O PAI A NINGUÉM JULGA;MAS DEU AO FILHO TODO O PODER DE JULGAR
Paz. Bendito seja o Senhor, por haver permitido que os seus humildes discípulos ainda uma vez, folheando a sua Divina Epopeia, pudessem apreender, em espírito e verdade, todas as sutilezas dos seus santos ensinos.
Tudo tem a sua época, seu tempo. Por maiores que sejam os desejos do Espírito, somente lhe é dado aquilo que o seu entendimento comporta.
A criança, que trêfega, brinca no lar, quantas vezes não provoca o vosso riso compassivo e carinhoso, com perguntas infantis, a que não podeis responder? Tudo o que de maravilhoso lhe cai debaixo das vistas, impressionando-lhe o Espírito, nela provoca imediatamente o desejo de saber o porquê. Assim a criatura, criança trêfega e erradia no lar do mundo, faz perguntas impossíveis de serem respondidas, sobre o mistério que encobre as verdades das leis divinas. E os Espíritos, compassivos e carinhosos, sorriem, porque não podem fazer-se compreendidos pelos homens. Assim foi nos tempos de Jesus, assim é hoje, assim será sempre, enquanto o Espírito não se houver de todo emancipado dos véus da carne, da lei da morte, que lhe entenebrecem, mutilam a inteligência, para a compreensão das coisas divinas. Contudo, não será por entregar o corpo ao laboratório da natureza que a personalidade humana encontrará, automaticamente, os planos da Beleza Resplandecente.
Como vistes, meus amigos, Deus a ninguém julga; mas, deu a seu Filho, N. S. Jesus Cristo, o poder de julgar. Deus a ninguém julga, porque a sua lei já é um julgamento. Sábias leis presidiram à formação dos Espíritos, de tal sorte que cada criatura é o promotor que denuncia as suas próprias culpas. Sábias leis presidiram à formação das almas, de tal arte que cada criatura tem no seu próprio eu um tribunal: o da consciência, para defendê-lo, para pronunciá-lo, para julgá-lo em face da Lei. E a execução dessa lei está, ab eterno, nas mãos de N. S. Jesus Cristo.
Se Ele, como lemos no Evangelho, está no Pai e o Pai n’Ele; se, para Ele, nenhum mistério existe dentro da criação, porque Ele é a vocação de Deus; se Ele é o verbo, verbo que se fez carne, para ser conhecido pelos homens, todo código, toda a lei, estão nas suas mãos benditas. Por isso é que o Evangelho diz: Deus a ninguém julga, isto é, a lei é integralmente conhecida do Filho, que a codificou e proclamou nas terras da Palestina, para chegar ao conhecimento de toda a humanidade. Esse Código faz a felicidade de todas as almas boas, mas, também faz o desespero das que dele se afastam, porque as leva a receber o julgamento do infalível tribunal da consciência.
Jesus, a preço do seu martírio, apresentou aos homens o Código Divino, a lei, o julgamento; ditou às consciências estas sapientíssimas palavras: Tens amor, serás amado. ─ Tens caridade, serás socorrido. ─ Tens misericórdia, misericórdia encontrarás. ─ Tens ódio, encontrarás também o aborrecimento. ─ Faltas à caridade, centuplicarás as tuas dores. És indiferente ao gemido do aflito, à angústia do teu próximo, indiferença também encontrarás em toda parte. ─ E teu promotor será a tua consciência!
Como bem dissestes, Deus não poderia descer até às suas criaturas, para julgá-las, como faz o homem. A lei aí está codificada por Jesus. Nela se firma o seu julgamento. Aquele que compreender, em espírito e verdade, o julgamento de Jesus, conforme o poder que o Pai lhe outorgou; aquele que souber ouvir a voz do seu promotor, ao dar a denúncia das suas faltas quotidianas, esse recorre à prece, eleva o pensamento ao Pai celestial e habeas-corpus obtém da caridade divina. Falastes como advogado, respondo-vos no mesmo estilo.
