. Sabe-se bem o efeito causado nos apóstolos, a partir desse episódio. A sobrevivência do Cristo, e seu “retorno dos mortos”, causou um efeito indescritiível e inesquecível, em todos eles. Dizem os especialistas que o movimento cristão começou ali. Que a sua fé atingiu patamares nunca d’antes alcançados. De repente, um grupo de discípulos assustados tornou-se um time de gigantes, preparando-lhes os corações para o Pentecostes, que viria mais tarde...

A lembrança dessa cena acompanhou e sustentou aos apóstolos em todos os seus martírios. Temperou-os por dentro, um a um. Seus exemplos de abnegação e coragem foram, a partir de então, de tal ordem, que sacudiram as massas, fortaleceram os simples e pequeninos do mundo, despertaram energias novas suficientes para fazer com que os cristãos primeiros suportassem três séculos de flagelações.

Teria ele podido dizer, então: “observem, isto não é uma vidência, é uma manifestação objetiva, estou aqui materializado, trata-se de uma ectoplasmia, e vim aqui apenas para provar que a vida continua, que o Espírito é imortal, e que estarei efetivamente convosco até a consumação dos séculos!”?

Seria compreendido? Provavelmente não...

Talvez não tenhamos, ainda, condições de entender bem as razões desse esforço do Cristo e os critérios para o uso benéfico e justo da aparência, em situações dessa natureza mas, por certo podemos agora dizer, e com convicção, que esse "simulacro" sublime de plena corporiedade, que sustentou durante séculos a fé dos cristãos primeiros na ideia da "ressurreição" - não foi indigno, porque nada mancha os atos do Cristo, e muito menos - em vão.

Que Jesus - Caminho, Verdade e Vida - ilumine para sempre o nosso entendimento e o nosso coração.

(Texto adaptado do capítulo homônimo - Vão Simulacro - do volume "Pão Vivo", edição CRBBM).

ESPÍRITOS ASSINAM ABAIXO-ASSINADO
EM FAVOR DO ESTUDO DE KARDEC E ROUSTAING

Capa da 2a Edição do livro Ponte Evangélica, de Jorge Damas Martins

"Em 1952, o Dr. Alcides de Castro, grande continuador de Bezerra de Menezes, no Regeneração, sentiu a necessidade de organizar um estatuto, pois a instituição agora marchava fora das dependências da FEB. Recorreu a Chico Xavier, a fim de obter uma orientação espiritual que viesse ao encontro do seu objetivo. Bezerra de Menezes, então, se manifestou afirmando que ditaria todo o estatuto, através da mediunidade segura, do então Presidente do Grupo, Dr. Alcides.

Preparou-se, assim, o nosso Alcides para a tarefa de tão grande responsabilidade. Quando terminou, levou o trabalho a Chico Xavier, através de quem obteve o reconhecimento da espiritualidade, quanto à autenticidade do estatuto, ditado por Bezerra de Menezes. Para sua surpresa, o próprio Bezerra de Menezes, através da pena missionária de Chico Xavier, subscreveu o estatuto, sendo acompanhado por outras entidades, amigas do Grupo, que, da mesma forma, se manifestaram participando da festa espiritual da independência do “Regeneração”.

O que os adversários da linha Kardec-Roustaing desconhecem, é que logo na primeira página do estatuto, Bezerra de Menezes (DESENCARNADO) recomenda o estudo obrigatório, interno e publicamente, da obra “Revelação da Revelação”, de J. B. Roustaing, como o leitor poderá observar nas cópias anexas (vide fotos abaixo).

Apesar de todo este material revelado através de Chico Xavier, a favor da obra Os Quatro Evangelhos, muitos ainda teimam em dizer ser Emmanuel contrário às verdades de Roustaing. Mas, ao contrário disso, Chico Xavier revelou, ao nosso amigo e respeitado conferencista Newton Boechat, que o seu mentor, Emmanuel, endossa totalmente a obra de Roustaing, como revelação segura da Espiritualidade Superior, que desenvolve a Terceira Revelação iniciada por Allan Kardec. Encontramos este fato narrado no artigo “Um Gosto e Quatro Vinténs” do jornalista Luciano dos Anjos, no Reformador (janeiro de 1970, pp. 9-11).

Como podemos observar, a mediunidade de Francisco Cândido Xavier colabora com provas irrepreensíveis sobre as múltiplas angulações de Os Quatro Evangelhos, apoiando inteiramente o programa tradicional Kardec-Roustaing, da Casa-Máter do Espiritismo no Brasil, a nossa FEB, acima de qualquer agressão ou malquerenças.

Chico Xavier, portanto, se compromissa a não ocultar a luz, colocando-a no velador, para que todos a vejam, ao contrário dos que, já vendo a luz, alimentam ideias farisaicas, tentando inutilmente empanar o brilho das claridades que jorram do Alto.

Terminamos este capítulo recorrendo, como não poderia deixar de ser, mais uma vez, a Emmanuel, no Prefácio de A Vida de Jesus:

“Bem me consolo eu, afirmando que grande coisa já representa a nossa certeza de que o Senhor (Jesus) é a luz do mundo e a misericórdia para todos os corações.”."

(Fonte: "Ponte Evangélica", de Jorge Damas Martins, Ed. CRBBM, Cap.1)

CONFIRA ABAIXO OS DOCUMENTOS:

Primeira Página do Estatuto do Regeneração aprovado mediunicamente pelo Dr. Bezerra de MenezesReprodução da primeira página do Estatuto aprovado mediunicamente pelo Dr. Bezerra de Menezes, em 1952, pelas mãos de Chico Xavier. Destaque para a referência à obra Os Quatro Evangelhos, de J. B. Roustaing, ao final do Artigo 1o.(Clique na figura)







Primeira Página do Estatuto do Regeneração aprovado mediunicamente pelo Dr. Bezerra de MenezesReprodução da última página do Estatuto aprovado mediunicamente pelo Dr. Bezerra de Menezes, em 1952, pelas mãos de Chico Xavier. Destaque para a assinatura de Dr. Bezerra, em perfeita correspondência com à sua quando encarnado. (Clique na figura)







Primeira Página do Estatuto do Regeneração aprovado mediunicamente pelo Dr. Bezerra de MenezesSubscreveram também o mesmo documento Espíritos como Ignácio Bittencourt (Mentor espiritual do Departamento Mediúnico da CRBBM), Frederico Figner, Casemiro Cunha, André Luiz, Emmanuel, Coronel Rosemberg, Antônio Lima, Carmem Cinira, Djanira, João de Deus, Amaral Ornellas, Victor Hugo, e Auta de Souza, entre outros. Os originais do estatuto, com todas essas assinaturas e mais as mensagens de alto teor espiritual, que esses Espíritos ditaram, na ocasião, se encontram nos arquivos do “Regeneração”. Trata-se do primeiro “abaixo-assinado” mediúnico da história do espiritismo, de que se tem notícia, em favor do binômio Kardec-Roustaing.(Clique na figura)








DR. BEZERRA DE MENEZES E
A OBRA DE ROUSTAING

Capa da edição original de Os Quatro Evangelhos, de Roustaing, em 1866A pouco mais de um mês para a XIV edição do Congresso Roustaing, que será promovido esse ano pela Associação Espírita Estudantes da Verdade, na progressiva e acolhedora cidade de Volta Redonda, no interior aqui do Estado do Rio de Janeiro. Para ajudar a "aquecer os corações", em relação ao evento, lembramos de transcrever a palestra do nosso prezado irmão Almir Gomes de Souza, feita em nossa sede, em 2004, tratando especialmente desse tema: a posição de nosso Patrono em relação à obra de Roustaing. Ela é um sucesso, até hoje, na internet, reproduzida pelo Blog dos Livros. Segue abaixo na forma de "vale a pena ver de novo"...

