O PAPEL PSICOLÓGICO DO PERISPÍRITO - A IDENTIDADE
A vida psíquica de todo ser pensante apresenta uma continuidade assecuratória de sua identidade. É por não sentirmos lacuna em nossa vida mental, que nos certificamos de ser a mesma, sempre, a individualidade em nós residente. A memória religa, de forma ininterrupta, todos os estados de consciência, da infância à velhice. Sob a forma de lembranças, podemos evocar eventos do passado, dar-lhes vida factícia, julgar-lhes as fases, dar-nos conta de que, malgrado todas as vicissitudes, lutas, abalos morais, desfalecimentos ou triunfos da vontade, é sempre o mesmo eu que odiou ou amou, gozou ou sofreu. Numa palavra: - que somos idênticos.
Em que parte do ser reside essa identidade?
Evidentemente, no espírito, pois é ele que sente e quer. Na Terra, as faculdades intelectuais estão ligadas, em suas manifestações, a um certo estado do corpo, e o cérebro é o órgão pelo qual o pensamento se transmite ao exterior. O cérebro, porém, muda perpetuamente, as células dos seus tecidos são incessantemente agitadas, modificadas, destruídas por sensações vindas do interior e do exterior. Mais do que as outras, essas células submetem-se a uma desagregação rápida, e, num período assaz curto, são integralmente substituídas.
Como conceber, então, a conservação da memória, e, com esta, a identidade?
De nossa parte, não hesitamos em crer que o perispírito, ainda aqui, representa um grande papel, evidenciando a sua necessidade, visto como os argumentos que validamos, para o mecanismo fisiológico, melhor ainda se aplicam ao funcionamento intelectual, bem mais intenso e variado que as ações da vida vegetativa ou animal. Dessas duas ordens de fatos, bem comprovados, resulta: a renovação incessante das moléculas e a conservação da lembrança, que as sensações e os pensamentos registrados não o são apenas no corpo físico, mas também no que é imutável - no invólucro fluídico da alma. Eis como se pode representar o fenômeno.
Todo o mundo sabe que para termos uma sensação faz-se preciso que um dos órgãos dos sentidos seja excitado por um movimento vibratório, capaz de irritar o nervo correspondente.
O choque recebido propaga-se até ao cérebro, onde a alma toma conhecimento dele, por um fenômeno dito de percepção. Mas, nós sabemos que, entre o cérebro e a alma, está o perispírito, que aquele choque deve atravessar, deixando-lhe um traço.
Com efeito, ao mesmo tempo que é percebida a sensação o que se dá no instante em que a célula cerebral entra a vibrar -, o perispírito, que transmitiu ao espírito o movimento, registrou-a.
A célula pode, então, desaparecer, cumprida a sua tarefa. A que lhe deva suceder será formada pelo perispírito, que lhe imprimirá os mesmos movimentos vibratórios que recebera. Destarte, a sensação será conservada e apta a reaparecer, quando o queira o espírito.
Importa, necessariamente, assim seja, pois a certeza do trabalho molecular do cérebro é absoluta. Pode-se até medir a intensidade da atividade intelectual pela elevação de temperatura das camadas corticais, e pelas perdas excrementosas consequentes.
O substrato material é incessantemente destruído e reconstituído.
Não fosse o perispírito uma espécie de fonógrafo natural, a registrar sensações para reproduzi-las mais tarde, impossível se tornaria adquirir conhecimentos, pois o novo ser, aquele que incessantemente substitui o antigo, nada conhece do passado.
Lógico é, pois, admitir que o perispírito tem grande importância do ponto de vista psíquico, e nada há nisso que nos deva surpreender, por isso que, em suma, ele faz parte da alma e lhe serve de agente junto à matéria.
(Fonte: A Evolução Anímica – Gabriel Delanne)
INTERAÇÃO MENTE-CORPO
Sem qualquer contestação, a interação mente-corpo faz parte automática do processo saúde-doença no ser humano.
De acordo com os procedimentos mentais, são inevitáveis os reflexos orgânicos, mesmo do ponto de vista fisiológico, considerando-se a delicada estrutura de que se constituem os órgãos, especialmente na sua gênese energética.
