Retrato de Bezerra de Menezes

Casa de Recuperação
e Benefícios
Bezerra de Menezes

Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da humanidade. - Allan Kardec

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ARQUIVO CRBBM

TESE DO ANO
2023:

CRBBM - Cartaz da Tese do Ano de 2023

TESE DO ANO DE 2022:
É TEMPO DO ESPÍRITO. PENSAR PELO ESPÍRITO.

O VÉU DA MATÉRIA - CUIDADO COM O CANTO DA SEREIA.

Homem escavando em caverna, iluminado por luz provinda de fenda superiorO que seria pensar pelo espírito? Em verdade, pensar pelo espírito é ampliar o foco para o entendimento dos fatos relacionados com a nossa vida, pois o âmbito do espírito é a eternidade. Como espíritas precisamos aprender a sentir e pensar em espírito. Não dá mais para continuarmos vivendo somente com a sensibilidade ligada ao trânsito imediatista da matéria, ou seja, é preciso que os procedimentos corriqueiros do dia a dia ocorram naturalmente, sem potencializá-los além do necessário.

Jesus, sentado à beira do poço de Jacó, diz à Samaritana: Beba a água que te ofereço, pois vem da fonte do espírito e nunca mais sentirás sede.

É comum acontecer que estudiosos dos evangelhos, mesmo já despertados pelos avisos do Cristo Jesus, ainda se deixem levar por ansiosa busca do sucesso pessoal, preservando o desejo de destaque material, comumente conhecido como a ilusão do canto da sereia.

Fomos devidamente avisados pelo Cristo Jesus: “Não se pode servir a dois senhores”, ainda que tenhamos a responsabilidade de: “Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

Somando as duas máximas concluímos que, momentaneamente, como espíritos encarnados, temos sérias responsabilidades com a vida material, portanto, devemos mantermo-nos ponderadamente atentos às exigências do mundo, pagando os tributos de César, no entanto, uma vez acordados pela consciência cristã espírita para a eternidade do espírito, a maior valia, na expectativa das verdadeiras virtudes, necessitamos permanecer no serviço ao Senhor do Espírito.

PRATA DA CASA:
JESUS

Cartão de feliz natalApenas uma vez em cada ano,

Te apresentam na vida em outro plano...

Um belo infante, em belo nascimento...


Cartão de feliz natalPassada a grande festa fraternal, do majestoso dia de Natal,

És a imagem da dor e do sofrimento!


Quando será, Senhor, quando será,

Que a humanidade te contemplará

Em belos quadros de vida e esplendor?


Cartão de feliz natalQuando soarão as clarinadas,

As bandeiras brancas desfraldadas,

Com dísticos de Paz e de Amor?


Cartão de feliz natalBasta de sofrimento e de miséria!

É bem pesado o fardo da matéria,

Que a humanidade tem que carregar...


Cartão de feliz natalSatura toda a natureza de sorrisos.

Mostra a todos nós o paraíso

Em que desejaste o mundo transformar.


Cartão de feliz natalPõe em cada mão o Evangelho,

E que seja o talismã, o Escaravelho

Símbolo da força e do poder!


Põe na mente sã os Teus preceitos,

Revive os belos quadros dos Teus feitos,

Faze o homem a si próprio conhecer!


Cartão de feliz natalÓ Jesus! Senhor Jesus!

Que lindas telas emolduram Tua vida.


Tão simples e, ao mesmo tempo, exuberante!

As pregações do Monte em pleno dia,

As belas noites de luar em Samaria,

Não são simples lembranças, são calmantes!


Cartão de feliz natalQuando convocas Simão Pedro a Te seguir

e aos demais escolhidos reunir...

Quanta beleza em Cafarnaum!


Cartão de feliz natalHomens simples, rudes pescadores,

sábios oradores,

Burilando a inteligência de um a um...


Incrédulo, Tomé sempre prescruta,

Enquanto Iscariotes, sempre à escuta,

interessado que imponhas teu poder...


Cartão de feliz natalTodos te amam com igual intensidade,

Admitindo seres plena realidade,

Razão do mundo todo, essência do viver,

Transforma os velhos quadros do sofrer,

Mitiga a sede ardente do saber,

Transforma o mundo em Paz e Harmonia!


Cartão de feliz natalRevive o cortejo triunfal,

quando em dorso de pequeno animal,

Te conduzias a Jerusalém!


Cartão de feliz natalMostra-nos o Teu batismo no Jordão

A magnífica figura de João,

A pomba branca da Paz

pairando no Além...


Cartão de feliz natalAs tuas pregações em Corazim,

As bodas majestosas de Naim,

As muitas curas em Genezaré...

As longas caminhadas na Judéia,

Betânia, Cananéia...

Em tudo resplandece a Tua fé!


Cartão de feliz natalSemente infinita de imortalidade...

De Ti precisa toda a Humanidade!


Graças a Deus

Vera Lúcia Sartori

(Mensagem Psicografada por Médium da Casa em Dezembro de 2021)


NESTE NATAL, PENSE: VIOLÊNCIA NÃO É BRINQUEDO NÃO

Jesus e as criançasViolência não é brinquedo não. Mas tem arma na mão da criança, nos games, nas histórias em quadrinhos, nos desenhos animados... Afinal de contas, quem brinca com fogo, acaba se queimando mesmo?

A infância merece toda atenção e cuidado. Boa alimentação, educação e carinho podem ser traduzidos como formas assertivas para lidar com a saúde do corpo, o desenvolvimento das capacidades da razão para o bom convívio social e o despertamento de bons sentimentos. Contudo, as nossas escolhas têm provado que estamos ainda muito distante daquilo que pode ser considerado como atenção básica à infância. Diante da insegurança e da violência que permeiam todas as crianças, em todas as classes sociais, se nada fizermos, seremos reconhecidos como aqueles que se especializaram em... desatenção básica à infância!!!

A responsabilidade do adulto sobre a vida de uma criança é muito mais que tomar conta, levar para a escola, alimentar, vestir... Se por um lado a negligência e a omissão na educação podem levar tudo a perder, de outro jeito os exageros também promovem graves riscos. Deixar de prover adequadamente as necessidades para o desenvolvimento humano na infância ocasiona, oportunamente, verdadeiros obstáculos para a superação das muitas situações desafiadoras que a vida exige. Mas a falta de limites e ponderação propicia outros tantos problemas também.

Educação é um processo que possibilita o amadurecimento do indivíduo, portanto deve ser pensada como permanente e intransferível, donde se conclui que aquilo que orbita a percepção sensível, ou seja, tudo que a criança vê, toca e sente, pode despertar curiosidade e interesse, bem como acordar informações trazidas pelo espírito no seu arquivo de experiências pretéritas.

O uso da arma nas brincadeiras infantis favorece ao entendimento da criança de que uma das formas aceitáveis de conseguir vencer os obstáculos da vida é através do argumento imposto pelo poder da força. O brinquedo, quando se utiliza de qualquer tipo de arma para despertar fortes emoções, acaba introduzindo na vida da criança a violência como uma das formas de se resolver problemas. Daí em diante, a naturalidade com que a arma se torna presente, sobretudo no ambiente doméstico, contribui para o que temos visto, quer seja, uma escalada de violência sem precedentes na vida social.

As estatísticas não mentem. O crescimento da violência e de todas as mazelas trazidas como consequência deste mal que assalta o nosso tempo, nos faz afirmar, com todas as letras:Ferir, matar ou morrer, de verdade, não é um jogo, muito menos uma diversão!

A infância pede cuidados. A vida pede caminho.

Nesse Natal, pense. Arma não é brinquedo não!

(Campanha pela Paz de nossa CASA - Dezembro de 2022)

60 ANOS DE NOSSA CASA!
VIVA BEZERRA DE MENEZES! VIVA AZAMÔR SERRÃO!

Cartaz do evento de celebração dos 60 anos da CRBBM

Uma casa é feita de tijolos… paredes… argamassa.

Há Casas e casas, porém. Algumas - as melhores - se transformam em LAR.

Um lar é feito de pessoas. São elas que lhe dão as feições. O jeito.

Os melhores são aqueles que quando abrem-se as portas abrem-se também os braços, acolhedores.

É comum dizer-se que esta ou aquela pessoa “sabe receber”, mas geralmente esse saber traduz-se em regras de etiqueta e detalhes de refinamento.

Há outras tantas que muitas vezes desconhecem as tais regras e os tais detalhes mas sabem receber a quem quer que seja maravilhosamente - com um abraço, com um sorriso sincero, com uma palavra gentil.

Depois da entrada há o “clima” do ambiente.

Há lugares frios - qualquer que seja a temperatura do momento - mas há outros tantos que são verdadeiramente aconchegantes. Mais que confortáveis - são confortantes. Você entra cansado e daqui pouco sente-se bem. Chegou acabrunhado e sai sorrindo. Não há fórmula, nem segredo - parece que a atmosfera daquele lugar está impregnada de alegria, de paz, de amizade - e a tal ponto que aqueles que ali chegam se “contagiam” com essa energia positiva impregnada.

Quem dá o tom é o dono da casa, claro. Ou, o chefe do lar. É de seu coração que abrem-se as portas e os braços, é da sua figura que se irradia esse calor acolhedor, essa alegria espontânea, essa gentileza natural, tão agradável, tão alentadora, ao ponto de modificar o semblante dos que lhe procuram.

Essas casas têm cheiro de café quente - sempre pronto para ser oferecido aos que a visitam. Têm gosto de bolo da vovó - daqueles inesquecíveis, que anos mais tarde ainda se sente água na boca à mais simples lembrança.

Até a água desses lares iluminados é diferente. Nada daquela história de insípida, inodora e incolor, que aprendemos nos bancos escolares. Tem água que tem sabor de carinho! Já experimentou alguma assim? Não me peçam para explicar melhor, porque também não saberia bem o que dizer - mas é diferente, é gostosa, é fresca na medida certa - e revigorante! Com a palavra os cientistas, que ainda não descobriram a química… do Amor.

Lar é também família! Sim, eu sei, cada família é diferente, cada qual tem sua história, seu jeito de ser e viver, suas alegrias e dificuldades, seus desafios… mas também há famílias e famílias. Não é mesmo tudo igual. Mas há situações em que você entra naquele lar para visitar um de seus membros e, quando descobre, encantou-se pela família inteira! Será que entrei em um mundo diferente? Porque ali parece que as pessoas se completam. Suprem-se mutuamente em suas deficiências. Somam-se em suas habilidades. Cantam juntas. Falam ao mesmo tempo e terminam sorrindo as conversas. Abraçam-se, beijam-se, incentivam-se! Compreendem-se!

Meu Deus, pensamos frequentemente nesses casos - como eu gostaria que meu lar fosse assim, que minha família fosse como essa.

Melhor é quando eles lhe acolhem, e de tão amigos e tão fraternos nos fazem acreditar que aquele lar tão afetuoso é também um pouco seu, e que faz parte igualmente daquela família benfazeja.

E quando seus antifriões falecem?

Pensam logo os de fora que agora tudo vai mudar, que a “mágica” vai acabar, mas a verdade é outra…

Esses lares viram templos.

Sacralizam-se.

Cada objeto torna-se então uma pequena relíquia. Os cantinhos, os desvãos, tão ricos de histórias, de sorrisos e lágrimas, têm então uma espécie de “botão invisível” de despertar lembranças.

Os membros da família assumem entre si uma espécie de pacto silencioso - de tudo fazerem para que a “mágica” não acabe, para que a tal “luz acolhedora” se mantenha no ar. Tentam tudo fazer “conforme era antes” … “do jeito que mamãe ou papai faziam” … ajudando-se mutuamente para que o deleite não se vá, que o amor permaneça.

*

Um dia encontrei uma Casa assim…

Tão encantando fiquei, quando a conheci, que logo perguntei por seu anfitrião.

Responderam-me logo, sorridentes - é Azamôr Serrão!

Procurei-o, então, para saber depressa de onde vinha aquela luz acolhedora, mas me explicaram que já tinha desencarnado há muitos anos. Me emocionei, muitas vezes, só de ver as lágrimas que corriam nos rostos daqueles que simplesmente lembravam de Azamôr. De suas falas. Gestos. Atitudes. Conselhos. Cada lembrança era uma relíquia daquela família, guardada cuidadosamente no relicário de seus corações.

Finalmente tive a chance de falar com Azamôr. Que honra, que contentamento. Me explicou, porém, que a Casa não era sua, que era de Bezerra de Menezes, e que dele - da sua figura de extremado amor - é que vinha de fato aquela “tal luz” cuja fonte eu tão afanosamente buscava. Que ele mesmo, Azamôr, também havia aprendido com Bezerra o jeito de tratar aos companheiros de ideal e aos “filhos do calvário” que todos os dias batiam às portas da nossa “Casa Azul”. Que era aprendiz, como os demais, e que se eu desejava encontrar a verdadeira fonte, de tudo o que via, devia procurar por Dr. Bezerra.

Assim o fiz. Finalmente tive a chance de falar com Bezerra de Menezes. Que honra, que contentamento!!! Me explicou, porém, que a Casa não era sua, que era de Jesus, e que Dele - da sua figura de extremado amor - é que vinha de fato aquela “tal luz” cuja fonte eu tão afanosamente buscava. Que ele mesmo, Bezerra, também havia aprendido com Jesus - e com Maria - o jeito de tratar aos companheiros de ideal e aos “filhos do calvário” que todos os dias batiam às portas da nossa “Casa do Caminho”. Que era aprendiz, como os demais, e que se eu desejava encontrar a verdadeira fonte, de tudo o que via, devia procurar por Jesus.

Ao final da visita, falou-me ternamente o Médico dos Pobres.

Contou-me que sonhava em ver os médiuns da Casa Azul tratarem-se uns aos outros com o mesmo amor com que vira Pedro devotar a João; e que ao mesmo tempo se unissem em feixe inseparável, para receber a todos os que a visitassem com a mesma brandura acolhedora com que Maria recebia os pequeninos e os tristes do mundo na Casa do Caminho. Que orava todos os dias para que aquela doce luz que Jesus havia plantado em seu coração e que contagiara também a Azamôr se fizesse presente igualmente no coração de todos os que vestem o nosso avental, que esse era o seu desejo, a sua alegria, o convite que fazia de alma para alma, no silêncio da mais pura vibração!

Saí da visita em lágrimas. De alegria. De gratidão por enfim te tido a chance de poder entender o que se passava naquela Casa tão especial.

Parabéns à Casa pelos seus 60 anos! Gratidão, Azamôr! Gratidão, Bezerra! Gratidão, Jesus!

TESE DO ANO 2021:
"A VIDA, NO ANO QUE PASSOU NOS IMPÔS:
É TEMPO DE DAR UM TEMPO A UM NOVO TEMPO".

Cartaz Tese do Ano Crbbm 2021"Assim será no dia em que o filho do homem aparecer: Nesse dia, aquele que se achar no eirado e tiver dentro de casa seus haveres não desça para os tirar de lá e do mesmo modo não volte atrás aquele que estiver no campo.”(Lucas Cap. XVII vv.30-31)

Condenados a calceta em inúmeras reencarnações, permanecemos atrofiados aos imperativos do mundo, mesmo após termos sido razoavelmente esclarecidos pelos tesouros da fé raciocinada no espiritismo cristão.

São muitos séculos de avisos quanto ao porvir de uma nova era, onde não faltaram recomendações da espiritualidade e sacudidelas da lei que nos rege a vida. Porém, insistimos nas ilusões distraídos pelos desejos, apegados ao ganho imediato, assustados com as carências, fugindo do que julgamos sacrifício ou apavorados com a dor, nos entregando, enfim, às ambições da posse descomedida.

O "Bom Senso”, como característica primordial da codificação espírita, sempre expressado nas orientações da Espiritualidade atuante, constantemente afirma que o processo da transformação planetária é gradativo, já foi iniciado há dezenas de décadas e levará, ainda, algumas outras décadas para efetivar-se como o despertar do reino de Deus no interior de nosso ser.

A tônica da lei da evolução é o passo a passo e, mesmo com os tropeços nada casuais, que somam-se ao crescimento constante e gradativo do espírito humano, a caminhada não cessa.

Assim, o progresso tecnológico dos últimos tempos, colocou-nos numa correnteza que impulsiona vertiginosamente os acontecimentos, acelerando ao máximo as etapas da produção material.

