TESE DO ANO
A tese do ano é sempre um tema proposto por nosso Presidente para reflexão de todos ao longo do período que se inicia. A desse ano sofreu atraso em decorrência da partida de nosso ex-presidente, Azamôr Serrão Filho, desencarnado a 02 de fevereiro último e homenageado nesta edição de nosso site e na nova edição de O Cristão Espírita, nosso boletim (vide ao lado). Não por coincidência, o tema da Tese de 2025 traz a exaltação da vida espiritual, eterna, em detrimento da vida material, passageira, precária e provisória. Segue abaixo o cartaz de sua divulgação:
SAL DA TERRA ESPECIAL: AZAMÔR SERRÃO FILHO (1938-2025)
“Hoje veio a salvação a esta casa”. (Lc.19:9)
Azamôr Serrão Filho nasceu no Rio de Janeiro a 20 de fevereiro de 1938, como primogênito de Azamôr Serrão e Innocência Gonçalves Serrão. Teve dois irmãos: primeiro Paulo Roberto Serrão, dois anos mais jovem e, mais tarde, Vera Lúcia Serrão, a caçula do lar.
Foi durante a sua adolescência que a família tornou-se espírita, graças à mediunidade intensa e poliforma de seu pai e por seu forte vínculo espiritual com Bezerra de Menezes. Começaram juntos a frequentar, então, a Tenda Espírita Irmãos do Oriente, onde Azamôr-Pai recebia receituário de Dr. Bezerra e, dali, também juntos seguiram para a Iniciação Espírita Bezerra de Menezes, pequena dissidência da “Tenda” que mais tarde resultou na fundação de nossa CASA, a 03 de junho de 1961.
Materializava-se ali um projeto da Espiritualidade Superior, mas selava-se igualmente um destino: um compromisso inarredável de toda a família Serrão com a CASA e com a CAUSA cristã. Azamôr Filho acompanhara a trajetória de seu pai, como médium e líder espírita, e absorvera plenamente em seu coração a chama daquele ideal e a força de seus exemplos.Jamais os esqueceria…
Tornou-se profundo e dedicado estudioso do Espiritismo, ao longo de toda a vida, acumulando notável repertório de autores e obras da literatura espírita e espiritualista, como também dedicado trabalhador da CASA, nos mais variados papéis.
Foi o tempo, aliás, que, aos poucos, revelou em Azamôr a seriedade e a perenidade de seus compromissos…
Casou-se cedo, aos 22 anos, com Arlette da Rocha Serrão, no mesmo ano de fundação da CASA. Construíram juntos uma bela história, ao longo de 64 anos de convívio, que resultaram em numerosa família: 4 filhos (Azamor Serrão Neto, André Luiz da Rocha Serrão, Ana Cláudia da Rocha Serrão e Alexandre da Rocha Serrão), 4 netos e 01 bisneta.
Profissionalmente foi a princípio desenhista de estamparia, depois representante comercial, e nesse papel atendeu por 45 anos à fábrica de sapatos ITALMOCASSIM, de SP.
Na CASA atuou desde o seu primeiro dia até à sua desencarnação, totalizando igualmente 64 anos de atividade contínua. Presidiu-a logo quando de sua fundação, em 1961, e depois mais recentemente, desde 05 de maio de 2001 até dia 2 de fevereiro de 2025, dia de seu desencarne. Foi ainda Superintendente de seu Departamento de Estudos e Divulgação Doutrinária, por largo período, acumulando com todos esses papéis também o de Redator-Chefe de nosso boletim, O Cristão Espírita, e ainda publicou dois volumes preciosos, como autor: COMECE DO COMEÇO (Introdução à Doutrina Espírita) e O SOL DE CADA DIA, comentando máximas de reflexão diária recebidas mediunicamente por seu pai, nossa Antena Celeste…
Azamôr como que desdobrava-se, com serenidade e bom ânimo, em todos esses diferentes e importantes papéis… esposo, pai, operário do bem, dirigente espírita. Todos se encantavam com sua afabilidade e lhaneza no trato, com seu bom humor e gentileza espontâneos. Herdou do pai a vocação para os trocadilhos. Sabia quebrar a tensão de qualquer situação e trazer leveza aos encontros sempre com alguma tirada inspirada…
Adorava parlar... conversar… dialogar, especialmente sobre Espiritismo, Futebol e Musica clássica… eram esses os seus assuntos preferidos, mas acompanhava fagueiramente qualquer tema, qualquer conversa. Tinha o dom da palavra, e parecia ter sempre pronta a mensagem certa para cada circunstância.
