UM HOMEM INCOMPARÁVEL
"[...] Ateísta, combativo, Ernest Renan era o protótipo do homem antirreligioso. Parecia que detestava qualquer expressão de fé.
Era "imortal" pela Academia Francesa de Letras. Quando a notícia correu informando que ele estaria ministrando a aula de abertura, o Colégio de France teve o seu auditório superlotado.
Foi nesse momento que Ernest Renan levantou-se e tomado de uma grande emoção, após a saudação convencional, começou a sua aula com as seguintes palavras: "Jesus é um homem incomparável."
Foram poucas palavras, mas elas traziam embutidas uma mensagem que era a sua reação ao totalitarismo dogmático da Igreja Católica Apostólica Romana.
Era a maneira que ele tinha de dizer que Jesus não era um ser divino, que Jesus não era Deus. Fora um homem, porém um homem incomparável.
Ele entreteceu considerações sobre esse Jesus incomparável. Arrematou o seu discurso dizendo que Jesus havia sido tão grande, mas tão grande, que não coube na história da humanidade.
O Seu berço dividiu a história em dois períodos; antes e depois Dele.
Ao terminar, o frisson das suas informações perturbou algumas pessoas, mas a ovação foi tremenda. No dia seguinte, o "Paris Soir", o grande jornal católico, lançava um libelo contra Ernest Renan, o ateu, informando que ele extrapolara, ao tirar de Jesus o caráter de divindade. [...]
A história pergunta: o que teria acontecido com aquele homem, um crítico terrível, o mais hábil inimigo da tradição religiosa?
Anteriormente, havia acontecido um fato muito especial na sua vida. A sua irmă Henriette, a quem muito amava, contraiu a tuberculose pulmonar. Naquela época a tuberculose pulmonar era pandêmica, chamada de peste branca.
Os médicos de Henriette sugeriram que ela abandonasse Paris, clima úmido durante o verão e muito frio durante o inverno eram um tremendo inimigo dos seus pulmões, vencidos pelo bacilo estranho.
Naquele tempo, Koch ainda não havia descoberto os bastonetes que receberam o seu nome. Viajaram para o Líbano, por ser uma possessão francesa, na época.[...]
Ali no silêncio do deserto, nos dias quentes e nas noites frias e secas, começou a visitar velhos escombros de igrejas cristãs primitivas, as antigas igrejas por onde passeara o verbo flamívulo do apóstolo Paulo.
Teve a impressão de que aquelas pedras amontoadas guardavam uma mensagem rutilante daquele homem singular que um dia sensibilizara a história da humanidade. De igreja em igreja, somente escombros. Com o Evangelho na mão, um texto que conseguiu em hebraico, encontrou-se com Jesus, ou melhor, Jesus que estava nela adormecido, despertou numa noite suave de beleza e encantamento.
Então, fez uma carta a seu irmão, era um repto:
"Tu detestas a Jesus, eu te lanço um repto. Tu não gostas de Jesus, porque não O conheces, tu tens lido as traduções, as interpolações, as adulterações, o Jesus teológico que nada tem a ver com o Jesus histórico. Desafio-te para que tu leias Jesus no hebraico, tu és professor de hebraico, tenho certeza, Jesus tomará conta da tua vida e nunca mais serás rebelde."
Renan aceitou o desafio. Procurou nos alfarrábios dos museus e bibliotecas francesas, e também do Vaticano, as primeiras anotações a respeito de Jesus e, lendo-as, constatou que nada tinham a ver com aquele Jesus teológico, com aquelas traduções adulteradas e de interesses próprios das pessoas perturbadas e de patologias várias que, através da história, criaram um modelo para escravizar consciências.
Ernest Renan optou por escrever a vida de Jesus dentro da sua óptica. Escreveu três volumes. Aquele discurso era o resultado dessa investigação.
Allan Kardec, o egrégio Codificador da Doutrina Espírita, em dois belos artigos, entreterá considerações a respeito da vida de Jesus, do Sr. Renan, dizendo que se trata de uma obra respeitável, histórica, embora as interpretações dadas pelo seu autor.[...]
Esse Jesus, um homem incomparável! Por que incomparável?