Meus irmãos!

Coube-me a honra de, por deferência de nossos irmãos Azamôr Filho e Júlio Damasceno, prestar minha modesta contribuição nas comemorações pelos 200 anos de nascimento de J.B.Roustaing, promovidas pela nossa Casa de Recuperação e Benefícios Bezerra der Menezes.

Ao convidar-me o Júlio pediu-me para escolher o tema. Inicialmente relutei em aceitar mas diante da quase “intimação”, concordei, e então me pus a meditar. Que tema abordar? Veio-me então a inspiração para falar sobre a posição de nosso patrono Bezerra de Menezes com relação à obra de Roustaing. Assim, parti para a pesquisa e logo percebi que precisava de ajuda, pois não tinha em mente onde encontrar material para a pesquisa. De saída fui levado a procurar o nosso jornal “O Cristão Espírita”, por acaso, no armário do CEIM. Lá encontrei, no jornal de outubro de 1965, no 3º número publicado, referências sobre o tema extraídas do Reformador de 1947.

Outro problema: onde encontrar aquele Reformador? Fui à FEB e deparei-me com a Biblioteca fechada, em obras. Desci para a livraria e com quem me deparo? Com o Júlio, que fora comprar novos exemplares de Os Quatro Evangelhos.

Falo-lhe da minha aflição e lembro de pedir-lhe o telefone do Damas, pois o ele saberia me informar sobre as fontes. É o que faço e o mesmo me aconselha a não pesquisar no Reformador e me dá o caminho das pedras: seus livros já publicados. Ao procurar o material na minha casa, verifiquei que tinha quase todos os livros: História de Roustaing, Jesus não é Deus, Ponte Evangélica, A Bandeira do Espiritismo - e encontrei um livro que D. Armanda, nossa saudosa companheira, me dera e que eu não vira na estante, do Luciano dos Anjos - Os Adeptos de Roustaing, editado em 1993, que trás um inventário bastante completo sobre as ações e o pensamento do Dr Bezerra sobre esta obra. Além destas, fui buscar subsídios na obra Uma Carta de Bezerra de Menezes, sobre as conceituações filosóficas de nosso patrono e também na obra rara Estudos Filosóficos, que contém, em 3 volumes, parte substancial dos artigos publicados pelo Dr. Bezerra no jornal “O País”, no fim do século XIX.

Muito bem, vamos ao que compilei para trazer aos irmãos nesta noite.

Primeiro vamos ver a atuação do Dr. Bezerra na divulgação da Obra de Roustaing.

Publicação de Os Quatro Evangelhos de Roustaing nas páginas de O Reformador - 1898Todos conhecemos a biografia de nosso patrono. Sabemos que ele recebeu do anjo Ismael a missão de consolidar a Doutrina Espírita no solo brasileiro e promover a união dos espíritas em torno da Bandeira do Evangelho do Cristo na terra do Cruzeiro, espírito elevado que já era, denominado Longinus por Ismael, como registrado na obra de Humberto de Campos “Brasil, Oração do Mundo, Pátria do Evangelho”.

Ele leu pela 1ª vez o Livro dos Espíritos em 1875. Em 1886 fez sua profissão de fé espírita no salão da Guarda Velha diante de mais de 1500 pessoas (2.000, segundo alguns autores), dirigiu a FEB em 1889, foi vice-presidente entre 1890 e 1892 e novamente presidente entre 1895 e 1900, desencarnando em 11 de abril daquele ano.

Atuando nos diferentes grupos espíritas que se formaram e se fundiram naquele período tumultuado da consolidação da FEB, fundada em janeiro de 1884, o Dr. Bezerra foi um combatente ardoroso dos ideais espíritas e seu divulgador para o grande público, através da imprensa, nos artigos dos jornais “O País” e “Jornal do Brasil”.

A obra “Os Quatro Evangelhos” psicografada por Mme. Collignon, organizada e publicada por J.B.Roustaing em 1866, teve sua primeira tradução e impressão na língua portuguesa efetuada pelo Marechal Ewerton Quadros, posteriormente primeiro presidente da FEB, em 1883.

Bezerra afirma tê-la estudado por 14 anos e então, como Presidente da FEB, inicia sua publicação no Reformador, Órgão Oficial da FEB, em 15 de janeiro de 1898. Esta informação está registrada no Reformador de fevereiro de 1947, pág 43.

Ao assumir a presidência da FEB em 1889, Bezerra incorpora o “Grupo Ismael” à Casa Mater do Espiritismo no Brasil. Ele fazia parte deste Grupo, que estudava a obra de Roustaing na companhia de vultos eminentes do movimento espírita da época, como Antnio Luiz Sayão, Bittencourt Sampaio, Frederico Junior, Augusto Elias da Silva entre outros.

Ao assumir a Presidência da FEB pela segunda vez, em 1895, por solicitação expressa de Santo Agostinho, seu Guia espiritual, com plenos poderes para organizar o núcleo da doutrina espírita no Brasil, o Dr. Bezerra inclui, imediatamente, os “Quatro Evangelhos” nos estatutos da Casa de Ismael, formalizando o que já se praticava.

Uma nota: Em 1902, Leopoldo Cirne, pressionado pelos “científicos” tira “Os Quatro Evangelhos” do estatuto da FEB, embora seu estudo tenha continuado normalmente, sendo o mesmo reincorporado definitivamente aos estatutos em 1917, sob a orientação do então Presidente Aristides Spínola.

No dia 18 de Fevereiro de 1891 o Dr. Bezerra fundou o Grupo Espírita Regeneração, com o objetivo da “prática da caridade cristã e a propaganda da Doutrina Espírita, dentro dos moldes da legítima fraternidade e da máxima tolerância...”. Sua idéia inicial era de que este Grupo se corporificasse dentro da FEB, onde fora fundado, para que ,mais tarde, se constituísse estatutariamente e marchasse independente.

Desde suas primeiras reuniões à frente da FEB o Dr. Bezerra instituiu o estudo baseado “nos ensinamentos do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, nas instruções da Codificação de Allan Kardec, na Revelação da Revelação, de J.B. Roustaing” (J. Damas Martins , Ponte Evangélica - cap I, pág 36).

Vejamos agora sua atuação já como espírito:

Capa da 1a. edição brasileira de Os Quatro Evangelhos, de Roustaing, FEB - 1909Em 1952, o Grupo Regeneração publica seu novo estatuto, redigido pelo Dr. Alcides Neves Ribeiro de Castro, no qual consta, na 1ª página, um Artigo determinando que a casa tem por linha de trabalho doutrinário o binômio Kardec-Roustaing.

Este estatuto foi levado pelo Dr. Alcides ao Chico Xavier que, mediunizado, assinou imediatamente: Adolfo Bezerra de Menezes. Na obra Ponte Evangélica, do Jorge Damas, consta o fac-símile das páginas 1 e 17 deste estatuto, com a assinatura do Dr Bezerra, cuja análise grafológica por perito judicial confirmou ser autêntica, ou seja igual, à do Dr Bezerra quando encarnado.

Em 03 de junho de 1961, sob a orientação do Dr. Bezerra teve inicio a concretização do ideal do nosso patrono de reunir outros de seus antigos adversários nos primórdios do Cristianismo, na Roma do fim do século V, em outra célula de trabalho: nascia a Casa de Recuperação e Benefícios Bezerra de Menezes, sob a direção de nosso Irmão Azamôr Serrão.