Guardava consigo a preocupação de dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, e repetia sempre para si e para os seus a importância do cuidado de não servir a dois senhores, mas foi rico no melhor sentido da palavra, rico de amigos, rico de admiradores.
Até aqueles com que discordava apreciavam a moderação e a postura respeitosa que mantinha em todos os momentos, pela capacidade de compreensão da vida e de todos que estavam à sua volta. Sempre foi e ainda é um homem de atitude, mas tinha um dom especial, uma sabedoria toda própria de perceber a hora de não tomar atitude alguma, de serenamente aguardar o desenrolar dos fatos e dos comportamentos para tomar a melhor decisão, mais à frente. Parecia ter uma visão mais longa, um ponto de vista diferente sobre as pessoas e as situações. Dava tempo ao tempo, antes de formar opinião sobre qualquer assunto. Examinava primeiro, agia depois.
Diante dos impasses, socorria-se buscando mentalmente ao Patrono de nossa CASA, e perguntava-se, mentalmente: que faria Bezerra de Menezes numa situação dessas? Pois ali encontrava sempre a melhor inspiração, o melhor pedaço de si para oferecer ao que estavam consigo.
Eleito presidente da CASA, implantou nela o conceito de gestão compartilhada. Queria que todos sentissem em si a responsabilidade com a CASA e com seu ideal, independente da função. Repetiu isso até o seu último dia…
Longe da aspiração de santidade ou de qualquer pretensão personalista, assim como seu pai, Azamôr Filho destacou-se por sua HUMANIDADE.
Padecia igualmente das contradições humanas, como todos nós, mas transpirava generosidade, fraternidade e instintiva predisposição para o bem, para o belo e para a verdade. Uma delas, uma das mais engraçadas e pueris, era o fato de, apesar de ser vegetariano desde jovem, só obter sucesso profissionalmente com a representação de produtos de couro – cintos, sapatos e casacos. Recriminava-se por isso, intimamente. Havia outras também, claro, mais relevantes, e ele bem sabia o quanto lhe custava tentar superá-las.
Azamôr Filho adorava cozinhar, e sabia mesmo preparar saborosos pratos, mas foi principalmente por sua simplicidade, discrição e exemplos de vida que se tornou, aos poucos, mais um SAL DA TERRA, que agora nos deixa com muitas e muitas pitadas de saudade…
Siga em paz, amigo, “firme e forte como uma rocha”, como você mesmo tantas vezes nos falou. Estaremos sempre vibrando consigo!
E que Jesus, a nossa Salvação, esteja sempre nesta CASA!
NOVOS RUMOS
Guillon Ribeiro
Espíritas, meus irmãos!
Urge que consubstanciemos, em nosso comportamento diário, a mensagem do Cristo, a fim de que a desencarnação não nos surpreenda desatentos...
Antes ignorávamos as verdades da informação espírita e por essa razão caminhávamos desassisados e inquietos.
Depois, convidados pelo Mundo Maior às realidades da vida, despertamos para as responsabilidades que nos convocam à correta atitude, de modo a plasmarmos no dia-a-dia a diretriz que nos pode libertar e conduzir com segurança.
Muitos discípulos do Evangelho, desatentos, dirão que não há oportunidade para vivermos, nestes dias, aquelas excelentes verdades, que há dois mil anos nos fascinam, sem conseguirem impregnar-nos com a necessária pureza.
