A FACE DO SENHOR
"Narra antiga lenda que, após a descida de Jesus da Cruz, Nicodemos, muito comovido, guardou o lenho e pôs-se a esculpir nele o amado Amigo, conforme O vira pela última vez.
Trabalhou por largo período com esforço e carinho, realizando uma escultura excepcional.
Deixara, porém, o rosto para fazê-lo em último lugar.
No entanto, por mais o tentasse não conseguia transmitir à madeira rústica a incomparável expressão de sofrimento e amor com que o Mestre exalara o último hausto.
Já desanimado e supondo-se incapaz de fazê-lo, adormeceu, numa oportunidade, exausto e triste, ante a magnífica obra inacabada.
Sonhou, então, que um anjo se acercou da escultura e, rapidamente realizou o que ele tanto desejara fazer sem o conseguir.
No auge do júbilo, Nicodemos despertou e, antes de lamentar haver sido apenas um sonho, se deparou com a face do Cristo superiormente esculpida, completando com perfeição o conjunto harmonioso.
Na cidade de Lucca, na Itália, encontra-se a "santa face", uma escultura de autor desconhecido, que a fantasia popular e religiosa vestiu de lenda.
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Deixando à margem o exagero, descobrimos uma simbologia oportuna que merece reflexão.
No contubérnio da vida moderna, em que a justiça, o amor e a liberdade são imolados, permanecem os instrumentos da flagelação que o cristão, à semelhança de Nicodemos, deve transformar na face da paz e do perdão em favor de uma vida digna de preservada.
Quando, no. entanto, os esforços parecerem baldos e vãos, já no pórtico do desalento, os Espíritos da Luz vêm auxiliar a completar a obra que refletirá a presença do Cristo sustentando a criatura desesperada e infeliz.
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Cada um vê a face do Senhor, no mundo, conforme a sua necessidade.
Madalena a viu de uma maneira diversa de Pilatos, qual Pedro a conhecia de forma diferente de Judas, e assim por diante.
Ainda hoje é assim.
Deixe-se, pois, esculpir pelos anjos, de modo a oferecer a todos, a confortadora face do Senhor impressa em sua conduta.
Ignotus
Genebra, Suíça, 08.11.1983.
(Fonte: Seara de Bençãos – Diversos Espíritos/Divaldo Franco)
VITÓRIA DA LUZ
Narra-se que, nos primórdios dos tempos cósmicos, a massa que foi retirada da imensa nebulosa de gases incandescentes que se movia no espaço infinito, e que seriam a Terra, seu satélite e demais peculiares do seu conjunto, o Psiquismo Divino envolveu-a e fascículos de luz a penetraram.
Seriam os Espíritos que a habitariam um dia...
Tudo eram, então, densas trevas que a constituíam.
Lentamente, os elementos em sua origem movimentaram-se e foram-se aglutinando uns, enquanto outros se consumiam, permitindo que, na tremenda escuridão, os raios benéficos do Sol a penetrassem, auxiliando-a no desenvolvimento para que estava programada.
Turbilhões terríveis a sacudiam, e lentamente as forças se foram equilibrando, enquanto durante o dia alguma claridade suplantasse a treva terrível e durante a noite o brilho de outros astros a alcançasse.
Muito vagarosamente, através dos milhões de anos surgiria a vida na sua formulação inicial, na intimidade das águas e, atravessando as intérminas convulsões externas e internas do planeta, houvesse alguma claridade.
Com a descoberta do fogo, surgiram inumeráveis pontos de luz, bordando-a de maneira especial, até quando os conhecimentos científicos produziram a eletricidade e as sombras passaram a ser diluídas.
Hoje, existe a perspectiva de terminar com as sombras que envolvem a Terra, através de satélites artificiais que captariam a luminosidade do Sol e brilhariam quando a noite envolvesse o mundo.
Os experimentos prosseguem, e vemos na arquitetura exemplo dos edifícios e lares para todas as finalidades apresentarem-se leves e transparentes, evitando-se qualquer escuridão.
É o período de vitória da luz.
Essa é uma face exterior em relação ao planeta terrestre.
Há outra, muito mais significativa, que merece reflexões acuradas e trabalho infatigável.