Em 02 de dezembro de 1963 realizou-se a 1ª Assembléia Geral Extraordinária, para aprovação do seu primeiro estatuto, elaborado sob a orientação direta do Dr. Bezerra, o qual traz no seu Art. 2º - “A sociedade.... será regida por este estatuto ... tem por fim: item II - estudar a Doutrina codificada por Allan Kardec, a obra publicada por Jean -Baptiste Roustaing intitulada “Espiritismo Cristão ou Revelação da Revelação” e outras subsidiárias e complementares da Revelação, de modo a tornar compreensível, em toda a sua pureza, o Evangelho de Jesus”.

Em 14 de setembro 1974 foi fundado em Goiânia o Grupo Espírita Regeneração, também com o mesmo propósito espiritual, inspirado no estatuto de 1952, do Grupo Regeneração do Rio de Janeiro. Todo o processo de criação deste Grupo foi orientado pela espiritualidade, conforme está registrado na Obra do Jorge Damas “O 13º Apóstolo”, páginas 194 /195.

Bom, este é um resumo das ações concretas do dr. Bezerra, como encarnado e já como espírito, visando a divulgação da obra de Roustaing.

Mas o que ele escreveu a respeito de Roustaing e de sua obra, principalmente sobre seu ponto mais polêmico – a questão do Corpo Fluídico de Jesus?

Vejamos também o que Dr. Bezerra de Menezes escreveu sobre Roustaing:

Capa da 2a. edição brasileira de Os Quatro Evangelhos, de Roustaing, FEB - 1918“Mas o homem, como já foi dito, não cessa de desenvolver a sua faculdade compreensiva e, pois, os princípios fundamentais da revelação espírita, compreendidos nas obras fundamentais de Alllan Kardec, tendem constantemente a se alargar em extensão e compreensão, como ele mesmo veio alargar os princípios fundamentais do ensino ou revelação messiânica – e como este veio alargar os da revelação mosaica.

A Allan Kardec sobrevivem outros missionários da verdade eterna que, sem destruir a obra feita, porque esta é firmada na lei e a lei é imutável, darão mais luz para mais largo conhecimento das faces mais obscuras daquela verdade.

Eis aí que já apareceu Roustaing, o mais moderno missionário da lei, que em muitos pontos vai além de Allan Kardec, porque é inspirado como este , mas teve por missão dizer o que este não podia, em razão do atraso da Humanidade.

Não divergem no que é essencial , mas sim nos modos de compreender a verdade, porque esta, sendo absoluta, nos aparece sob mil fases relativas - relativas ao nosso grau de adiantamento intelectual e moral, que um não pode dispensar o outro, como as asas de um pássaro não se podem dispensar, para que o fim de ele se elevar às alturas.

Roustaing confirma o que ensina Allan Kardec, porem adianta mais que este, pela razão que já foi exposta acima. É, pois, um livro precioso e sagrado o de Roustaing...” Max (Bezerra de Menezes)”.

Fonte: “Gazeta de Notícias – 22 de abril de 1897 in : Ponte Evangélica – Jorge Damas - 1984 , contracapa”.

Bezerra de Menezes, espírito, manifestou-se também sobre a obra em diversas ocasiões, como relaciona Luciano dos Anjos na sua obra “Os Adeptos de Roustaing”, de 1993:

  • Capa da 3a. edição brasileira de Os Quatro Evangelhos, de Roustaing, FEB - 1920No Prefácio do livro “Corporeidade Carneforme de Jesus” de Henrique Orsínio, S. Paulo, 1937 págs. III a V. O prefácio, assinado também pelos espíritos Bittencourt Sampaio e Batuíra, é integralmente em defesa de Roustaing, segundo palavras de Luciano dos Anjos, é de 12 de julho de 1937.

  • Na mensagem ditada no Grupo Ismael em reunião de 13.8.1941, quando os participantes encerravam mais uma vez o estudo completo da obra de Roustaing – (ver Trabalhos do Grupo Ismael, de Guilhon Ribeiro , edição da FEB de 1942, vol II pág 29 e 31 e 232 a 234). Um trecho da mensagem diz:
    “Aqui estão presentes os velhos companheiros: o José, o João, o Richard, o Bittencourt, os Sayão, a Isabel, o Matos, o Cardoso, o Frederico, o Ulysses, o Fonseca e tantos outros (...). Coube-me, pois, a mim a missão de trazer-vos estas palavras de animação, quando encerrais mais um ciclo do vosso estudo, com aproveitamento (...). Recebei a expressão dos meus sentimentos para convosco e daqueles que me delegaram o encargo de vos falar neste momento. Lembrai-vos sempre de que todos eles estão convosco, partilhando da vossa obra. Nenhum desertou”.(Médium : João Celani, médium excelente do Grupo Ismael, a partir de 1939 até 1943, quando teve que se afastar, desencarnado em 1957.)

  • Na Mensagem de agradecimento a Roustaing, psicografada por José Salomão Mizrahy, na reunião do grupo Ismael, de 26 de novembro de 1978, e publicada no Reformador de fevereiro de 1979, pág 14, assinada também por Bittencourt Sampaio e Antônio Luiz Sayão. Vejamos o que eles nos disseram:

    Capa da 4a. edição brasileira de Os Quatro Evangelhos, de Roustaing, FEB - 1942"NOSSA HOMENAGEM

    Ao nobre missionário de Bordéus, que, num esforço hercúleo e louvável, compilou as revelações que os Evangelistas e Moisés ditaram à distinta Senhora Collignon.

    A par da exegese de textos e versículos dos Evangelhos, preenchendo claros de forma até hoje insuperada; de esclarecimentos e interpretações de passagens antes incompreensíveis e absurdas, por força da letra;das necessidades imperiosas da atualização do conhecimento das realidades que as escrituras sintetizam, reconhecemos, quando são decorridos 112 anos da publicação da obra complementar do consolador Prometido, que teses e sínteses, conceitos re elucubrações com respeito às revelações superiores aguardam, no tempo e no espaço, mais amadurecimento e iluminação interiores, para que sejam entendidos em espírito e verdade.

    Não só pelo corpo de carne aparente com o qual o Senhor manifestou-se em sua gloriosa epopéia terrena; nem pela evolução em outros planos do espaço sideral, desvelando a não compulsoriedade das encarnações e reencarnações; tampouco pelos elevados conceitos da evolução, dos reinos inferiores da Natureza até ao instante alentador do despertar da razão e da consciência individual e imortal, em cujo imo o livre-arbitrio desabrocha por imperioso processo de aperfeiçoamento, mas sobretudo pela garantia da preservação das lições evangélicas que do Cristo Jesus recebemos – homenageamos o preclaro Dr. Jean-Baptiste Roustaing, tanto quanto reverenciamos seus pares, que, ao lado do Codificador, deram início à Era do espírito, preparando os germens do ciclo regenerativo que aguarda a comunidade terrena.

    Recordamo-nos de Denis e Delanne, de Flammarion e Aksakof, de Bozzano e Lombroso, de Geley e Crookes; contudo, nesta oportunidade, rendemos a nossa humilde e sincera homenagem ao Gigante da “revelação da Revelação”. Ao lado de Kardec, foi ele o intimorato e destemido guardião das Verdades Evangélicas. Se Allan Kardec exaltou a Moral Cristã como base de renovação e aperfeiçoamento espiritual, em “ O Evangelho segundo o Espiritismo”, Jean-Baptiste Roustaing, à semelhança dele, trouxe ao mundo as esquecidas e desprezadas revelações do Nascimento do Senhor, incompreendidas por muitos, ata as do advento da Ressurreição, igualmente incompreendidas por tantos, ainda.

    Glória, pois, ao Mensageiro da Fé. Abençoada seja a obra que suas mãos e seu coração veicularam. Nosso louvor e gratidão a ele, onde e como se encontra.