Dir-nos-ão que já não se pode experimentar aqueles abençoados estados de intercâmbios espirituais, através dos quais haurimos força e vitalidade para prosseguir...
Sabemos, porém, que estes, que assim esclarecem, encontram-se equivocados.
Temos experimentado a paz da comunicação entre os dois mundos e, muitas vezes, temos conseguido fruir as mesmas consolações que no Cenáculo da "Casa do Caminho" os discípulos do Rabi galileu igualmente desfrutavam...
Para tais pensadores apressados, que também repontam em nossas hostes nos dias atuais, o Espiritismo é a técnica de investigação por meio da qual, na mediunidade, se podem constatar as realidades do mundo extrassensorial.
Quando assim não se revelam, no caráter apenas de pesquisadores bem-intencionados, estabelecem que a Doutrina Espírita é a rota filosófica para resolver os problemas e as incógnitas do pensamento que, de Oedipus, aguardam novos e audazes heróis que se possam libertar da agressão da Esfinge e da sua cruel fatalidade, decifrando-a novamente...
Uma grande parte dos companheiros igualmente se deixou fascinar pelo Espiritismo e o toma como religião apenas, permitindo-se arrastar por lamentável fanatismo que paulatinamente pode conduzir, por ignorância, a uma seita infeliz, desfigurando-o em qualquer de seus nobres aspectos, como se assim desfigurado, somente em uma das faces, através das quais foi apresentado pelo Codificador, pudesse representar sua legítima verdade.
Nesse sentido, convém perseverarmos na conceituação sempre nova e atual da tríade divina com que as "Vozes dos Céus" o revelaram a Allan Kardec: Ciência, Filosofia e Religião.
Sob todos os ângulos nos quais seja considerado, o Espiritismo é síntese do pensamento divino oferecido à Humanidade para a sua própria recristianização.
Contemplamos nestes dias as terríveis aflições que visitam o coração e a mente humanos; examinamos as superlativas dores que ameaçam desabar sobre a sociedade hodierna; observamos o avanço da técnica e a desorganizada correria do homem em busca de coisa nenhuma, e recordamos as consolações prometidas por Jesus, hoje recendendo na mensagem espírita o seu aroma sutil, penetrando os corações, abrindo novas perspectivas às mentes indagadoras e oferecendo paisagens dantes jamais sonhadas aos nautas, incansáveis aventureiros nos mares da vida carnal.
Por essa razão, somos convocados a repetir a necessidade de corporificarmos, através do espiritismo, as palavras de Jesus em nossa conduta diária.
Quando nos afirmam que estes são outros tempos, sentimos, sim, que mudaram as épocas, as circunstâncias e as técnicas, mas o homem continua o mesmo do passado, herdeiro de si mesmo, conduzindo sobre os ombros, nas diversas experiências carnais, o legado dos atos que o impelem a vir e voltar, encetando e repetindo jornadas através das quais busca a própria libertação das sombras da morte e do sofrimento...
Por essa razão, conjugando os diversos tempos e modos do verbo servir, avancemos.
Intimoratos, sigamos intemeratos, conquistando as terras desconhecidas do espírito e espargindo a luz clarificadora do Evangelho sobre as próprias pegadas.
Jesus é o mesmo, hoje; o mesmo de ontem e o mesmo de sempre.
Deixemos o rol das queixas e das recriminações, as rotas negativas da própria inferioridade e levantemo-nos resolutos para o labor que nos cabe executar.
Há muitos corações que choram e mentes em desalinho que aguardam a nossa cooperação.
Não se encontram apenas nos grabatos da miséria ou nas sarjetas das ruas... As grandes maiorias desfilam no palco das ilusões e afivelam máscaras de poder, fortuna, cultura e glória... Parecem superiores e felizes, mas não o são. Apresentam-se como dominadoras e são dominadas no imo de si mesmas... Revelam-se na condição de senhores do mundo e, no entanto, são servas de paixões subalternas...