O estresse, a ansiedade, os medos, a solidão, que se apresentam como alguns dos fatores propiciadores do transtorno bipolar do comportamento, assim como alguns fisiológicos na esquizofrenia, qual a abundância da dopamina, demonstram um inter-relacionamento entre os estados mentais e os consequentes de natureza orgânica.
As pessoas extrovertidas, autoconfiantes, sensatas, apresentam menor índice de enfermidades do que aquelas introvertidas, desconfiadas, instáveis emocionalmente. Nas primeiras, a produção de imunoglobulina auxilia a estabilidade do aparelho imunológico enquanto que as outras, produzindo a mesma substância em menor escala, ficam mais susceptíveis às infecções, particularmente as de natureza respiratória...
Desse modo, aqueles indivíduos que cultivam as boas ideias, que se esforçam por condutas equilibradas sem coarctações perturbadoras nem castrações afligentes, que amam e exercitam a paciência, a solidariedade e a compaixão, gozam de mais saúde e bem-estar do que os egoístas, os pessimistas, os irresolutos....
Sendo a mente uma emanação do espírito, dele procedem os impositivos necessários à evolução, tendo em vista a anterioridade das experiências vivenciadas em existências passadas.
Programador dos acontecimentos que envolvem o ministério da vida física, o espírito é submetido aos impositivos que lhe ampliam a capacidade de crescimento, ainda adormecida no cerne de si mesmo, movimentando as energias indispensáveis à consecução do programa que lhe diz respeito.
Por consequência, emite pensamentos que se transformam em força contínua, cuja qualidade pode contribuir para o equilíbrio ou para o desajustamento das peças de que se utiliza durante a reencarnação.
Aqueles de natureza perturbadora, frutos de culpas e de conflitos acumulados, de ansiedades e invejas, de atribulação e competitividade perniciosa, interferem no campo vibratório das células, desarticulando-lhes a harmonia. Enquanto que, os que expressam esperança e ternura, resignação e coragem, confiança e renovação interior, estimulam os mesmos núcleos, produzindo harmonia e ampliando as resistências em relação às invasões microbianas às agressões mentais externas e às influenciações espirituais enfermiças.
Nesse sentido, expressam-se como de alta valia os contributos da oração, da meditação, da generosidade, do cultivo dos bons e relevantes pensamentos, que estimulam a harmonia em detrimento dos destrambelhos de toda ordem.
Inegavelmente, cada um é, portanto, aquilo que elabora mentalmente, a que se fixa, que exterioriza do imo. [...]
Sem qualquer dúvida, a morte, que é também fenômeno biológico, não será impedida de acontecer porque o indivíduo é otimista e sereno ou porque se permite o desassossego e a rebeldia. O que importa, no entanto , é o período da existência durante a doença, a qualidade de vida que desfruta, as experiências que acumula e os valores de que se utiliza, transferindo-os para a imortalidade. [...]
De saudáveis resultados, são o exercício da paz, a cultura do bom humor, o trabalho de autotransformação moral para melhor, de esclarecimento intelectual, social e vivência ética dos deveres. [...]
Toda vez que se diz ser algo impossível de realizado, mais se lhe fixam as raízes, enquanto que, toda vez quando se experiencia uma atividade que parece inalcançável em cada futura tentativa, ei-la apresentando-se mais fácil e de resultado mais compensador.
Para todo aquele que deseja viver em clima de bem-estar, o cuidado com a conexão mente-corpo deve ser relevante. [...]
Pensa bem e estarás edificando a harmonia perfeita de que desfrutarás no futuro.
(Fonte: Jesus e Vida – Joanna de Ângelis/Divaldo Franco)
VIDA E CORAGEM
Ninguém consegue evoluir e elevar-se sem a coragem de aceitar-se tal qual é para fazer o melhor de si.
Decerto os que nunca erraram e nunca sofreram estarão ainda na estaca zero, em matéria de experiência.
Nenhum avanço se fez e nem se fará sem riscos.
Pessimismo é impedimento de criação voluntária.
Receio de sacrifício, em se tratando de fazer o melhor, é atraso na marcha.
Trabalhar servindo é participar, e participar é viver corajosamente.
Todos aqueles que se preservam demasiado contra obstáculos e provações acabam fugindo às tarefas que lhes compete desenvolver.