    BEZERRA, BITTENCOURT e SAYÃO, pela Falange de ISMAEL".

  • Na mensagem do Dr. Bezerra intitulada “No Dia do Livro Espírita”, recebida pela médium Maria Cecília Paiva, na sessão pública da FEB de abril de 1955, publicada no “Reformador” de abril de 1972, pág. 82, transcrita parcialmente abaixo:

    “Kardec e Roustaing volvem do passado como missionários do senhor! O primeiro edificando o corpo básico da altíssima Revelação; o segundo aprimorando-o nos contextos reveladores da excelsa Verdade. Está a humanidade de posse do inesgotável tesouro da misericórdia divina. Tem o homem em suas mãos o roteiro luminoso da paz”.

  • Respondendo a um leitor que o consulta sobre a possibilidade de adotar em seu Grupo espírita as duas obras de Antonio Luiz Sayão, Dr. Bezerra, sob o pseudônimo Max, assim responde na Gazeta de Notícias, em artigo de terça-feira, 23 de março de 1897, página 2:

    Capa da 5a. edição brasileira de Os Quatro Evangelhos, de Roustaing, FEB - 1954“...mas o autor, não possuindo, como homem, a vantagem que faz sobressair o trabalho de Kardec, de clareza e concisão, torna-o bem pouco acessível às inteligências de certo grau para baixo”.

    Seria obra de mérito valor dar à sua exposição de princípios relevantíssimos a concisão e a clareza que sobram no mestre e que lhe faltam bem sensivelmente.

    Foi esta, no fundo, a obra de Sayão.

    Em ligeiros traços resumiu, sem lesar, longas exposições – e em linguagem didática clareou e pos ao alcance de todas as inteligências o que era obscuro à maior parte.

    O livro de Sayão é um resumo de Roustaing, com as vantagens de Allan Kardec.

    È portanto correto e adiantado, sob o ponto de vista doutrinário – e é claro e conciso sob o ponto de vista do método.

    Por outra: contém as idéias de Roustaing e o método incomparável de Allan Kardec.

    Quem compreender a progressividade da revelação não pode recusar preito a Roustaing – e quem quiser colher, em Roustaing, os frutos preciosos de sua inspiração, muito lucrará estudando o livro (os livros) de Sayão. [...] Neles encontrareis o que há de mais adiantado em espiritismo, colhido na seara bendita, com a alma cheia de amor, humildade e fé, as virtudes que enastram a coroa do discípulo de Jesus, voltado à obra do Mestre Divino, com o coração cheio de energias e de caridade evangélica.”(Jesus não é Deus – Jorge Damas – Apêndice III, pág. 107).

As obras de Sayão a que se refere o Dr. Bezerra são: Trabalhos Espíritas, de 1893 e Elucidações Evangélicas à Luz da Doutrina Espírita, de 1897.

E com relação à parte filosófica?

Em Estudos Filosóficos, 1ª edição FEB, vol. III, pág 353, transcrito da obra Os Adeptos de Roustaing, do Luciano dos Anjos, temos:

Capa da 6a. edição brasileira de Os Quatro Evangelhos, de Roustaing, FEB - 1971“Jesus teve com efeito um corpo como o nosso pela forma; mas não pela natureza; teve um corpo fluídico, como tomam os anjos (espíritos puros) quando descem a nosso mundo.

É assim que a virgem não deixou de sê-lo depois do parto, sem necessidade de um milagre, coisa que Deus não pode fazer.

Se Jesus não teve corpo material para sofrer, teve os sofrimentos mais cruciantes do espírito.

E quem nos diz que seu corpo fluídico não se prestava tanto, e porventura mais do que o corpo carnal, à transmissão das sensações materiais?

O que é fora de questão é que repugna à razão o fato de um espírito divino tomar a carne dos pecadores , e que a concepção espírita de ser fluídico o corpo de Jesus, não somente fala à razão e remove aquela repugnância invencível, como ainda explica , de acordo com as leis naturais, todos os fenômenos da vida do Redentor, e principalmente sua concepção no ventre puríssimo de Maria santíssima e seu nascimento, sem que a MÃE deixasse de ser Virgem.

O que é fora de questão é que S.Paulo consagra a doutrina espírita neste ponto, quando diz : que há corpos celestes e corpos terrestres.

Que serão os corpos celestes senão os fluídicos?”

Nesta mesma obra, às págs. 449 a 454, lemos:

“O Espiritismo reforça, pelos ensinos dos altos Espíritos, as provas da imaculada conceição".

O Espiritismo considera Maria um altíssimo espírito, que veio à Terra em missão especial de servir de sacrário ao puro amor do Pai.

O Espiritismo não vê, nesse fato fenomenal, verdadeiro milagre para os que ainda não conhecem a lei, nada que pudesse atingir a pureza virginal da mãe do Redentor do mundo , quer antes , quer depois do parto.

Impossível, no primeiro caso, porque Jesus, o Deus na Terra, espírito que só tem acima de si o Pai , não podia vir atafulhar-se na carne impura da humanidade terrestre, como qualquer lapuz.

O corpo de Jesus, compatível com a virgindade de Maria e dispensando a geração, segundo a carne e a mitologia, foi delineado segundo leis eternas e não por uma exceção”.

Ainda, enquanto encarnado, escreveu o Dr. Bezerra, na obra “A Loucura sob Novo Prisma”:

Capa da mais recente edição brasileira de Os Quatro Evangelhos, de Roustaing, FEB - 1995“Por esta lei, um espírito que habitou em mundos superiores à Terra , não poderá descer a nos com seu perispírito natural, incompatível com o meio terrestre.

Também, se um espírito terrestre pudesse subir a um mundo superior, enquanto seu grau de progresso não o livra da Terra, não suportaria a superioridade daquele meio, com seu perispírito grosseiro.

Mas, o fato dá-se: da passagem de Espírito por mundos que não são da ordem do seu, como no-lo provam a vinda, entre nos, dos anjos ou puros Espíritos, habitantes das regiões etéreas, e a do Cristo, o puro dos puros; logo, há de haver lei que harmonize o princípio acima estabelecido com os fatos aqui indicados.

Terá o espírito o poder de modificar seu perispírito, de modo a constitui-lo em condições de tolerar vários meios em que precise manter-se, ou de tornar seu perispírito harmônico com esses meios?

Ensinam elevados espíritos que a vontade é força irresistível, de que se servem eles para jogar com os fluídos, combinando-os de modo a obterem as precisas condições perispirituais para aquele fim”.

Ainda, em Palavras do Infinito, como Max, pág 15:

“Ora, Jesus, sendo um espírito tão elevado, não podia de forma alguma tomar uma matéria, cuja composição nascesse de vermes... Deus concedeu-lhe a graça de escolher sua Mãe e seu Pai adotivos.”

Para concluir:

“Se a revelação é progressiva, na razão do desenvolvimento da nossa perfectibilidade, conclui-se daí rigorosamente que, enquanto a humanidade não tiver tocado ao apogeu da sua perfectibilidade, a revelação não pode ter chegado ao seu elevado grau de luz”. – Uma Carta de Bezerra de Menezes – pagina 64, item Razão de Ser do Espiritismo.

Que possamos analisar com respeito e sem idéias preconcebidas o que nosso patrono nos legou de seu conhecimento e entendimento sobre esta obra para melhor compreendermos o Cristo e sua sagrada Missão junto a nós.

