Retrato de Bezerra de Menezes

Casa de Recuperação
e Benefícios
Bezerra de Menezes

Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da humanidade. - Allan Kardec

Estude o Esperanto,
o idioma universal da Paz!

Logo do Youtube

CONSIDERAÇÕES SOBRE O NATAL

Esse acontecimento foi anunciado aos pastores de Belém por um mensageiro celeste, nos seguintes termos: "Eis que vos trago uma Boa Nova de grande alegria: na cidade de Davi acaba de vos nascer, hoje, o Salvador, que é Cristo, Senhor... Glória a Deus nas alturas, paz na Terra aos homens de boa vontade". (Lucas, 2:10, 11e 14.) Naquele vos nascer está toda a importância e transcendência do Natal. Nasceu para mim. Não se trata de um fato histórico, de caráter genérico, mas de um sucedimento que, particularmente, me diz respeito, me atinge e me afeta.

Realmente, a obra redentora do Nazareno só tem início e eficácia quando individualizada. Enquanto a consideramos difusa e esparsa, abrangendo a generalidade dos homens, nada representa de positivo e concreto. Ver em Jesus o redentor do gênero humano e encará-lo como o meu redentor pessoal são coisas diferentes, senão na aparência, nas consequências e nos efeitos.

A redenção, que é obra de educação, tem que partir da parte para o todo, do indivíduo para a coletividade, e não desta para aquele. A transformação social há de ser a soma das transformações pessoais. Por isso, cumpre individuar o Natal, tomando, cada um, aquele acontecimento em sentido particular e restrito. A "parte", no assunto em apreço, nada tem que esperar do "todo". O indivíduo independe da sociedade nesta magna questão. Ele deve agir por si e para si, pois desta maneira estará contribuindo praticamente para o bem geral e coletivo.

Tratando-se da nossa evolução particular, não devemos esperar ou aguardar que tal operação se ajuste e se amolde ao conjunto, isto é, à evolução da sociedade. "A hora vem e agora é". O nosso momento é tão somente nosso, pois se acha revestido de cunho personalíssimo. Só assim se avança e se evolui de fato, dando, com o exemplo, impulso certo e seguro no progresso de todos. Enquanto esperamos que o ambiente se modifique e nos possibilite oportunidade de melhorar nossas condições espirituais, essa oportunidade nunca chegará. O dia de encetarmos a obra de nossa libertação, indo ao encontro do Redentor, é hoje, está sempre no presente. Não convém contemporizar, de vez que não dependemos senão de nós próprios.

O Natal, pois, que nos deve interessar de modo íntimo e particular, é aquele que se consumará em nós, mediante a nossa vontade e a nossa colaboração; que terá por teatro o recesso dos nossos corações, então repassados daquela humilde simplicidade que a manjedoura de Belém prefigura.

O estábulo e a manjedoura da cidade de Davi não devem prestar-se exclusivamente a divagações poéticas ou literárias. Cumpre meditá-los como símbolos de certas condições e virtudes, sem o concurso das quais nada conseguiremos no que respeita à nossa espiritualização e ao nosso aperfeiçoamento.

O Espírito encarnado neste orbe não evolverá a esmo nem à mercê do acaso, mas segundo o influxo das energias próprias, orientadas e dirigidas por "Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida".

Assim, toda a magia do Natal resulta de sua individualização. Cada um deve receber e concentrar em si aquele advento, considerando-o como um caso pessoal.

* * *

Jesus é uma realidade e, ao mesmo tempo, um símbolo. Ele é a Verdade, é a Justiça, é o Amor. Onde estes elementos predominarem, Ele aí estará, embora não lhe hajam invocado o nome. De outra sorte, onde medrar a hipocrisia, onde imperar a iniquidade e o egoísmo, sob suas multiformes modalidades, Ele não se encontrará, ainda que solicitado, louvado e endeusado pela boca dos homens. Jesus não é, como se imagina comumente, o criador de determinada escola, o fundador de certo credo ou seita. Ele é o revelador da Lei Eterna, o expoente máximo da Verdade, o que vale dizer, da vontade de Deus.

Sua missão não começou em Belém, nem terminou no Calvário. Ele veio para o que era seu e os seus não o reconheceram — conforme acentua João, em seu transcendente Evangelho. Jesus é a luz do mundo. Assim como o Sol não ilumina um só hemisfério, mas distribui à Terra todos os seus benefícios, assim o Divino Pastor apascenta com igual carinho todas as ovelhas do seu redil. Sobre as Índias, a China e o Japão, como sobre a Europa e a América paira o espírito do Cristo velando pela obra de redenção humana. Não importa que o desconheçam quanto à denominação. Ele inspirara, por intermédio deste ou daquele, a revelação divina, o Evangelho do Amor. Aqui lhe darão este nome; ali, título diverso, tomando, muitas vezes, o instrumento de que Ele se serve, como sendo o próprio autor das doutrinas ministradas. Que importa? É Ele, sempre Ele, o mediador, o ungido de Deus para intérprete da sua Lei e distribuidor da sua Graça!