Trata-se da luminosidade interior do ser espiritual que navega na embarcação da carne etapa a etapa do seu progresso.
Em todas as épocas, mesmo nas mais remotas, sempre houve a preocupação em favor da ordem, do bem e do amor entre as criaturas, impulsionadas apenas pelos instintos primários a lutar contra as imperfeições, a sombra da ignorância e do primitivismo.
Missionários da Luz desceram à Terra e ensinaram doutrinas cujo conteúdo sustentava as bases da felicidade no sentimento de amor e de fraternidade que deveria viger entre todos.
Incompreendidos uns e aceitos outros, os Espíritos desencarnados também se empenharam em demonstrar a indestrutibilidade da vida, comunicando-se por métodos estranhos até o momento em que a cultura pôde aceitar as claridades diamantinas do Espiritismo, que vêm libertando os seres humanos para alcançarem a sua plenitude.
Embora permaneçam trevas exteriores e interiores, responsáveis por guerras calamitosas e sofrimentos inomináveis já se encontram traçados roteiros éticos para que esses males desapareçam por completo.
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No ser humano é a soma das suas experiências evolutivas, construtor do próprio futuro e colhedor do seu passado.
Possuidor de livre-arbítrio e conhecedor da realidade na qual se encontra quando reencarnado, dispõe dos instrumentos indispensáveis à conquista da alegria de viver, de amar, e pode alcançar a paz legítima que deflui da consciência ilibada e da conduta reta.
Compreende que todas as ocorrências possuem um limite de tempo e logo perdem o seu significado, a que se apegam para sofrimento espontâneo e desnecessário.
Contendas contínuas, ressentimentos por qualquer fato desagradável, ciúme, inveja e paixões subalternas cedem lugar aos sentimentos nobres de fraternidade e de amor, porque a morte, inexorável, a todos consome na sua devastadora finalidade, reduzindo tudo a pó e a tristes lembranças, mesmo que sejam nos mausoléus soberbos ou nas covas rasas da pobreza.
Pensando-se seriamente nessa realidade que a todos alcança, os esforços empreendidos para a iluminação interior e a libertação da ignorância oferecem elementos saudáveis para uma existência jovial e realmente digna de ser experimentada.
Lamentos a que se apegam aqueles que se comprazem na vitimização, tormentos pela posse de algumas banalidades que lhes não fazem falta, mágoas injustificáveis por ocorrências insignificantes que defluem do ego intumescido e insano cedem lugar à jovialidade e à compreensão do sentido real do existir.
É importante valorizar o estar vivo na carne, cenário de crescimento moral e espiritual, tendo-se em vista que o morrer nada mais pode fazer do que simplesmente transferir cada um ao país da consciência severa.
Por não compreenderem a brevidade da existência física, os seres humanos lutam uns contra os outros, ambiciosos e portadores de sentimentos ferozes, sem dar-se conta de que tudo passa com muito maior velocidade do que se pensa, e um dia chega em que se entende a sua realidade e a inútil luta para segurar o que lhe escorrega das mãos, havendo malbaratado o tempo que não volta na manutenção de ódios e de violências responsáveis pela miséria moral que ainda vige no planeta.
Os senhores e as senhoras soberbos de hoje, desfilando no carro da ilusão, amanhã estarão em situação lamentável expiando o tempo malbaratado na valorização da própria mesquinhez.
A simplicidade, a ternura, o companheirismo, a humildade são essenciais à jornada terrestre, porque captam simpatia e afabilidade, constroem roteiros de segurança para aqueles que vêm atrás.
Ademais, criam uma nova maneira de existir que facilitará a evolução de outros que acreditam nas calamitosas situações do crime e da vulgaridade.
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Não foi por outra razão que Jesus estabeleceu que o amor é o sentimento essencial para a conquista do Reino dos Céus.
Esse Reino encontra-se nas estradas escuras da Humanidade em trevas e que agora passa a receber a iluminação transcendente da libertação.
Ilumina-te e, onde quer que estejas, não olvides de deixar sinais luminosos da tua passagem.
Que as tuas pegadas signifiquem vitória sobre os desafios e identificação com Aquele que veio oferecer a vida para que todos tivéssemos vida em abundância.