Logo verifica-se o quanto a vida moderna nos afastou da feliz tranquilidade almejada para o nosso dia a dia, pois, para a grande maioria, o tempo para reflexões mais profundas que levam à meditação de bens espirituais, tornou-se escasso ou inexistente.

A providência divina, como sempre oportuna, age no momento certo, o que para nós humanos, tanto ainda nos surpreende.

Nada de bombas devastadoras ou de cataclismas aterradores. Simplesmente, um diminuto e invisível vírus passa a dominar as condições da vida em todo o planeta, alterando rotinas aparentemente inalteráveis, sacudindo a humanidade inteira e obrigando-a a travar o alucinante vício do corre corre da vida.

A reclusão imposta pela pandemia começa a acordar o nosso espírito para realidades de valores mais amplos e permanentes, tais como os sensíveis versos trazidos pela inspirada oração de Francisco de Assis, um verdadeiro tratado sobre a necessária e intransferível comunicação entre os humanos, que começa por:

"Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz;" …( E que culmina no) "Onde houver trevas, que eu leve a luz. / Ó Mestre, fazei com que eu procure mais consolar, que ser consolado;/ Compreender, que ser compreendido; / Amar, que ser amado; / Pois é dando que se recebe;/ É perdoando, que se é perdoado;/ E é morrendo que se vive para a vida eterna.”

Que possamos ser, no tempo do Pai Maior, os instrumentos da Sua paz, como trabalhadores de amar e servir.

É, portanto, inadiável dar um tempo para o novo tempo. Afastados na presença, mas conectados por sentimentos de real valor.

Cabe agora, a cada um de nós, decidir se segue o novo fluxo transformador ou se vai permanecer nadando contra a correnteza.

TESE DO ANO - 2020: TRANSFORMAÇÃO

Arte sobre retrato de Bezerra de MenezesNinguém põe remendo de pano novo em manto velho, porque o remendo repuxa parte do manto e fica maior o rasgão. (Mateus cap. 9 v. 16)

O Evangelho do Cristo Jesus prioriza o abandono do "homem velho" para o definitivo surgimento do "homem novo". Toda transformação requer mudança completa, uma troca de vestimenta. Remendos não resolvem, principalmente para nós que ainda nos encontramos no estágio de experimentarmos a vivência do espírito eterno em passageira vestimenta, ou seja, num corpo de carne.

Mas, chegou o tempo da missão anunciada no Evangelho para o advento do Espírito da Verdade, através da chegada do Consolador prometido por Jesus, nos angustiantes momentos da transição planetária.

É a missão do Espiritismo após completar seus dois primeiros ciclos, conforme nos fala Bezerra de Menezes(*). O primeiro, da experimentação do fenômeno mediúnico e racionalização da fé na sobrevivência da alma; e o segundo, da multiplicação das células operadoras no trabalho do bem e do conhecimento, que são as Casas Espíritas. Alcança agora novo estágio, qual seja, o da maioridade das ideias espíritas: "Temos que promover as Casas, de posto de socorro e alívio a núcleo de renovação social e humana, através do incentivo ao desenvolvimento de valores éticos e nobres capazes de gerar a transformação".

A verdadeira aceitação é aquela que, amorosamente, motiva à mudança de atitude, pois sem a transformação do indivíduo, nenhum sistema coletivo, seja em prol dos benefícios à vida social ou de foco estritamente religioso, alcançará efetiva realização de seus comprometimentos.

(*) Por Wanderley Oliveira, em ATITUDES DE AMOR

POR AMOR À CRIANÇA

Foto de criança brincando e se banhando em vala de ruaNós que tantas vezes rogamos o socorro da Providência Divina, oremos ao coração da Mulher, suplicando pelos filhos das outras! Peçamos às seareiras do bem pelas crianças desamparadas, flores humanas atingidas pela ventania do infortúnio, nas promessas do alvorecer!…

Pelas crianças que foram enjeitadas nos becos de ninguém;

Pelas que vagueiam sem direção, amedrontadas nas trevas noturnas;

Pelas que sugam os próprios dedos, contemplando, por vidraças faustosas, a comida que sobeja desperdiçada;

Pelas que nunca viram a luz da escola;

Pelas que dormem, estremunhadas, na goela escura do esgoto;

Pelas que foram relegadas aos abrigos de lama e se transformam em cobaias de vermes destruidores;

Pelas que a tuberculose espia, assanhada, através dos molambos com que se cobrem;

Pelas que se afligem no tormento da fome e mentalizam o furto do pão;

Pelas que jamais ouviram uma voz que as abençoasse e se acreditam amaldiçoadas pelo destino;

Pelas que foram perfilhadas por falsa ternura e são mantidas nas casas nobres quais pequenas alimárias;

constantemente batidas;

Pelas varas da injúria; e por aquelas outras que caíram, desorientadas, nas armadilhas do crime e são entregues ao vício e à indiferença, entre os ferros e os castigos do cárcere!

Mães da Terra, enquanto vos regozijais no amor de vossos filhos, descerrai os braços para os órfãos de mãe!… Lembremos o apelo inolvidável do Cristo: “deixai vir a mim os pequeninos”. E recordemos, sobretudo, que se o homem deve edificar as paredes imponentes do mundo porvindouro, só a mulher poderá convertê-lo em alegria da vida e carinho do lar.

Emmanuel

(Francisco Cândido Xavier / Waldo Vieira – O Espírito da Verdade)

ESPIRITISMO E POLÍTICA

"Não vos deixeis cair nessa armadilha; afastai cuidadosamente de vossas reuniões tudo quanto disser respeito à política e às questões irritantes; nesse caso, as discussões não levarão a nada e apenas suscitarão embaraços, enquanto ninguém questionará a moral, quando ela for boa. Procurai, no Espiritismo, aquilo que vos pode melhorar; eis o essencial. Quando os homens forem melhores, as reformas sociais verdadeiramente úteis serão uma consequência natural. Trabalhando pelo progresso moral, assentareis os verdadeiros e mais sólidos fundamentos de todas as melhoras, deixando a Deus o cuidado de fazer que as coisas cheguem no devido tempo". - Allan Kardec (Revista Espírita, Ed. FEB, Fevereiro de 1862, Pág.62)

"Nada é mais perigoso do que um amigo imprudente". (Revista Espírita, Junho de 1863, Ed. FEB, Pág.249)

Placas de trânsito indicando direita e esquerdaCorrem na imprensa, em páginas da internet e nas redes sociais expressões absolutamente novas e estranhas à história e à natureza da Doutrina e do movimento espiritas: "Espiritismo de esquerda" ou "Espiritismo de direita". Soubemos inclusive de eventos já anunciados com o propósito de reunir os adeptos dessa ou aquela linha de pensamento.

Lamentamos as notícias, as duas classificações e o evento. Abaixo explicamos as razões que nos levam a considerá-los um grande equívoco, sob todos os aspectos. Como o tema "Espiritismo e Política" é vasto e rico de recortes e nuances, aproveitamos aqui para abordá-lo, ainda que brevemente, por entender que o tema é instrutivo e importante para todos nós.

O Patrono de nossa CASA, Dr. Bezerra de Menezes, é para nós "a" referência quando o assunto é política. Ele a considerava como "a Religião da Pátria", "tão sagrada e obrigatória como o culto das verdades eternas que constitui a religião de Deus”(1). Sua vida inteira e sua destacada carreira política são a demonstração cabal de que esta última pode ser exercida por espíritas e por Homens de Bem (com "h" e "b" maiúsculos) de qualquer credo religioso, a qualquer tempo, com notória dignidade e espírito públicos, mas JAMAIS serviu-se de sua condição de espírita ou mesmo de líder espírita para angariar votos ou obter quaisquer vantagens políticas ou mundanas, nem trouxe para dentro de nossas fileiras nenhum "ranço" de ideologias políticas ou partidárias - basta ver a sua maravilhosa coleção de artigos - ESTUDOS FILOSÓFICOS - que plenamente documenta esse seu zelo ético. Quem é espírita de fato - cristão-espírita - não faz das coisas do céu trampolim para as coisas da Terra...

Emmanuel comenta esse aspecto da participação política do Espírita, na questão de número 60 do volume "O Consolador":

"Como se deverá comportar o espiritista perante a política do mundo? R. O sincero discípulo de Jesus está investido de missão mais sublime, em face da tarefa política saturada de lutas materiais. Essa é a razão por que não deve provocar uma situação de evidência para si mesmo nas administrações transitórias do mundo. E, quando convocado a tais situações pela força das circunstâncias, deve aceita-las não como galardão para a doutrina que professa, mas como provação imperiosa e árdua, onde todo êxito é sempre difícil. O espiritista sincero deve compreender que a iluminação de um mundo, salientando-se que a tarefa do Evangelho, junto das almas encarnadas na Terra, é a mais importante de todas, visto constituir e consolar e instruir, em Jesus, para que todos mobilizem as suas possibilidades divinas no caminho da vida. Trocá-la por um lugar no banquete dos Estados é inverter o valor dos ensinos, porque todas as organizações humanas são passageiras em face da necessidade de renovação de todas as fórmulas do homem na lei do progresso universal, depreendendo-se daí que a verdadeira construção da felicidade geral só será efetiva com bases legítimas no espírito das criaturas".

Então, nada contra - a priori - quanto ao exercício da política ou de cargos públicos por parte desse ou daquele irmão de ideal, desde que: a) não entenda a posição de destaque como motivo para a exaltação do ego, mas como provação ao próprio orgulho e espírito de serviço; b) não se sirva de sua condição de espírita para obtenção de votos ou prestígio político; c) não transforme a sua presença em grupos e reuniões espíritas motivo de contaminação ideológica estranha à natureza apartidária e universalista de nossa Doutrina e movimento, trazendo para o seu ambiente as suas preferências ideológicas ou partidárias... "A César o que é de César, a Deus o que é de Deus" (Mt 22, 21; Mc 12,17 e Lc 20, 25).

A importância dessa isenção e da preservação de nossa Doutrina de todo tipo de vinculação a interesses e ideologias humanas foi salientada pelo próprio Codificador, algumas vezes e, depois dele, por diversos espíritos de escol, em mensagens diversas. Reunimos algumas a seguir:

Imagem de placa de trânsito com o sinal de Pare"[O Espiritismo] não é uma seita política, como não se trata de uma seita religiosa; é a constatação de um fato que não pertence mais a um partido do que a eletricidade e as estradas de ferro; é, insisto, uma doutrina moral, e a moral está em todas as religiões, em todos os partidos". (Revista Espírita, Ouubro de 1861, Ed. FEB, Pág.437)

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"Nós trabalhamos para dar a fé aos que em nada crêem; para espalhar uma crença que os torna melhores uns para os outros, que lhes ensina a perdoar aos inimigos, a se olharem como irmãos, sem distinção de raça, casta, seita, cor, opinião política ou religiosa; numa palavra, uma crença que faz nascer o verdadeiro sentimento de caridade, de fraternidade e deveres sociais". - Allan Kardec (Revista Espírita, Fevereiro de 1863, Ed. FEB, pág. 87)

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"O Espiritismo não tem nacionalidade e não faz parte de nenhum culto existente; nenhuma classe social o impõe, visto que qualquer pessoa pode receber instruções de seus parentes e amigos de além-túmulo. Cumpre seja assim, para que ele possa conduzir todos os homens à fraternidade. Se não se mantivesse em terreno neutro, alimentaria as dissensões, em vez de apaziguá-las" (DESTAQUE NOSSO). Nessa universalidade do ensino dos Espíritos reside a força do Espiritismo. (Revista Espírita, Abril de 1864, Ed. FEB, Pág.140)

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Na mensagem "Unificação", recebida pelas mãos abençoadas do nosso Chico Xavier, a 24 de abril de 1963, Dr. Bezerra é bastante incisivo nesse mesmo sentido:

Placas de trânsito indicando direita e esquerda"É indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos Mensageiros Divinos a Allan Kardec, sem compromissos políticos, sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes, sem pruridos de conquista a poderes terrestres transitórios. Respeito a todas as criaturas, apreço a todas as autoridades, devotamento ao bem comum e instrução do povo, em todas as direções, sobre as Verdades do espírito, imutáveis, eternas. Nada que lembre castas, discriminações, evidências individuais injustificáveis, privilégios, imunidades, prioridades". Temos esse trecho dessa mensagem afixado em um pequeno quadro, no salão principal de nossa sede...

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Em "Sinal Verde", André Luiz classifica as divergências políticas entre os "temas inoportunos" (Cap.29).

***

Finalmente, na mensagem de número 96 do volume "Caminho, Verdade e Vida", Emmanuel nos traz também alertas importantes para evitar-se, a todo custo, a contaminação de nossas fileiras com qualquer pretensão de natureza política:

"Quase incrível o grau de invigilância da maioria dos discípulos do Evangelho, na atualidade, ansiosos pela coroa dos triunfos mundanos. Desde longo tempo, as Igrejas do Cristianismo deturpado se comprazem nos grandes espetáculos, através de enormes demonstrações de força política. E forçoso é reconhecer que grande número das agremiações espiritistas cristãs, ainda tão recentes no mundo, tendem às mesmas inclinações. Individualmente, os prosélitos pretendem o bem-estar, o caminho sem obstáculos, as considerações honrosas do mundo, o respeito de todos, o fiel reconhecimento dos elevados princípios que esposaram na vida, por parte dos estranhos. Quando essa bagagem de facilidades não os bafeja no serviço edificante, sentem-se perseguidos, contrariados, desditosos. Mas... e o Cristo? não bastaria o quadro da coroa de espinhos para atenuar-nos a inquietação? Naturalmente que o Mestre trazia consigo a Coroa da Vida; entretanto, não quis perder a oportunidade de revelar que a coroa da Terra ainda é de espinhos, de sofrimento e trabalho incessante para os que desejem escalar a montanha da Ressurreição Divina. Ao tempo em que o Senhor inaugurou a Boa Nova entre os homens, os romanos coroavam-se de rosas; mas, legando-nos a sublime lição, Jesus dava-nos a entender que seus discípulos fiéis deveriam contar com distintivos de outra natureza".

***

Não se deixem levar então os nossos irmãos de ideal por esse "canto de sereia", não se permita a contaminação de nosso ambiente com as murmurações dos homens; não existe "Espiritismo de Esquerda" nem "Espiritismo de direita"; ou, como diria o Codificador, cuidado para não cair nessa armadilha!

Paz e Bem!

NOTAS: (1) Perfis Parlamentares 33- Bezerra de Menezes, Seleção e Introdução do Deputado Freitas Nobre, Brasília, Câmara dos Deputados, 1986, pág 37, citado por Jorge Damas Martins em “Os Bezerra de Menezes e o Espiritismo”, Cap. 13

150 ANOS DA DESENCARNAÇÃO
DE ALLAN KARDEC

Foto colorizada de Allan KardecLyon, capital da região de Auvergne-Rhône-Alpes, terceira maior cidade da França, conta com quase 2000 mil anos de fundação. Conhecida e reconhecida mundialmente por sua gastronomia e sítios históricos – alguns deles eleitos como Patrimônio Cultural da Humanidade, pela UNESCO - tem assegurado o seu lugar de destaque igualmente nas crônicas do Cristianismo. Atribui-se a iniciativa de seu estabelecimento, em 43 a.C., a um tenente de Julio César, Munatius Plancus, numa colina chamada então Lugduno (Monte de Luzes). Faz jus à tradição...

Privilegiada pela geografia e pela convergência de várias e importantes estradas romanas, a “Capital da Gália” já reunia nos séculos II e III d.C. considerável e influente comunidade cristã. Seu solo guarda ainda as marcas de sangue de inesquecíveis mártires da história do Cristianismo, particularmente a frágil e corajosa Blandina, personagem de um dos mais espetaculares confrontos já enfrentados entre a perversidade e a brutalidade físicas e a coragem indômita e a dignidade moral, vencido, galhardamente, por esta última.

Registra-se igualmente em suas paisagens o surgimento de um dos mais relevantes movimentos cristãos do início do segundo milênio, os Valdenses, seguidores de Pedro Valdo, rico comerciante de Lyon que a partir de 1175 renunciou às suas posses e passou a pregar a volta à pobreza e simplicidade do cristianismo apostólico.