A Dra. Anna Wolf, a notável psicanalista alemã, assevera com propriedade que Jesus não é apenas um homem incomparável, é o maior psicoterapeuta da humanidade de todas as épocas. Ela que foi considerada uma das maiores psicanalistas femininas, depois de Anna Freud, a filha de Freud, que se deixou arrebatar pela figura de Jesus. Disse que Jesus é tão transcendente que resistiu a todas as revoluções históricas e especialmente à dominação dogmática.
Mesmo no período sociológico da revolução dos hippies, quando Herbert Marcuse, numa universidade, nas costas da Califórnia, proclamou a jornada da flor e do amor, em uma reação psicológica contra a guerra suja do sudeste asiático, os jovens rebeldes não conseguiram fugir à presença desse homem incomparável e em sua homenagem criaram uma ópera rock: Jesus Cristo Superstar.
Jesus é uma figura estranha! Por mais que desejemos penetrar-Lhe o cerne, o conteúdo profundo, a Sua realidade, Ele escorrega de nossas mãos, porque Jesus é uma figura paradoxal. Ao examinarmos Jesus, do ponto de vista histórico, teremos uma grande surpresa. Os bibliófilos asseveram que o personagem mais biografado do mundo é Napoleão Bonaparte. A seu respeito já foram escritos duzentos e cinquenta mil títulos, mas Jesus suplanta-o com quinhentos mil títulos.
Nem todos favoráveis, é claro. Jesus é um anarquista, Jesus é comunista, Jesus é psicoterapeuta, Jesus é revolucionário. O importante que a Sua figura arrasta e cada qual deseja sorvê-la em seu ponto de vista. Por isso, Ele é paradoxal.[...]
Entre os dois mil narradores, dos textos que foram encontrados, os quatro chamados canônicos, dão testemunho real da presença deste Homem.
O primeiro narrador era Judeu, um Judeu odiado, era um homem de cultura. Mataios Matai, no dialeto samareu, que seria o evangelista Mateus.
Mataios Matai era chefe de uma coletoria. Portanto, cobrador de impostos e os cobradores de impostos eram detestados, como até hoje, principalmente porque Roma era muito hábil na arte de governar. [...]
O primeiro narrador da vida deste Homem é uma testemunha ocular que, desde a primeira hora, acompanha-O no ministério e que está ao Seu lado. Trabalha com Ele e escreve em Hebraico, porque pretendia escrever para os Judeus em versos, fazendo o Evangelho dentro dos moldes da Lei Mosaica.
Apresenta a Lei, a tradição e o Evangelho, coroando Moisés e os profetas. É um narrador autêntico do ponto de vista histórico.
O segundo narrador não conheceu Jesus. João Marcos era um adolescente quando Jesus morreu, ou melhor, era quase uma criança; devia estar com oito anos quando Jesus morreu.
Era filho de uma mulher admirável, Maria de Jerusalém. À época, ninguém tinha sobrenome, eram apodos. Natanael Ben Yosef, Natanael filho de José, Maria de Nazaré, Maria de Betânia, Maria de Magdala [...]
Depois que Jesus morreu, ela recolheu no seu lar os discípulos amedrontados e foi ali que seu filho, João Marcos, ouviu falar a respeito Daquele homem especial. Mais tarde, seu tio Barnabé, irmão de Maria, sua mãe, esteve com Paulo no ministério da pregação. E o próprio João Marcos, com doze anos, acompanhou o tio e o apóstolo Paulo.
Ouviu falar de Jesus, sobre Jesus. Foi a ele que Pedro pediu, em Roma, [...], que escrevesse sobre o Cristo, para a parte da comunidade romana que se convertera ao Evangelho.
Escreve um dos Evangelhos, curto, dando enfoque aos fenômenos transcendentais, aos milagres. Exatamente para a cultura romana acostumada aos deuses.
Ele colhe as informações nas testemunhas que ainda viviam: a mãe do Crucificado, João, o discípulo amado; Maria de Magdala, a mulher atormentada que se arrependera.
O terceiro narrador também não conheceu Jesus. Lucas, era médico da marinha mercante. Certo dia, no navio em que ele exercia a profissão esculápia, viu Paulo pregar.
Fascinou-se com o verbo empolgante do orador, deixando-se fascinar mais ainda pela mensagem. Mais tarde, abandonou o trabalho e seguiu o apóstolo.
É a Lucas a quem devemos o epíteto de cristãos, porque éramos chamados homens e mulheres do caminho. Mas, a palavra caminho, em hebraico, tem um sentido também pejorativo e Lucas disse a Paulo: "Ora bem, se nós somos seguidores de Jesus, o Cristo, por que não sermos cristãos [...].