Paz em Jesus

REVELAÇÃO DA REVELAÇÃO:
HISTÓRIA DE UMA EXPRESSÃO

(Texto transcrito / adaptado da obra “Jean Baptiste Roustaing, Apóstolo do Espiritismo”, de Jorge Damas Martins e Stenio Monteiro de Barros)

Os Espíritos do Senhor que, segundo a promessa do Cristo aos seus apóstolos bem-amados, se espalharam sobre a Terra, a fim de trazer a seus irmãos essa Revelação da Revelação há tanto tempo esperada, quererão também, disso temos a íntima convicção, ajudar-nos em nossa difícil tarefa. – AUGUSTE BEZ, por ocasião do lançamento do jornal espírita L’Union Spirite Bordelaise, - Junho de 1865

Joseph de MaîstreEncanta ver, no texto em destaque acima, a expressão Revelação da Revelação, tão questionada pelos que não compreenderam, ainda, o papel da obra de Roustaing como coadjuvante e complementar da Codificação Kardequiana.

Aqui, tudo fica claro: O editorial é de junho de 1865, cerca de dez meses antes do lançamento de Os quatro Evangelhos ou Revelação da Revelação, em 5 de abril de 1866. Então, não há dúvida, o texto diz que os Espíritos do Senhor, como o Cristo anunciou, se espalham na Terra, a fim de trazer a seus irmãos o Espiritismo ou essa Revelação da Revelação. A primeira palavra Revelação está como sinônimo de Espiritismo, e a segunda, é sinônimo de Cristianismo. Assim se pode ler: o Espiritismo é a revelação posterior da Revelação anterior de Cristo.

Ao utilizá-la, portanto, os Espíritos autores de “Os Quatro Evangelhos” serviram-se de expressão corrente e, com ela, referiam-se ao ESPIRITISMO CRISTÃO em geral, como TERCEIRA REVELAÇÃO, como obra COLETIVA das VIRTUDES DO CÉU, e não específica e exclusivamente à obra coordenada e publicada por Roustaing, como que a defini-la como uma revelação distinta e muito menos concorrente da Codificada por Kardec, como muitas vezes equivocadamente se interpretou.

Conhecer um pouco mais sobre a história dessa expressão reforça o entendimento acima apresentado. Ela foi bastante estudada por P.-G. Leymarie, o fiel discípulo e continuador de Allan Kardec. Lemarie diz que ela se origina de Joseph de Maîstre, no seu Soirées de St-Pétersbourg, publicado em 1821. Escreve Leymarie:

Sim, Joseph de Maîstre, em 1821, anunciou uma revelação da revelação pelo espírito, uma nova e divina involução [descida] sobre nossa Terra e cada um estará saturado dessa bondade suprema; o que chegará, dizia ele, será inacreditável, até para os crentes, de tal modo sua manifestação será evidente e tomará desenvolvimentos declarados impossíveis por todas as faculdades (Revue Spirite, novembro de 1897, p. 648).

Um ponto da profecia de Maîstre não convence P.-G. Leymarie; é quando ele fala que esta revelação da revelação, esta nova efusão do espírito profético, será reunida numa única cabeça de um homem de gênio:

A aparição desse homem não poderia estar longe; talvez mesmo já exista...(p. 650).

Leymarie não concorda com esta figura pessoal, e, baseado no profeta Joel, ensina:

Não haverá dessa vez um único Messias, mas um número grande de encarregados de diversas funções, disse Joel, enquanto que de Maîstre esquece o fato e pretende que um único homem de gênio pode modificar tudo, o que é uma asserção arriscada (p. 650).

Esta revelação profetizada por de J. Maîstre é o espiritismo, a terceira efusão após a primeira dos profetas judeus, e a segunda do Cristo. E esta terceira manifestação é conduzida por uma coletividade espiritual, como bem alerta Kardec:

“O Espiritismo ... não é uma doutrina individual, nem de concepção humana; ninguém pode dizer-se seu criador. É fruto do ensino coletivo dos Espíritos, ensino que preside o Espírito de Verdade” (A gênese, cap. XVII, item 40).

Leymarie, então, faz uma citação que confirma não só que ele pensava assim, mas também J. B. Roustaing e seus discípulos eram partidários da mesma ideia:

J. de Maîstre foi o profeta disso. J. B. Roustaing em seus quatro evangelhos é partidário da revelação da revelação, do mesmo modo seus discípulos Jean Guérin e o barão du Boscq (p. 648).

Kardec conhecia bem as profecias de J. Maîstre, pois escreve um longo artigo na Revista Espírita (RE, abril de 1867, pp. 148-158) sobre elas e, muito interessado, evoca o precursor do espiritismo, Joseph de Maîstre, na Sociedade de Paris, em 22 de maio de 1867. Antes, porém, da mensagem espiritual, ele cita alguns pensamentos deste homem de um mérito incontestável como escritor, e que é tido em grande estima no meio religioso (p. 155). Vamos grifar apenas alguns destes pensamentos:

Não há mais religião na Terra: o gênero humano não pode ficar neste estado. Oráculos terríveis, aliás, anunciam que os tempos são chegados (p. 148).

A nação francesa deveria ser o grande instrumento da maior das revelações (p. 149).

Deus fala uma primeira vez no Monte Sinai e esta revelação foi concentrada, por motivos que ignoramos, nos estreitos limites de um só povo e de um só país. Após quinze séculos, uma segunda revelação se dirigiu a todos os homens sem distinção, e é a que desfrutamos ... Contemplai .... e vereis ... como mais ou menos próxima uma terceira explosão da onipotente bondade em favor do gênero humano (pp. 153-154).

E não digais que tudo está dito, que tudo está revelado e que não nos é permitido esperar nada de novo. Sem dúvida, nada nos falta para a salvação. Mas, do lado dos conhecimentos divinos, falta-nos muito (p. 154).

Ainda uma vez não censureis as pessoas que disto se ocupam e que veem na revelação as mesmas razões para prever uma REVELAÇÃO DA REVELAÇÃO” (p. 154, [caixa alta dos autores, no original francês a expressão se enconta destacada em itálico por Kardec: une révélation de la révélation [Revue spirite, p. 106])

Pergunto-vos: disso resulta que Deus se interdita toda manifestação nova e não lhe é mais permitido ensinar-nos nada além do que sabemos? Força é confessar que seria um estranho argumento (p. 155).

Evocado J. de Maîstre por Kardec, através do médium Sr. Armand Théodore Desliens (secretário pessoal do Codificador e uma das testemunhas na certidão de seu óbito), ele confirma suas profecias e ensina a abrangência da revelação da revelação (expressão colocada em itálico por Kardec), por todo mundo:

O espírito profético abrasa o mundo inteiro com seus eflúvios regeneradores. – na Europa, como na América, na Ásia, em toda a parte, entre católicos como entre os muçulmanos, em todos os países, em todos os climas, em todas as seitas religiosas ... A aspiração a novos conhecimentos está no ar que se respira, no livro que se escreve, no quadro que se pinta; a ideia se imprime no mármore do estatuário como na pena do historiador, e aquele que muito se admirasse de ser colocado entre os espíritas é um instrumento do Todo-Poderoso para a edificação do Espiritismo (pp. 157-158).

Lembro ao amigo leitor que J. B. Roustaing também evocou Joseph de Maîstre em 1861, seis anos antes de Allan Kardec, em Bordeaux, e enviou, através do Sr. Sabò, a mensagem para o Codificador (RE, junho de 1861, p. 254). Roustaing fez um pequeno comentário desta mensagem de Maîstre e de outras recebidas. Kardec gostou do que leu, e comentou:

Vê-se que, embora iniciado recentemente, o Sr. Roustaing passou a mestre em assunto de apreciação ... pelas citações que o autor desta carta faz dos pensamentos contidos nas comunicações que ele recebeu, prova de que não se limitou a admirá-las como belos trechos literários, bons para conservar num álbum; mas as estuda, medita e tira proveito (p. 258).