(Fonte: "As Virtudes do Céu", Ed. CRBBM – Bittencourt Sampaio / Frederico Pereira da Silva Junior)
PECADO E PECADOR
“Amado, não sigas o mal, mas o bem. Quem faz o bem, é de Deus; mas quem faz o mal, não tem visto a Deus.”(3ª Epístola de João, 1:11.)
A sociedade humana não deveria operar a divisão de si própria, como sendo um campo em que se separam bons e maus, mas sim viver qual grande família em que se integram os espíritos que começam a compreender o Pai e os que ainda não conseguiram pressenti-Lo.
Claro que as palavras “maldade” e “perversidade” ainda comparecerão, por vastíssimos anos, no dicionário terrestre, definindo certas atitudes mentais inferiores; todavia, é forçoso convir que a questão do mal vai obtendo novas interpretações na inteligência humana.
O evangelista apresenta conceito justo. João não nos diz que o perverso está exilado de nosso Pai, nem que se conserva ausente da Criação. Apenas afirma que “não tem visto a Deus”.
Isto não significa que devamos cruzar os braços, ante as ervas venenosas e zonas pestilenciais do caminho; todavia, obriga-nos a recordar que um lavrador não retira espinheiros e detritos do solo, a fim de convertê-lo em precipícios.
Muita gente acredita que o “homem caído” é alguém que deve ser aniquilado. Jesus, no entanto, não adotou essa diretriz. Dirigindo-se, amorosamente, ao pecador, sabia-se, antes de tudo, defrontado por enfermo infeliz, a quem não se poderia subtrair as características de eternidade.
Lute-se contra o crime, mas ampare-se a criatura que se lhe enredou nas malhas tenebrosas.
O Mestre indicou o combate constante contra o mal, contudo, aguarda a fraternidade legítima entre os homens por marco sublime do Reino Celeste.
("Pão Nosso" – Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)
VIDAS SUCESSIVAS
“Não te maravilhes de te haver dito: Necessário vos é nascer de novo.” Jesus. (JOÃO, 3:7.)
A palavra de Jesus a Nicodemos foi suficientemente clara.
Desviá-la para interpretações descabidas pode ser compreensível no sacerdócio organizado, atento às injunções da luta humana, mas nunca nos espíritos amantes da verdade legítima.
A reencarnação é lei universal.
Sem ela, a existência terrena representaria turbilhão de desordem e injustiça; à luz de seus esclarecimentos, entendemos todos os fenômenos dolorosos do caminho.
O homem ainda não percebeu toda a extensão da misericórdia divina, nos processos de resgate e reajustamento.
Entre os homens, o criminoso é enviado a penas cruéis, seja pela condenação à morte ou aos sofrimentos prolongados.
A Providência, todavia, corrige, amando... Não encaminha os réus a prisões infectas e úmidas. Determina somente que os comparsas de dramas nefastos troquem a vestimenta carnal e voltem ao palco da atividade humana, de modo a se redimirem, uns à frente dos outros.
Para a Sabedoria Magnânima nem sempre o que errou é um celerado, como nem sempre a vítima é pura e sincera. Deus não vê apenas a maldade que surge à superfície do escândalo; conhece o mecanismo sombrio de todas as circunstâncias que provocaram um crime.
O algoz integral como a vítima integral são desconhecidos do homem; o Pai, contudo, identifica as necessidades de seus filhos e reúne-os, periodicamente, pelos laços de sangue ou na rede dos compromissos edificantes, a fim de que aprendam a lei do amor, entre as dificuldades e as dores do destino, com a bênção de temporário esquecimento.
("Caminho, Verdade e Vida" – Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)
OS EVANGELHOS EXPLICADOS: A INFÂNCIA DE JESUS
Jesus no Templo entre os Doutores(Lucas, 2: 41 a 52)
32. Notai igualmente que, falando-
se das refeições que Maria
supunha serem tomadas pelo Filho,
não vos dissemos que essas
refeições fossem regradas como
as vossas, porquanto as ausências
de Jesus não eram regulares e periódicas.
33. Maria não se espantava dessa forma de viver, lembrando- -se da origem do Filho, tida por ela e por José como milagrosa.