A Inquisição católica foi instituída pelo Papa Lúcio III, em 1184, exatamente para perseguir aos Valdenses e outros grupos afins, como os Cátaros (esses últimos da região de Languedoc, próxima aos Pirineus, no sudoeste da França), vítimas de todo tipo de perseguição individual e massacres coletivos, tão sanguinolentos como lamentáveis, quanto mais a pretexto de motivos “cristãos”...

Pois foi justo nesse solo, nessas terras fecundadas pelo simplicidade cristã, pela admirável bravura, pela fé robusta de tantos nomes valorosos da história do CRISTIANISMO DO CRISTO que nosso Mestre dos mestres fez com que se reencarnasse, a 03 de outubro de 1804, Hypolite Leon Rivail Denisard (1), um de seus “mais lúcidos discípulos”, no dizer de Emmanuel, em “A Caminho da Luz (2), para fundar os alicerces da nova era que então tinha início, com o cumprimento da promessa da vinda do Consolador (3) - a restauração do Cristianismo em sua pureza original; e o surgimento da Ciência do Espírito, da Ciência da Nova Era - semente que igualmente se lançava do Alto à Terra em meio às contradições do pensamento humano, em plena noite do materialismo e da religiosidade de superfície...

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Retrato de Allan Kardec, por MonvoisinPara tão melindrosa missão, era mister que o missionário enviado pelo Cristo recebesse a melhor preparação possível, e assim foi feito. Matriculado no célebre Castelo de Yverdon, fundado e orientado pessoalmente por ninguém menos que Johann Heinrich Pestalozzi, o notável educador suíço, o jovem Denisard identifica-se e inspira-se em seu mentor, tornando-se, à semelhança desse, um “professor”, um “mestre” de primeira grandeza, dos melhores do século XIX, na França, consagrado ao longo de 30 anos de carreira pela fundação de diferentes institutos de ensino e numerosas obras didáticas.

Segundo seus biógrafos o jovem formando chega à Paris entre 1818 e 1819. Em 1823 já o temos traduzindo do inglês e do alemão sua primeira obra, o “Curso de Aritmética segundo o método Pestalozzi”, sensivelmente aperfeiçoado com suas observações. Denisard faz questão de destacar, no frontispício do volume: “Discípulo de Pestalozzi”. O futuro Allan Kardec carregaria com orgulho, a vida inteira, aquela “medalha” de boa formação. A moralidade, o amor à educação, a austeridade proba e operosa, a abertura ao novo, o respeito ao próximo e a sabedoria pedagógica de seu mentor o acompanhariam para sempre...

Os prezados Zêus Wantuil e Francisco Thiesen – autores do maior estudo biográfico já feito, até hoje, sobre o Codificador – destacam, com muita felicidade, a importância e a perenidade desse vínculo: “Com o Curso Prático e Teórico de Aritmética, Hippolyte Léon Denizard Rivail (sic) iniciou em França a sua grande missão patriótica e humanitária de educador e pedagogo emérito. Ali ele se afirmou como uma das maiores autoridades na aplicação do método de Pestalozzi”. Em sua bibliografia há registro de pelo menos mais outras 8 obras pedagógicas e/ou linguísticas publicadas.

“Enfileirando-se entre os melhores gramáticos franceses da época, como Boniface, Chapsal, Lemaire, Lefranc, Lévi-Alvarès” etc, são extensos os seus conhecimentos de linguística e gramática” - acrescentam, e foi membro de diversas associações e sociedades sábias(4).

À semelhança de seu modelo, o Castelo de Yverdon, nos estabelecimentos de ensino que dirigiu as aulas eram ministradas em sua própria residência. Thiesen e Wantuil nos informam o currículo ali lecionado: “elementos e a história da literatura francesa, com exercícios de gramática e de estilo, geografia, história antiga e moderna, elementos de cosmografia, física e química (5).” Manteve igualmente em sua casa cursos gratuitos de diversas disciplinas, durante anos a fio... “Ensinava todas as ciências fundamentais, segundo a classificação de Augusto Comte, seu contemporâneo”, além de Lógica e Retórica, bem como Anatomia Comparada e Fisiologia. (6) [...] “De 1843 a 1848 [...] deu cursos públicos, bissemanais, de matemáticas e astronomia” (7).

Falava e escrevia o alemão tão bem quanto o francês, e, além do inglês (já citado), dominava igualmente o holandês, como também o latim e o grego.

Interessou-se também nesse período pelo Magnetismo, estudando-o disciplinadamente ao longo dos 30 anos seguintes.

Casa-se com a sua companheira de vida e de obras, Amélie Gabrielle Boudet, em 06 de fevereiro de 1832, aos 28 anos.

Foto de Allan KardecEm Rivail construía-se, pouco a pouco, o futuro Allan Kardec. A riqueza das pérolas de conteúdo que os Espíritos lhe trouxeram, quando do início do estudo do Espiritismo, é incalculável. O mérito da seleção das melhores peças, no entanto, é todo seu. Resultam de sua bagagem intelectual, de seu bom senso, de sua capacidade de análise e apreciação.

As sementes que plantou, todas germinaram. Todos os pontos fundamentais da Doutrina que codificou são hoje linhas de pesquisa respeitadas e relevantes, em alguns dos principais centos de pesquisa, mundo a fora, caminhando célere para sua plena confirmação por parte da Ciência.

A sobrevivência da alma é objeto hoje de aprofundada análise nos estudos sobre as chamadas experiências de quase-morte, especialmente no Reino Unido, no projeto denominado Horizon Reseach.

A comunicação com os Espíritos por meios eletrônicos têm animado gerações e gerações de engenheiros da Europa, dos Estados Unidos e do Brasil, este último representado pela nossa valorosa Sônia Rinaldi.

O estudo da reencarnação teve na segunda metade do século XX um imenso avanço graças às iniciativas do Dr. Ian Stevenson, da Universidade da Virgínia (EUA), especialmente em sua Divisão de Perceptual Studies. Seu trabalho tem hoje continuadores sérios e respeitados no meio acadêmico, como o prof. Jim B. Tucker, do mesmo centro de pesquisa.

A Lei de Progresso e Evolução, apresentada com curiosa antecedência em relação à “Origem das Espécies”, de Charles Darwin (1859), em “O Livro dos Espíritos” (1857), especialmente nas questões 540 e 607-a, tem relação direta com os mais avançados estudos realizados em torno das “Grandes Sínteses Evolutivas”, inspirando ainda, em pleno século XXI, conceituados estudos nas áreas da Teoria Geral de Sistemas e das chamadas Ciências da Complexidade, com menção honrosa para os estudos do prof. Ervin Laszlo, um dos líderes nesse campo de estudos, e destaque para sua obra “Campo Akástico”(5).

Retrato de Allan Kardec, por MonvoisinA afirmação da universalidade da vida (“O Livro dos Espíritos”, q. 55) ganhou força com o surgimento da ASTROBIOLOGIA, ou EXOBIOLOGIA, como campo de pesquisa acadêmica e regular, a partir dos anos 50 e especialmente em 1959, quando tornou-se projeto da NASA.

E, finalmente e não menos importante, porque o melhor se deixa para o fim, a própria existência de Deus, ganha corpo no meio acadêmico a partir dos anos 50 do século passado com referências como David Bohn, em seu clássico “Totalidade e Ordem Implicada” ((Saiba mais); dos estudos em torno da informação onipresente na natureza e como fio condutor entre matéria, vida e consciência (Saiba mais) e da Biomimética (a ciência inspirada na natureza).

Como se vê, não sobrou nem um só ponto básico da Doutrina codificada por Kardec – a Doutrina Espírita - sem que resultasse em aprofundado campo de pesquisa, TODOS confirmando ou em vias de vir a confirmar, passo a passo, os postulados kardequianos... Existência de Deus, Sobrevivência da Alma, Comunicabilidade dos Espíritos, Lei do Progresso, Pluralidade das Existências e Pluralidade dos Mundos.

A 31 de outubro de 1992 o Papa João Paulo II reconheceu, enfim, o erro da igreja em relação a Galileu e sua teoria heliocêntrica. Levou 350 anos para fazê-lo. Galileu felizmente não dependeu desse ato para a validação de seu trabalho, ao longo do tempo, mas foi importante o gesto, por seu significado simbólico, pela grandeza da instituição que, embora tardiamente, assumiu publicamente um erro que há muito se mostrava indefensável.

Estamos celebrando hoje a desencarnação de Kardec, há exatos 150 anos. Pode ser que a Ciência Acadêmica consuma também outros 350 para, um dia, reconhecer o valor desse grande pioneiro da Ciência do Espírito. Quem sabe, receba ele até um Nobel póstumo, prêmio de consolação para quem teve seu trabalho minimizado e questionado durante tanto tempo. Será igualmente uma ato simbólico, mas revelará, enfim, a grandeza também de nossos cientistas, ao assumir publicamente o seu respeito a alguém que, como Galileu, teve a coragem de falar, sozinho: “e pur se muove”...

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Nós, espíritas, no entanto, meus irmãos, temos uma dívida de gratidão ainda maior com esse Espírito missionário, como esse mestre abençoado que esteve entre nós para nos lembrar os ensinos eternos de nosso Mestre maior, Jesus, nosso Governador Planetário, nosso Cristo, o “modelo” de perfeição que o Senhor nos ofereceu para nossa inspiração e aprendizado (LE, q.625).

Kardec não se deixou levar pela ciência “que incha” mas, ao contrário, desde cedo percebeu as consequências morais dos ensinos dados pelos Espíritos, até entende-lo como a Terceira Revelação, como o Consolador Prometido, aquele que viria exatamente para lembrar e explicar tudo o que Jesus nos ensinou...

Retrato de Allan Kardec, por Monvoisin"Trabalho, solidariedade, tolerância", foi o lema que nos deixou. Seus ensinos em torno da importância da CARIDADE são antológicos:

“A caridade é a alma do Espiritismo; ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes, razão por que se pode dizer que não há verdadeiro espírita sem caridade. O campo da caridade é muito vasto; compreende duas grandes divisões que, em falta de termos especiais, podem designar-se pelas expressões Caridade beneficente e caridade benevolente.

Compreende-se facilmente a primeira, que é naturalmente proporcional aos recursos materiais de que se dispõe; mas a segunda está ao alcance de todos, do mais pobre como do mais rico. Se a beneficência é forçosamente limitada, nada além da vontade poderia estabelecer limites à benevolência.

O que é preciso, então, para praticar a caridade benevolente? Amar ao próximo como a si mesmo. Ora, se se amar ao próximo tanto quanto a si, amar-se-o-á muito; agir-se-á para com outrem como se quereria que os outros agissem para conosco; não se quererá nem se fará mal a ninguém, porque não quereríamos que no-lo fizessem.

Amar ao próximo é, pois, abjurar todo sentimento de ódio, de animosidade, de rancor, de inveja, de ciúme, de vingança, numa palavra, todo desejo e todo pensamento de prejudicar; é perdoar aos inimigos e retribuir o mal com o bem; é ser indulgente para as imperfeições de seus semelhantes e não procurar o argueiro no olho do vizinho, quando não se vê a trave no seu; é esconder ou desculpar as faltas alheias, em vez de se comprazer em as pôr em relevo, por espírito de maledicência; é ainda não se fazer valer à custa dos outros; não procurar esmagar ninguém sob o peso de sua superioridade; não desprezar ninguém pelo orgulho. Eis a verdadeira caridade benevolente, a caridade prática, sem a qual a caridade é palavra vã; é a caridade do verdadeiro espírita, como do verdadeiro cristão; aquela sem a qual aquele que diz: Fora da caridade não há salvação, pronuncia sua própria condenação, tanto neste quanto no outro mundo”. (RE, Dezembro de 1858, Pág.492-3)

Ouçamos, amigos, ouçamos esse mestre gentil, esse mártir do trabalho, que veio ao mundo para nos lembrar a melhor parte de nós mesmos. Que Deus o abençoe para sempre, e também a memória de seu nome.

Paz e Bem!

Notas:

  1. Trazemos aqui o nome do insigne Codificador do Espiritismo conforme o seu registro de nascimento. Vide mais esclarecimentos a respeito em “Allan Kardec, Análise de Documentos Biográficos”, dos prezados Jorge Damas Martins e Stenio Monteiro de Barros.
  2. 22ª. Ed. FEB, pág. 194
  3. João, XIV: 15 a 17 e 26
  4. “Allan Kardec, Meticulosa Pesquisa Bibliográfica”, de Zeus Wantuil e Francisco Thiesen, Vol. I, Cap. 35.
  5. Saiba mais sobre Ervin Laszlo nesse interessante artigo da Revista do Instituto Humanitas Unisinos.
  6. Idem, Cap. 19
  7. Idem, Cap. 30
  8. Idem, Cap. 25

QUATRO PROFECIAS SOBRE O ADVENTO DA TRANSCOMUNICAÇÃO

ilustração de duas pessoas frente a frente se comunicando por ondas

Entende-se por transcomunicação o estabelecimento de contato entre os habitantes dos planos espiritual e físico através de meio eletrônico. No final dos anos 90 e nos primeiros anos desse século esse assunto esteve bastante em evidência, aqui no Brasil principalmente devido aos esforços da incansável Sônia Rinaldi, fundadora do IPATI - Instituto de Pesquisas Avançadas de Transcomunicação e até hoje uma das grandes estudiosas do assunto, no mundo.

Desejosos de ter notícias dos progressos dessa área de pesquisa, visitamos o site do IPATI e também o da Associação Internacional de Transcomunicação, e acabamos lembrando de quatro "profecias" da literatura espírita sobre o futuro da comunicação entre os dois planos da vida, que transcrevemos abaixo. Por ordem: A primeira consta no próprio Livro dos Espíritos, primeira obra da Codificação Kardequiana; a segunda surge pouco depois, na edição da Revista Espírita de Abril de 1864, com uma mensagem de ninguém menos que Guttemberg, o "pai" da imprensa no mundo ocidental; a terceira, no volume Ascenções Humanas, de Pietro Ubaldi, em 1950; e, finalmente, a quarta e última pouco depois, em 1963, na obra Devassando o Invisível, de Yvone Pereira, trazendo uma mensagem do Dr. Bezerra sobre esse assunto de 1915... As quatro se confirmam, reciprocamente, à perfeição. Confiram abaixo:

“934. A perda dos entes que nos são caros não constitui para nós legítima causa de dor, tanto mais legítima quanto é irreparável e independente da nossa vontade? “Essa causa de dor atinge assim o rico, como o pobre: representa uma prova, ou expiação, e comum é a lei. Tendes, porém, uma consolação em poderdes comunicar-vos com os vossos amigos pelos meios que vos estão ao alcance, enquanto não dispondes de outros mais diretos e mais acessíveis aos vossos sentidos.” ( O Livro dos Espíritos, 1857)

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“Refletindo na dificuldade que sentimos ao nos pormos em relação com os médiuns e utilizar as suas faculdades, havereis de passar de leve sobre certas expressões ou modo de dizer, que nem sempre dominamos. Mais tarde a eletricidade fará a sua revolução mediúnica, e como tudo será mudado na maneira de reproduzir o pensamento do Espírito, não mais encontrareis essas lacunas por vezes lamentáveis, sobretudo quando as comunicações são lidas diante de estranhos". (Guttenberg, Revista Espírita, Abril de 1864, Ed. FEB, Págs. 169-170).