Salve o Espiritismo Cristão! Salve a Revelação da Revelação!

KARDEC E ROUSTAING,
CONCORDÂNCIA UNIVERSAL

“Até nova ordem não daremos às suas teorias nem aprovação, nem desaprovação, deixando ao tempo o cuidado de as sancionar ou as contraditar. Convém, pois, considerar essas explicações como opiniões pessoais dos Espíritos que as formularam, opiniões que podem ser justas ou falsas, e que, em todo o caso, necessitam da sanção do controle universal, e, até mais ampla confirmação, não poderiam ser consideradas como partes integrantes da Doutrina Espírita”. (Allan Kardec, sobre a obra “Os Quatro Evangelhos” de Roustaing - RE, Junho de 1866, pág.258 da Ed. FEB)

Há algumas “lendas urbanas” que curiosamente se propagam na sociedade e adquirem às vezes o status de “verdades estabelecidas” sem que ninguém saiba exatamente como surgiram ou o porquê de sua existência.

O fenômeno é universal, não respeita fronteiras e independe de idioma, cultura, gênero ou religião. Simplesmente acontece.

Fulano disse, Beltrano acreditou, Sicrano “compartilhou” e... pronto!, muitos outros deram fé sem parar para refletir, apurar e avaliar se realmente procede ou não o que foi dito, acreditado e compartilhado. A propagação de boatos e fofocas e a promoção das pseudocelebridades talvez sejam os melhores exemplos dessas ocorrências, e elas podem ocorrer tanto para o bem, quanto para o mal. Por esse meio “fabrica-se” heróis, mas também destroi-se reputações, muitas vezes de pessoas e instituições sérias, com muita rapidez.

Aliás, nesse sentido, as advertências do apóstolo Tiago, em sua epístola, a propósito dos perigos da “língua” nos parecem de uma atualidade impressionante... imaginem o que ele diria se ao seu tempo já houvesse a internet:

“Mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal. Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus”.(Tiago 3:8-9)

Em nosso meio, no movimento espírita, temos também as nossas “lendas urbanas”.

Uma delas é a de que a obra de Jean-Baptiste Roustaing e Émilie Collignon, “Os Quatro Evangelhos”, e em especial a revelação do Corpo Fluídico de Jesus não teriam recebido a sansão do “Controle Universal(1), e que portanto não seriam parte integrante da Doutrina Espírita, conforme o proposto por Kardec no texto reproduzido na epígrafe acima.

A trajetória dessa história é em tudo impressionante e muito instrutiva para aqueles que se interessam em observar como as ideias “correm” e adquirem “vida própria”... Da reserva inicial do Codificador sobre o assunto, e da sua posterior manifestação aparentemente contrária à ideia do Corpo Fluídico, em “A Gênese”, avançou-se aos poucos para a condenação, mais tarde para a segregação da obra e, finalmente, até para a difamação livre e aberta de seus autores humanos e mesmo daqueles que ousassem defendê-los...

A “boa notícia” nestes casos é que, como a base é frágil, eles também caem por si mesmos ao primeiro vento, como um castelo de cartas. “Palavras o vento leva”, diz o ditado popular, e o que se aprende, ao final desses episódios, é que a Verdade sabe se impor por si mesma quando o seu tempo é chegado, sem depender para isso dos favores humanos...

A pergunta que fazemos nessas oportunidades é sempre a mesma, talvez como fruto da nossa formação em jornalismo: Alguém já apurou? Já se parou para verificar, de fato, se há ou não citações de diferentes e relevantes médiuns, de épocas e lugares distintos, sobre o corpo fluídico, por exemplo? Na dúvida, procuramos deixar de lado as opiniões dos homens, muitas vezes controversas, para nos concentrar na pesquisa.

Não demorou muito para descobrirmos que elas existem.

O fato – independentemente do que se diga ou da opinião de quem quer que seja – é que há farta literatura mediúnica em favor da obra “Os Quatro Evangelhos”, e inclusive sobre o corpo fluídico. São mensagens e obras variadas, em bom número e de excelente qualidade, moral e doutrinária. De bons médiuns. De Espíritos relevantes.

Por que não são, então, conhecidas? Não sabemos dizer.

Algumas encontramos em prateleiras empoeiradas, em obras que pelo seu valor não mereciam olvido. Outras estão em textos de fácil acesso, mas parece que foram simplesmente ignoradas, talvez porque ao deparar-se com elas, em numerosos volumes, não estivéssemos com a atenção voltada ao tema. Ou ainda - quem poderá saber? - fosse necessário mesmo que o tempo apenas passasse, para que nós todos crescêssemos espiritualmente, e amadurecêssemos o suficiente para ter “olhos de ver”.

O mais curioso, nesse caso, é justamente a circunstância de não trazermos novidade... O que se propõe, aqui, é uma leitura mais cuidadosa, mais atenta. Vamos iluminar pedras preciosas e translúcidas em meio a uma sala escura, para observar vagarosamente os raios de luz atravessando a sua transparência, admirando passo a passo os seus variados matizes de cor...

Não temos pressa, mas calma. A Verdade fala por si mesma, em muitos casos, mas é preciso um estado de espírito de certa quietude para poder ouvi-la, clara, em nossos próprios corações...

Para facilitar o acesso a essas citações, nós as reunimos, as principais. Elas podem ser vistas no capítulo homônimo a esse artigo – CONCORDÂNCIA UNIVERSAL (constante no volume PÃO VIVO, publicado pela nossa Casa) ou acessando o nosso blog, DE VOLTA AO CRISTIANISMO DO CRISTO, publicado em 2013, mas que traz aproximadamente 50 destas “pérolas” maravilhosas, mas esquecidas, de nossa literatura espírita.

Àqueles que têm interesse sobre o tema, uma boa leitura!

Muita paz.

(1)“Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares”. – Introd. de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, item II.


EURÍPEDES BARSANULFO E GABRIEL,
O ARAUTO DA ANUNCIAÇÃO

Na semana passada destacamos aqui a preciosidade desta obra mediúnica psicografada por Eurípedes Barsanulfo, o nosso Apóstolo de Sacramento - "Eurípedes Barsanulfo, Médium de Jesus" - com preciosíssimas mensagens de algumas das "Virtudes dos Céus", Espíritos Superiores, em sua maioria participantes da Revelação Crística, que vieram também manifestar a sua presença e participar do advento do Consolador prometido por Jesus, o Espírito da Verdade, a Terceira Revelação: Os Evangelistas, Isabel, Zacarias, João Batista, José, Maria... então todos lá. Na oportunidade, para salientar o valor dessa obra e das mensagens que traz, publicamos a primeira mensagem de Maria contida em suas páginas. Hoje damos sequência a esse esforço, publicando desta vez pequeno trecho das palavras de Gabriel, o "Anjo" ou "Espírito" que fez o papel de arauto da anunciação, do encontro entre o Céu e a Terra que se concluiu com a histórica e belíssima sentença de Maria: "Faça-se em mim conforme a vontade do Senhor". Não vamos nos alongar em nossos comentários, a mensagem fala por si. Importante é poder testemunhar o fato de que as três revelações "se falam", e que a Revelação Espírita confirma e esclarece em todos os pontos as passagens relacionadas à presença de Jesus na Terra, entre as quais, claro, o episódio da anunciação e da encarnação especial empreendida pelo Espírito Crístico para poder se fazer presente, visível e tangível entre nós. Vamos ao texto, pois:

A paz bendita do Senhor seja o rubi mais caro que, engastado, brilha em vossos Espíritos.