34. De tal modo impressionados se achavam seus corações, tão viva fé os enchia, tal a elevação moral de uma e outro, que em ambos tinham grande acesso as inspirações dos Espíritos superiores, quando lhes sugeriam o pensamento e a resolução de se não preocuparem com aquele gênero de vida.
35. Desde alguns anos antes da sua vinda a Jerusalém e de seu aparecimento no templo entre os dou- tores, Jesus, não raro, se ausentava por um ou muitos dias. Sempre que isso se dava, dizia: “Vou orar”. Às vezes passava alguns dias com a família, sem participar das refeições, na aparência bem entendido, porquanto Nele (já o dissemos) o corpo, dada a sua natureza perispirítica sob a aparente corporeidade humana, era inacessível a toda e qualquer alimentação material em uso entre vós.
36. A abstinência ou jejum completo durante um ou muitos dias nada tinham de espantoso para os hebreus: os mais zelosos praticavam essa abstinência, esse jejum completo, às vezes por três dias.
37. Que o médium, disposto como está a rejeitar o que não compreenda, pesquise nas suas reminiscências e achará, no seio da sua própria família, exemplo do que, nesse terreno, pode um homem fazer debaixo das vossas vistas, em vossos dias, nos quais a alimentação rebuscada e a frouxidão dos hábitos amesquinharam as faculdades vitais1. Porque havia de ser isso impossível a homens vigorosos, sóbrios, rijos e habituados, desde tenra idade, ao jejum, à abstinência? Lembrai-vos não só dos costumes antigos do povo hebreu, mas também dos dos árabes.
(Nota: 1 - Em 1822, quando o cólera asiático assolava Paris, o Sr. Bréard, pai do médium, se absteve, com efeito, durante quatro dias, de toda e qualquer alimentação, temendo- lhe as consequências, dada a epidemia reinante. E, apesar disto, durante aqueles quatro dias, cuidou, bem disposto, dos seus negócios. Os ascetas dos primeiros tempos do Cristianismo oferecem exemplos repetidos de abstinência ou jejum completo por muitos dias. No dizer de Sofrônius ( Cap. CXLVII) o papa S. Leão orou e jejuou durante quatro dias, junto do túmulo do apóstolo Pedro.
(Fonte: "Os Quatro Evangelhos", org. de Jean Baptiste Roustaing, psicografia de Émilie Collignon, Ed. Ibbis, Brasília, 2022. Item 47)
ESTUDOS FILOSÓFICOS: A MAIOR E MELHOR COLEÇÃO DE ARTIGOS ESPÍRITAS DA IMPRENSA BRASILEIRA ESTÁ DE VOLTA
Artigo CCCLXII - O PAIZ, 15.10.1894
Transcrevemos hoje a alocução do ilustrado bispo do México,
D. José Maria Gonzales Elisardo, com vista ao Sr. arcebispo
D. Esberard, como prometemos.
“O Reino de Deus - Já há bom tempo, por todos os pontos da Terra, se fazem ouvir as vozes do céu instruindo a humanidade sobre seu destino e impulsionando-a a caminhar para novos horizontes de perfeição e de felicidade, que se devisam ao longe, como íris de benção e de esperança.
“Hoje, este fato providencial impõe-se com a força irresistível das evoluções que se realizam, quando é chegado seu tempo, não havendo poder humano que as impeça ou detenha, ainda que seja por momentos.
“Ela coincide admiravelmente com o desmoronamento de instituições que parecia deverem ser eternas; bem como com uma viva atração para o desconhecido e o pressentimento de uma nova era de regeneração e de venturas. Grandes comoções sociais foram os precursores desta nova era que a ciência, por suas maiores celebridades, recebe com entusiasmo, cingindo-lhe a fronte com coroas de louro e de oliveira.
“Já era tempo de vozes, mais autorizadas que as dos míseros mortais, virem a nos dizer: levantai os olhos, vós que levais a vida engolfados nas fantasmagorias deste mundo! Há muitas outras moradas na casa do Pai – e, quando a morte vos envolver em seu negro sudário, nova existência começará para vosso Espírito!
“Milhares de Espíritos estão dando testemunho desta verdade, para que não haja escusa à negação dolosa, ignorante ou orgulhosa.