Apiedemo-nos deles todos, nossos irmãos enganados pelas utopias e vencidos pela prosápia da própria incúria.
Ofereçamos-lhes a mensagem espírita, falando-lhes em linguagem compatível ao seu entendimento e façamos que eles sintam a grandeza da revelação, graças à paz, e à alegria interior de que nos encontremos revestidos.
Para tanto, perscrutemos as palavras do Codificador e penetremos-lhes as nascentes, banhando-nos na água lustral de que se constituem.
É verdade que devemos examinar e reexaminar a Codificação Kardequiana a fim de nos aparelharmos para as grandes lides do momento. E fala-se mesmo quanto à necessidade de uma revisão em muitas partes da Doutrina, que se encontraria ultrapassada...
Sem dúvida é imprescindível estudar o Espiritismo para apresentá-lo de modo consentâneo às necessidades desta ou daquela ordem, nestes dias de cultura, tormento e técnica...
O Espiritismo, porém, é luz, e como tal não pode conter trevas.
Suas bases são inamovíveis.
O que ora nos parece superado é conceito que não se encontra devidamente desdobrado nem valorizado na sua real significação.
Por isso mesmo, peregrinemos pelas retortas e laboratórios, pesquisando e analisando; frequentemos as escolas de indagação e reunamos informes; busquemos a técnica, porém, tudo estudemos à luz do Espiritismo, em cuja fonte há linfa para a sede expressiva de que nos encontremos possuídos e da qual sejamos instrumento...
...E sirvamos infatigavelmente...
Seja o nosso o salário do suor e da dedicação.
E levantando bem alto o lábaro da Caridade, renovemo-nos no trabalho edificante, agindo com solidariedade ampla, nova, constante e, através da tolerância, avancemos sem cessar, até o momento da nossa libertação em plenitude de paz.
Os rumos são o desdobramento das velhas e permanentes diretrizes do amor e do estudo, para que o amor nos felicite as horas e o estudo nos ilumine a consciência, na direção de Jesus, aquele a quem temos a honra de servir.
(Fonte: Sol de Esperança – Diversos Espíritos/Divaldo Franco)
OS EVANGELHOS EXPLICADOS
CRISTIANISMO E UNIVERSALISMO
(Mateus, 3: 7 a 12, Marcos, 1: 6 a 8, Lucas, 3: 7 a 18).
“Não vades dizer intimamente:
temos Abraão por pai, porquanto
eu vos declaro que destas mesmas
dessas palavras pedras pode Deus
fazer que nasçam filhos a Abraão;
o machado está posto à raiz das
árvores, toda a árvore que não dá
bom fruto será cortada e lançada
ao fogo”, se referem a todos os
tempos, ao tempo em que João
as pronunciava, aos tempos que
se seguiram até vossos dias e aos
tempos que hão de vir.
Os hebreus não reconheciam por filhos do Senhor, senão aqueles que viviam curvados sob o jugo de Moisés, do mesmo modo que a Igreja romana, mais tarde, não admitiu por muito tempo à redenção, senão os que estritamente lhe obedeciam aos mandamentos.
Que é o que Abraão representa para o espírito dos hebreus? — O chefe da família destinada a herdar o reino dos céus.
Por aquelas palavras inspiradas ao seu enviado, quer Deus, conseguintemente, que fique bem entendido serem seus filhos todos os que vão a Ele. É como se dissera: “Não entram no meu reino os filhos de Abraão, filhos ingratos que desprezaram as minhas leis e desfiguraram meus preceitos, que as desprezam e os desfiguram, que as desprezarem e os desfigurarem no futuro. Todo aquele, porém, que escuta a minha voz, que envereda pela estrada larga, que arranca a árvore má, produtora de maus frutos, e só deixa no coração a boa semente que há de fertilizar a terra, esse está no caminho que a mim conduz, é meu. Filhos de Abraão não são os que me dizem: “Senhor! Senhor!”; mas, tão somente os que me fazem a Vontade, quaisquer que eles sejam. Todos aqueles cujo coração é puro são meus filhos e só esses terão entrada no meu reino”.