Onde há o espírito do Cristo, aí há liberdade — proclama o intimorato Apóstolo da gentilidade. Jesus jamais constrangeu alguém a crer deste ou daquele modo. Tocava o íntimo do indivíduo, procurando, como sábio educador, despertar as energias latentes que ali dormitavam. Remia pela educação, porque educar é pôr em ação, é agitar os poderes anímicos, dirigindo-os à conquista do bem e do belo, do justo e do verdadeiro, que concretizam o ideal de perfeição, pelo qual anseia a alma cativa e prisioneira da carne.

Jesus nasceu há perto de vinte séculos. Mas o seu natalício, com tudo que com ele se relaciona, reveste-se de perpetuidade. O Natal do Divino Enviado é um fato que se repete todos os dias, foi de ontem, é de hoje, será de amanhã e de sempre. Os que ainda não sentiram em seu interior a influência do espírito do Cristo, ignoram, em realidade, que ele nasceu. Só sabemos das coisas de Jesus por experiência própria. Só após Ele haver nascido em nosso coração, é que chegamos a entendê-lo, assimilando, em espírito e verdade, o seu Verbo incomparável.

(Fonte: "Na Seara dos Médiuns", de Vinícus, Ed. FEB)

ESCUTA, MEU IRMÃO!...

Não é a tua palavra primorosa a força que te exaltará a inteligência e, sim, o objetivo para o qual se dirige.

Não é a dádiva que te confere o título de benfeitor, mas o modo pelo qual te manifestas, através dela.

Não é a fortuna material que te faz realmente rico e, sim, a aplicação dignificante das utilidades que reténs a benefício de todos.

Não é a fama terrestre a claridade que te coroa o nome e sim a benção do Céu sobre a reta conduta que abraçaste em favor do bem coletivo.

Não é a lição verbal o poder com que educarás o companheiro de luta, nas tarefas de cada dia, mas o teu exemplo reiterado na edificação comum por intermédio da própria melhoria.

Não é a tua crença sectária, embora fervorosa, que te guiará à sublimação na vida espiritual, depois da morte do corpo e, sim, os teus atos de bondade santificante, que serão testemunhas permanentes da tua alma, onde estiveres.

Não é a fé sem obras que te iluminará a senda de progresso, mas as obras dignificadoras que conseguires concretizar, em ti mesmo e fora de ti, inspirado por tua fé.

Não é a cultura intelectual inoperante que te fará respeitável, e sim o espírito de serviço com que te devotares, em qualquer condição, à felicidade dos semelhantes.

Não é o êxito suscetível de sorrir-te na Terra, por alguns dias breves, a fonte de alegria real que procuras com os melhores anseios do coração, mas a paz de consciência, no dever bem cumprido, nas obrigações de cada dia.

Busquemos ser, antes de aparentar e fazer, antes de instruir.

A verdade espera nossa alma, em cada ângulo do caminho, dentro de nossa jornada para a frente.

Assim, pois, construamos o nosso engrandecimento interior, porque, hoje ou amanhã, o Sol Divino projetará sobre nós a sua bendita claridade, revelando-nos, à luz meridiana, tais quais somos.

ANDRÉ LUIZ

(Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em sessão pública da noite de 31-3-50 – publicada em Reformador, Julho de 1951.)

ANSEIO DE AMOR

Quando me vi, depois da morte,
Em sublime transporte,
E reclamei contra a fogueira
Que me havia calcinado a vida inteira
Pela sede de amor...

Quando aleguei que fora, em toda estrada,
Folha ao vento,
Andorinha esmagada
Sob o trator do sofrimento...

Quando exaltei a minha dor,
Mágoa de quem amara sempre em vão,
Farta de incompreensão...

Alguém chegou, junto de mim,
E disse assim:

- Maria Dolores,
Você que vem do mundo,
E se diz
Tão cansada e infeliz,
Que notícias me dá do vale fundo
De provação,
Onde a criatura de tanto padecer
Não consegue saber
Se sofre ou não?

Você que diz trazer o seio morto,
Que me pode falar
Dos meninos sem pão e sem conforto,
Das mulheres sem lar,
Dos enfermos sozinhos,
Que a febre e a fome esmagam nos caminhos,
Sem sequer um lençol ou a benção de uma prece,
Dando graças à Deus, quando a morte aparece?!...