O Espírito que colabora na construção da felicidade geral não se agasta com a visita da injúria, qual o semeador que, a fim de enriquecer o celeiro, não se irrita contra os detritos do solo a que se dedica.
Na contabilidade do bem de todos, mais vale imperfeição que trabalha em auxílio aos outros, no processo de aperfeiçoamento da alma, que virtude inerte com medo de perder-se.
Todos nós – os Espíritos ainda vinculados à Terra – somos, coletivamente considerando, vasto rebanho de criaturas em evolução. Mas aquele que não tenha coragem de pensar, agir e renovar-se sozinho, quando o rebanho estoure ou empaque, estará por muito tempo na roda da repetição, de vez que sem coragem de sermos o que somos, operando e cooperando para cumprir o dever que a vida nos atribui, não encontraremos progresso e nem apresentaremos utilidade para ninguém.
(Fonte: André Luiz, em Diálogo dos Vivos - Espíritos Diversos/Chico Xavier-J. Herculano Pires)
OS EVANGELHOS EXPLICADOS
QUEM ERA JOÃO BATISTA. NATUREZA DE SUA MISSÃO
(Mateus 3:1 a 6)
Era um Espírito superior em
missão na Terra, constituindo esta,
como ele o disse, em abrir os caminhos
e aparelhá-los, a fim de que
mais facilmente a luz se pudesse
fazer.
Pelo seu caráter ríspido, pelos seus costumes e hábitos em contraste com os dos contemporâneos, chamava sobre si a atenção de todos. Sua palavra severa e rude forçava os homens a se penitenciarem seriamente. Preparava assim os caminhos do Senhor, preparando os do seu Cristo.
Era a cabeça do rebanho a caminhar à frente, agitando a campainha, para que todas as ovelhas perdidas percebessem de que lado podia vir a salvação.
(Fonte: "Os Quatro Evangelhos", org. de Jean Baptiste Roustaing, psicografia de Émilie Collignon, Ed. Ibbis, Brasília, 2022. Tomo I, Item 51, parágrafos 5 a 7)
ESTUDOS FILOSÓFICOS: A maior e melhor série de artigos
da literatura espírita brasileira está de volta!
Artigo CDXXI - Gazeta de Notícias, 29-12-1895
A Religião Espírita, órgão do centro espírita Rio-Grandense
(Sul) levantou enérgico protesto e apelou para todos os órgãos do
Espiritismo, contra o fato de conter a recente edição do Evangelho
segundo o Espiritismo, mandada tirar pela Sociedade Acadêmica
– Deus Cristo e Caridade, desta capital, um enxerto ao
trabalho de Allan Kardec.
O enxerto é uma comunicação, em que se pretende dar forma dogmática a um novo princípio: “Deus não castiga nem perdoa”.
Quiséramos fugir à manifestação do nosso juízo sobre esta questão, que veio perturbar a paz e a harmonia dos espíritas; mas quando irmãos, acicatados por temores e tremores da consciência, apelam para todos os órgãos espíritas, do mesmo modo como fez o dedicado espírita José de Gouvêa Mendonça, um dos diretores do Centro Espírita União de Propaganda, não devemos, sob pena de incorrermos em covardia moral, guardar silêncio, muito embora nenhuma autoridade tenha nossa palavra.
A tese enxertada na obra do Mestre é repugnante à razão – põe sobressalto à consciência do cristão espírita – e absolutamente não resiste à prova, ante o critério da verdade.
Deus não castiga nem perdoa! Onde, então, a sanção da responsabilidade humana, inseparável do sublime dom do livre-arbítrio humano?
O materialista, o mais intransigente, não imaginaria uma fórmula mais capciosa para consagrar o – seu nada – depois da morte.
Aí, ao menos, há lógica. O ser humano dissipa-se no turbilhão material, e, pois, não podem existir para ele perdão e castigo e prêmio.
O Espiritismo, porém, repelindo a ideia do nada, pregando a sobrevivência do ser, com a consciência da sua individualidade, como fazer que o criminoso, que não acabou, fique livre da pena do mal que fez, do mesmo modo que o virtuoso fique privado do prêmio devido aos seus méritos, conquistados em dolorosa existência?