“E. neste ponto, dão-se as mãos por todo o mundo a religiao, a tradição, a filosofia e a experiência.
“A ideia fundamental da Nova Revelação é a da eternidade.
“Ela faz patentes os arcanos, até hoje impenetráveis, do passado, do presente e do futuro do homem, não só neste como nos demais planetas.
“Ela resolve o problema da vida, de um modo conforme com a razão, com a fé religiosa; e o que é mais elevado: ela não é simplesmente um sistema filosófico-religioso, mas uma relação permanente entre o mundo espiritual e o nosso, para acelerar a marcha da espécie humana a mais bonançosas condições, operando uma evolução regeneradora em cada um de seus membros.
“Conquanto não haja nada novo no mundo, é inegável que mesmo o que há de mais antigo se torna novo, uma vez que, depois de fundido no turbilhão de extintas civilizações, reaparece no eterno vai-vem de ações e reações, por meio das quais a providência restabelece o equilíbrio universal.
“É assim que o conhecimento dessa verdade, com que a Nova Revelação ilumina a consciência humana, vem de tão longe, que nem os povos, cuja civilização perde-se na noite dos tempos, podem-se jactar de serem seus descobridores.
“Não é ela das que nos vêm pela tradição, mas sim das que se revelam, por intuição mais ou menos clara, a todas as consciências, em contato com a aura celestial.
“Perguntar-nos-ão: por que, então, chamamo-la - Nova Revelação? Porque as verdades que recebem um desenvolvimento e uma aplicação, que chocam as opiniões dominantes, apresentam- se, de fato, como novidades; exemplo: o Cristianismo, que, como doutrina, não era novo.
“Chamaram-no, contudo, a Boa Nova, porque, quando apareceu o desejado das nações – o Messias prometido, para remir a humanidade a custo de seu sangue, a corrupção tinha por tal modo materializado o homem que, mesmo vindo para os seus, Jesus não foi por eles recebido.
“Poucos se achavam em estado de compreender o Espírito do Pai.
“Os povos estavam sentados; isto é, estacionados nas trevas – nas sombras da morte.
“Por isto, a palavra do Mestre foi grande novidade, objeto de contradição, escândalo e zombaria, da parte dos que, enganando- -se a si mesmos, se tinham apegado a doutrinas que não eram a verdade, mas sombra dela.
“É o que se está passando hoje, com as grandes e simples verdades, denunciadas pela Nova Revelação.
“A Igreja condena-as como heresias; apesar de, longe de contrariarem o ensino de Jesus, serem o seu mais lógico desenvolvimento – sua mais direita aplicação – sua mais racional inteligência.
“A Nova Revelação é, por bem dizer, o próprio Evangelho em sua mais pura expressão.
“Os que julgam que o ensino cristão ficou definitivamente completo desde o século apostólico desconhecem o caráter progressivo da verdade, em toda a ordem de fatos, visto que a humanidade obedece à lei divina de um progresso indefinido – e esquecem que Jesus não falou com a mesma clareza às turbas de ouvido duro e vista curta, e aos discípulos, escolhidos para seus continuadores.
“E ainda mesmo a estes, a quem revelava, com parábolas, os mistérios do céu, não disse tudo.
“Um dia antes de sua morte, Ele lhes declarou: que muito tinha ainda a dizer-lhes; mas que, não podendo eles então compreender, enviar-lhes-ia, em tempo, o Espírito da Verdade, para ensinar todas as coisas.
“Esse Espirito, prometido por Jesus para assistir à sua Igreja, é o mesmo que, por diferentes modos, por diferentes vezes e ao mesmo tempo em toda a parte; fala declarando-nos o verdadeiro sentido da Revelação Cristã, escurecido e pervertido pelas preocupações de outra época e por interesses que não são do Reino de Deus.
“Não, é,pois, um novo Evangelho o que nos vêm pregar as
vozes do Céu; mas sim a interpretação do Evangelho, feita, não
por homens, mas pelo Espírito de Deus; de modo que, propriamente
falando, é esta a interpretação autêntica do Evangelho.