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“No ano de 1915, no correr de memorável sessão a que assistiram nossos pais, em seu próprio domicílio, na cidade de São João Del-Rei, em Minas Gerais, e na qual servia o médium Silvestre Lobato, já falecido - o melhor médium de incorporação por nós conhecido até hoje e Deus -, o Espírito do Dr. Bezerra de Menezes anunciou o advento do Rádio e da Televisão, asseverando que este último invento (ou descoberta) facultaria ao homem, mais tarde, captar panoramas e detalhes da própria vida no Mundo Invisível, antecipando, assim, que a Ciência, mais do que a própria Religião, levaria os espíritos muito positivos a admitir o mundo dos Espíritos, encaminhando-os para Deus. A revelação foi rejeitada pelos componentes da mesa. O médium viu-se acoimado de invigilante, convidado a orar e vigiar, e o Espírito comunicante "doutrinado" como mistificador e perturbador da ordem e do bom-senso. No entanto, parte da profecia já foi cumprida. E não será difícil que a segunda parte o seja também, quando o homem se tornar merecedor da graça de entrever o Além-Túmulo através do seu aparelho televisor...”(Yvone A. Pereira, em “Devassando o Invisível” (1963), Cap. VIII Sutilezas da Mediunidade, item 1)

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“Quando se houver experimentalmente provado [...] que o espírito é um organismo de forças individualizáveis por onda, frequência e potencial, e que a sua vida se exprime em oscilações dinâmicas ou vibrações de um comprimento de onda que se situa além dos raios ultravioletas, então se poderão construir aparelhos radio-receptores de tais ondas, que revelarão o pensamento incorpóreo humano e super-humano. Então se poderá fazer mecanicamente tudo aquilo que hoje poucos sensitivos o fazem, sós e incompreendidos. Para penetrar-se cientificamente no mundo do espírito, é necessário atingi-lo através da decomposição do sistema dinâmico nas zonas de máxima frequência, assim como para atingir o mundo da energia se decompôs o sistema atômico da matéria nas zonas mais evoluídas, mais velhas e mais complexas. No fundo da matéria, além da energia que já encontramos nela, encontraremos o espírito. Isto é lógico e análogo no físio-dínamo-psiquismo, trino-monismo do universo. As descobertas já feitas serão comparadas, com as do amanhã, a coisas pueris. Eis o imenso futuro”.(Pietro Ubaldi, em “Ascensões Humanas” (1950), Cap. XVII)

31 DE OUTUBRO DE 2018:
CENTENÁRIO DE IAN STEVENSON,
O GALILEU DA REENCARNAÇÃO

Dando sequência à nossa celebração dos 100 anos de nascimento de Ian Stevenson, psiquiatra canadense que mais avançou nas pesquisas científicas em torno da reeencarnação, transcrevemos hoje a tradução de um de seus mais importantes artigos, publicado em 1993, dando início à última fase de seus estudos, concentrada na relação entre marcas e defeitos de nascença e as lembranças de crianças de suas vidas passadas.

É um texto HISTÓRICO, inédito e exclusivo, em português, na internet brasileira. Constitui um marco nas pesquisas do tema, leitura essencial para toda a comunidade espírita e para todos os interessados na comprovação científica da pluralidade de nossas existências...

Marcas de nascença e defeitos congênitos correspondentes
a feridas em pessoas falecidas(1)

RESUMO:

Retrato de Dr. Ian Stevenson“Quase nada se sabe sobre a razão de marcas de nascença pigmentadas (pintas ou nevos) ocorrerem em locais específicos da pele. As causas da maioria dos defeitos congênitos também são desconhecidas.

Cerca de 35% das crianças que afirmam lembrar vidas anteriores têm marcas de nascença e / ou defeitos congênitos que eles (ou informantes adultos) atribuem a feridas na outra pessoa de cuja vida a criança se lembra.

210 casos dessas crianças foram investigados. As marcas de nascença eram geralmente áreas de pele sem pelos e franzidas; algumas eram áreas de pouca ou nenhuma pigmentação (máculas hipopigmentadas); outras eram áreas de aumento da pigmentação (nervos hiperpigmentados). Os defeitos congênitos foram quase sempre de tipo raro.

“Nos casos em que uma pessoa falecida foi identificada, verificou-se que os detalhes de sua vida correspondiam inequivocamente às declarações da criança, e uma estreita correspondência foi quase sempre encontrada entre as marcas de nascença e / ou defeitos congênitos da criança e as feridas na pessoa morta.

Em 43 dos 49 casos, em que um atestado de óbito foi obtido, confirmou-se a correspondência entre feridas e marcas de nascença (ou defeitos congênitos).

Há pouca evidência de que os pais e outros informantes impuseram uma identidade falsa na criança para explicar a marca de nascença da criança ou seu defeito de nascença. Algum processo paranormal parece necessário para explicar pelo menos alguns dos detalhes desses casos, incluindo as marcas de nascença e defeitos congênitos”.

1. INTRODUÇÃO:

Embora a contagem de sinais de pele tenha mostrado que em média adultos têm entre 15 e 18 deles (Pack e Davis, 1956), pouco se sabe sobre a sua causa - exceto para aqueles associados com a doença genética neurofibromatose - e menos ainda se sabe porque as marcas de nascença ocorrem em uma localização do corpo em vez de em outra.

Foto-montagem de feto humanoAs causas de muitos, talvez a maioria, dos defeitos congênitos permanecem igualmente desconhecidas. Grandes séries de defeitos congênitos foram investigados e suas causas conhecidas, como os teratógenos químicos (ex.: talidomida), infecções virais e fatores genéticos, representando 43% do total (Nelson e Holmes, 1989); mas em outros estudos (Wilson, 1973) de 65 a 70% dos casos foram atribuídos a "causas desconhecidas".

Entre 895 casos de crianças que alegaram lembrar-se de uma vida anterior (ou assim apontadas por adultos), marcas de nascença e / ou defeitos congênitos foram atribuídos à vida anterior em 309 (35%) dos sujeitos. Essas marcas são indicadas como correspondentes a uma ferida (geralmente fatal) ou outra marca na pessoa morta cuja vida a criança diz lembrar.

Este artigo relata uma investigação sobre a validade de tais alegações. Com meus associados, levei agora a investigação de 210 casos desse tipo para uma fase em que posso relatar seus detalhes em um livro próximo(2), a ser publicado. Este artigo resume nossas descobertas.

Crianças que alegam recordar vidas anteriores foram encontradas em todas as partes do mundo onde foram procuradas (Stevenson, 1983; 1987), mas elas são encontradas mais facilmente nos países do sul da Ásia.

Normalmente a criança começa a falar sobre uma vida anterior quase tão logo quanto pode falar, geralmente entre as idades de 2 e 3 anos; e normalmente para de fazer isso entre as idades de 5 e 7 anos (Cook, Pasricha, Samararatne, Win Maung e Stevenson, 1983).

Embora algumas das crianças façam apenas declarações vagas, outras dão detalhes de nomes e eventos que permitem identificar a pessoa cuja vida e morte correspondem às declarações da criança. Em alguns casos, a pessoa identificada já é conhecida pela família da criança, mas em muitos casos esse contato inexiste.

Além de fazer declarações verificáveis sobre uma pessoa falecida, muitas das crianças mostram também algum comportamento (como uma fobia) que é incomum na sua família, mas encontrado naquela outra pessoa, falecida, que ela diz ser. (Stevenson, 1987; 1990).

Embora algumas das marcas de nascença que ocorrem nessas crianças sejam "comuns", dos quais cada adulto tem alguns (Pack e Davis, 1956), a maioria não é. Em vez disso, elas são mais propensas a ser franzidas e com cicatrizes, às vezes deprimidas - um pouco abaixo da pele ao redor – e/ou apresentam áreas de falta de cabelo, áreas de pigmentação marcadamente diminuída ou manchas do tipo “vinho do porto”.

Quando uma marca de nascença relevante é nevo hiperpigmentado, é quase sempre maior em área do que a mancha "ordinária". Da mesma forma, os defeitos de nascimento nesses casos são de tipos incomuns e raramente correspondem a qualquer um dos "padrões reconhecíveis de malformação humana" (Smith, 1982).

2. MÉTODO:

Retrato de mancha hipopigmentada de um jovem indiano que, como criança, disse lembrar-se ter sido em outra vida um homem, Maha Ram, morto com um ataque de arma de fogo à curta distânciaMinhas investigações nesses casos incluíram entrevistas, muitas vezes repetidas, com o sujeito e com vários ou muitos outros informantes para ambas as famílias. Com raras exceções, apenas informantes de primeira mão foram entrevistados. Todos os pertinentes registros escritos que existiam, particularmente atestados de óbito e relatórios post mortem, foram procurados e examinados. Nos casos em que os informantes disseram que as duas famílias não tinham nenhum conhecimento anterior da pessoa falecida, fiz todos os esforços para excluir todas as possibilidades de que algumas informações possam ter passado normalmente para a criança, talvez através de um conhecimento mútuo meio esquecido das duas famílias envolvidas.

Eu não aceitei qualquer marca indicada como uma marca de nascença a menos que uma testemunha em primeira mão me garantisse que havia sido notada imediatamente após o nascimento da criança ou, no máximo, dentro de algumas semanas. Eu perguntei sobre a ocorrência de marcas similares em outros membros da família; em quase todos os casos isso foi negado, mas em sete casos, um fator genético não pode ser excluído.

Defeitos de nascimento do tipo em questão aqui seriam notados imediatamente após o nascimento da criança. Foram excluídos os casos de defeitos congênitos de causas conhecidas, como relacionamento biológico próximo dos pais (consanguinidade), infecções virais durante sua gravidez e causas químicas como o uso de álcool.

3. RESULTADOS:

a) Correspondência entre as marcas de nascença e feridas

Uma correspondência entre marca de nascença e ferida foi julgada satisfatória se estavam ambas dentro de uma área de 10 centímetros quadrados e na mesma localização anatômica; na verdade, muitas das marcas de nascença e feridas estavam muito mais perto do mesmo local do que isso.

Reprodução do Atestado de  Óbito de Maha Ram. Os círculos mostram as principais feridas de espingarda havidas em seu tórax, para comparação com a figura 1.Um documento médico, geralmente um Atestado de Óbito, foi obtido em 49 casos. A correspondência entre ferida e marca de nascença foi considerada satisfatória ou melhor pelo critério adotado em 43 (88%) destes casos e não satisfatório em 6 casos.

Explicações parecem ser necessárias para explicar os casos discrepantes, e eu as discuto em outro lugar (Stevenson, a ser publicado). A figura 1 mostra uma marca de nascença (área de hipopigmentação) em uma criança indiana que disse lembrar-se da vida de um homem que havia sido morto com uma espingarda disparada a curta distância. A Figura 2 mostra a localização das feridas registradas pelo patologista que tratou do caso (Os círculos foram desenhados por um médico indiano que estudou comigo o relatório post-mortem).

A alta proporção (88%) de concordância entre feridas e marcas de nascença nos casos para os quais obtivemos relatórios pós-morte (ou outros documentos) aumenta a confiança na precisão das memórias dos informantes sobre as feridas na pessoa falecida, em relação aos outros casos, mais numerosos, em que não se obteve a mesma documentação.

Nem todos os erros das memórias dos informantes teriam resultado da atribuição de uma correspondência entre marcas de nascença e feridas que não existiam; em quatro casos (possivelmente cinco) a dependência apenas na memória de um informante teria resultado em perder-se a identificação de uma correspondência de fato existente, que um documento médico atestou.

b) Casos com duas ou mais marcas de nascença:

Figura 3 – Grande epiderme verrucosa na cabeça de um homem tailandês que quando criança disse que se lembrava da vida de seu tio paterno, morto com um golpe de uma faca pesada na cabeça.Figura 4 – Malformação congênita da unha no dedão do pé direito do sujeito tailandês mostrada na Figura 3.  Essa malformação correspondia a uma úlcera crônica do dedão do pé direito, da qual o tio do sujeito tinha sofrido.O argumento do acaso como responsável pela correspondência entre as marcas de nascença e feridas tem probabilidades muito reduzidas quando a criança tem duas ou mais marcas desse tipo, cada uma delas correspondente à uma ferida diferente na pessoa falecida cuja vida ela afirma lembrar. A Figura 3 mostra uma anormalidade da pele na parte de trás da cabeça de um homem tailandês que, como criança, recordou a vida de seu tio paterno, que tinha sido atingido na cabeça com um faca pesada e morto quase que instantaneamente.

O sujeito também tinha uma unha do dedo do pé direito deformada (Figura 4). Isso correspondia a uma infecção crônica do mesmo dedo do qual o tio do sujeito tinha sofrido por alguns anos antes de sua morte.

A série inclui 18 casos em que duas marcas de nascença de um mesmo sujeito correspondiam a feridas de bala de entrada e saída de outra pessoa. Em 14 desses uma marca de nascença foi maior do que a outra, e em 9 destes 14 a evidência mostrou claramente que a marca de nascença menor (geralmente redonda) correspondia à ferida de entrada e a maior (geralmente de forma irregular) correspondia à ferida de saída. Estas observações estão de acordo com o fato de que as feridas de bala de saída são quase sempre maiores que as feridas de entrada (Fatteh, 1976; Gordon e Shapiro, 1982).

Figura 6 – Marca de nascença maior e irregular, da área frontal da cabeça do mesmo rapaz tailandês da Figura 5. Esta segunda marca correspondia à ferida de bala de saída no tailandês falecido cuja vida o menino disse lembrar.Figura 5 - Marca de nascença pequena, redonda e enrugada, num rapaz tailandês que correspondia à ferida de bala de entrada em um homem cuja vida ele disse que se lembrava e que tinha sido atingido por um rifle por trás.A Figura 5 mostra uma pequena marca de nascença na parte de trás da cabeça de um menino tailandês, e a Figura 6 mostra uma marca de nascença maior e de formato irregular na frente de sua cabeça. O menino disse que se lembrava da vida de um homem que foi baleado na cabeça por trás (O modo da morte foi verificado, mas nenhum documento médico estava disponível). Além dos 9 casos que eu próprio investiguei, Mills relatou outro caso com a característica de uma marca de nascença redonda, correspondente à ferida de entrada, e uma outra marca de nascença, maior que a primeira, correspondente à ferida de saída (ambos verificados por um atestado de óbito - MiIls, 1989).

Eu calculei as probabilidades de acaso de duas marcas de nascença corretamente correspondentes a duas feridas. A área da superfície da pele do macho adulto médio é de 1,6 metro (Spalteholz, 1943). Se imaginarmos essa área quadrada e espalhada sobre uma superfície plana, suas dimensões seriam de aproximadamente 127 centímetros quadrados. Nesta área caberia aproximadamente 160 quadrados de 10 centímetros quadrados, conforme mencionado acima. A probabilidade de que uma única marca de nascença em uma pessoa corresponda em localização à uma ferida situada na área de quaisquer desses 160 quadrados menores é de apenas 1 em 11.160. No entanto, a probabilidade de correspondências entre duas marcas de nascença e duas feridas seria de 1 em 25.600 (Este cálculo pressupõe que as marcas de nascença são uniformemente distribuídas por todas as regiões da pele. Isso está incorreto [Pack, Lenson, e Gerber, 1952), mas acredito que a variação pode ser ignorada para o presente propósito).

c) Exemplos de outras correspondências de detalhes entre marcas e feridas:

Figura 7 - Duas marcas de nascença redondas, enrugadas e semelhantes a cicatrizes, de tamanhos diferentes, no lado  esquerdo do tórax de uma mulher birmanesa que, quando criança, disse ter se lembrado da vida de uma mulher que foi fatalmente ferida por uma espingarda que usava um cartucho com diferentes tamanhos.Uma mulher tailandesa tinha três marcas de nascença cicatriciais hipopigmentadas lineares, perto da linha mediana das costas dela; quando criança, ela se lembrava da vida de uma morta quando atingida três vezes nas costas com um machado (Informantes confirmaram esse modo de morte, mas nenhum registro médico foi obtido).

Uma outra mulher birmanesa nasceu com duas marcas de nascença perfeitamente redondas no lado esquerdo de seu peito (Figura 7); elas se sobrepuseram um pouco, e uma delas tinha cerca de metade do tamanho da outra. Quando criança, ela disse que se lembrava da vida de uma mulher que fora acidentalmente baleada e morta com uma espingarda. Um informante responsável disse que o cartucho de espingarda continha munição de dois tamanhos diferentes. (Nenhum registro médico estava disponível neste caso).

Outra criança birmanesa disse que se lembrava da vida de sua falecida tia, que morreu durante uma cirurgia por doença cardíaca congênita. Essa criança tinha uma marca de nascença longa, linear e vertical, hipopigmentada, próxima à linha média da parte inferior do tórax e abdômen superior; essa marca de nascença correspondia à incisão cirúrgica para o reparo de coração (Eu obtive o registro médico desse caso).

Em contraste, uma criança da Turquia tinha uma marca de nascença linear horizontal no quadrante superior direito do abdômen. Assemelhava-se à cicatriz da incisão abdominal transversal de um cirurgião. A criança disse lembrar-se da vida de seu avô paterno, que teve icterícia e foi operado antes de morrer. Ele pode ter tido um câncer da cabeça do pâncreas, mas não consegui obter um diagnóstico médico preciso.

Dois sujeitos birmaneses lembraram como crianças a vida de outras duas pessoas que morreram depois de mordidas por cobras venenosas, e as marcas de nascença de ambos corresponderam a incisões terapêuticas feitas nos locais das picadas de cobra nas pessoas de cujas vidas eles se lembravam.