Oh! Quando, há milhares de anos recebi ordens para descer a uma pobre cabana, ordens de Deus, todo poderoso, sim, há milhares de anos que desci nesta cabana para assim pedir: salve, oh! donzela, oh! Espírito eleito do Senhor!

Salve, Maria.

A cheia de graça! Bem aventurada és tu porque de teu ventre nascerá o Redentor que conduzirá ao reino do Senhor a humanidade pela palavra, pelos atos, pelas virtudes e pelos ensinamentos. Quando a mulher, humilde e fervorosa, recebe a minha anunciação, Ela se cora e tomada de um doce enleio por não saber como é que Ela se constituiria a mãe de Jesus. Sim, Maria, sobre vós virá a sobra do Espírito Santo e o vosso ventre dele recebendo os puríssimos fluidos que devem constituir o corpo do divino Nazareno. Vós, Maria, sereis destarte aquela que há de gozar primeiro da presença do Salvador neste mundo.

No ímpeto de toda humildade, Maria recorda-se de que por Deus viera à Terra mandada ao desempenho da sublime missão de ser mãe de Jesus. E então, Maria, de joelhos, como estava, volvendo os olhos ao céu, declara: "faça-se em mim a vontade do Senhor".

Realizado estava o pacto, feita estava a aliança da humanidade terrena com seu Deus, chegado foi, no relógio da eternidade, o momento em que Maria, em êxtase sublime, recebe nos braços o farol iluminador da humanidade terrena - Jesus.

Correm os tempos e ei-Lo, com o verbo divino, convidando a humanidade a se redimir.

Jesus, o Senhor Divino, sai a pregar à Humanidade!

Capa do livro Eurípedes Barsanulfo, O Médium de JesusJesus prega a Caridade!

Jesus! Jesus, ei-Lo entre o povo, ei-Lo entre a humanidade dizendo: "Deixar vir a mim as criancinhas porque delas é o Reino dos Céus"; "Bem aventurados os que choram porque serão consolados; Bem aventurados os humildes porque verão a Deus". Eis Jesus, ensinando, curando os paralíticos. Eis Jesus entregando à humanidade a chave da caridade que tem por fim abrir as portas dos mundos que povoam o universo!

Eis Jesus dizendo à humanidade que, para a salvação de seus Espíritos, esta tinha de trilhar seus passos por caminhos de crueis sacrifícios e declarar peremptoriamente: homens, amai-vos uns aos outros. Eu vos dou ensinamento único capaz de vos constituir filhos de Deus e tornar-vos puros. Sim, meus irmãos, entregai-vos à prática do bem, à prática da caridade e tereis salvo e redimido a vossa alma.

Ah! Jesus, então, em troca do amorável sentimento da fraternidade e do amor recebe o sentimento da perseguição e do ódio e da vingança!

Ei-lo que escala o gólgota para ensinar à humanidade ver-se submissa à vontade de Deus.

Eis Jesus que saindo ao mundo dissse que mandaria o Consolador para revelar outros ensinamentos, para receber os que a humanidade não se achava preparada!

Este Consolador, este Espírito da Verdade, na Terra está desde o dia em que o Divino Senhor reergueu para, de novo, tornar ao seio de seus discípulos e de seu apóstolos[...] ide e pregai [...]!

(Mensagem recebida a 09-05-1908,às páginas 167-169 da ed. citada).

A EVOLUÇÃO E A ESPIRITUALIZAÇÃO DO SEXO E DAS FORMAS DE REPRODUÇÃO

Esse é um tema pouco estudado / comentado em nosso meio, e no entanto é fundamental para plena compreensão do processo evolutivo e progressiva evolução das formas. Se os mundos se fluidizam e os corpos se sutilizam, ao longo do carreiro evolutivo, é natural e necessário que os modos de reprodução acompanhem esse mesmo processo, deixando para trás a animalidade e adaptando-se a regimes superiores de espiritualidade. Encontramos a respeito, na edição de Fevereiro de 1864, da Revista Espírita, interessante artigo (e raro) sobre o tema, que transcrevemos abaixo.

Até aqui a reencarnação tem sido admitida de maneira muito prolongada; não se pensou que esse prolongamento da corporeidade, embora cada vez menos material, acarretava necessidades que deviam atrasar o progresso do Espírito. Com efeito, admitindo a persistência da geração nos mundos superiores, se atribuem ao Espírito encarnado necessidades corporais, dão-lhe deveres e ocupações ainda materiais, que o sujeitam e detêm o impulso dos estudos espirituais. Qual a necessidade desses entraves? Não pode o Espírito gozar das alegrias do amor sem sofrer as enfermidades corporais? Mesmo na Terra, esse sentimento existe por si mesmo, independente da parte material do nosso ser; por mais raros que sejam, há exemplos suficientes para provar que deve ser sentido, de modo mais geral, entre os seres mais espiritualizados.

A reencarnação proporciona a união dos corpos; o amor puro, apenas a união das almas. Os Espíritos se unem segundo afeições iniciadas em mundos inferiores, e trabalham juntos por seu progresso espiritual. Têm uma organização fluídica totalmente diferente da que era conseqüência de seu aparelho corporal, e seus trabalhos se exercem sobre os fluidos, e não sobre os objetos materiais. Vão a esferas que, também, realizaram seu período material e cujo trabalho humano ensejou a desmaterialização, esferas que, chegadas ao apogeu de seu aperfeiçoamento, também passaram por uma transformação superior que as torna apropriadas a experimentar outras modificações, mas num sentido inteiramente fluídico.

Agora compreendeis a imensa força do fluido, força que mal podeis constatar, mas que não vedes nem apalpais. Num estado menos pesado ao em que estais, tereis outros meios de ver, tocar, trabalhar esse fluido, que é o grande agente da vida universal. Por que, então, o Espírito ainda teria necessidade de um corpo para um trabalho que está fora das apreciações corporais? Dir-me-eis que esse corpo estará em relação com os novos trabalhos que o Espírito deverá realizar; mas, levando-se em conta que esses trabalhos serão completamente fluídicos e espirituais nas esferas superiores, por que lhe dar o embaraço das necessidades corporais, uma vez que a reencarnação determina sempre, como já disse, geração e alimentação, isto é, necessidades da matéria a satisfazer e, em contrapartida, entraves para o Espírito? Compreendei que o Espírito deve ser livre em seu vôo para o infinito; compreendei que, tendo saído das fraldas da matéria, aspira, como a criança, a marchar e a correr sem ser detido pelo zelo materno, e que essas primeiras necessidades da primeira educação da criança são supérfluas para a criança crescida, e insuportáveis para o adolescente. Não desejeis, pois, ficar na infância; olhai-vos como alunos que fazem os últimos estudos escolares e se dispõem a entrar no mundo, a nele ter a sua posição e a começar trabalhos de outro gênero, que seus estudos preliminares terão facilitado.

O Espiritismo é a alavanca que, de um salto, erguerá ao estado espiritual todo encarnado que, querendo bem compreendêlo e o pôr em prática, se empenhará em dominar a matéria, a tornar-se seu senhor, a aniquilá-la; todo Espírito de boa vontade pode pôr-se em condição de passar, ao deixar este mundo, para um estado espiritual sem retorno terrestre. Falta-lhe apenas fé ou vontade ativa. O Espiritismo a oferece a todos os que o quiserem compreender em seu sentido moralizador.