“Um dos característicos da Nova Revelação é não exigir uma fé cega, apesar de ser muito autorizado o testemunho dos que nos instruem; mas sim propor que se verifiquem os fatos, em que se baseia – e, em vez de considerar a ciência um adversário da religião, considera-a aliada inseparável, por ser um dos dons do Espírito Santo.
“A revelação nos dá o conhecimento de verdades, que são desenvolvidas e aplicadas conforme a experiência.
“Na altura em que se acha a humanidade, pelo impulso das luzes que tem recebido, elaboradas por sua atividade, embora esteja a incomensurável distância da ciência do Ser Eterno, já suas aquisições constituem um valioso cabedal de sabedoria, para amar o bem – e já ela mesmo se acha em condições de aproveitar – rico patrimônio: excelente dádiva esse perfeito dom do Pai Celestial.
“Assim como uma ideia se transforma em instituição social tanto mais depressa quanto maior for sua vitalidade e pujança, sendo essa transformação uma condição iniludível do seu desenvolvimento e fecundidade; podia a Nova Revelação escapar desta lei? Impossível!
“E como, por sua origem, é o Espírito um ser divino, não só por seus objetos, que são Deus e o homem, como por seu fim, que é a felicidade eterna, e por seus meios, que são ultraterrestres e sobrehumanos – esta nova Revelação deve ser considerada como a continuação da obra messiânica, donde seu caráter da religião.
“É, propriamente falando, o estabelecimento do Reino de Deus sobre a Terra e, portanto, a instituição social em que se incorpore, para se realizar, no tempo e no espaço, é rigorosamente uma igreja.
“Como, porém, há tão insignificantes diferenças entre a instituição que tem esse nome e pertence ao passado, e a que, cheia de vida, representa a civilização do porvir, daremos a esta novo nome, que corresponde ao seu ideal – o Reino de Deus; pois que o novo ensino vem do Espírito Divino, e nós aspiramos emanciparmo- nos de toda a escravidão humana, para não dependermos senão de Deus.
“No intelectual, pelo conhecimento cada vez mais claro e completo da verdade – no moral, vivendo praticamente, não segundo a carne, mas conforme ao Espírito, unidos a Deus por amor e obediência, seremos senhores de nós mesmos, sem que as tradições humanas e os códigos convencionais possar erguer tropeços à justa e santa liberdade dos filhos de Deus.
“Mesmo no civil e no político temos de chegar a este feliz estado, desde que conseguirmos extirpar as tantas escravidões disfarçadas, os monopólios e injustas desigualdades, que fazem uns servos de outros, não por caridade, mas por força.
“Os governos serão desnecessários quando os costumes semibárbaros, que ainda se baseiam no egoísmo, se modelarem pelo amor, que é a condensação do verdadeiro Cristianismo.
“A Nova Revelação tende a fazer efetivos o amor e a caridade, não pela perseguição e pelo exclusivismo, não pelo ódio e pela violência – mas pelo próprio amor.
“Nesse Reino de Deus, Jesus Cristo é o chefe – seu ensino é a luz – sua lei é a razão – e o Espírito, por Ele prometido, é o nosso guia. Nele se reconhece que, independente de crenças especulativas, Deus se agrada dos que o temem e praticam a justiça.
“Por consequência, sem deixarmos de expor, o que, a nosso ver, é a verdade, pois sua difusão acelera o progresso e diminui os males que pesam sobre a humanidade, não lançaremos anátema nem vilupério sobre os que abraçam opiniões diversas das nossas. Respeitamos as crenças e, ainda mais, os que vivem de conformidade com elas.
“No Reino de Deus, não temos dogmas, mas sim princípios – não disputamos acerca do imcompreensível: questões que só encontram solução na intolerância, depois de fatigarem a mente por séculos e séculos.
“Nossa fé repousa sobre princípios, cuja evidência os impõe – e sobre fatos, cuja realidade e significação afrontam a crítica.
“No Reino de Deus, os Espíritos e os encarnados podem ser meios ou instrumentos, pelos quais Deus pode dispensar-nos suas graças e favores; mas, aí, não há alguma casta ou corporação com o privilégio de reparti-los – aí, portanto, não há sacerdotes nem ministros de profissão.