Outro sujeito birmanês também disse quando criança lembrar-se da vida de uma outra criança que havia morrido após sido mordida no pé por uma cobra. Neste caso, no entanto, o tio da criança falecida aplicou a chama de um charuto sobre o local da picada, um remédio popular para picadas de cobra em partes da Birmânia. A marca de nascença do sujeito era redonda e localizada no local no pé onde o tio da criança mordida aplicara o charuto.

d) Três exemplos de defeitos de nascença:

A Figura 8 mostra o lado direito da cabeça de um menino turco com uma orelha malformada (microtia unilateral). Ele também tinha subdesenvolvimento do lado direito do rosto (microssomia hemifacial). Ele disse lembrar-se da vida de um homem que havia sido baleado (com uma espingarda) à queima-roupa. O homem ferido foi levado para um hospital onde morreu 6 dias depois, com ferimentos no cérebro causados pelo tiro, que havia penetrado no lado direito do crânio (Eu obtive uma cópia do registro do hospital).

A Figura 9 mostra dedos quase congenitamente ausentes de uma das mãos (braquidactília unilateral) de uma criança da Índia que disse lembrar-se da vida de outra criança que colocara a mão direita nas lâminas de uma máquina de cortar forragem e perdera os dedos.

A maioria dos casos de braquidactília envolve apenas um encurtamento das falanges médias. No presente caso, não havia ossos falangeais e os dedos ficaram malformados, à semelhança de pequenos cotos.

A braquidactilia unilateral é excessivamente rara, e eu não encontrei um relatório publicado de nenhum caso, embora um colega (cirurgião plástico) haja me mostrado a foto de um caso que esteve sob seus cuidados.

A figura 10 mostra a ausência congênita da perna direita inferior (hemimelia unilateral) em uma menina birmanesa. Ela disse lembrar-se da vida de uma outra menina, atropelada por um trem. Testemunhas oculares contaram que o trem cortou primeiro a perna direita da menina, antes de passar por cima do tronco. Hemimelia inferior é um defeito extremamente raro; Frantz e O'Rahilly (1961) a encontraram em apenas 12 (4,0%) dos 300 casos de todas as deficiências esqueléticas congênitas que eles examinaram.

Figura 10 – Ausência congênita da perna de uma garota da Birmânia, que disse lembrar-se da vida de uma jovem mulher acidentalmente atropelada por um trem, com sua perna direita atingida primeiro em relação ao restante do corpo.Figura 9 - Dedos quase ausentes de uma das mãos num menino da Índia que dizia lembrar-se da vida de um menino de outra aldeia que pusera a mão nas lâminas de uma máquina de cortar forragem e tivera os dedos amputados.Figura 8 - Crânio severamente malformado de um menino turco que disse se lembrar da vida de um homem que foi fatalmente ferido no lado direito da cabeça por uma espingarda, descarregada a curta distância.

4. DISCUSSÃO:

Porque a maioria (mas não todos) desses casos se desenvolve entre pessoas que acreditam em reencarnação, devemos esperar que seus informantes os interpretem como exemplos de acordo com sua crença; e eles geralmente o fazem. É necessário, no entanto, que os cientistas pensem em explicações alternativas.

A explicação mais óbvia desses casos atribui a marca de nascença ou defeito de nascimento na criança ao acaso, e os relatos das declarações da criança e seu comportamento tornam-se base de uma ficção parental para justificar a marca de nascença (ou defeito congênito) em termos da crença culturalmente aceita na reencarnação.

Há, no entanto, objecções importantes à essa explicação.

Primeiro, os pais (e outros adultos envolvidos no caso) não têm necessidade de inventar e narrar detalhes de uma vida anterior para explicar a lesão de seu filho. Acreditando em reencarnação, como ocorre à maioria deles, eles estão quase sempre satisfeitos em atribuir a lesão a algum evento de uma vida anterior, sem necessariamente procurar por uma outra vida com detalhes correspondentes.

Em segundo lugar, as vidas das pessoas falecidas envolvidas nos casos eram de qualidade variável, seja quanto ao status social, seja quanto à conduta moral. Alguns deles forneceram modelos de heroísmo ou alguma outra virtude invejável, mas muitos outros viveram na pobreza e não foram nada exemplares em sua atitude. Poucos pais imporiam uma identificação com tais pessoas a seus filhos.

Em terceiro lugar, embora na maioria dos casos as duas famílias envolvidas tivessem alguma familiaridade (ou mesmo relacionamento), estou confiante que em pelo menos 13 casos (entre 210 cuidadosamente examinados em relação a esta questão) as duas famílias em causa nunca tinham ouvido falar uma da outra antes do caso ser desenvolvido. Nesses casos, as famílias dos sujeitos podem não ter tido nenhuma informação com a qual construir uma vida prévia imaginária que, mais tarde, acabou por corresponder a uma real. Em outros 12 casos, os pais da criança ouviram falar da morte da pessoa em questão, mas não tinha conhecimento das feridas naquela pessoa. Limitações de espaço para este artigo me obrigam a pedir aos leitores que aceitem minha avaliação destes 25 casos para este assunto; mas no meu próximo trabalho eu darei uma lista de casos em que os leitores poderão encontrar os relatórios detalhados dos casos e de lê-los, para julgar essa importante questão por si mesmos.

Em quarto lugar, penso que demonstramos suficientemente que o acaso é uma interpretação improvável para as correspondências na localização entre duas ou mais marcas de nascença do sujeito de um caso e as feridas em uma pessoa falecida.

Pessoas que rejeitam a explicação do acaso combinada com a de uma história confeccionada podem considerar outras interpretações que incluem processos paranormais, mas ficam aquém de propor uma vida após a morte. Uma deles supõe que a marca ou defeito de nascença ocorre por acaso no sujeito e, em seguida, ele por telepatia apreende sobre uma pessoa morta que teve uma lesão semelhante e desenvolve uma identificação com essa pessoa. As crianças-sujeitos desses casos, no entanto, nunca revelaram poderes paranormais da magnitude necessária para explicar as aparentes memórias em contextos fora de sua realidade pessoal.

Capa do volume Where Reincarnation and Biology Intersect (1997), última obra do Dr. Stevenson. Foi seu canto do cisne, reunindo mais de 2 mil casos de reencarnação altamente documentados.Outra explicação, que deixaria menos ao acaso a produção da lesão da criança, a atribui a uma impressão por parte da mãe da criança. De acordo com essa ideia, uma mulher grávida, tendo um conhecimento das feridas da pessoa falecida, pode influenciar um embrião ou feto de modo que sua forma reproduza as feridas da pessoa falecida. A ideia das impressões maternas, populares nos séculos precedentes e até as primeiras décadas deste, caiu em descrédito. Até meu artigo recente (Stevenson, 1992) não houve revisão da série de casos desde 1890 (Dabney, 1890); e casos raramente são publicados agora (Williams e Pembroke, 1988). No entanto, alguns dos casos publicados - antigos e novos - mostram uma notável correspondência entre um estímulo incomum na mente de uma mulher grávida e uma marca de nascença incomum ou defeito de nascimento em seu filho nascido mais tarde.

Não obstante, em uma análise de 113 casos publicados, descobri que o estímulo ocorreu para a mãe no primeiro trimestre em 80 deles (Stevenson, 1992). O primeiro trimestre é bem conhecido por ser o de maior sensibilidade do embrião ou feto a teratógenos reconhecidos, como a talidomida (Nowack, 1965) e a rubéola (Hill, Doll, Galloway e Hughes, 1958). Aplicada aos casos presentes, no entanto, a teoria da impressão materna tem obstáculos tão grandes quanto a explicação normal parece ter. Em primeiro lugar, nos 25 casos mencionados acima, a mãe, embora possa ter ouvido falar da morte da pessoa falecida em questão, não tinha conhecimento das feridas daquela pessoa. Em segundo lugar, esta interpretação supõe que a mãe não só modificou o corpo de seu filho como também os seus pensamentos, mas que também após o nascimento da criança a influenciou a fazer declarações e mostrar um comportamento que de outra maneira não teria feito. Nenhum motivo para tal conduta pode ser identificado na maioria das mães (ou pais) desses sujeitos.

Não é meu propósito impor qualquer interpretação destes casos aos leitores deste artigo. Nem esperaria que qualquer leitor alcançasse mesmo uma conclusão a partir dos sucintos resumos de casos que a brevidade deste relatório implica. Em vez disso, espero que tenha estimulado os leitores a examinar os relatórios detalhados de muitos casos que estou agora no processo de publicação (Stevenson, próximo). "Originalidade e verdade são encontradas apenas nos detalhes" (Stendhal, 1926).

(1) Ian Stevenson, Journal of Scientific Exploration, Vol. 7, No. 4, pp. 403-410, 1993

(2) Where Reincarnation and Biology Intersect, Praeger (21 de maio de 1997)

UNIFICAÇÃO

ilustração de pássados libertos de uma gaiolaO serviço da unificação em nossas fileiras é URGENTE, mas não APRESSADO. Uma afirmativa parece destruir o outra. Mas não é assim. É URGENTE porque define o objetivo a que devemos todos visar, mas não APRESSADO, porquanto não nos compele violentar consciência alguma. Mantenhamos o propósito de irmanar, aproximar, confraternizar e compreender e, se possível, estabeleçamos em cada lugar onde o nome do Espiitismo apareça como legenda de luz, um grupo de estudo, ainda que reduzido, da Obra Kardequiana, à luz do Cristo de Deus.

Nós que nos empenhamos carinhosamente em todos os tipos de realização respeitável que os nossos princípios nos oferecem, não podemos esquecer o trabalho do raciocínio claro, para que a vida se nos povoe de estradas menos sombrias. Comparemos a nossa Doutrina Redentora a uma cidade metropolitana, com todas as exigências de conforto e progresso, paz e ordem. É indispensável a diligência no pão e no vestuário, na moradia e na defesa de todos. Entretanto, não se pode esquecer o problema da luz, porque ela foi sempre uma preocupação do homem, desde a hora da primeira furna. Antes do tudo, o fogo obtido por atrito, a lareira doméstica, a tocha, os lumes vinculados às resinas, a candeia e, nos tempos modernos, a força elétrica transformada em clarão.

A Doutrina Espírita possui os seus aspectos essenciais em configuração tríplice. Que ninguém seja cerceado em seus anseios de construção e produção. Quem se afeiçoe à Ciência que a cultive em sua dignidade; quem se devote à Filosofia que lhe engrandeça os postulados, e quem se consagre à Religião que lhe divinize as aspirações, mas que a base kardequiana permaneça em tudo e todos, para que não venhamos a perder o equilíbrio sobre os alicerces em que se nos levanta a organização. Nenhuma hostilidade recíproca, nenhum desapreço a quem quer que seja.

Acontece, porém, que temos necessidade de preservar os fundamentos espiritas, honrá-los e sublimá-los, senão acabaremos estranhos uns aos outros, ou então cadaverizados em arregimentações que nos mutilarão os melhores anseios, convertendo-nos o movimento de libertação numa seita estanque, encarcerada em novas interpretações e teologias, que nos acomodariam nas conveniências do plano inferior e nos afastariam da Verdade. ALLAN KARDEC NOS ESTUDOS, NAS COGITAÇÕES, NAS ATIVIDADES, NAS OBRAS ADVERTE QUE A NOSSA FÉ NÃO FAÇA HIPNOSE, PELA QUAL O DOMÍNIO DA SOMBRA SE ESTABELECE SOBRE AS MENTES MAIS FRACA, ACORRENTANDO-AS A SÉCULOS DE ILUSÃO E SOFRIMENTO.

ilustração de pássados libertos de uma gaiolaLibertação da palavra divina é desentranhar o ensinamento do Cristo de todos os cárceres a que foi algemado e, na atualidade, sem querer qualquer privilégio para nós, apenas o Espiritismo retém bastante força moral para se não prender a interesses subalternos e efetuar a recuperação da luz que se derrama do Verbo cristalino do Mestre, dessedentando e orientando as almas. Seja Allan Kardec não apenas acreditado ou sentido, apregoado ou manifestado à nossa maneira, mas suficientemente vivido, sofrido, chorado e realizado em nossas próprias vidas. Sem essa base é difícil forjar o caráter espirita-cristão que o mundo conturbado espera de nós pela unificação. Ensinar mas fazer crer, mas exemplificar; reunir, mas alimentar. Falamos em provações e sofrimentos, mas não dispomos de outros veículos para assegurar a vitória da Verdade e do Amor sobre a Terra. Ninguém edifica sem amor, ninguém ama sem lágrimas. Somente aqui, na viria espiritual, vim aprender que a cruz de Cristo era uma estaca que Ele, o Mestre, fincava no chão para levantar o mundo novo. E para dizer-nos em todos os tempos que nada se faz de útil e bom sem sacrifícios, morreu nela. Espezinhado, batido, enterrou-a no solo, revelando-nos que esse é o nosso caminho – o caminho de quem constrói para cima, de quem mira os continentes do além.

É INDISPENSÁVEL MANTER O ESPIRITISMO COMO FOI ENTREGUE PELOS MENSAGEIROS DIVINOS A ALLAN KARDEC - SEM COMPROMISSOS POLÍTICOS, SEM PROFISSIONALISMO RELIGIOSO, SEM PERSONALISMOS DEPRIMENTES, SEM PRURIDOS DE CONQUISTA A PODERES TERRESTRES TRANSITÓRIOS. Respeito a todas as criaturas, apreço a todas as autoridades, devotamento ao bem comum e instrução do povo, em todas as direções, sobre as Verdades do Espírito, imutáveis e eternas. Nada que lembre castas, discriminações, evidências individuais injustificáveis, privilégios, imunidades, prioridades. Amor de Jesus sobre todos, verdades de Kardec para todos.

Em cada templo, o mais forte escudo para o mais fraco, o mais esclarecido deve ser a luz para o menos esclarecido e sempre, e sempre seja o sofredor o mais protegido, o mais auxiliado, como entre os que menos sofram seja o maior aquele que se fizer o servidor de todos, conforme a observação do Mentor Divino. Sigamos paro a frente, buscando a inspiração do Senhor.

Bezerra de Menezes

(Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião da Comunhão Espírita Cristã, em 20-4-1963, em Uberaba, MG.)

SALVE OS 150 ANOS DE “A GÊNESE”!

“O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal”. – O Que É Espiritismo, Preâmbulo

retrato de Allan KardecAgora no dia 06 de janeiro último celebramos os 150 anos de publicação de “A Gênese”, a quinta e última das obras que compõe a Codificação Espírita. Kardec faleceu pouco mais de um ano depois de trazê-la a público, em 31 de março de 1869. Foi seu canto do cisne. Missão dada, missão cumprida...

Ao Mestre Lionês, a nossa eterna reverência e gratidão. “O Cristão Espírita” soma a sua voz ao coro de homenagens programadas para este ano, a propósito desta celebração, nos cinco continentes.

Precisamos estudar mais e melhor “A Gênese”. Talvez seja essa a melhor forma de retribuir todo o esforço e sacrifício de Kardec no desenvolvimento de sua obra. Foi um verdadeiro “mártir do trabalho”. Seu corpo sucumbiu ao peso de um esforço hercúleo em prol da missão que o Espírito abraçara...

Kardec e os Espíritos que o orientaram em sua missão se revelaram inicialmente muito cuidadosos no trato da origem dos Espíritos. Diante desse tema as respostas foram muitas vezes breves, evasivas, reticentes, reservando para momento oportuno estudos mais aprofundados:

“O princípio das coisas está nos segredos de Deus” (LE, Q.49) [...] “Quanto [...] ao modo por que nos criou e em que momento o fez, nada sabemos”. (LE,Q.78) [...] “A época e o modo por que essa formação se operou [...] são desconhecidos.”(LE,Q.79) [...] “A origem [dos Espíritos] é mistério” (LE,Q.81)

Parece paradoxal, por isso, a inserção do estudo de nossa natureza e origem na própria definição da Doutrina, como apontamento mesmo de sua missão essencial, conforme se vê acima, na epígrafe em destaque.