Você, Maria Dolores,
Que afirma haver amado tanto
E que deve ter visto
O sacrifício e o pranto
De quem clama por Cristo,
Suplicando o carinho que não tem,
Que me pode contar daquelas outras dores,
Daquelas outras aflições
Dos que choram trancados em manicômios e prisões,
Buscando amor, pedindo amor,
Exaustos de tristeza e amargura,
Como feras na grade,
Morrendo de secura,
De solidão, de angústia e de saudade?!...

Bem-querer!.... Bem-querer!...
Ai de mim, que nada pude responder!
Que tortura, meu Deus, a verdade no Além!...
Calei-me, envergonhada....
Eu apenas quisera ser amada,
Não amara a ninguém...
MARIA DOLORES

(Página do volume "Antologia da Espiritualidade", ed. FEB. Poesia recebida por Francisco Cândido Xavier, em reunião pública da Comunhão Espírita Cristã, na noite de 28-03-64, em Uberaba; publicada em Reformador, Agosto de 1964.)

ANTOLOGIA UBALDIANA

A GRANDE SÍNTESE E O ECTOPLASMA, BASE DAS MATERIALIZAÇÕES ESPIRITUAIS

William Crookes e Katie King, uma das melhores materializações espirituais de todos os tempos"Somente estes conceitos de vida psíquica podem guiar a ciência até às portas de uma ultrafisiologia, ou fisiologia do supranormal, como a vedes despontar nos fenômenos mediúnicos. Aqui as relações entre matéria e espírito são imediatas: o psiquismo modela uma matéria protoplasmática mais evoluída e sutil: o ectoplasma. A nova construção, antecipação evolutiva, não possui, naturalmente, a resistência das formas que se estabilizaram por uma vida longa; seu desfazimento é rápido. As estradas novas e de exceção ainda são anormais e inseguras. Os produtos da fisiologia supranormal que emergem dos caminhos habituais da evolução, necessitam fixar-se, por tentativas e longas repetições, na forma estável. Tudo isso vos lembra o raio globular, retorno atávico de um passado superado. Ao invés, o ectoplasma é um pressentimento do futuro, corresponde àquele processo de desmaterialização da matéria, de que falamos. A matéria química do ectoplasma corresponde a uma avançada desmobilização dos sistemas atômicos em movimentos vorticosos, ao longo da escala de elementos, para pesos atômicos máximos. O fósforo (peso atômico 31), corpo sucedâneo, aceito apenas em doses moderadas no círculo da vida orgânica, é tomado aqui, no avançado movimento vorticoso, como corpo fundamental, ao lado do H (1), C (12), N (14), e O (16). A plástica da matéria orgânica, por obra do psiquismo central diretor, torna-se cada vez mais imediata e evidente. Tudo isso vos explica a estrutura falha de muitas materializações espíritas, que suprem a incompleta formação de partes, com massas uniformes de substância ectoplasmática, com aparência de panos ou véus. Tudo revela a tentativa, o esforço, a imperfeição do que é novo. Isso vos faz compreender como o desenvolvimento do organismo, até à forma adulta, seja apenas uma construção ideoplástica, realizada pelo psiquismo central, através dos velhos e seguros caminhos tradicionais percorridos pela evolução".

(Fonte: "A Grande Síntese", Cap. 73)

OS EVANGELHOS EXPLICADOS:
JESUS NO TEMPLO ENTRE OS DOUTORES

(Lucas, 2: 41 a 52)

Jesus aos 12 anos,Maria e José no Templo de Salomão58. Quanto à resposta que deu a Maria, nem esta, nem José a compreenderam, porquanto ambos, no momento, supuseram que Ele se referia ao segundo como pai e não ao Pai celestial, cujo reinado preparava.

59. Os que acham perfeitamente claro o sentido destas palavras: “Não sabeis ser preciso que me ocupe com o que respeita ao serviço de meu Pai” — e entendem que claro devia ele ser também para Maria e para José, uma vez que o Anjo lhes anunciara ser Jesus Filho de Deus, esses esquecem que em José e em Maria, revestidos da carne, se verificava a imperfeição das faculdades humanas.