“No Reino de Deus, todo o serviço religioso é gratuito, por afastar o perigo de se desvirtuarem, pela ganância, os dons espirituais e o exercício do que há de mais sublime e santo.
“Aí não há proeminência de espécie alguma e todos são servos uns dos outros.
“No Reino de Deus não há lugar destinado à oração; mas os filhos de Deus, em qualquer parte que se reúnam, para receberem instrução e consolo de espírito e para se fortalecerem mutuamente, excitando-se à prática do bem, principiam e terminam suas reuniões implorando as bençãos do céu e dando graças pelos favores recebidos.
“Para os filhos de Deus o templo é um monumento que simboliza sua união com o Eterno por meio da fé, da esperança e da caridade.
“Irmãos espíritas, se deveras professais a salvadora fé, chamada a fazer prodígios, unamo-nos, trabalhando como um só homem.
“Sem sairmos da capital do México, já o nosso número sobe a milhões.
“Reconheçamo-nos, visto que somos irmãos – e nossas reuniões frequentes nos colocam nas condições de realizarmos em breve o ideal que nos traça a Nova Revelação e o Reino de Deus”. O bispo Elizardo tem se nome no grande livro das sumidades da Igreja e do mundo.
Max.
(Da União Espírita)
Fonte: Confira o original deste artigo no arquivo da Hemeroteca da Biblioteca Nacional. Para conhecer os demais artigos dessa coleção e seus volumes publicados por nossa CASA visite por favor nossa Biblioteca Virtual.
ANTOLOGIA UBALDIANA
MENSAGEM DA PAZ
Pietro Ubaldi
Escrita na Noite de Quinta-feira Santa, no Monte de Santo Sepulcro, diante de Verna ( Páscoa de 1943 )
Minha última mensagem, pela Páscoa de 1933, XIX Centenário da morte de Cristo, dirigida, em dois momentos aos Cristãos e aos homens de boa vontade, foi minha derradeira palavra naquele ciclo de preparação e esperança.
Já se encontram amadurecidos muitos acontecimentos ali preanunciados.
Até junto de vós retorno, nesta Páscoa de 1943, após dez anos, na violenta constrição de uma dor que parecia impossível e, no entanto, se tornou realidade; venho trazer conforto aos homens e aos justos, aqueles que creem. Venho dizer, no seio tumultuoso da destruição universal, a equilibrada palavra de paz. É esta, por isso, a mensagem da paz.
Tende fé e a fé vos fará superar todas as provas. Deus as permite para que aprendais a usar de vossa liberdade e não para vossa destruição. Não vos desgarreis no caos, que é só aparente. Imersos como estais no pormenor, na aflição, na fadiga, não enxergais e não compreendeis o bem que existe além da aparência do mal.
Deus, no entanto, invisível e onipresente, está ao vosso lado, caminha convosco, acompanha os vossos passos e vos guia; sempre vos provê, além da aparente desordem, com a ordem imensa e eterna de Suas sábias leis. Sua mão se inclina para o humilde, para o fraco, para o vencido, a fim de erguê-lo de novo. Que vos conforte esta afirmação de uma divina lei de justiça acima da lei humana da força.
Diante de dois caminhos vos deixei e fizestes a escolha. O mundo tem a prova que livremente desejou.
Desde que vos deixei, o mundo tem percorrido velozmente o caminho da História. O mais profundo caminho e a mais proveitosa lição se encontram na dor, escola e sanção de Deus.
Repousareis. Assim é necessário, a fim de que os resultados do esforço desçam em profundidade e sejam assimilados. Não vos detenhais, no entanto, nos pormenores do momento ou do caso particular, que não constituem toda a vida. Esta se encontra nas grandes trajetórias de desenvolvimento da Lei, em que se exprime o pensamento de Deus.
Somente se vos elevardes encontrareis a verdade universal, imóvel no movimento, a justiça perfeita. Somente se vos transportardes acima das contingências do momento e do lugar, achareis a completa liberdade, a tranquilidade do absoluto, a paz que está acima da vitória ou da derrota, a verdadeira paz, tão distante das coisas humanas.