A esses dois homens, devemos a presença de Jesus em nossa consciência ocidental. Pois a ele, Lucas, Paulo pediu para anotar as memórias ainda vivas a respeito do Mestre, para os conversos denominados pagãos.
Lucas ouviu as testemunhas. Dialogou longamente com Pedro, com João, com a própria mãe de Jesus e elaborou o Evangelho que é considerado o mais lindo livro que jamais se escreveu.
Tenho a impressão de que alguns dos senhores ainda não leram o Evangelho de Lucas. Façam-no. É considerado a jóia da literatura universal e é considerado, também, como o Evangelho da Misericórdia. [...]
Lucas narra a vida Desse homem, estudando os fenômenos das curas, porque ele era médico. Como é que aquela mão mirrada pode refazer-se? Como é que esse homem, que era um cego, nascido cego, pode recuperar a visão que ele nunca teve?
A sua narração é historicamente considerada autêntica.
O quarto narrador é alguém que viveu com Jesus desde o primeiro dia da sua pregação no lago. Naquela época, era um jovem de dezesseis anos. Ele e o seu irmão foram convidados. Amou tanto Jesus, que o Mestre profetizou: "Ele não provará do Holocausto."
Foi o único que morreu idoso, todos os demais apóstolos morreram de maneira trágica.
Judas, caído em si, optou pelo suicídio. Pedro deu-lhe a vida, até o momento da crucificação, em Roma, de cabeça para baixo. Os outros nove, passaram pelo testemunho. João morreu em idade provecta. [...]
Morreu envelhecido, narrando a epopeia da vida deste Homem incomparável. O seu Evangelho é considerado esotérico, místico, porque ele é transcendental.
Começa de uma forma sui generis: "No princípio era o verbo, o verbo era Deus, estava com Deus e o verbo se fez carne, e veio habitar entre os homens", necessitando de interpretações muito complexas.
Quatro narradores, quatro histórias, o mesmo homem.
Quando dizemos: "Mas os Evangelhos são diferentes."
Sim, não podiam ser iguais. Se fossem iguais, seriam cópias uns dos outros. Por serem diferentes, são autênticos. São quatro indivíduos escrevendo sobre o mesmo personagem.
Aquele protótipo divino de modelo e cada narrativa tem emoção própria. Dentro de cada nível de consciência, há uma carga de amor e respeito inerentes a cada um deles.
Aí está o homem incomparável na história! O que é fascinante é que, dois mil anos depois, a Sua vida interessa a antropólogos e paleontólogos, a psicólogos e a sociólogos, porque Ele conseguiu exarar, em duas frases, as necessidades humanas, que levam à conquista da felicidade:
"Não fazer a outrem o que não deseja que outrem lhe faça". Nada mais.
"Amar ao seu próximo, como a si mesmo."
Essas duas frases são suficientes para enriquecer espiritualmente qualquer pessoa, repletando-a de paz e alegria.
Concluirei, lembrando uma narrativa muito curiosa do período anterior ao Cristianismo.
Havia, na Hebreia, um homem notável, que era um grande rabi, de nome Shamai.
Certo dia um jovem foi a Shamai e disse:
- Mestre, eu seguirei a tua doutrina se tu me ensinares toda a Bíblia, durante o tempo em que eu possa ficar de pé, num só pé.
Shamai olhou para ele e respondeu:
- Impossível. A Bíblia é um livro muito complexo, são muitos livros, eu demoraria anos para ensinar-te a Bíblia.
O jovem insistiu:
- Não me interessa, tenho pressa.
Foi visitar um outro sábio, de nome Hilel, e fez a mesma propositura:
- Eu seguirei a tua doutrina se me ensinares toda a Bíblia, durante o tempo em que eu possa ficar de pé, num só pé.
Hilel disse-lhe:
- Toma posição.
Ele ergueu a perna e Hilel, cem anos antes de Jesus, concluiu:
- Ama.
E calou-se.
- A Bíblia toda é isso?
- É. Basta amar.
- Mas, e tudo aquilo que tem lá escrito?
- Ah! Tudo aquilo que tem lá escrito é explicação do amor. Quem ama, não necessita de explicações. Quem não ama, sim.