Um Espírito protetor do médium (Revista Espírita Fev/1864, Ed. FEB, págs.81 e 82)

O CENTENÁRIO DE "OS QUATRO EVANGELHOS"

Capa da Edição Original de Os Quatro EvangelhosNão, por favor não se assustem os prezados leitores e visitantes de nosso site, esta matéria não está equivocada e sabemos bem que a magistral obra "Os Quatro Evangelhos", de Roustaing, foi publicada em 1866, e por isso celebramos em 2016 os seus 150 anos... ocorre que recentemente achamos esse texto notável, publicado em "O Cristão Espírita", em sua edição de abril/maio 1966, durante as comemorações do centenário dessa obra tão bem definida por Bezerra de Menezes como "sagrada", e decidimos resgatá-lo e republicá-lo. Não temos com precisão a definição de sua autoria, mas provavelmente deve ser ou do então redator-chefe de nosso jornal, nosso prezado Indalício Mendes, ou do valoroso e igualmente admirado Ivo de Magalhães, grande estudioso da revelação recebida por Emílie Collignon. Como saudade não tem idade... esperamos que apreciem!

"O ESPIRITISMO vê passar agora o primeiro centenário da extraordinária obra "Os Quatro Evangelho" - Espiritismo Cristão ou Revelação da Revelação - recebida pela médium Emílie Collignon, cujas excelentes faculdades justificaram inteiramente a sua escolha pelo Alto. Não temos dados para fixar o dia e o mês do lançamento do primeiro volume dessa notável obra.(1)

As revelações começaram a ser recebida» mediunicamente em dezembro de 1861, terminando em maio de 1865, perfazendo um total de três volumes, aparecidos em 1866.

Guillon Ribeiro escreve à página 43 da edição de 1920 o seguinte: "Em 1866 [Roustaing] publicou os três volumes dos QUATRO EVANGELHOS e ofereceu um exemplar a Allan Kardec que, na sua REVISTA, em junho de 1867, apreciou a obra", etc.(2)

É curioso assinalar a "coincidência": Assim como coube a Kardec coordenar (e codificar) as obras fundamentais do Espiritismo, coube igualmente a Roustaing coordenar 'Os Quatro Evantelhos", desenvolvendo também estafante trabalho. Se Allan Kardec teve do "Espírito da Verdade" a incumbência de sua gloriosa e fecunda tarefa, supreendido, quando menos o esperava, pela honra e responsabilidade do comentimento, Jean Baptiste Roustain, do mesmo modo, foi supreendido pelo Espírito do Apóstolo Pedro, em 30 de junho de 1861, à realização do importante trabalho, o que constituiu inesperada revelação para ele e para a médium Emílie Collignon. Fora ele visitar essa senhora, a quem não conhecia, a fim de apreciar um grande quadro mediunicamente desenhado, representando um aspecto dos mundos que povoam o espaço. Oito dias depois, voltou, por dever de cortesia, para agradecer à Mme. Colligon o acolhimento distinto que lhe havia dispensado. Quando se preparava para sair, a médium sentiu a agitação fluídica indicadora da presença de um Espírito desejoso de manifestar-se. Tudo começou com a mensagem recebida de Mateus, Marcos, Lucas e João, assistidos pelos Apóstolos.(3)

Como cristãos espiritas, rogamos ao Pai que abençoe o Espirito de J. B. Roustaing e de quantos contribuíram para doar à humanidade essa obra magnífica, que "alem de ser obra de estudos e meditação metódica dos Evangelhos, será sempre também indispensável obra de consulta, não só para os que já lhe hajam perlustrado às páginas, como ainda para os que, sem o terem feito, busquem no momento elucidar qualquer das grandes questões que o Espiritismo veio por em foco" (Guillon Ribeiro, tradutor, no prefácio da 4a. edição).

Outro vulto eminente do Espiritismo brasileiro, Manoel Quintão, assim se referiu, em O CRISTO DE DEUS (ed. FEB) a "Os Quatrro Evangelhos": "estudar o Espiritismo não é limitar-se a Kardec, nem limitar-se a Roustaing, nem particularizar com qualquer outro, porque o caráter do Espiritismo está na imanência de suas fontes, que asseguram sempre conhecimentos sempre progressivos para amplitudes infinitas". Guillon Ribeiro disse que essa obra, "em tempo não muito distante, se tornará para os espíritas todos, uma fonte onde todos irão constantemente beber, desde que do seio deles desapareça o nefasto personalismo que ainda os traz desunidos, desde que os liguem o pensamento e o desejo únicos de servirem a Jesus, exemplificando o amor e a fraternidade, demonstrando ao mundo que todos são um com o Mestre Divino como Ele é um com o Pai" ("Jesus - nem Deus, nem homem").

Anúncio do laçnamento de Os Quatro EvangelhosO grande mestre Kardec, na "Revue Spirite", de 1861, págs. 167 a 172, teve palavras justas acerca dos pontos de vista de Roustaing: "Os princípios que aí são altamente expressos (na carta que lhe escrevera Roustaing), por um homem cuja posição o coloca entre os mais esclarecidos, darão que pensar aos que, supondo possuirem o privilégio da razão, classificam todos os adeptos do Espiritismo como imbecis. Vê-se que Roustaing, apesar de recentemente iniciado, se tornou mestre em matéria de apreciação; é que ele tem séria e profundamente estudado, o que lhe permitiu apreender rapidamente todas as consequências da importante questão do Espiritismo, e que, ao contrário de muitos, ele não ficou na superfície. Infelizmente, nem todos têm, como ele, (Roustaing) a coragem de dar a sua opinião, e é isso que alimenta os adversários (citação feita em "Elos Doutrinários", de Ismael Gomes Braga, págs. 13 e 14).

Este último autor, no livro citado, acrescenta: "A autoridade indiscutível de Kardec reconhecia, pois, na médium e no compilador de "Os Quatro Evangelhos", criaturas superiores, capazes; e hoje, diante da aprovação geral por parte dos Espíritos,nós, espíritas conscienciosos, que seguimos o conselho do Codificador, lendo e consultando a Roustaing, temos o dever de aproximar as obras dos dois Missionários e não nos orientarmos por processos dissolventes, como fazem os confrades de outros países, onde até hoje combatem a Codificação Kardequiana por não aceitarem ao que chamam de "dogma da reencarnação" (pág.14).

Nesta oportunidade de real contentamento espiritual, unamo-nos em torno de Kardec e Roustaing, estudando-lhes as obras e preparando nosso espírito para a mais alta e profunda compreensão dos Evangelhos e da Doutrina Espírita, ou, melhor dizendo, do Cristianismo puro, em espírito e verdade, porque Espiritismo e Cristianismo são uma só doutrina, uma só ideia, um só corpo e uma só alma, com um único objetivo: a felicidade da criatura humana nos dois planos em que se divide a vida, o espiritual e o material. Ambos preparam o homem e a mulher para a vida de hoje na Terra e para a vida de amanhã, na Espiritualidade. Ambos mostram a relação íntima entre o Passado, o Presente e o Futuro, pelos lindes do Carma, através da Justiça Divina representada na reencarnação."

(1) - A intuição de Azamor, Indalício e Ivo foi certeira! Publicam a homenagem ao centenário de "Os Quatro Evangelhos" na edição de Abr/Maio de 1966 e, anos mais tarde, a pesquisa coordenada pelos nossos irmãos Jorge Damas Martins e Stenio Monteiro de Barros conseguiu recuperar o anúncio de lançamento da obra - confirmando como suas datas de lançamento exatamente a 05 de abril (1o e 2o. volumes) e 05 de maio de 1866 (3o. volume). Vide figura acima, à direita. Quem desejar mais informações a respeito favor consultar "Jean Baptiste Roustaing, Apóstolo do Espiritismo", em nossa Biblioteca virtual.

(2) Aqui houve um erro material, o correto é junho de 1862.

(3) Há também mais detalhes sobre essa visita e sobre a natureza e autoria desse quadro mediúnica na obra acima referida, vale consultar...