60. Desde o nascimento, já o dissemos, Jesus vivia, aos olhos de seus pais, uma vida ordinária, no sentido de que seus atos exteriores não apresentavam nenhum cunho de singularidade, relativamente aos homens, nada havendo neles que lhe caracterizasse a origem extra-humana. A impressão produzida pela revelação e pelos fatos que se lhe seguiram, até ao regresso do Egito, se havia pouco a pouco apagado. O termo pai, referido a José, foi a única coisa que, no momento, os impressionou, sem que, entretanto, o houvessem compreendido. Tudo que é de carne é obtuso. Se a existência de Jesus não causava admiração a Maria, nem a José, é que, quando ela pensava na origem do Filho, a inteligência se lhe toldava a esse respeito, com tanto mais razão quanto era necessário que a natureza do menino, tal como a revelação o anunciara, não fosse ainda conhecida.

61. Não vos admireis de que Maria e José tenham referido ao último, como pai, a resposta de Jesus, nem de que Maria, dirigindo-se a este, se exprimisse assim: “Meu Filho, aqui estamos teu pai e eu que aflitos te procurávamos”, pois que não só Maria se acreditava mãe de Jesus, por encarnação humana e ao mesmo tempo divina, milagrosa, como também Jesus lhe chamava mãe. E devendo José passar, perante os homens, por ser o pai de Jesus, este até então lhe chamara pai. Não vistes que — quando José pretendia repudiar Maria — o Anjo lhe disse que a tomasse por esposa sem lhe denunciar a gravidez? Ele, portanto, estava ciente de que devia passar por ser o pai do menino. Com efeito, do momento em que, mau grado ao estado de gravidez, embora fosse esta aparente, a mulher era aceita, o esposo se reconhecia por pai do nascituro.

62. José ignorava quanto tempo devia esse erro durar. Repetimos: no trato com José, Jesus lhe dava o título de pai, o que dirigiu para ele o pensamento de Maria, ao ouvir a resposta do Filho. 63. Essa resposta de Jesus foi a primeira alusão por Ele feita à missão que vinha desempenhar. Cumpria-lhe proferir palavras que repercutissem no futuro.

(Fonte: "Os Quatro Evangelhos", org. de Jean Baptiste Roustaing, psicografia de Émilie Collignon, Ed. Ibbis, Brasília, 2022. Item 47)

ESTUDOS FILOSÓFICOS: A MAIOR E MELHOR COLEÇÃO DE ARTIGOS ESPÍRITAS DA IMPRENSA BRASILEIRA ESTÁ DE VOLTA

Artigo CCCLXV - O PAIZ, 05.11.1894

Retrato de Bezerra de MenezesO Sr. J. B. da Silveira Caldeira1, distinto literato e cavalheiro bem conhecido de nossa sociedade, espírito forte, que não aceita as crendices espíritas, referiu-nos o seguinte fato com ele ocorrido:

“Uma noite, achando-se em seu gabinete, sentiu que tinha alguém ao pé de si; isto que sente o cego quando passa por junto de uma pessoa, embora imóvel – o mesmo que sentimos todos, quando, embora não vejamos, passamos por junto de alguém ou algúem passa por junto de nós.

É uma propriedade do nosso corpo ou uma faculdade de nossa alma.

Caldeira, àquela sensação, olhou em torno de si, mas nada viu; e entretanto a sensação continuava!

Súbito, uma mão passou-lhe meigamente pela fronte, amimando- lhe o cabelo, pelo modo como costumava fazer sua finada mulher.

E tão depressa teve aquela impressão, soou-lhe aos ouvidos a voz da querida senhora, dizendo: Caldeira, acode a Nini.

O que tem a Nini? perguntou o incrédulo, rendendo-se, naquele momento, instintivamente à verdade.

Eu vou vê-la, espera, respondeu a voz, que deixou de soar, como deixou de sentir o nosso amigo a sensação a que nos referimos acima.”

O princípio causal de todos estes estranhados fenômenos disse que ia ver Nini – e efetivamente cessaram todas as manifestações de sua presença!

Ora, Nini era o nome de família por que era conhecida uma filha do nosso amigo – e Nini achava-se com o marido no Paraná, se não nos falha a memória.

Francisco I, na batalha de Pavia, dava um trono por um cavalo. Nós somos mais modestos ou estamos em menos críticas circunstâncias – nós daríamos um cavalo, porque nos fosse permitido conhecer, por seu real valor, os sentimentos do nosso incrédulo diante daquele fato.

Quaisquer que fossem, o certo é que não lhe pareceu a coisa tão vazia de importância como se uma mariposa lhe tivesse apagado a vela, pois que imediatamente chamou o filho, e referiu-lhe o ocorrido.

O moço, ou porque ainda não tinha o orgulho dos sábios, que dispensam a Deus a graça de aceitarem algumas de suas leis, ou porque já tinha, natural ou adquirida, a eiva das tolas e loucas crenças espíritas, foi abalado, pois que pediu ao pai que tomasse nota por ver o que significava aquilo.