Esse é o Homem cuja magia invade a Terra nesta época, numa psicosfera de esperança. Esse é o Homem incomparável de Renan, que nós, espíritas, buscamos compreender e amar, como nos pedem os espíritos elevados. Se não houvesse nenhuma prova histórica, bastaria a referência dos Espíritos Imortais, quando Allan Kardec interroga em "O Livro dos Espíritos", na questão 625:
"Qual o ser mais perfeito que Deus ofereceu à criatura humana, para servir-lhe de modelo e guia?"
E a resposta é a mais curta da filosofia universal:
"Jesus."
Jesus é o nosso Modelo, é o nosso Guia.
Celebrar o Natal, é permitir que Ele nasça em nosso mundo íntimo. Porque certamente Ele ficou obumbrado ou desapareceu das paisagens da nossa mente.
Celebrar o Natal, todos os dias, é ter Jesus nos lábios, a Sua mensagem no coração e a Sua vida em nossas mãos. Pelos lábios, coração e mãos, Ele Se manifestou ao Mundo.
(Trechos da palestra “Jesus e a Canção de Natal”, proferida por Divaldo Franco no Teatro da Federação Espírita do Paraná em 26/12/2008 e que consta do livro “Conversando com Divaldo Pereira Franco” – edição FEP)
MENSAGEM DO NATAL - Pietro Ubaldi (Natal de 1931)
No silêncio da Noite Santa, escuta-me. Põe de lado todo o saber e tuas recordações; põe-te de parte e esquece tudo. Abandona-te à minha voz; inerte, vazio, no nada; no mais completo silêncio do espaço e do tempo. Neste vazio, ouve minha voz que te diz - ergue-te e fala: Sou eu.
Exulta pela minha presença: grande bem ela é para ti; grande prêmio que duramente mereceste. É aquele sinal que tanto invocaste deste mundo maior em que vivo e em que tu creste. Não perguntes meu nome; não procures individuar-me. Não poderias; ninguém o poderia. Não tentes uma inútil hipótese. Sabes que sou sempre o mesmo.
Minha voz, que para teus ouvidos é terna, como é amiga para todos os pequeninos que sofrem na sombra, sabe também ser vibrante e tonante, como jamais a sentiste. Não te preocupes; escreve. Minha palavra dirige-se às profundezas da consciência e toca, no mais íntimo, a alma de quem a escuta. Será somente ouvida por quem se tornou capaz de ouvi-la. Para os outros, perder-se-á no vozear imenso da vida. Não importa, porém: ela deve ser dita.
Falo hoje a todos os justos da Terra e os chamo de todas as partes do mundo, a fim de unificarem suas aspirações e preces numa oblata que se eleve ao Céu. Que nenhuma barreira de religião, de nacionalidade ou de raça os divida, porque não está longe o dia em que somente uma será a divisão entre os homens: justos e injustos.
A divisão está no íntimo da consciência e não no vosso aspecto exterior, visível. Todos os que sinceramente querem compreender o compreendem. Cada um, intimamente, se conhece, sem que o próprio vizinho possa percebê-lo.
Minha palavra é universal, mas também é um apelo íntimo, pessoal, a cada um. Muitos a reconhecerão.
Uma grande transformação se aproxima para a vida do mundo. Minha voz é singular; porém, outras se elevarão, muito em breve, sempre mais fortes, fixando-se em todas as partes do mundo, para que o conselho a ninguém falte.
Não temas; escreve e olha. Contempla a trajetória dos acontecimentos humanos: ela se estende pelo futuro. Quem não está preso nas vossas férreas jaulas de espaço e tempo, vê, naturalmente, o futuro. Isso que te exponho à vista, é também coerente segundo vossa lógica humana e, portanto, vos é compreensível.
Os povos, tanto quanto os indivíduos, têm uma responsabilidade nas transformações históricas, que seguem um curso lógico; existe um encadeamento de causas históricas que, se são livres nas premissas, são necessárias nas consequências.
A lei da justiça, aspecto do equilíbrio universal, sob cujo governo tudo se realiza, inclusive em vosso mundo, quer que o equilíbrio seja restaurado e que as culpas e os erros sejam corrigidos pela dor. O que chamais de mal, de injustiça, é a natural e justa reação que neutraliza os efeitos de vossos atos. Tudo é desejado, tudo é merecido, embora não estejais preparados para recordar o "como" e o "quando". De dor está cheio o vosso mundo, porque é um mundo selvagem: lugar de sofrimento e de provas. Mas, não temais a dor, que é a única coisa verdadeiramente grande que possuís. É o instrumento que tendes para a conquista de vossa redenção e de vossa libertação. Bem Aventurados os que sofrem, Cristo vos disse.