(Fonte: Luz nas Sombras – Joanna de Ângelis/Divaldo Franco)
OS EVANGELHOS EXPLICADOS
DEUS NÃO NOS ABANDONA
(Mateus, 3: 7 a 12, Marcos, 1: 6 a 8, Lucas, 3: 7 a 18).
18. Sabei-o bem: Deus nunca abandonou o homem desde o seu aparecimento no vosso planeta. Suas leis são, como Ele próprio, imutáveis e eternas. A do progresso (progresso físico do planeta, progresso físico, moral e intelectual da humanidade, de todas as criaturas, porquanto tudo o que foi criado é perfectível) se conta no número dessas leis.
Ao mesmo número pertence a da encarnação e reencarnação, como instrumento e meio de reparação e progresso.
Desde todos os tempos teve o homem junto de si, preposto à sua proteção, um Anjo de guarda ou Espírito protetor, incumbido de guiá-lo pelo caminho do progresso.
Desde todos os tempos houve Espíritos em missão entre os homens, para fazê-los avançar por esse caminho, revelando ou lembrando-lhes a Lei natural que é a Lei de Deus, na conformidade do meio, do estado das inteligências e das necessidades de cada época.
Desde todos os tempos, investido no livre-arbítrio, cercado de influências ocultas, boas umas, outras más, possuindo inteligência para discernir o bem do mal, na relatividade do seu desenvolvimento moral e intelectual, o homem, por haver falido, foi trazido ao vosso planeta, que é um dos mundos inferiores de provação e expiação, a fim de expiar, reparar suas faltas e progredir.
Desde todos os tempos, esteve submetido, após a morte, em seguida a cada uma das existências na Terra, à expiação por meio de sofrimentos ou torturas morais apropriados e proporcionados aos crimes ou faltas cometidas e, de pois, à reencarnação que, com a expiação precedente no estado de erraticidade, é, simultaneamente, o inferno, o purgatório, a reparação, o progresso, a escada santa que todos hão de subir e cujos degraus correspondem às fases das diferentes existências que lhe cumpre percorrer para atingir o cimo; pois, disse Deus, pelo órgão do seu Cristo, que, para chegar a Ele, cada uma das suas criaturas tem que nascer, morrer, renascer até que haja alcançado os limites da perfeição.
(Fonte: "Os Quatro Evangelhos", org. de Jean Baptiste Roustaing, psicografia de Émilie Collignon, Ed. Ibbis, Brasília, 2022. Tomo I, Item 53, parágrafos 18 a 23)
ESTUDOS FILOSÓFICOS: A maior e melhor série de artigos
da literatura espírita brasileira está de volta!
Artigo CDXXV - Gazeta de Notícias, 28-01-1896
Com a epígrafe ESPIRITISMO, assim em letras garrafais, encontramos no Jornal do Brasil de 15 do corrente, em coluna editorial, um artigo estimulando o delegado da 18a. circunscrição a proceder contra Maria Santo Cristo, curandeira por meio de feitiçarias.
O artigo termina por estas palavras:
“Será portanto de grande utilidade acabar com essa nova especulação, antes que daí saiam pobres idiotas como da casa de Abalo”.
Dolorosa foi a impressão que sentimos lendo aquelas linhas, não por amor do Espiritismo, porque este, reconhecido e proclamado pelos maiores sábios de todos as nações civilizadas, pode bem dispensar os encômios de quem quer que seja; mas por ver um jornal de nossa terra, que goza do bom conceito público, dizer quase em nome do Brasil que Espiritismo é feitiçaria.
O que hão de julgar de nós os homens eminentes de toda a Europa e de toda a América, que ocupam seu precioso tempo no estudo e na experimentação dos fenômenos espíritas?
Com melhor razão do que teve o Jornal do Brasil para confundir Espiritismo (ciência) com feitiçaria (especulação), hão eles de confundir o critério do país com o de um dos seus mais conceituados jornais.
E, entretanto, consta-nos que os chefes deste jornal têm provas de que o Espiritismo nem é feitiçaria, nem é especulação!
Foi sem dúvida, para eles, como para nós, uma surpresa lerem no seu jornal aquele mal pensado artigo.
Mal pensado, dissemos, porque uma doutrina que se faz representar num congresso científico por quatrocentos e tantas sumidades literárias e científicas de quase todas as nações do mundo, só por desfalecimento intelectual pode ser reduzida, por quem quer que seja, à classe de feitiçarias.