Capa da edição original de A Gênese, em 1868A solução do aparente paradoxo é simples. O papel da Terceira Revelação, em consonância com a promessa solene do Cristo, é o de nos ensinar “todas as coisas” (João, XIV: 15 a 17 e 26). Essa Revelação será constante (“ficará eternamente convosco”) mas “essencialmente progressiva” (A Gênese, Cap. I, Caráter da Revelação Espírita, item 55), servindo-se para tanto de uma variedade de modos e meios, proporcionais à nossa evolução e maturação psíquica: “Penetrará o homem um dia o mistério das coisas que lhe estão ocultas? R. “O véu se levanta a seus olhos, à medida que ele se depura” (LE, Q.18).

Foi exatamente com a publicação de “A Gênese”, segundo os próprios Espíritos, que o estudo de nossa origem mais essencial mudou de patamar, abrindo-se desde então portas para novos e mais desenvolvidos estudos sobre o tema:

“A questão de origem que se prende à Gênese é para todos uma questão apaixonada. Um livro escrito sobre esta matéria deve, em consequência, interessar a todos os espíritos sérios. Por esse livro, como vos disse, o Espiritismo entra numa nova fase e esta preparará as vias da fase que mais tarde se abrirá, porque cada coisa deve vir a seu tempo. Antecipar o momento propício é tão prejudicial quanto deixá-lo escapar”. São Luís (Revista Espírita, Fev/Pág.92 Ed. FEB – Comentário sobre o lançamento de A Gênese)

Outro modo interessante de celebrar e homenagear a edição original de “A Gênese” pode ser o de lembrar e esclarecer ao máximo aquilo que a Doutrina Espírita já nos revelou sobre a nossa origem. Aqui podemos lembrar pelo menos dois aspectos essenciais:

1º. A ideia de que fomos criamos “simples e ignorantes” (LE, Q.115), num estado a que poderíamos chamar de “infância espiritual” (LE, Q.190) foi útil àquele momento de início da Doutrina e mais tarde para a popularização da ideia de progressividade do Espírito, mas sua divulgação e ou aceitação hoje meio “axiomática” (para não dizer dogmática) acabou por tornar-se um problema. Kardec foi claro, muitas vezes, a dizer que essa era uma solução parcial e provisória, enquanto na se buscava mais intensamente o estudo de nossa VERDADEIRA ORIGEM. Por escassez de espaço, citamos a passagem em que a respeito ele se mostra mais incisivo:

“Deixemos então de lado a questão da origem, insolúvel por enquanto; consideremos o Espírito, não em seu ponto de partida, mas no momento em que, manifestando-se nele os primeiros germens do livre-arbítrio e do senso moral o vemos a desempenhar o seu papel humanitário, sem cogitarmos do meio onde haja transcorrido o período de sua infância, ou, se o preferirem, de sua incubação”. (A Gênese Cap. XI, A Gênese Espiritual, Item 29)

Nos dias de hoje a repetição “mecânica” ou irrefletida de que fomos criados “simples e ignorantes” pode tornar-se até um prejuízo para o entendimento da Doutrina, fazendo-a parecer “criacionista”, no sentido de não aceitar a evolução do animal para o homem, quanto ela tem exatamente entre os seus principais valores o fato de ser evolucionista por natureza, com reiterados ensinos nesse sentido desde suas primeiras horas: “É assim que tudo serve, tudo se encadeia, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que começou um dia por ser átomo” (LE, Q. 540) [...] “Observai como tudo se encadeia na imensa Natureza que o Senhor vos faz descortinar. [...] Passando sucessiva-mente por todos os reinos e por aquelas espécies intermediárias, o Espírito, mediante um desenvolvimento gradual e contínuo, ascende da condição de essência espiritual originária à de Espírito formado, à vida consciente, livre e responsável, à condição de homem. São elos preciosos que tudo ligam”. (Os Quatro Evangelhos, Tomo I, item 56)

2º. O segundo ponto que nos cumpre sempre salientar, no estudo dos primeiros ensinos da Doutrina sobre a nossa Criação original, é o que nos trazem as questões 85 e 86 de O Livro dos Espíritos, destacadas no Resumo da Doutrina Espírita apresentado pelo próprio Codificador na introdução desse mesmo volume: “O mundo espírita é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo. O mundo corporal é secundário; poderia deixar de existir, ou não ter jamais existido, sem que por isso se alterasse a essência do mundo espírita”.

retrato de Allan Kardec“Deus é ESPÍRITO”, ensinou-nos Jesus através de seu diálogo com a samaritana (Jo.4:24) e, como “Causa primária de todas as coisas”(O Livro dos Espíritos, Q.1), só poderia ter como resultado de sua criação algo que fosse de sua própria natureza – uma criação, portanto, toda ESPIRITUAL. Se “todo efeito inteligente tem uma causa inteligente”, conforme tantas vezes nos ensinaram Kardec e os próprios Espíritos, o inverso também é verdadeiro: causas inteligentes têm efeitos inteligentes. O efeito reflete sempre a natureza da causa que se origina, e mais ainda quando está próximo dela. A água é tão mais pura quanto mais próxima à fonte. A luz mais intensa nas imediações da lâmpada. O calor mais forte ao redor da chama. “Vós sois deuses” (Salmo 82:6 e João 10:34), lembrou-nos também o Cristo, a despertar-nos para a consciência de nossa filiação e origem.

Podemos, portanto, não ter ainda muitos detalhes de nossa criação primeira, mas já podemos garantir que nosso mundo de origem era todo ESPIRITUAL, que a matéria surgiu depois, e que o universo por ela constituído poderia “nunca ter existido”, sem com isso comprometer a realidade do primeiro, que “preexiste e sobrevive a tudo”.

Os melhores desdobramentos do volume “A Gênese”, de Allan Kardec, nós os encontramos nos volumes “Deus e Universo” e “O Sistema” de Pietro Ubaldi, aos quais dirigimos aqueles que se interessam mais intensamente pelo estudo de nossas origens.

Por ora, só desejamos concluir dizendo: “Salve os 150 anos de A Gênese!".

Que Kardec, onde quer que esteja, sinta em seu coração, a vibração de gratidão e amor dos nossos, em prece por sua evolução e felicidade. Amém!

P.S.: A propósito de algumas controvérsias recentes sobre as traduções brasileiras de "A Gênese", a Federação Espírita Brasileira se pronunciou, há algunas dias, com excelente texto sobre o tema, ao qual remetemos aqueles que estiverem interessados. Para acessar, basta clicar o botão fixado na nossa barra de menus, à esquerda da tela.

O ESPÍRITA DIANTE DA CRISE

Madre Teresa de CalcutáQuando se considera o estado atual da sociedade, é-se tentado a olhar sua transformação como um milagre. Pois muito bem! Esse é o milagre que o Espiritismo deve e pode realizar, pois que está nos desígnios de Deus, e isto com o auxílio de uma divisa: Fora da caridade não há salvação. Tome a sociedade humana essa máxima por emblema, conforme a ela sua conduta, substituindo-a por esta outra, que está na ordem do dia: A caridade bem ordenada é a parte dos outros para nós, e tudo se modificará. Toda a questão será fazer esse lema aceito.

A palavra caridade, vós o sabeis, senhores, tem uma acepção muito extensa. Há caridade em pensamentos, em palavras, em atos. Ela não é tão somente a esmola. O homem é caridoso em pensamentos sendo indulgente para com as faltas do próximo. a caridade em forma de palavra nada diz que possa prejudicar a outrem. A caridade em ações assiste ao próximo na medida de suas forças. O pobre que partilha seu pedaço de pão com o companheiro mais carecente do que ele é mais caridoso e tem mais mérito aos olhos de Deus do que o rico que dá do seu supérfluo sem de nada se privar. Quem alimenta contra seu próximo sentimentos de ira, de animosidade, de ciúme, de rancor, falta com a caridade. A caridade é a antítese do egoísmo. Este é a exaltação da personalidade, aquela a sublimação da personalidade. Ela diz: Para vós em primeiro lugar, para mim depois. E o egoísmo diz: Para mim antes e para vós se sobrar. A primeira está toda inteira nesta frase de Cristo: “Fazei aos outros o que quiserdes que vos façam”. Em uma palavra, ela se aplica a todas as relações pessoais.


Admiti: se todos os membros de uma sociedade agissem de conformidade com esse princípio, haveria menos decepções na vida. Uma vez que dois indivíduos estão reunidos, contratam, por força disso mesmo, deveres recíprocos. Se desejam viver em paz, estão obrigados a se fazerem concessões recíprocas. Esses deveres aumentam com o número dos indivíduos; as aglomerações constituem-se em todos-coletivos que têm também suas obrigações respectivas. Tendes, pois, além das relações de indivíduo a indivíduo, as relações de cidades para com cidades, de estados para com estados, de países para com países. Essas relações podem ter duas motivações que são a negação uma da outra; o egoísmo e a caridade, pois que há também egoísmo nacional. O egoísmo faz com que o interesse pessoal prevaleça acima de tudo. Cada pessoa arrebata o que pode para si, o semelhante é visto apenas como um antagonista, um rival que pode se intrometer em nosso caminho, que podemos explorar ou que pode nos explorar. A vitória pertencerá ao mais sagaz e a sociedade – coisa triste de dizer – consagra comumente essa vitória, o que faz com que ela se divida em duas áreas principais: os explorados e os exploradores. Disso resulta um antagonismo perpétuo, que faz da vida um tormento, um verdadeiro inferno. Substitua-se o egoísmo pela caridade e tudo será diferente. Ninguém procurará fazer mal ao seu vizinho, as iras e os ciúmes se extinguirão à falta do que os alimente e os homens viverão em paz entreajudando-se ao invés de mutuamente se despedaçando. Se a caridade substituir o egoísmo, todas as instituições sociais passarão a ter por alicerce o princípio da solidariedade e da reciprocidade. O forte protegerá o fraco ao invés de explorá-lo.

Chico XavierMuitas pessoas poderão dizer: Eis um belo sonho! Infelizmente é apenas um sonho. O homem é egoísta por natureza, por necessidade, e para sempre será assim. Mas se tal proposição é verdadeira – o que seria realmente muito triste! –, é de se perguntar com que finalidade o Cristo veio até nós, pregando a caridade aos homens. Com igual resultado teria pregado aos animais. Todavia examinemos a questão.

Há progresso do selvagem ao homem civilizado? Não se procura, diariamente, melhorar os costumes dos selvagens? Mas com que finalidade, se o homem é incorrigível? Estranha bizarria! Estais certos de educar os selvagens e acreditais que o homem civilizado não pode melhorar. Se o homem civilizado tivesse a pretensão de ter atingido o último limite do progresso acessível à espécie humana, bastaria comparar os costumes, caráter, a legislação, as instituições sociais de hoje com as de outrora. E, entretanto, os homens de outrora, também eles, supunham ter alcançado o último degrau. O que teria respondido um grã senhor ao tempo de Luís XIV se lhe tivessem dito que poderia dispor de uma ordem social melhor, mais justa, mais humana do que a vigente então; se lhe afirmassem que o regime mais eqüitativo se caracterizaria pela abolição dos privilégios de classe e a igualdade do grande e do pequeno diante da Lei? O audacioso que isso proclamasse, certamente bem caro pagaria a sua temeridade.

Disso concluímos que o homem é eminentemente perfectível e que os mais adiantados hoje parecerão atrasados dentro de alguns séculos. Negar esse fato será negar o progresso, que é uma lei da natureza.

Embora o homem tenha progredido do ponto de vista moral, é preciso, entretanto, convir que esse progresso se realizou, mais acentuadamente, no sentido intelectual. Por que motivo? Eis aqui um outro problema que foi dado ao Espiritismo explicar, mostrando que a moral e a inteligência são dois caminhos que raramente seguem juntos. Quando o homem dá alguns passos num deles, se retarda no outro. Todavia, mais tarde, torna a ganhar o terreno que havia perdido e as duas forças acabam por se equilibrar, através de sucessivas reencarnações. O homem chegou a uma fase em que as ciências, as artes e as indústrias atingiram um alcance até hoje desconhecido. Se a satisfação que delas tira satisfaz à vida material, deixa um vazio na alma: ele aspira qualquer coisa de superior, sonha com melhores instituições, deseja a vida, a felicidade, a igualdade, a justiça para todos. Mas como atingir tudo isso com os vícios da sociedade e, sobretudo, com o egoísmo imperando? O homem sente, pois, a necessidade do bem para ser feliz, compreende que só o reino do bem pode lhe dar a felicidade pela qual aspira. Esse reinado ele o pressente pois, instintivamente, crê na justiça de Deus e uma voz secreta lhe diz que uma nova era vai se iniciar.

MalalaComo ocorrerá isso? Ora, se o reino do bem é incompatível com o egoísmo, é preciso que o egoísmo seja destruído. Mas o que pode destruí-lo? A predominância do sentimento do amor, que leva os homens a se tratarem como irmãos e não como inimigos. A caridade é a base, a pedra angular de todo o edifício social. Sem ela o homem construirá sobre a areia. Assim sendo, urge que os esforços e, sobretudo, os exemplos de todos os homens de bem a difundam; e que eles não se desencorajem ao defrontarem as recrudescências das más paixões. Elas são os inimigos do bem. Ganhando terreno, lançam-se contra ele; mas está nos desígnios de Deus que, por seus próprios excessos, elas se destruam. O paroxismo de um mal é sempre o sinal de que chega ao seu fim.

Acabo de afirmar que sem a caridade o homem constrói sobre a areia. Um exemplo torna isso compreensível.

Alguns homens bem intencionados, tocados pelos sofrimentos de uma parte de seus semelhantes, supuseram encontrar o remédio para o mal em certas doutrinas de reforma social. Com pequenas diferenças, os princípios são pouco mais ou menos os mesmos em todas essas concepções, qualquer seja o nome que se lhes dê. Vida comunitária, por ser a menos onerosa; comunidade de bens para que todos tenham a sua parte; nada de riquezas, mas também nada de miséria. Tudo isso é muito sedutor para aquele que, não tendo nada, vê antecipadamente a bolsa do rico passar ao fundo comunal, sem cogitar que a totalidade das riquezas, postas em comum, criaria uma miséria geral ao invés de uma miséria parcial; que a igualdade, estabelecida hoje, seria rompida amanhã pela mobilidade da população e a diferença entre aptidões; que a igualdade permanente de bens supõe a igualdade de capacidades e de trabalho. Mas esta não é a questão. Não está em minhas intenções examinar o lado positivo e o negativo desses sistemas. Faço abstração das impossibilidades que acabo de citar e proponho olhá-los de um outro ponto de vista que, parece-me, ainda não preocupou a ninguém e que se relaciona à nossa área de cogitações.

Karl MarxOs autores, fundadores ou promotores de todos esses sistemas, sem exceção, não visaram senão a organização da vida material de uma maneira proveitosa a todos. A finalidade é louvável, indiscutivelmente. Resta saber se nesse edifício não falta a base que, só ela, poderia consolidá-lo, admitindo-se que fosse praticável.

A comunidade é a abnegação mais completa da personalidade. Ela requer o devotamento mais absoluto, pois cada pessoa deve pagar de sua pessoa. Ora, o móvel da abnegação e do devotamento é a caridade, isto é, o amor ao próximo. Entretanto é preciso reconhecer que a base da caridade é a crença: que a falta de crença conduz ao materialismo e o materialismo ao egoísmo. Um sistema que, por sua natureza, requer para sua estabilidade virtudes morais no mais supremo grau, haveria que ter seu ponto de partida no elemento espiritual. Pois muito bem, ele não o leva absolutamente em conta, já que o lado material é a sua finalidade exclusiva. Muitas dessas concepções são fundamentadas em uma doutrina materialista confessada em alto e bom som, ou sobre um panteísmo que não passa de uma espécie de materialismo disfarçado. Isso quer dizer que são enfeitadas com o nome da fraternidade, mas a fraternidade, assim como a caridade, não se impõe nem se decreta, é algo que existe no coração e não será um sistema que a fará nascer, se ela aí já não se encontra alojada. Ao mesmo tempo em que isto ocorre, o defeito antagônico à fraternidade arruinará o sistema e o fará cair na anarquia, já que cada pessoa quererá tirar para si a melhor parte. A experiência aí está, diante de nossos olhos, para provar que eles não extinguem nem as ambições nem a cupidez. Antes de fazer a coisa para os homens, é preciso formar os homens para a coisa, como se formam obreiros, antes de lhes confiar um trabalho. Antes de construir, é preciso que nos certifiquemos da solidez dos materiais. Aqui os materiais sólidos são os homens de coração, de devotamento e abnegação. Sob o egoísmo, o amor e a fraternidade são, como já dissemos, palavras vazias. Assim sendo, de que maneira, sob o império do egoísmo, fundar um sistema que requeira a abnegação em um sentido tão amplo que tenha por princípio essencial a solidariedade de todos para cada um e de cada um para com todos? Alguns homens abandonaram o solo natal para ir fundar, à distância, colônias sob o regime da fraternidade. Quiseram fugir ao egoísmo que os esmagava, mas o egoísmo seguiu com eles e lá, onde se acham, encontram-se exploradores e explorados, pois que a caridade lhes falta. Acreditaram que bastasse conduzir o maior número de braços possível, sem imaginar que, ao mesmo tempo, levavam os vermes roedores da nova instituição, arruinada tão mais rapidamente porque não tinha em si nem força moral nem força material suficientes.