O progresso científico, principal fruto de vossa época, ainda avançará no campo material. Está, entretanto, acumulando energias, riquezas, instrumentos para uma nova e grande explosão. Imaginai a que ponto chegará o progresso mecânico, ampliando-se ainda mais, se tanto já conseguiu em poucos anos! Não mais existirão, na verdade, distâncias: os diferentes povos de tal modo se comunicarão que haverá uma sociedade única.
A mente humana, porém, troca de direção de quando em quando, vive ciclos, períodos, e, nessas várias fases, deve defrontar diferentes problemas. O futuro contém não só continuações, mas transformações: consequências de um processo natural de saturação. O vosso progresso científico tende a tornar-se e tornar-se-á tão hipertrófico — porque não contrabalançado por um paralelo progresso moral —, que o equilíbrio não poderá ser mantido nos acontecimentos históricos. Tem crescido e, sem precedentes na história, crescerá cada vez mais o domínio humano sobre as forças da natureza. Um imenso poder terá o homem, mas ele para isso não está preparado moralmente, porque a vossa psicologia infelizmente é, em substância, a mesma da tenebrosa Idade Média. É um poder demasiadamente grande e novo para vossas mãos inexperientes.
O homem será dominado por uma tão alargada sensação de orgulho e de força, que se trairá. A desproporção entre o vosso poder e a altura ética de vossa vida far-se-á cada dia mais acentuada, porque cada dia que passa é irresistivelmente para vós, que vos lançastes nessa direção, um dia de progresso material.
As ideias são lançadas no tempo com massa que lhes é própria, como os bólidos no espaço. Eu percebo um aumentar de tensão, lento porém constante, que preludia o inevitável explodir do raio. Essa explosão é a última consequência, mesmo de acordo com a vossa lógica, de todo o movimento. Desproporção e desequilíbrio não podem durar; a Lei quer que se resolvam num novo equilíbrio. Assim como a última molécula de gelo faz desmoronar o iceberg gigantesco, assim também de uma centelha qualquer surgirá o incêndio. Antigamente os cataclismos históricos, por viverem isolados os povos, podiam manter-se circunscritos; agora não. Muitos que estão nascendo, vê-lo-ão.
A destruição, porém, é necessária. Haverá destruição somente do que é forma, incrustação, cristalização de tudo o que deve desaparecer, para que permaneça apenas a ideia que sintetiza o valor das coisas. Um grande batismo de dor é necessário, a fim de que a humanidade recupere o equilíbrio livremente violado: grande mal, condição de um bem maior.
Depois disso a humanidade, purificada, mais leve, mais selecionada por haver perdido seus piores elementos, reunir-se-á em torno dos desconhecidos que hoje sofrem e semeiam em silêncio, retomando, renovada, o caminho da ascensão. Uma nova era começará; o espírito terá o domínio e não mais a matéria, que será reduzida ao cativeiro. Então, aprendereis a ver-nos e a escutar-nos; desceremos em multidão e conhecereis a Verdade.
Basta por agora; vai e repousa. Voltarei; porém recorda que minha palavra é feita de bondade e somente um objetivo de bondade pode atrair-me. Onde existir apenas a curiosidade, desejo de emoção, leviandade ou ainda céptica pesquisa científica, aí não estarei. Somente a bondade, o amor, a dor, me atraem.
Eu presido ao progresso espiritual do vosso planeta e para o progresso espiritual um ato de bondade tem mais valor que uma descoberta científica. Não invoqueis a prova do prodígio, quando podeis possuir a da razão e da fé. É vossa baixeza que vos leva a admirar como sinal de verdade e poder, a exceção que viola a ordem divina. Se isso pode assombrar-vos e convencer-vos, a vós, anarquistas e rebeldes, para nós, no Alto, ela constitui a mais estridente e ofensiva dissonância; é a mais repugnante violação da ordem suprema em que repousamos e em cuja harmonia vibramos, felizes. Não procureis semelhante prova; reconhecei-a, antes, na qualidade da minha palavra.
A todos digo: Paz!
(Pietro Ubaldi, “Grandes Mensagens”)