É certo que o autor do artigo não disse a palavra, mas, só ouro é que ouro vale, tanto valia dizê-lo, como tratar de um caso de feitiçaria, sob a epígrafe ESPIRITISMO.
O que tem a ciência com o charlatanismo?
Assim, também, que tem o Espiritismo com a feitiçaria?
Que o vulgo confunda uma coisa com outra, passe, mas que incorram nesta falta homens inteligentes e ilustrados, é para se lamentar.
E, porque, para dizerem sobre casos de curandeiros, por meio de água e de rezas, não tomam por epígrafe – religião – visto que as rezas são do rito romano?
E, antes do aparecimento do Espiritismo, não existiam curandeiros por meio de feitiçarias? Neguem, se são capazes!
Como, então, dizer-se: “Será de grande utilidade acabar com essa nova especulação”…?
Faz crer isto: que os curandeiros por feitiçaria são invenções hodiernas – e insinua-se malevolamente: que são filhos legítimos do Espiritismo, de moderna data, principalmente entre nós.
Não é este um modo leal de atacar uma doutrina – e, pelo contrário, este modo de atacá-la descobre a fraqueza de seus adversários.
Quem tem razão bate-se pelo descoberto; mas a tanto não se arriscará o autor do artigo que analisamos, porque ele mesmo tem consciência de que os curandeiros, que chama espíritas, sempre existiram em fundo – e entre nós, não apareceram com o Espiritismo.
Para não serem acossadas de verbiagem as ponderações que aí deixamos feitas, recordaremos um fato, que fez época na sociedade fluminense.
Queremos falar das célebres façanhas do pai Quimbongo, em nada diferentes das que ora provocam necessária repressão.
Naquele tempo, que aliás não vai muito longe, o Espiritismo, se era conhecido no Rio de Janeiro, o era por um ou outro amigo de excentricidades do velho mundo.
E o pai Quimbongo brilhou – eclipsou-se – sumiu-se no esquecimento, sem que ninguém o pilhasse senão a seu pai natural: o atraso intelectual e moral, que casa muito facilmente com todo o gênero de especulação.
Ora, se a feitiçaria vem de longos erros, é leal e, sobretudo, é verdadeiro, dizer-se que ela é uma nova especulação – e especulação espírita?
Perdoe-nos o redator do Jornal do Brasil, que escreveu aquele mal pensado artigo; sua consciência não está consigo nesta questão.
Nem o Espiritismo é feitiçaria nem a feitiçaria só apareceu depois dele.
Nós somos os primeiros a pedir a repressão dos que fazem especulação, sob a bandeira do Espiritismo. Quem poderá ter mais interesse do que os verdadeiros espíritas, de vermos o campo da ciência que professam, limpo de todo o joio?
O que não queremos é que passe sem protesto o trabalho dos inimigos do Espiritismo, de confundirem o trigo com o joio, a boa com a má semente.
E creia o ilustre redator: o que menos vale para que o Espiritismo dê flor e fruto em todo o mundo é o nosso protesto ou de quem quer que seja.
A verdade que nele se encerra, brilhará, a despeito de todo o esforço pró ou contra; porque a verdade é de Deus – Deus é a verdade.
Lembre-se da guerra que se levantou contra o Magnetismo e do modo como foram tratados seus adeptos – e veja como, hoje, altas corporações que o repeliram, são as primeiras a proclamá-lo, embora algumas, para não quebrarem o orgulho, dizendo o penitet237, lhe mudem o nome em Hipnotismo, para parecer que é coisa diferente.
Pois assim há de acontecer com o Espiritismo, que aliás já conquistou o direito de cidade no mundo científico, com exceção apenas… do nosso mundo científico brasileiro.
Que seja feitiçaria, aqui – em todos os países civilizados,não descerá das alturas de uma ciência, a cujo estudo se aplicam seus maiores vultos.
Max.
(Da União Espírita)
Fonte: Confira o original deste artigo no arquivo da Hemeroteca da Biblioteca Nacional. Para conhecer os demais artigos dessa coleção e seus volumes publicados por nossa CASA visite por favor nossa Biblioteca Virtual.