(Fonte: "Os Quatro Evangelhos", org. de Jean Baptiste Roustaing, psicografia de Émilie Collignon, Ed. Ibbis, Brasília, 2022. Tomo I, Item 53, parágrafos 5 a 8)
ALMA DO AMOR
Raquel Ribeiro
Normalmente os conceitos a respeito das experiências humanas transitam entre as expectativas do prazer e da ambição de assegurar o futuro para contínuos gozos.
Nessa pauta de comportamento, alguns imediatistas estabeleceram que a celeridade dos acontecimentos e a fugacidade deles impõem o máximo do desfrutar de cada momento, como forma segura de fruir-se a existência física.
Como consequência coisificou-se o amor, alterando-lhe o significado para torná-lo sensação voraz, que passa deixando sequelas, que novas e repetidas experiências somente as aprofundam.
Quando se pretende viver em plenitude, deve-se ter em mente a necessidade de amar, porquanto, sem o sentimento do amor no coração e na mente, ninguém, portador de sensibilidade, consegue realmente realizar-se.
Enquanto brutalizado, o ser é apenas sensação. No momento, porém, em que a emoção o ergue para patamares superiores, a necessidade do amor se lhe faz imperiosa, proporcionando-lhe ideais, aspirações e sentido existencial.
O amor encontra-se presente na criatura humana, por proceder do Amor Maior, não se podendo alguém evadir dessa força que emerge poderosa, impulsionando-o na direção dos demais indivíduos.
Espraia-se como água transparente entre os dedos que a desejam reter, à medida que pretendem encarcerá-la, fechando-se sobre a palma da mão.
É sempre mais potente, quanto mais se doa, e por tal razão, é fonte inexaurível, que flui sem cessar.
O amor alimenta aquele que o experimenta e dessedenta-o, simultaneamente produzindo o milagre da plenitude interior.
Todos quantos se sentem aturdidos e esfaimados, buscando nas migalhas do prazer transitório a autorrealização, reconfortar-se-iam, caso se entregassem à ciência e à arte de amar.
Por instinto de conservação da vida, começariam auto-amando-se, isto é, enriquecendo-se de experiências iluminativas, de valores culturais, de respeito por si mesmos, e por extensão, pelo seu próximo, entesourando a sabedoria, que lhes constituiria o patrimônio de libertação, alargando-se em direção das demais pessoas, que passariam à condição de seus reais irmãos, e, logo depois, a todos os seres vivos, à Natureza, ao Universo...
A realidade do amor expande-se como luz que pеnetra em recinto escuro por delicada fresta e supera a sombra reinante.
O amor é o estímulo para a renúncia, a força para a abnegação, o apoio para a humildade, o alento para o sacrifício, o élan para a caridade, o sal que dá sabor a todos os investimentos enobrecedores da vida.
O herói, por amor, transcende-se na abnegação.
O santo, por amor, imola-se pelo bem alheio, que é, também, o seu bem.
O artista, por amor, consubstancia na forma, na cor, na melodia, na interpretação, na pauta dos sentimentos, a inspiração que transfere do mundo transcendental para o humano.
O cientista, por amor, renuncia aos prazeres da comodidade e do espairecimento, para buscar, descobrir e salvar vidas...
Ao lado, como emulador dos ideais de grandeza humana, sempre está o amor, que pode ser considerado o alento, sem o qual a vida, deperecendo, tende para o caos, para a consumpção.
Assim o é, sobretudo, porque o Amor é Deus.
(Fonte: Luzes do Alvorecer – Diversos Espíritos/Divaldo Franco).
ESTUDOS FILOSÓFICOS: A maior e melhor série de artigos
da literatura espírita brasileira está de volta!