Ilustração - coração nas mãosO que lhe faltava não eram braços numerosos, mas sólidos corações. Infelizmente muitos foram os que se lhes engajaram porque, não se tendo desincumbido a contento no que lhes fora confiado, acreditaram libertarem-se de obrigações pessoais. Viram apenas um ponto sedutor no horizonte, sem perceberem a espinhosa rota que para ele conduzia. Decepcionados em suas esperanças, reconhecendo que antes de gozar era preciso muito trabalhar, muito sacrificar, muito sofrer, tiveram por perspectiva o desencorajamento e o desespero. Sabeis o que sucedeu à maioria. Seu erro é terem querido construir um edifício começando pela cumeeira, antes de ter assentado sólidos fundamentos. Estudai a história e a causa da queda dos Estados mais florescentes e por toda parte encontrareis a mão do egoísmo, da cupidez, da ambição.

Sem a caridade, não há instituição humana estável. E não pode haver caridade nem fraternidade, na verdadeira acepção do termo, sem a crença. Aplicai-vos, pois, a desenvolver sentimentos que, em se afirmando, destruirão o egoísmo que vos destrói. Quando a caridade tiver penetrado as massas, quando se tiver transformado na fé, na religião da maioria, então vossas instituições se tornarão melhores pela força mesma das coisas. Os abusos, nascidos do personalismo exacerbado, desaparecerão. Ensinai, pois, a caridade e, sobretudo, pregai pelo exemplo: esta é a âncora da salvação da sociedade. Só ela pode realizar o reino do bem na Terra, pois o reino do bem é o reino de Deus. Sem ela, por mais que vierdes a fazer, não criareis senão utopias das quais não vos resultarão senão decepções. Se o Espiritismo é uma verdade, se ele deve regenerar o mundo, é porque tem por base a caridade. Ele não vem derrubar qualquer culto nem estabelecer um novo. Ele proclama e prova verdades comuns a todos, base de todas as religiões, sem se preocupar com particularidades. Não vem destruir senão uma coisa: o materialismo, que é a negação de toda religião! Não vem pôr abaixo senão um templo: o do orgulho e do egoísmo! Vem, entretanto, dar uma sanção prática a estas palavras de Cristo, que são toda a sua lei: Amai o vosso próximo como a vós mesmos. Não vos espanteis, pois, com o fato de ele ter por adversários os adoradores do bezerro de ouro, cujos altares veio lançar por terra. Há, naturalmente, contra ele, aqueles que julgam sua moral incômoda, aqueles que teriam, de boa vontade, pactuado com os Espíritos e suas manifestações, se os Espíritos condescendessem em diverti-los. Mas, pelo contrário, o Espiritismo veio rebaixar-lhes o orgulho, pregar-lhes a abnegação, o desinteresse, a humildade. Deixai-os, pois, dizer e fazer o que quiserem. Com isso não se modificará a marcha dos desígnios de Deus.

Auta de SouzaO Espiritismo, por sua poderosa revelação, vem, pois, acelerar a reforma social. Seus adversários, sem dúvida, rir-se-ão dessa pretensão e, todavia, ela nada tem de presunçosa. Demonstramos que a incredulidade, a simples dúvida em relação ao futuro, leva o homem a se concentrar sobre a vida presente, o que, muito naturalmente, desenvolve o sentimento do egoísmo. O único remédio para o mal é concentrar a atenção sobre um outro ponto e desenraizá-lo, por assim dizer, a fim de que, dessa forma, todos os hábitos a ele inerentes sejam modificados. O Espiritismo, provando de maneira patente a existência de um mundo invisível, leva, forçosamente, a uma ordem de idéias bem diversa, pois que dilata o horizonte moral limitado à Terra. A importância da vida corporal diminui à medida que cresce a da vida espiritual. Colocamo-nos, naturalmente, em um outro ponto de vista e o que nos parecia uma montanha não se nos afigura maior do que um grão de areia. As vaidades, as ambições, aqui na Terra, tornam-se puerilidades, brinquedos infantis em presença do futuro grandioso que nos espera. Atendo-nos menos às coisas terrestres, tendemos, igualmente, a nos satisfazer menos às expensas dos outros, de onde uma diminuição no sentimento do egoísmo.

O Espiritismo não se limita a provar o mundo invisível. Pelos exemplos que faz se desenrolarem aos nossos olhos, ele no-lo revela em sua realidade e não como a imaginação o havia feito conceber. Ele no-lo mostra povoado de seres felizes ou infelizes, porém prova que a caridade, a soberana lei do Cristo, pode aí assegurar a paz e a alegria. Por outro lado assistimos ao espetáculo da sociedade terrena que se auto-estraçalha sob o império do egoísmo e que, entretanto, viveria feliz e pacífica sob o da caridade. Com a caridade tudo é, pois, benefício para o homem! Felicidade neste mundo e no outro! Não se trata mais, conforme a expressão de um materialista, do sacrifício de pessoas logradas, mas segundo a expressão do Cristo, do investimento de dinheiro que vai ser centuplicado. Com o Espiritismo o homem compreende que tem tudo a ganhar realizando o bem e tudo a perder optando pelo mal. Ora, entre a certeza (eu não direi a oportunidade!) de perder ou de ganhar, a escolha não pode ser duvidosa. Por esse motivo a propagação da idéia espírita tende, necessariamente, a tornar os homens melhores em suas mútuas relações. O que ele faz hoje, relativamente aos indivíduos, fará amanhã, em relação às massas, quando estiver difundido de maneira geral. Tratemos, pois, de torná-lo conhecido, em proveito de todos.

Prevejo uma objeção que pode ser levantada, isto é, a de que, de acordo com essas idéias, a prática do bem seria um cálculo interessado. A isso respondo dizendo que a Igreja, prometendo as alegrias do céu ou ameaçando com as chamas do inferno, conduz, ela própria, os homens, ou pela esperança ou pelo terror. O próprio Cristo ensinou que o que se dá neste mundo renderá, depois, centuplicado. Sem dúvida haverá maior mérito em fazer-se o bem espontaneamente, sem pensar em suas conseqüências, mas acontece que todos os homens não chegaram a esse estágio e vale mais praticar o bem com um estímulo do que não praticá-lo.

Eurípedes BarsanulfoOuve-se por vezes falar de pessoas que fazem o bem sem premeditação e, por assim dizer, por um impulso que lhes é próprio. Delas diz-se que não têm mérito, pois nessa realização não empenham nenhum esforço pessoal. É um erro! O homem não chega a nada sem esforço. Aquele que não precisou fazê-lo nesta existência, deve ter lutado em uma precedente e o bem acabou por se identificar com ele. Eis por que tudo parece tão natural. O bem está nele como estão, em outras pessoas, idéias que, também elas, tiveram sua fonte em um trabalho anterior. Este é ainda um dos problemas que o Espiritismo vem resolver. Os homens de bem têm, pois, também eles, o mérito da luta. Para eles a vitória já está alcançada. Os outros têm ainda que lutar para obtê-la. Eis por que, como as crianças, carecem de um estímulo, isto é, de um objetivo a ser atingido, ou, se o quiserdes, de um prêmio a ser arrebatado.

Uma outra objeção mais séria é esta: Se o Espiritismo produz todos esses resultados, os espíritas devem ser os primeiros a deles se aproveitarem. A abnegação, o devotamento desinteressado, a indulgência para com o próximo, a abstenção absoluta de toda palavra ou de todo ato que possam ferir os outros, em uma palavra, a caridade em sua mais pura acepção, devem ser a regra invariável de sua conduta. Não devem conhecer nem o orgulho, nem o ciúme, nem a inveja, nem o rancor, nem as tolas vaidades, nem as pueris suscetibilidades do amor-próprio. Devem praticar o bem pelo bem, com modéstia e sem ostentação, praticando esta máxima do Cristo: “Que vossa mão esquerda não saiba o que dá a vossa mão direita”. Agindo desse modo, ninguém merecerá que se lhe aplique estes versos de Racine: “Um benefício lançado em rosto vale sempre por uma ofensa”. Enfim, a mais perfeita harmonia deve reinar entre eles. Por que, então, citam-se exemplos que parecem contradizer a eficácia dessas belas máximas?

No início das manifestações espíritas, muitos as aceitaram sem prever suas conseqüências. A maioria olhou-as como curiosas concepções, mas quando delas resultou uma moral severa, deveres rigorosos a serem executados, não faltou quem se sentisse sem forças para praticá-las e a elas se conformar. Faltou-lhes coragem, devotamento, abnegação. Nessas pessoas a natureza corporal prevaleceu sobre a espiritual. Creram, mas recuaram em face da realização. Havia, pois, na origem, apenas espíritas, isto é, crentes; a filosofia e a moral abriram a essa ciência um horizonte novo e criou os espíritas praticantes. Os primeiros se atrasaram na retaguarda, os segundos arremeteram-se para a frente.

Bezerra de MenezesQuanto mais a moral se sublimou, mais ela fez contrastar imperfeições daqueles que se negaram a segui-la, assim como uma intensa luz faz ressaltar as sombras. Era como um espelho: alguns não quiseram nele se olhar ou, crendo nele se reconhecerem, preferiram apedrejar aqueles que lho mostravam. Tal é, ainda hoje, a causa de certas animosidades. Todavia posso, por felicidade, dizer: estas são exceções, algumas pequenas sombras sobre o vasto panorama, e que não lhe podem alterar a luminosidade. Neste grupo encontram-se, em grande parte, os que poderíamos chamar espíritas da primeira formação. Quanto àqueles que se formaram depois e se formam a cada dia, em grande maioria aceitaram a doutrina precisamente por causa de sua moral e de sua filosofia. Eis por que esforçam-se em praticá-la. Pretender que deveriam todos se terem tornado perfeitos é desconhecer a natureza da humanidade. Mas terem-se despojado de resquícios do homem velho é sempre um progresso que, por força, se deve levar em conta. São indesculpáveis aos olhos de Deus apenas aqueles que, estando devidamente esclarecidos, não tiraram desse esclarecimento o proveito que poderiam tirar. A estes, certamente, será pedida uma conta severa, da qual sofrerão, conforme temos visto em numerosos exemplos, as conseqüências aqui na Terra. Mas ao lado destes há também o grande número no qual operou-se uma verdadeira metamorfose. Encontraram na crença espírita a força para vencer pendores desde há muito tempo enraizados, de romper com velhas atitudes, de ignorar os ressentimentos e as inimizades, de tornar menores as distâncias sociais. Exigem-se do Espiritismo milagres: eis os que ele pode produzir.

Assim, pela força mesma das coisas, o Espiritismo levará, por inevitável conseqüência, ao aprimoramento moral. Esse aprimoramento conduzirá à prática da caridade, e da caridade nascerá o sentimento da fraternidade. Quando os homens estiverem imbuídos dessas idéias, conformarão a elas suas instituições e será assim que realizarão, naturalmente e sem agitações, as reformas desejáveis. Essa será a base sobre a qual assentar-se-á o edifício social do futuro.

Divaldo FrancoEssa transformação é inevitável, pois que está compreendida na lei do progresso. Todavia, se se deixar levar apenas pela marcha natural das coisas, sua realização poderá ser por muito tempo adiada. Se acreditarmos na revelação dos Espíritos, está nos desígnios de Deus ativá-la e nós vivemos exatamente o tempo predito para isso. A concordância das comunicações a esse respeito é um fato digno de nota. Em toda parte diz-se que nos aproximamos da era nova e que notáveis realizações irão se efetivar. Seria, entretanto, um erro supor que o mundo está ameaçado por um cataclismo material. Examinando as palavras do Cristo, torna-se evidente que nesta, como em outras muitas circunstâncias, Ele falou de maneira alegórica. A renovação da humanidade, o reino do bem sucedendo ao reino do mal, são notáveis fatos que podem ter realização sem que haja necessidade de um naufrágio universal, da eclosão de fenômenos extraordinários, ou da derrogação das leis naturais. E é sempre nesse sentido que os Espíritos se têm exprimido.

Tendo a Terra alcançado o tempo marcado para se transformar em feliz morada, elevando-se assim na hierarquia dos mundos, basta a Deus não permitir aos Espíritos imperfeitos aqui se reencarnarem, dela afastando aqueles que, por orgulho, incredulidade, maus instintos, se possam tornar em um obstáculo ao progresso, perturbando a boa harmonia, como, aliás, procedeis vós mesmos, em uma assembléia em que necessitais ter paz e tranqüilidade e da qual afastais aqueles que a ela possam trazer a desordem, ou como se expulsam de um país os malfeitores, que são exilados em países longínquos. Isso porque nas raças, ou melhor – para nos servirmos das palavras do Cristo – nas gerações de Espíritos enviados em expiação à Terra, aqueles que se mantiverem incorrigíveis serão substituídos por uma geração de Espíritos mais adiantados e, para isso, bastará uma geração de homens e a vontade de Deus que pode, através de acontecimentos inesperados, embora naturais, apressar-lhes a partida da Terra. Se, pois, a maior parte das crianças que hoje nascem pertencem à nova geração de Espíritos melhores, se os demais, que partem a cada dia, não mais regressarão, disso resultará uma renovação completa. E o que será feito dos Espíritos exilados? Serão encaminhados para mundos inferiores, onde expiarão duras asperezas em longos séculos de provas difíceis, pois que também eles são anjos rebeldes que desprezaram o poder de Deus e se revoltaram contra a lei que Cristo veio lhes recordar.

Como quer que seja, nada se faz bruscamente na natureza. A velha levedura deixará ainda, durante algum tempo, traços que só de pouco em pouco se apagarão. Quando os Espíritos nos dizem – e isso eles o fazem por toda parte – que nos abeiramos desse momento, não creiais que seremos testemunhas de uma transformação exposta à vista. Querem demonstrar-nos que estamos no momento da transição, assistimos à partida dos velhos e à chegada dos novos, que virão fundar uma nova ordem de coisas, isto é, o reino da justiça e da caridade que é o verdadeiro reino de Deus, predito pelos profetas e do qual o Espiritismo vem preparar os caminhos.

Allan KardecVede, senhores, estamos já bem distantes das mesas girantes e, entretanto, apenas alguns anos nos separam do berço do Espiritismo! Quem quer que tivesse sido bastante audacioso para predizer o que hoje se passa seria levado à conta de insensato aos olhos dos seus próprios correligionários. Observando a pequenina semente, quem poderia compreender, se dantes não tivesse assistido ao fenômeno, que dali sairia a árvore poderosa? Vendo a criança nascida no estábulo de uma pobre aldeia na Judéia, quem poderia supor que, sem o fausto e o poder material, sua voz singela abalaria o mundo, reforçada apenas por alguns pescadores ignorantes e tão pobres quanto ela mesma? Outro tanto ocorre com o Espiritismo que, saindo de um humilde e vulgar fenômeno, já aprofundou suas raízes em todas as direções, e cuja ramalhada bem cedo abrigará a Terra inteira. As coisas progridem celeremente quando Deus assim o quer. E considerando que nada ocorre fora de Sua vontade, quem não veria aí o dedo de Deus?

Assistindo à marcha irresistível das coisas, poderíeis dizer como outrora os Cruzados marchando para a conquista da Terra Santa: Deus o quer!, mas com a diferença que eles marchavam levando nas mãos ferro e fogo, enquanto que vós apenas tendes por arma a caridade que, ao invés de ocasionar ferimentos morais, derrama um bálsamo salutar sobre os corações doloridos. E, com essa arma pacífica, que cintila aos olhos como um raio divino e não como o metal assassino, que semeia a esperança e não o temor, tereis, dentro de alguns anos, levado ao aprisco da fé mais ovelhas desgarradas do que o teriam podido fazer séculos de violência e de prepotência. É com a caridade por guia que o Espiritismo caminha para a conquista do mundo.