O que significava aquilo eles o verificaram pelas cartas que receberam do Paraná, em que se lhes comunicava: que Nini naquela noite, e não sabemos se à hora da manifestação cá, esteve lá às portas da morte em razão do parto perigosíssimo que teve.

Para os sábios não passou tudo isto de uma alucinação de Caldeira, que foi, ao mesmo tempo, uma coincidência; ou então, foi o alongamento da vista do homem, se não foi a transmissão do pensamento da filha moribunda, tanto que a voz prometeu voltar e não voltou.

Para os sábios, dizemos; mas entenda-se: os sábios que, obcecados pelo espírito de sistema, têm por norma sujeitar os fatos, por qualquer explicação, mesmo infantil, a seu modo de ver – e nunca fazer deste a mínima concessão à evidência daqueles, que desprezam com a mais irrisória sem-cerimônia.

Alucinação – coincidência – alongamento da visão – e transmissão de pensamento; eis a explicação que dão os tais sábios à evidente manifestação de um Espírito, sem dúvida muito mais simples, natural e razoável explicação, no caso vertente, como em outros do mesmo gênero.

Alucinação, a palavra o diz, é o destrilho da razão da linha ordinária de seu funcionamento, por arrastamento da imaginação ou por perturbação do órgão do pensamento; alucinação é uma semiloucura – e a loucura nunca será meio de descobrir verdades ocultas.

Ora, dado que Caldeira, em perfeito estado fisiológico – em completa paz de espírito – lendo tranquilamente uma obra literária – sem cogitar de coisas, que lhe abalassem o ânimo – e, muito menos, de perigos para sua filha; dado que, neste estado, ele sofresse uma alucinação, que lhe fizesse sentir a presença da mulher e ouvir sua voz, como, por semelhante alucinação, descobrir, d’aqui, o que se estava passando no Paraná?

Atribuir fatos destes à alucinação é o que, no conceito de todo homem de bom senso, deve ser julgado uma alucinação!

Coincidência, acodem os que querem fazer circular aquele monstruoso absurdo, se não fraqueza intelectual.

Coincidência! mas, desde quando a coincidência desce às mínimas circunstâncias de um fato, como se se cobrisse à tinta uma longa escrita à lápis?

Coincidência dá-se, pode-se dizer: vagamente – materialmente nunca, porém com rigorosa precisão e acentuada exatidão.

Coincidência será, por exemplo, lembrarmo-nos de um amigo ausente – e ele aparecer-nos; ouvirmos, porém, uma voz de pessoa morta, dizendo que esse amigo está em perigo de vida – e verificar-se a exatidão do fato, com a circunstância da hora, como foi verificada a presença da pessoa morta por circunstâncias de caracterizá-la, será tudo; menos coincidência.

O fato, pois, dado com Caldeira nem se explica por alucinação, nem por coincidência, nem pelos dois modos juntos.

Alongamento da visão é verdadeira alucinação científica.

O que é mais fácil de admitir: que nossa vista material se prolongue d’aqui ao Paraná, ou que um amigo do Espaço nos venha dizer o que lá se está passando?

Não admitis a existência de tais amigos, porque para vós não há Espírito? mas é isto mesmo o que dissemos; antepondes o vosso modo de ver à evidência dos fatos – e o de que tratamos é de uma evidência esmagadora.

Transmissão de pensamento. Há transmissão de pensamento, porém ela se opera de conformidade com leis naturais, que lhe marcam uma órbita de ação.

Pelo magnetismo podemos transmitir nosso pensamento; mas é preciso que haja a intenção da parte do que emite e da parte do que recebe, o que não se deu no caso de Caldeira, que nem cogitava da filha.

E ainda melhor prova de que nem sempre o que parece é transmissão do pensamento; exemplo: quando um médium, que não entende de Geologia – de Astronomia ou de qualquer outra ciência, faz uma brilhante preleçao sobre qualquer dessas ciências, desconhecidas igualmente de todos os circunstantes.

Para terminar: a questão de não ter a mulher de Caldeira voltado, como prometeu.

É claro. Se o perigo se prolongasse, ela viria. Desde, porém, que passou, não quis, sem necessidade, reproduzir o fenômeno que, ela sabia, abalara profundamente o caro amigo.

Max.

(Da União Espírita)

Fonte: Confira o original deste artigo no arquivo da Hemeroteca da Biblioteca Nacional. Para conhecer os demais artigos dessa coleção e seus volumes publicados por nossa CASA visite por favor nossa Biblioteca Virtual.