Artigo CDXXII - Gazeta de Notícias, 12-01-1896
O Apóstolo do dia 6 de dezembro recomeçou e continuou a
combater o Espiritismo, direito que ninguém nega aos que fazem
do ensino sagrado de Jesus meio de vida, contra o preceito: “dá de
graça o que de graça recebestes” e meio de dominação, contra
o que disse o mesmo Jesus: “o meu reino não é deste mundo”.
Roma, todos o veem, faz-se pagar o serviço religioso – e emprega todos os meios de conquistar o reino do mundo, colocando o próprio vigário do Cristo uma coroa de rei na cabeça, com a mesma sem-cerimônia com que arranca a Deus o atributo da infalibilidade.
Contesta o Apóstolo estas verdades? Que conteste; o mundo inteiro é nossa testemunha.
E são tais obras conformes à doutrina de Jesus? Embora o diga, ninguém dá crédito.
Logo, ou Jesus preceituou banalidades, que seus discípulos podem dispensar, ou Roma não segue as leis de seu divino instituidor, segundo ela diz.
O dilema não é dos mais agradáveis ao Apóstolo; mas, agradável ou não, ele assenta em fatos patentes, e não há fugir-lhe.
A questão, pois, se não pode ser resolvida pelo órgão clerical, colocado entre Jesus e a Igreja romana, pode ser, e é resolvida, pelo senso universal, que não se deixa arrastar por argúcias contra fatos que o escandalizam desde séculos.
E o senso universal a resolve pelo modo seguinte:
As palavras caídas dos lábios do Nazareno não passarão, ainda que passem os céus e a terra; logo, aqueles preceitos encerram mandamentos que não podem ser dispensados por ninguém, e principalmente pela Igreja; logo, Roma, que os tem dispensado, incorre na sanção da transgressão da Lei.
Se Roma tem incorrido, aos olhos do mundo, na sanção da transgressão da Lei posta pelo divino Missionário de Deus e por Ele ensinada à humanidade, Roma tem rasgado, por interesse material e por ambição de dominação terrestre, as páginas sagradas do Evangelho.
E, neste caso, cabe-nos o direito de perguntar ao Apóstolo, em nome do Espiritismo, que prega os ensinos do Evangelho: qual dos dois, Roma ou o Espiritismo, está mais próximo de Deus ou qual mais próximo de Satanás?
Quem viola a Lei até a ponto de exigir paga pelo batismo, pela confirmação do matrimônio;
Quem viola a Lei, colocando na cabeça do vigário do Cristo uma coroa de rei;
Quem se coloca assim, fora da Lei, com que direito condenará ao que ensina e recomenda a prática da Lei? Um saiu, o outro entrou.
São estas as posições de Roma e do Espiritismo.
Dir-nos-eis: foi Jesus quem instituiu a Igreja e não foi Ele quem instituiu o Espiritismo.
São duas questões que devem ser tratadas separadamente.
Jesus instituiu a Igreja; mas a instituição tem seguido a norma do instituidor? Eis o essencial.
Também Saul foi rei por vontade de Deus; mas, porque não reinou segundo a Lei, foi-lhe retirada a graça do Senhor.
Também o sacerdócio hebreu foi instituído por Deus; mas, porque não seguiu a Lei, foi reduzido ao que sabeis.
Mesmo por ser instituição divina, maior é a responsabilidade de Roma, por transgredir a Lei de seu instituidor.
Meditai, Srs. do Apóstolo, para que não vos aconteça o mesmo que ao sacerdócio hebreu.
O Espiritismo não foi instituído por Jesus, dizeis; porque não quereis entender o Evangelho senão a vosso gosto – ao gosto com que o sacerdócio queria entender a Lei e os Profetas, para condenarem a Jesus como possesso de Satanás.
Se não são as ambições terrenas que vos velam os olhos e vos obsecam a razão, haveis de reconhecer, em S. Mateus e em S.