Será fantasioso e quimérico o quadro que esbocei diante de vós? Não! A razão, a lógica, a experiência, tudo diz que essa é uma realidade.

Espíritas, sois os pioneiros dessa grande obra. Tornai-vos dignos da gloriosa missão, cujos primeiros frutos já recolheis. Pregai por palavras, mas, sobretudo, pregai por exemplos. Comportai-vos de modo a que, em vos vendo, não possam dizer que as máximas que ensinais são palavras vãs em vossos lábios. A exemplo dos apóstolos, fazei milagres, pois para isso Deus concedeu-vos o dom! Não milagres que chocam os sentidos, porém milagres de caridade e de amor. Sede bons para com vossos irmãos, sede bons para com o mundo inteiro, sede bons para com vossos inimigos! A exemplo dos apóstolos, expulsai os demônios. Para isso tendes o poder, e eles pululam em torno de vós, os demônios do orgulho, da ambição, da inveja, do ciúme, da cupidez, da sensualidade, que alimentam todas as más paixões e semeiam por entre vós os pomos da discórdia. Expulsai-os de vossos corações, a fim de que tenhais a força necessária para expulsá-los dos corações alheios. Fazei esses milagres e Deus vos abençoará, as gerações futuras vos abençoarão como as de agora abençoam os primeiros cristãos, dentre os quais, muitos revivem entre vós para assistir e concorrer para o coroamento da obra do Cristo. Fazei esses milagres e vossos nomes serão inscritos gloriosamente nos anais do Espiritismo. Não empanai esse clarão por sentimentos e atos indignos do verdadeiro espírita, do espírita cristão. Libertai-vos, o quanto antes possível, de tudo quanto possa ainda restar em vós do velho levedo. Observai que de um momento para o outro, amanhã talvez, o anjo da morte pode vir bater à vossa porta e dizer: Deus vos chama para prestardes conta do que fizestes de sua palavra, da palavra de Seu Filho, que Ele fez repetir pelos bons Espíritos. Estai, pois, sempre prontos a partir e não façais como o viajor imprudente que é surpreendido desprevenido. Fazei vossas provisões com antecipação, provisões de boas obras e de bons sentimentos, pois infeliz é aquele que o momento fatal surpreende com a ira, a inveja ou o ciúme no coração. Terão por escolta os maus Espíritos, jubilosos das desgraças que o esperam, uma vez que essas desgraças serão a sua obra. E vós sabeis, espíritas, quais são essas desgraças: os que as sofrem chegam até nós, eles próprios, para descrever seus sofrimentos. Àqueles, pelo contrário, que se apresentarem puros, os bons Espíritos virão estender a mão, dizendo-lhes: Irmãos, sede bem-vindos às celestes moradas onde vos esperam cantos de alegra.

Jesus-CristoVossos adversários rir-se-ão de vossa crença nos Espíritos e em suas manifestações, mas não poderão rir das virtudes que resultam dessa crença. Não se rirão quando virem os inimigos perdoar-se ao invés de ferir-se, a paz renascer entre aqueles que se dividiram pela dissensão, o incrédulo de ontem concentrado hoje em prece fervorosa, o homem violento e colérico transformado em ser doce e pacífico, o debochado transfigurado no homem cumpridor de seus deveres e perfeito pai de família, o orgulhoso que se tornou humilde, o egoísta oferecendo provas do mais alto espírito de caridade. Não rirão quando constatarem que já não têm a temer a vingança de seus inimigos, transformados em espíritas. O rico não se rirá quando verificar que o pobre não inveja sua fortuna e o pobre, ao invés de alimentar sentimentos de ciúmes, abençoará o rico que se fez humano e generoso. Os chefes não rirão de seus subordinados e não os molestarão quando constatarem que se fizeram escrupulosos e conscienciosos na realização de seus deveres. Finalmente os patrões encorajarão seus servidores e subalternos quando os virem, sob o império da fé espírita, mais fiéis, mais devotados e mais sinceros. Eles verificarão que o Espiritismo é bom para tudo e para todos e não apenas para salvaguardar-lhes os interesses materiais. E tanto pior será para aqueles que não quiserem ver um pouco mais além. Sob o império dessa mesma fé, o militar será mais disciplinado, mais humano, mais fácil de ser conduzido. Terá sentimentos e obedecerá não pelo temor, mas pela razão. É o que constatam os dirigentes imbuídos desses princípios e eles são numerosos. E, por tal motivo, sinceramente desejam que nenhum entrave se oponha à propagação das idéias espíritas entre aqueles que se encontram sob sua direção.

Eis, senhores, que rides, o que produz o Espiritismo, essa utopia do século dezenove, parcialmente ainda, é verdade, mas cuja influência já se reconhece e cuja propagação em breve se compreenderá ser do maior benefício, em favor de todos. Sua influência é uma garantia de segurança para as relações sociais, pois que constitui o mais poderoso freio às más paixões, às efervescências desordenadas, mostrando o laço de amor e de fraternidade que deve unir o grande ao pequeno e o pequeno ao grande. Fazei, pois, que por vosso exemplo logo se possa dizer: Praza a Deus que todos os homens sejam espíritas de coração!

Ilustração - imagem do sol sobreposta pelas palavras Deus, Cristo e CaridadeCaros irmãos espíritas, venho vos indicar o caminho, fazer-vos ver o objetivo. Possam minhas palavras, em sua impotência, ter-vos feito compreender a sua grandeza! Todavia outros virão, depois de mim, que vo-la mostrarão também, e cuja voz, mais poderosa do que a minha, terá para as nações o brilho vivaz da trombeta. Sim, meus irmãos, Espíritos mensageiros de Deus, encarregados de estabelecer o Seu reino na Terra, logo surgirão entre vós e os reconhecereis por sua sabedoria e a autoridade de sua linguagem. À sua voz, os incrédulos e os ímpios se encherão de espanto e de estupor e curvarão a cabeça, pois não ousarão chamá-los loucos. Eu não poderia, irmãos, revelar-vos tudo quanto vos prepara o futuro. Mas o tempo está próximo em que todos os mistérios serão revelados, para a confusão dos mentirosos e a glorificação dos bons.

Enquanto a oportunidade se apresenta, revesti-vos do manto branco, abafai as discórdias, pois que as discórdias pertencem ao reino do mal que vai ter fim. Seja-vos possível fundir-vos em uma única e mesma família e dar-vos mutuamente, do fundo do coração e sem pensamento premeditado, o nome de irmãos. Se entre vós há dissidências, causas de antagonismos, se os grupos que devem todos marchar para um objetivo comum estiverem divididos, eu o lamento, sem me preocupar com as causas, sem examinar quem cometeu os primeiros erros, e me coloco, sem hesitar, do lado daquele que tiver mais caridade, isto é, mais abnegação e verdadeira humildade, pois aquele a quem falta a caridade está sempre errado, assistido embora por qualquer espécie de razão, pois Deus maldiz quem diz a seu irmão: racca.

Cartaz com fundo vermelho e a palavra amor em destaqueOs grupos são indivíduos coletivos que devem viver em paz como os indivíduos, se realmente são espíritas. Eles são os batalhões da grande falange. Ora, o que será feito de uma falange cujos batalhões se dividirem? Aqueles que vêem o próximo com olhos ciumentos provam, só por isso, que estão sob uma má influência, pois que o Espírito do bem não pode produzir o mal. Vós o sabeis: a árvore reconhece-se pelos frutos. Ora, o fruto do orgulho, da inveja e do ciúme é um fruto envenenado que mata quem dele se nutre.

O que digo das dissidências entre grupos vale, igualmente, para as que possam haver entre os indivíduos. Em semelhante circunstância, a opinião das pessoas imparciais é sempre favorável àquele que dá provas de maior grandeza e de generosidade. Aqui na Terra, onde ninguém é infalível, a indulgência recíproca é uma conseqüência do princípio da caridade que nos leva a agir para com os outros como quereríamos que os outros agissem para conosco. Ora, sem indulgência não há caridade, sem caridade não há verdadeiro espírita. A moderação é um dos sinais característicos desse sentimento, como a acrimônia e o rancor são sinais da negação. Com acrimônia e espírito vingativo deterioram-se as mais dignas causas, mas com a moderação fortalecemo-las, se estamos de seu lado, ou delas passamos a participar, se não o fizemos ainda. Se, pois, eu tivesse de opinar em uma divergência, eu me preocuparia menos com as causas e mais com as conseqüências. As causas, em querelas ocasionadas sobretudo por palavras, podem ser o resultado de questões das quais nem sempre somos senhores; a conduta ulterior de dois adversários é o resultado da reflexão; eles agem de sangue frio e é então que o verdadeiro caráter de cada uma das partes se define. Uma cabeça ruim e um mau coração caminham muitas vezes juntos, porém rancor e bom coração são incompatíveis. Minha medida de apreciação seria, então, a caridade, isto é, eu observaria aquele que menos mal diz de seu adversário, aquele que é o mais moderado em suas recriminações. É segundo esta medida que Deus nos julgará, pois que Ele será indulgente para quem tiver sido indulgente e será inflexível para quem tiver sido inflexível.

Ilustração com a palavra paz em destaqueA rota traçada pela caridade é clara, infalível e sem equívocos. Poderíamos defini-la assim: “Sentimento de benevolência, de justiça e de indulgência relativamente ao próximo, baseado no que quereríamos que o próximo nos fizesse”. Tomando-a por guia, podemos estar certos de não nos afastar do caminho reto que conduz a Deus. Quem deseja, de maneira sincera e séria, trabalhar por sua própria melhoria, deve analisar a caridade em seus mínimos detalhes e por ela conformar sua conduta, pois ela se aplica a todas as circunstâncias da vida, tanto às mais simples quanto às mais complexas. De cada vez que estivermos incertos quanto ao partido a tomar, no interesse alheio, basta que interroguemos a caridade e ela responderá, sempre, de maneira justa. Infelizmente escuta-se mais freqüentemente a voz do egoísmo.

Sondai, pois, os refolhos de vossa alma, para dela arrancardes os últimos vestígios das más paixões, se delas algo restar ainda. E se experimentais algum ressentimento contra alguém, cuidai de abafá-lo e dizei: “Irmão, esqueçamos o passado. Os maus Espíritos nos haviam separado, que os bons nos reúnam!” Se ele recusar a mão que lhe estendeis, oh!, então lamentai-o, pois Deus, por sua vez, lhe dirá: “Por que pedes perdão, tu que não perdoastes?”

Cartaz com fundo vermelho e a palavra amor em destaqueApressai-vos, pois, para que se não vos aplique esta frase fatal: É tarde demais! Tais são, queridos irmãos espíritas, os conselhos que tenho a vos dar. A confiança que vindes em mim depositar é uma garantia de que eles trarão bons frutos. Os bons Espíritos, que vos assistem, dizem-vos a cada dia a mesma coisa, porém julguei um dever apresentar-vos essas advertências em um conjunto, de modo a que suas conseqüências melhor se destaquem. Venho, pois, em nome deles, lembrar-vos a prática da grande lei do amor e da fraternidade que deverá, em breve, reger o mundo e nele fazer reinar a paz e a concórdia, sob o estandarte da caridade para com todos, sem exceções de seitas, de castas e nem de cores.

Com esse estandarte, o Espiritismo será o traço de união que reunirá os homens divididos pelas crenças e os prejuízos mundanos. Ele fará ruir a mais poderosa barreira que separa os povos: o antagonismo nacional. À sombra dessa bandeira, que será o seu ponto de reunião, os homens se habituarão a ver irmãos naqueles que viam como inimigos. Daqui até lá haverá muitas lutas, pois o mal não liberta facilmente sua presa e os interesses materiais são tenazes. Sem dúvida, não vereis com os olhos do corpo a realização dessa obra, para a qual concorreis, e isso embora esse momento não esteja remoto. Os anos iniciais do século próximo deverão prenunciar essa era nova que se prepara ao crepúsculo desta em que vivemos. Mas fruireis, com os olhos do Espírito, o bem que tiverdes feito, como os mártires do Cristianismo rejubilaram-se contemplando os frutos de seu sangue derramado. Coragem, pois, e perseverança. Não recueis ante os obstáculos. O campo não se torna fértil sem a dádiva do suor. Assim como o pai, mesmo no ocaso da vida, constrói o lar que irá abrigar seus filhos, crede que construís para as gerações futuras um templo à fraternidade universal e no qual as únicas vítimas imoladas serão o egoísmo, o orgulho e todas as más paixões que ensangüentaram a humanidade. (Allan Kardec, Viagem Espírita 1862, Discurso 3)

TRANSIÇÃO PLANETÁRIA E
DESPERTAR HUMANITÁRIO

“Predita foi a transformação da Humanidade e vos avizinhais do momento em que se dará, momento cuja chegada apressam todos os homens que auxiliam o progresso". - O Livro dos Espíritos, Q.1019

Imagem de Nascer do SolA sensação de muitos é que já estamos em meio ao grande processo de transformação planetária anunciado solenemente na última questão de O Livro dos Espíritos.

Alguém lá em cima ligou o "turbo" para acelar a mudança de rota... O movimento mais rápido e de curva mais acentuada gera turbulência. Muitos se assustam. Alguns chegam a desacreditar na habilidade do "piloto" de levar a transição a bom termo. Quem O conhece, no entanto, sabe de especial habilidade em lidar com tempestades (vide Mateus 8:23-27) e seguem confiantes na Sua condução...

A sequência da leitura da resposta dos Espíritos à questão 1019 da obra inaugural do Espiritismo traz, porém, motivos adicionais para nossa reflexão.

"Essa transformação se verificará por meio da encarnação de Espíritos melhores, que constituirão na Terra uma geração nova".

Mais do que "dos Espíritos", essa resposta vem assinada por um deles, em especial: S. Luiz, o protetor da Sociedade de Estudos Espíritas de Paris. Trata-se, portanto, de um "fecho de ouro" para uma obra já, por si, sublime. Meditemos,portanto, sobre seus ensinos, com atenção igualmente especial.

Há no trecho acima uma vinculação importante: o mundo novo virá com homens novos. S.Luiz refere-se, é verdade, especificamente a uma nova geração, à renovação dos Espíritos encarnados. No entanto, podemos perguntar: Mas e os já encarnados? Ficam só esperando a troca da guarda? Qual o seu papel, nessa transição? Como podem ajudá-la?

Em meio à crise de transformação, parece que se multiplicam os comentaristas de dentro do campo. Imagine que, num jogo de futebol, os jogadores simplesmente cruzassem os braços e começassem a apenas criticar a paralisia dos colegas. Estariam todos igualmente parados, em completa inação, mas seriam apenas capazes de perceber a paralisia alheia.

Na vida real, são esses os que repetem o jargão: "Esse mundo está perdido". "Vem aí mais um escândalo". "A saúde está horrível". "A Educação uma lástima"... e por aí vai. Falam do "mundo" como se dele não fizessem parte. Reclamam da sujeira da rua mas não varrem a própria calçada.

Entendemos que a transição planetária passa necessáriamente por um despertar humanitário.

Só saindo desse estado de crítica "inteligente e mordaz", mas apática e inerte, conseguiremos colaborar de maneira ativa para as mudanças desejadas.

A selva não vira jardim sem trabalho árduo.

Ninguém que se pretenda "do bem" pode viver no mundo em que estamos vivendo de braços cruzados.

Nesse início de ano, observe a si mesmo. Se já faz algo de concreto pela melhoria do mundo, do país e de sua vizinhança, pense em como aumentar essa "quota de contribuição". Como fazer mais e melhor, dentro daquilo que esteja ao seu alcance? Como se unir a outros para fazer além de seus limites individuais?

Diz-nos ainda S.Luiz, em outro trecho da resposta já citada:

"Todos vós, homens de fé e de boa vontade, trabalhai, portanto, com ânimo e zelo na grande obra da regeneração".

Ainda está em tempo de fazer uma promessa de ano novo bacana, dessas "do bem" mesmo: duplicar em 2017 as horas de serviço comunitário realizadas em 2016.

Pense nisso ... e lembre da frase fantástica e tão breve de Victor Hugo, a esse respeito: AMAR É AGIR!

Paz e luz!