Elevar-se é a grande meta da vida — elevar-se pelos caminhos do espírito — e esse trabalho, sempre possível e livre, pode ser seguido e levado a termo, em qualquer época ou lugar. Ninguém, em nenhum caso, pode tolher a liberdade de vos construirdes a vós mesmos, avançando assim em qualidade e poder. E esta ascese é o que mais importa; é para atingi-la que sofreis as provas da vida.
Após cada curva da História, obtém-se seu sumo, sua verdadeira colheita, que é a ascensão.
As verdadeiras riquezas não se encontram fora de vós: estão em vosso íntimo e são elas que vos fazem mais poderosos e felizes. São os vossos bons predicados, que nunca se perderão; e não vossas posses materiais, que hão de desaparecer.
Qualquer que seja o turno de vencedores ou vencidos, suceder-se-ão, como vaga após vaga, as multidões dos que sofrem e dos que gozam; e o triunfo pode ser instrumento de perdição e a desventura, de ressurreição. Nenhuma vida, como nenhuma força, pode ser anulada; tudo sobrevive, transformando-se. Substancialmente, a guerra a ninguém destrói.
Minha palavra, que está acima do mundo e de suas lutas, diz, repetindo a lei de Deus que rege a vida: ai de quem possuindo apenas a superioridade da força, dela abusa, esquecendo a justiça. Tudo é compensado na Lei e se paga com longas reações sucessivas, de ódios e vinganças.
A palavra do equilíbrio ensina ao vencedor que não é lícito abusar da vitória, pois, por isso, se paga; e indica ao vencido os caminhos do espírito, em cuja liberdade é possível restaurar as próprias forças em face de qualquer escravidão exterior. O primeiro acomete as fronteiras naturais da força, o segundo nas privações encontra a liberdade.
Voltará o sol a brilhar e a vida florescerá de novo, após a tempestade. É lei de equilíbrio. O que importa, sobretudo, é que aprendais a lição. Recordai: que cada um guarde, na profundeza do espírito, com o poder de uma convicção, de uma qualidade adquirida, o fruto de tantas provações. E que a nova floração da vida não irrompa numa algazarra louca de carne satisfeita, numa orgia de matéria triunfante.
O escopo da guerra e o conteúdo da vitória não se acham no triunfo material, mas num triunfo no espírito, numa nova civilização.
Ai de vós, se não houverdes aprendido a dura lição e não mudardes de roteiro. Se, em vez de subirdes pelos caminhos do espírito, voltardes a palmilhar as velhas estradas, haveis de recair sob as mesmas dolorosas consequências, cada vez mais graves.
Minha voz é universal e se desvia das dissensões humanas. Tem as vezes, no entanto, necessidade de descer. Diz-se, então com escândalo: Deus é parcial. Mas existe uma balança, um reflexo de justiça, uma ordem também na História e nela devem atuar. A imparcialidade absoluta seria indiferença e ausência de Deus. A justiça e a ordem, que são os princípios do ser, devem descer também à Terra e aí operar, pesando sobre o mal e vencendo-o, no choque das forças.
De outro modo, Deus estaria somente no céu, e não presente e ativo também no mundo, entre vós, no meio de vossas lutas. Estas são guiadas por Ele, a afim de que não se reduzam a absoluta destruição e caos, mas sejam instrumento de construção e de bem. Ele os guia para que as provas e as dores do mundo redundem no fruto que é a ascensão de espírito, objetivo de vida.
Deixo-vos, por isso, para conforto dos justos, estas verdades: o vosso esforço, mesmo que não possa ser senão individual e isolado, quando é puro e sincero e se dirige ao supremo escopo da elevação espiritual, também se encontra na trajetória da vida. E, por isso, protegido e encorajado, porque essa é a trajetória ordenada pela lei de Deus. Por essa mesma lei, segundo a qual o Universo está construído e que lhe regula o funcionamento orgânico, as forças do mal, embora todas as dificuldades e resistências, jamais poderão prevalecer sobre as forças do bem.
É fatal, pois, o triunfo final do espírito e no espírito vencereis. Essa vitória vale a imensa dor que é seu preço.
Amplamente já está sendo executado o plano divino da vida.
(Fonte: “Grandes Mensagens”)