João, a promessa formal, feita por Jesus, de mandar oportunamente quem explicasse as verdades que o atraso da humanidade de seu tempo não lhe permitia fazer.
Com a mesma autoridade, pois, com que dizeis: o Espiritismo não é obra de Jesus, diremos nós: é a realização da promessa de Jesus.
E, pelo que dizeis, não é que há de ser; pois que o sacerdócio, com a mesma autoridade que vós, disse que o ensino de Jesus era demoníaco – ou parece que demoníaca era sua cegueira.
É tão perfeita a semelhança entre vós e o sacerdócio hebreu que, só por isto, amigos, devíeis estar alerta; principalmente ensinando o Espiritismo a moral de Jesus – e leis novas, que exaltam e engrandecem ao Senhor.
Ai de vós, escribas e fariseus, velhos e novos, que o sacerdócio está para Jesus como Roma para o Espiritismo.
Dizeis que o Espiritismo é obra de demônio; mas ainda não compreendeste que o vosso diabo pessoal é a negação formal de Deus?
Deus criou os anjos perfeitos e não perfectíveis; portanto, impecáveis. Eis a volição divina.
O ser criado impecável caiu entretanto em pecado, burlando a volição de seu Criador ! Que figura faz Deus?
Esses seres decaídos se reúnem em hostes contra seu Criador – e Este, o Onipotente, em vez de exterminá-los por ato de sua vontade, organiza, por sua vez, batalhões de anjos fiéis e dá batalha! É sério?
Tendo tido a felicidade de vencer os rebeldes, e dizemos felicidade porque quem dá batalha sujeita-se a vencer ou ser vencido, Deus condena-os, os vencidos, às trevas eternas do Inferno; mas ainda eles zombam de seu poder, e ei-los fora da prisão pescando Espíritos! Não é blasfemo?
E, no fim, depois do dies irae, ficarão dois reinos: Céu e Inferno – e dois senhores: Jeová e Satanás! Horror!
Para os espíritas, Satanás e Belzebu são as paixões humanas, açuladas pelos Espíritos ainda atrasados e dados ao mal; mas que um dia conhecerão seus erros e se encaminharão para Deus, que não quer a morte de nenhum de seus filhos, como o disse por Ezequiel.
Ora, amigo Apóstolo, se não é outra inutilidade ensinada por Jesus: “pelo fruto se conhece a árvore”; e se a vossa doutrina rebaixa a Deus até fazê-lo impotente contra Satanás – e a nossa exalta-o, punindo a todos, mas cobrindo a todos com a misericórdia do perdão, desde que renunciam ao mal; qual das duas deve ser considerada a boa árvore?
Se, pois, existisse ou pudesse existir o vosso diabo, seríeis vós – a vossa Igreja, que lhe pertenceríeis, nunca jamais o Espiritismo.
O que importa que não a aceiteis como obra de Deus, segundo a promessa de Jesus? Acaso Deus deixa de ser porque uns tantos o negam?
Ide vosso caminho e sede felizes. Nós estamos contentes com a nossa sorte, principalmente porque já não podeis mais acender as fogueiras do Santo Ofício, em nome do Justo, que nos legou o exemplo “ita vos faciatis”, de derramar seu sangue, mas não querer derramar uma gota do de seus irmãos que o crucificaram, nem mesmo ad majorum Dei gloriam.
Os Max não vos odeiam, como julgais; ao contrário, a cada uma de vossas objurgatórias, respondem com suas preces a Jesus, implorando para vós a misericórdia de sua luz, para que se afastem de Roma, se for possível, os dias lutuosos de Jerusalém. Deus vo-la dê, a vós pessoalmente, diáconos e subdiáconos do Apóstolo. São os votos de
Max.
(Da União Espírita)
Fonte: Confira o original deste artigo no arquivo da Hemeroteca da Biblioteca Nacional. Para conhecer os demais artigos dessa coleção e seus volumes publicados por nossa CASA visite por favor nossa Biblioteca Virtual.