Semelhante doutrina proscreve a ideia da justiça, pedra fundamental de toda a organização moral – e, destarte, proscreve toda a organização moral, reduzindo a humanidade à pura condição de irracional – e isto, por irresponsável!
Semelhante doutrina, arrasando os alicerces da única possível organização do mundo espiritual, atenta, além disto, contra o sentimento inato e universal, em que assenta a justiça humana, de que todo o mal pede seu castigo, todo o bem seu galardão!
É, sem dúvida, baseado nesta fórmula que um Espírito capcioso, tomando um nome de pessoa estimada e respeitada, lançou a dinamite no seio dos espíritas, substituindo a ideia clara, precisa, e luminosa da justiça de Deus, a única verdadeira contenção para a humanidade, por esta outra sofística – fumarenta – e perigosa, que arrasta facilmente à crença na irresponsabilidade.
Deus não castiga nem perdoa!
Sim, diz o inimigo da fé: é o mal que traz consigo sua condenação.
Mas, perguntamos nós: e quem pôs esta lei e quem dispôs, com infinita sabedoria, a correlação entre o crime e o castigo, em todos os graus e em todas as variedades?
Deus, certamente, não desce a julgar indivíduo por indivíduo, como não retoca todos os dias sua obra, para que se ela mantenha inalterável.
Deus pôs leis que tudo regulam; mas pode-se por isto – porque não vem Deus regular cada coisa – dizer:
Deus não regula as coisas do Universo?
Porque Deus não vem todos os dias acender os fogos do Sol, para que nunca falte luz aos mundos, pode-se dizer: Deus não dá luz aos mundos?
Pois tudo isto vale por dizer-se: Deus não perdoa nem castiga!
Se o tal inimigo da fé tivesse, ao menos, colorido seu pensamento, dizendo por exemplo: Deus não perdoa nem castiga, porque o perdão e o castigo se operam de conformidade com as leis eternas – poder-se-ia ver na nova fórmula apenas má compreensão.
O fato, porém, de atirá-la como absoluta, revela bem o plano de turvar o que estava claro.
A razão, a consciência e a própria natureza humana repelem tal fórmula, como o princípio que ela encerra – e o critério da verdade esmaga-as.
Falando a espíritas, não precisamos dizer que este critério é o que nos legou o Cristo – “pelo fruto se conhecerá a árvore”.
Vêde, pois, como se escandalizaram a razão e a consciência dos crentes à vista do novo ensino; e dizei se pode ele ser fruto de boa árvore, apesar da forma sedutora que lhe deram.
É sempre assim que fala a serpente!
Se o mundo está cheio (pleni sunt coeli et terra) da crença na justiça de Deus, a que vem dizer-se: Deus não perdoa nem condena?
Se esta fórmula afirma a justiça soberana, é uma fútil inutilidade que não devia ser tomada em consideração.
Se pretende negar ou modificar aquela crença, é blasfema – é irracional – e é, principalmente, infantilmente tola.
Diga-nos o infeliz, que descobre-se bem claramente sob as vestes que tomou: Jesus, a suma perfeição em saber e em virtudes, poderia invocar o perdão de Deus para os seus algozes, se é verdade que Deus nem perdoa nem condena?
Há de, pois, o nosso irmão do espaço permitir: que, entre aquele último grandioso ensino do Mestre divino e o seu ensino peco e peçonhento, todo o espírita que o for de consciência, abrace o primeiro modelo e leve o segundo à conta dos infortúnios da pobre humanidade.
Ao órgão do centro espírita rio-grandense respondemos, pois, como órgão do Centro União Espírita, que seu protesto é fundado; porque o novo dogma é inane perante a razão – perante a consciência – perante o infalível critério da verdade – e perante o sublime ensino de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em nosso fraco modo de entender, a Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade mereceu que todos os espíritas lhe digam: Gesta tua non laudantur.(“Teus atos não aprovamos”.)
Max.
(Da União Espírita)
Fonte: Confira o original deste artigo no arquivo da Hemeroteca da Biblioteca Nacional. Para conhecer os demais artigos dessa coleção e seus volumes publicados por nossa CASA visite por favor nossa Biblioteca Virtual.